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Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Set 15, 2009 7:02 pm
por kurgan
15/09/2009 - 17h19
EUA investem 75 bi USD por ano nas atividades de inteligência

WASHINGTON, EUA, 15 Set 2009 (AFP) - Os Estados Unidos investem 75 bilhões de dólares por ano nas atividades de inteligência, que mobilizam 200.000 pessoas, revelou nesta terça-feira o diretor dos serviços de inteligência americanos, Dennis Blair, por ocasião da publicação de um relatório estratégico.

Depois de manter o segredo durante muito tempo, o governo publica desde 2007 o orçamento dedicado às suas 16 agências de inteligência, que atingiu 47,5 bilhões de dólares no exercício de 2008. No entanto, esta quantia não inclui as despesas relacionadas à inteligência militar.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2 ... 25893.jhtm

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Ter Set 15, 2009 11:23 pm
por Sterrius
Quanto que o brasil gasta?

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Set 16, 2009 7:15 am
por kurgan
Sterrius escreveu:Quanto que o brasil gasta?
Vi uma reportagem na midiasemmascara que a ABIN tem um orçamento de R$ 257 milhões.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Set 16, 2009 9:31 am
por Sterrius
Quando se fala de inteligencia no Brasil a ABIN é apenas um braço kurgan!

Se me lembro bem existem uma meia duzia de orgãos públicos, cada 1 com seu papel dentro da inteligencia que o país coleta. Diferente dos EUA onde tudo é centralizado na CIA.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Set 16, 2009 11:55 am
por alcmartin
A proposta era centralizar tudo na ABIN, mas a ultima crise do Gilmar em que ela se meteu, melou tudo. Ao contrario, Lula vetou o projeto, que também previa autorização de escutas.
Algo bem estilo pós escandalos, dos USA. Não teve competencia para safar-se do embroglio, se "findou-se"... :?

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Set 16, 2009 8:20 pm
por WalterGaudério
alcmartin escreveu:A proposta era centralizar tudo na ABIN, mas a ultima crise do Gilmar em que ela se meteu, melou tudo. Ao contrario, Lula vetou o projeto, que também previa autorização de escutas.
Algo bem estilo pós escandalos, dos USA. Não teve competencia para safar-se do embroglio, se "findou-se"... :?
No final das contas quem produz inteligência de massa é o EB. da MB sei falar um pouco e não se fica atrás em termos de se "conseguir o que se precisa saber" :wink: :wink: :wink: :wink: .

O DPF é bastante profissional tb, ainda que não seja sua função. Mas é fundamental para que suas ações dêem certo. Já repararam que faz muito tempo que não morre nenhum agente federal em ação? :wink:

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qua Set 16, 2009 8:30 pm
por kurgan
16/09/2009 - 19h31
Gates: China é ameaça ao domínio militar dos EUA no Pacífico

WASHINGTON, EUA, 16 Set 2009 (AFP) - O secretário americano de Defesa, Robert Gates, advertiu nesta quarta-feira que o arsenal chinês de ponta ameaça o predomínio dos Estados Unidos no oceano Pacífico.

A presença marítima e aérea dos Estados Unidos no Pacífico enfrenta uma nova ameaça, da China, disse Gates em discurso na Associação da Força Aérea, no estado de Maryland, após a publicação de um relatório da Inteligência americana sobre os esforços de modernização da Marinha chinesa.

Segundo Gates, a maior preocupação não se refere ao "desafio que representam ao arsenal americano, mas à sua capacidade de impedir nossa liberdade de movimento e restringir nossas opções estratégicas".

O mais grave é como a China investiu, em grande escala, em seu "arsenal antiaéreo, marítimo e contra satélite, de forma que os mísseis balísticos possam colocar em risco" a capacidade dos Estados Unidos de ajudar seus aliados no Pacífico.

