Do Alemão, traficantes comandavam dois morros em Madureira
Polícia Civil afirma que operação em Madureira e Piratininga enfraqueceu facção que tenta invadir o Morro da Serrinha
Rio - Dezessete pessoas foram presas ontem, no Rio e em Niterói, em operação para combater o tráfico de drogas em Madureira, na Zona Norte da Capital — seis suspeitos haviam sido capturados ao longo da investigação. O objetivo da Polícia Civil era prender criminosos do Comando Vermelho — entre eles, dois fugitivos do Complexo do Alemão — que desencadearam guerra contra rivais do Morro da Serrinha.
No total, a Justiça expediu 52 mandados de prisão e 26 de busca e apreensão. Em uma casa de luxo a 100 metros da Praia de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, foi preso um homem apontado pela polícia como fornecedor de armas para a facção.
A operação Golpe de Mestre começou na Serrinha, por volta das 6h, e contou com 200 agentes de 15 delegacias, além do apoio do veículo blindado da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). A cracolândia da Avenida Edgar Romero também foi alvo da ação. Não houve tiroteio.
As investigações começaram há um ano, quando a equipe da 21ª DP (Bonsucesso) estava na delegacia de Madureira, a 29ª DP. Os agentes começaram levantamento a partir do primeiro ataque de bandidos do CV para tentar tomar a Serrinha, em janeiro de 2010.
O desdobramento foi em cima de criminosos de morros da região, como Cajueiro, Congonha e Faz Quem Quer, além dos complexos do Alemão e da Penha, e a Favela do Jacarezinho. O Cajueiro era considerado estratégico, pois lá o bando se reunia quando saía do Alemão para atacar a Serrinha. Ainda segundo a polícia, os roubos em Madureira também diminuíram nos meses de apuração: houve de queda de 12,15% dos roubos de rua e de 30% nos roubos de veículos.
Um dos principais alvos da operação, no entanto, não estava em Madureira, e sim numa casa de luxo, em Piratininga, Niterói. Segundo o delegado André Pieroni, Heitor Sinval Vasconcelos de Lima, 57 anos, fornecia armas para o CV.
“Nosso serviço de inteligência detectou que ele negociava armas. Ainda não sabemos a procedência delas, mas encontramos na casa dele fotos de fuzil e pistolas, que ele não explicou o que estavam fazendo lá”, explicou Pieroni.
A polícia encontrou o corpo de um jovem ainda não identificado, morto com um tiro no pescoço, na Serrinha. Foram apreendidos um fuzil calibre 7.62, uma metralhadora 45, munição de vários calibres, drogas, dois carros e uma moto roubados.
Ordens partiam do Alemão e Penha
Entre os principais investigados pela Polícia Civil, estão Luiz Cláudio Serrat Correia, o Claudinho CL, e Claudenir da Silva Paixão, o Negão da 12, líderes das quadrilhas que dominam os morros do Cajueiro e Congonha, respectivamente, em Madureira.
“Eles comandavam o tráfico nessas regiões a distância, de dentro da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Depois que a Penha e o Alemão foram ocupados pela polícia, eles fugiram de lá, mas continuavam a exercer seu poder nas favelas de Madureira”, detalhou o delegado da 21ª DP, André Pieroni.
Os dois acusados estão entre os foragidos da operação. A mulher de Negão da 12 foi presa por associação para o tráfico, assim como Lúcio Mauro Carneiro, o Biscoito, braço-direito de Claudinho e responsável pela logística do tráfico no Cajueiro.
Padrinho da filha de Polegar da Mangueira
A Polícia Civil afirma que a ligação de Heitor Silval com o tráfico vai além dos ‘negócios’: ele é padrinho de uma filha de Polegar, um dos líderes do CV. À polícia, no entanto, o acusado disse que batizou e tem convívio com a menina, mas que não tinha conhecimento das atividades de Polegar.
O imóvel onde Heitor foi pego está avaliado em R$ 400 mil; na garagem, um Peugeot conversível. Segundo a polícia, tanto a casa quanto o carro estão em nome de Heitor, que disse ser corretor de imóveis. Na casa, a polícia também encontrou cartas de presos endereçadas a Heitor, além de extratos com depósitos de R$ 38 mil. “Pediremos a quebra do sigilo bancário para saber a origem do dinheiro”, afirmou o delegado André Pieroni.
Reportagem de Marcello Victor e Vania Cunha