Alguns analistas preveem que a Marinha americana perderá em breve seu domínio dos mares, do espaço e do ciberespaço, diante do crescente investimento de países como a China em armas de ponta.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2 ... 25946.jhtm

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qui Set 17, 2009 9:21 am
por delmar
Alguns analistas preveem que a Marinha americana perderá em breve seu domínio dos mares, do espaço e do ciberespaço, diante do crescente investimento de países como a China em armas de ponta.
Leia-se a mensagem corretamente: Mesmo com a crise econômica vamos lutar para evitar grandes cortes no orçamento militar americano, especiamente não cancelar a construção de novos porta aviões, submarinos, etc... É o loby do complexo industrial militar agindo.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qui Set 17, 2009 9:29 am
por kurgan
17/09/2009 - 09h14
Brasil defende aliança com Portugal para defender Atlântico

Brasília, 17 set (Lusa) - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu uma aliança estratégica com Portugal para estabelecer juntamente com Angola uma posição coordenada em relação à Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial.

"Precisamos de nos aliar a Portugal para estabelecermos com Angola uma linha unificada sobre a chamada Área", disse o ministro na quarta-feira, num depoimento à Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Jobim citou Portugal ao defender que o Brasil precisa fazer alianças estratégicas, como com a França, cuja parceria estabelecida em dezembro do ano passado já permitiu a aquisição de 50 helicópteros de transporte EC-725, da Eurocopter, quatro submarinos convencionais - os Scorpènes - e o desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear.

Todos os equipamentos serão construídos no Brasil, com transferência de tecnologia.

Esta parceria entre Brasília e Paris pode englobar ainda a aquisição de 36 caças Rafale pelo governo brasileiro, se a Dassault tiver seu favoritismo confirmado ao final do processo de concorrência com os F/A-18 Super Hornet da norte-americana Boeing e com os Gripen, da sueca Saab.

Segundo Jobim, uma posição conjunta com os africanos em relação à região do Atlântico é também um "tema estratégico brutal" e passa por uma aliança com Portugal.

A denominada "área", um grande "corredor" entre as áreas de direito exclusivo, que é patrimônio da humanidade, tem imensas riquezas minerais.

É rica em manganésio, ferro, níquel, cobre, cobalto, titânio, alumínio e dispõe de uma valiosa biodiversidade, como uma bactéria que produz sangue humano e está sendo estudada pelos japoneses, segundo o ministro.

O Brasil defende que os países do Atlântico Sul se articulem e se estruturem para desenvolverem pesquisas nesses ambientes marinhos de águas profundas e até mesmo explorações conjuntas.

Um ponto que suscita preocupações é a instalação de módulos de exploração na região por outros países, o que vai implicar questões de defesa, cuidados com o meio ambiente e possíveis alterações de rotas de navegação.

O governo brasileiro teme, por exemplo, que países africanos e sul-americanos venham a sofrer prejuízos causados por mudanças das linhas marítimas de comércio.

Brasil e Portugal já acertaram também que vão ajudar países africanos na questão dos limites exteriores da sua plataforma continental.

Na semana passada, durante visita a Brasília do ministro português da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, ficou acordado que haverá ainda um reforço da cooperação dos dois países neste setor com membros mais pobres da CPLP.

Teixeira e Jobim defenderam uma atuação mais coordenada no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, sobretudo para nações que necessitam de recuperação de infra-estruturas militares, fornecimento de fardamentos e equipamentos para as Forças Armadas e apoio à dimensão naval.


http://noticias.uol.com.br/ultnot/lusa/ ... 82595.jhtm

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qui Set 17, 2009 10:39 am
por kurgan
Para ter paz, prepare-se para guerra

Carlos Pereyra Mele

RIO - A frase romana “si vis pacem, para bellum” (se quiser a paz, prepare-se para a guerra) é de Renatus Vegetius, escritor da época do imperador Valentiniano II. Não é uma frase agressiva ou uma ideia expansionista ou imperialista, mas o contrário: para impedir uma guerra ou um país de ser atacado por outro, o melhor é estar bem armado para se defender e não para atacar outras nações. Entende-se, portanto, que quem tem uma boa defesa será respeitado por outras nações que não lhe atacarão.

Esta frase cai muito bem nestes momentos, especialmente depois do dia 7 de setembro de 2009 (Dia da Independência do Brasil), quando o país firmou com o governo da França um acordo estratégico mediante o qual Brasil receberá armamento e tecnologia de ponta para construir um novo sistema de defesa que estará integrado por 36 caças Rafale, 51 helicópteros e cinco submarinos, um deles nuclear, que o porá na vanguarda no continente sul-americano no que se refere ao sistema de defesa. Os equipamentos serão fabricados no Brasil com a transferência de tecnologia da França.

A partir desse momento, surge uma onda de críticas nos meios de comunicação de massa com as matrizes nos Estados Unidos, com argumentos como: corrida armamentista na América do Sul, gastos militares excessivos em uma América com grandes problemas sociais, ou com o argumento falso de um pacifismo hipócrita de que esta corrida armamentista impedirá nossa integração regional.

São os mesmos meios que nada disseram sobre as questões:

Para que os Estados Unidos em 2008 reativaram a IV frota que navega desde as águas do Caribe até nosso mar austral?

Por que incrementar, de forma desmedida, sua presença em nosso continente com novas bases na Colômbia?

Quais são as hipóteses de conflito que os Estados Unidos usam na América do Sul?

O Marechal alemão Von Clausewitz insistia que a guerra moderna é “a continuação da política por outros meios”. Depois da queda do muro de Berlim foi a forma que tomou a política externa dos EUA para controlar o mundo e tentar impor uma unipolaridade sem questionamentos em que tudo giraria de acordo com seus interesses estratégicos (por isso cordão de bases militares tanto no Caribe quanto na América do Sul, assim como no mundo), a instalação das mesmas se realizou sob o argumento de lutar contra o narcotráfico e terrorismo internacional.

Não temos que ser muito perspicazes para entender os objetivos e os destinatários desses movimentos militares com esta manobra estratégica intimidadora, em um continente que tenta não ser mais seu quintal e sobre o qual Washington quer manter o domínio completo e controlar os importantes recursos naturais de que dispomos.

A América do Sul não escolheu suas hipóteses de conflito, elas foram impostas pelo país do norte, já que, em um mundo globalizado, não escapamos do embate entre as potências emergentes e os EUA para estabelecer uma nova ordem mundial multilateral. Muitos analistas americanos importantes já acreditam que a América do Norte começou a derrocada.

E o que mostra este declínio não é tanto o pântano bélico de Iraque e Afeganistão, mas a crise financeira iniciada há um ano com a quebra do banco Lehman Brothers, e que se arrastou para a economia real mundial. E não se sabe como ela será resolvida.

Nesse cenário, o Brasil como potência emergente integrante do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), alcançou certo poder, que não tinha até poucos anos atrás, e para isso desenvolveu uma política externa guiada por uma paciência estratégica; para o Brasil, a capacidade de atuação soberana em uma economia globalizada se reforça no contexto de um bloco regional. O país sabe que, para promover seus valores e objetivos, os melhores aliados são os vizinhos. A partir dessas ideias, o Brasil optou por impulsionar um ambicioso programa de integração regional sulino e latino-americano.

Há poucos dias, dizíamos que o objetivo do Comando do Sul era o Brasil em nossa América do Sul e continuamos acreditando nisso. O Brasil não é apenas o gigante econômico e demográfico de nossa região, mas também alcançou o nível (de poder suave) com o qual se integra a vizinhos e sócios; como também tenta fazer parte do G8 e ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU; com o qual o país é uma séria ameaça às pretensões hegemônicas dos EUA na América do Sul.

O que está em jogo (neste tabuleiro instável que é o mundo de hoje), é a possibilidade de que nosso continente alcance os níveis de poder e soberania necessários para se incorporar à nova ordem mundial em condições de resistência a uma globalização que nos foi imposta e que não nos permitia ter uma importante autodeterminação interna. E neste quadro devemos entender o acordo estratégico firmado por Brasil e França; por aquilo que os clássicos nos ensinaram: se quiser a paz, prepare-se para a guerra.

* Carlos Pereyra Mele é analista político.

Tradução: Victor Barros

Resenha CCOMSEx - JB

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Qui Set 17, 2009 12:41 pm
por jauro
Correto o enfoque do autor.
E diria mais
"A Paz Repousa sobre as Armas"

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Dom Set 20, 2009 12:04 pm
por Marino
O acordo militar Brasil-França

José Luiz Niemeyer dos Santos

ESTRATÉGIA

CIENTISTA POLÍTICO



O acordo militar firmado entre Brasil e França estabelece outro nível de relacionamento estratégico entre os dois países. Os países serão parceiros por um longo período em função de projetos na área da cooperação industrial-militar.

A intenção do acordo é, sim, condizente com as necessidades de defesa do Brasil.

A aquisição de submarinos convencionais e de aviões de ataque é uma diretriz governamental que se apresenta como correta, sendo que tais armas se configuram como meios militares que dão prioridade à mobilidade estratégica e aos processos de dissuasão de ameaças em alto-mar e em fronteiras terrestre complexas.

Todavia duas questões devem ser também discutidas em favor da transparência do acordo e de sua viabilidade político estratégica.

Com relação à primeira questão levantada, devem ficar mais claras as regras da licitação dos 36 caças que serão adquiridos pela Força Aérea do país.

Principalmente porque este é um processo que se originou no ano de 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso; a forma e o conteúdo das negociações ao longo do tempo podem ter sido alterados de acordo com as intenções dos governos à época – o que é até compreensível –, mas, em contrapartida, deve-se resguardar o projeto de renovação da frota da FAB como uma ação de Estado e não de governo.

Na perspectiva político-estratégica a complexidade é muito maior.

Um acordo militar deste porte, de alto custo financeiro e de desdobramentos no campo da grande estratégia de defesa do país, não se constitui em algo trivial.

Como o próprio governo de Luiz Inácio Lula da Silva deixa claro, este acordo é um marco na construção de um posicionamento mais soberano do Brasil com relação ao resguardo dos seus interesses sub-regionais, regionais e mesmo sistêmicos.

O acordo foi firmado com a França, fato por si só louvável, sendo este país um aliado tradicional do Brasil nas questões que envolvem uma participação mais relevante e efetiva das nações emergentes nas discussões relativas à alta política internacional.

Todavia, antes deste acordo, já existiam o que caracterizamos como “as relações internacionais”.

Que se resumem em relações mais ou menos estáticas entre agentes estatais.

Em diplomacia o tempo e os recursos são escassos. Mesmo sendo necessário, em muitos casos, “apressar o tempo” para se alocar recursos de poder, não se pode desvincular o passado das ações concretas do presente, ainda mais sendo tais ações relativas à área muito sensível da segurança do Estado.

Até “ontem”, o parceiro principal do Brasil do ponto de vista estratégico-militar eram os Estados Unidos da América.



Ponto.

O Brasil, nas últimas décadas, tem sido um interlocutor importante dos EUA na América do Sul, mediando, inclusive, hipóteses de conflitos e de guerra entre países, o que sempre caracterizou o Brasil como um aliado dos EUA no continente e no hemisfério. A maior e mais sofisticada operação militar brasileira no pós-Segunda Guerra Mundial foi o envio de tropas ao Haiti, movimento que contou com o total apoio do governo dos EUA junto à ONU e aos demais membros da missão. A proximidade geopolítica e geoestratégica com os EUA contribuiu para que o Brasil construísse parcerias de longo prazo no que diz respeito ao combate dos ilícitos internacionais; à cooperação energética; à conservação do meio ambiente; e à construção de uma base de segurança alimentar para os povos da região. Todos estes temas possuem ligação direta com a área da segurança e da defesa nacional.



Também nas últimas décadas processaram-se canais institucionais muito relevantes entre as esferas estatais brasileiras e norte-americanas, seja no campo da cooperação econômicocomercial seja nos assuntos da diplomacia e do conflito.

Assim, um acordo militar entre França e Brasil não pode deixar de ser tratado sob um prisma também político.

Neste âmbito é importante que a Chancelaria brasileira esteja atenta aos desdobramentos do acordo no que diz respeito à posição norteamericana. Como também é fundamental perceber a reação do sistema de Estados a este movimento por parte do Brasil num mundo ainda em transformação.

Mantendo-se por parte do país, basicamente, uma ação fundada na autonomia responsável.

A contribuição brasileira para a construção de um contexto multilateral pós-Guerra Fria já é uma realidade. O Brasil tem desenvolvido nos últimos anos credenciais neste sentido, seja no campo diplomático, da cooperação econômico-empresarial e da corresponsabilidade em temas sensíveis das relações internacionais.

Mas é senhor que as decisões de política externa e de defesa nacional sigam procedimentos preestabelecidos, institucionais e transparentes, dentro dos quais não se exagere nos meios alocados, descaracterizando valores tradicionais, em busca de objetivos pouco realistas e por demais custosos.

José Luiz Niemeyer dos Santos Filho é coordenador de graduação em relações internacionais do Ibmec/RJ e Ibmec/BH.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Dom Set 20, 2009 12:31 pm
por Marino
Barril de pólvora na América do Sul


Wagner Sarmento


CORRIDA ARMAMENTISTA

Acordos militares firmados entre países da região com Rússia e EUA têm provocado tensão e aumentado rivalidade

Colômbia e Estados Unidos, Brasil e França, Venezuela e Rússia. A “corrida armamentista” na América Latina tem acirrado ânimos na região. Dúvidas, medos e trocas de acusações apimentam um cenário incerto. Os acordos militares já resultaram em duas reuniões da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), mas o consenso, até agora, passou longe do jogo de interesses dos países.

O acerto entre o colombiano Álvaro Uribe e o americano Barack Obama para a utilização de sete bases colombiana pelos EUA iniciou a polêmica que acendeu a luz de alerta no continente. Uribe garante que o acordo visa combater o narcotráfico e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), consideradas pelos governos colombiano e americano como um grupo terrorista.

A permissão da Colômbia, no entanto, desencadeou uma série de reações na América do Sul. As críticas mais veementes partiram de Venezuela, Equador e Bolívia. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, chegou a dizer que o acordo provava a intenção da Casa Branca de intervir em outros países da região e deixava a América Latina “à beira da guerra”.

Por duas vezes, líderes tentaram, em vão, amenizar as tensões em encontros dos 12 países da Unasul, em 28 de agosto e na terça-feira passada. Na primeira reunião, em Bariloche, na Argentina, com a presença dos presidentes, foram sete horas de divergências e uma resolução final admitindo que o conflito estava distante de ser superado.

O segundo evento, envolvendo chanceleres e ministros da Defesa, também teve desfecho previsível. O único avanço foi o governo colombiano aceitar a proposta de garantir, por escrito, que seu tratado com os americanos não resultará em ações militares nos países vizinhos. Diante das pressões e da enxurrada de críticas, a Colômbia aventou a possibilidade de se desligar da Unasul.

No último dia 7, o líder brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, formalizou com o francês Nicolas Sarkozy, em Brasília, acordo de cooperação militar para reaparelhamento das Forças Armadas, que receberá 50 helicópteros. A Marinha ganhará também um submarino nuclear e quatro convencionais tipo Scorpène, em investimento de R$ 19 bilhões. O País ainda está na iminência de fechar a compra de 36 caças da empresa francesa Dassault, em detrimento da americana Boeing, o que estremeceu a relação entre Brasil e EUA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, classificou como a escolha da França como “política”. A Suécia também está na briga.

As Américas foram sacudidas, há uma semana, com o anúncio, por parte da Venezuela, da obtenção de um empréstimo de US$ 2,2 bilhões da Rússia, para a compra de 92 tanques e sistemas de mísseis antiaéreos dos ex-soviéticos, que são seus aliados estratégicos. Em visita à Rússia, Chávez trocou afagos com o colega Dmitri Medvedev. A notícia caiu como uma bomba entre os americanos: a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, cobrou transparência e externou a preocupação da Casa Branca de uma possível “corrida armamentista em curso na região”. O líder venezuelano, contudo, alegou que seu objetivo é apenas modernizar a frota de veículos armados do país.

A Venezuela mantém ainda tratados na área de defesa com o Irã, inimigo histórico dos Estados Unidos. As relações diplomáticas entre americanos e iranianos estão rompidas há 30 anos e, apesar da tentativa de reaproximação ensejada por Obama, a república islâmica é vista como ameaça ao Ocidente.

A América do Sul assiste a outras movimentações em torno de acordos militares. A Bolívia já se mostrou disposta a negociar com a Rússia, o Equador também caminha nesse sentido e o Chile já iniciou, há alguns anos, o reaparelhamento de suas Forças Armadas.

PREVENÇÃO

O cientista político Jorge Zaverucha, diretor do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas e da Criminalidade (NICC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), alerta para o risco desses acordos militares. “Isso é um perigo, porque se você tem armas é muito mais fácil que elas disparem. E há diferenças regionais gritantes, que podem agravar a questão”, pondera ele.

Zaverucha pontua que o projeto bolivariano tocado por Hugo Chávez iniciou a corrida armamentista na América do Sul. “A Venezuela tem claramente um projeto de expansão ideológica. Formou um bloco com Bolívia, Equador, tentou aproximação com Honduras até o golpe de Estado. Tudo começa quando a Venezuela resolve questionar a liderança americana na região, o que gera insegurança em seus vizinhos e inicia essa corrida”, explica.

Na opinião do historiador Luis Fernando Ayerbe, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), o reaparelhamento das Forças Armadas não constitui perigo para a região. Pelo contrário, “está levando a um maior equilíbrio militar, que favorece a prevenção de eventuais conflitos entre os países”.

Ayerbe explica que o acordo entre colombianos e americanos tem raízes no passado, com a cooperação selada por meio do Plano Colômbia, durantes os governos de Andrés Pastrana (1998-2002) e Bill Clinton (1993-2001). No caso da Venezuela, o acerto com a Rússia foi favorecido pelo episódio em que os EUA vetaram a compra de aviões fabricados com componentes de origem americana.

Em relação a outros países da América do Sul, Luis Fernando Ayerbe não vê o governo Evo Morales no circuito de reaparelhamento, por limitações econômicas. “A Bolívia não tem condições de investir pesadamente nessa área”, acredita. Já o Equador, “por causa de seu conflito com a Colômbia”, pode iniciar movimentações nesse sentido. Os dois países romperam relações em março de 2008, após bombardeio colombiano a um acampamento das Farc em território equatoriano. Na contramão da animosidade, os chanceleres das duas nações se reunirão na terça-feira, em Nova Iorque, num gesto que pode ensaiar o retorno da normalidade diplomática. A retomada, contudo, depende da aceitação, por parte da Colômbia, de cinco exigências feitas pelo governo de Rafael Correa, entre as quais o fim das recorrentes denúncias de que o Equador dá guarida às Farc.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Dom Set 20, 2009 1:03 pm
por kurgan
Marino escreveu:Barril de pólvora na América do Sul


Wagner Sarmento


CORRIDA ARMAMENTISTA

Acordos militares firmados entre países da região com Rússia e EUA têm provocado tensão e aumentado rivalidade

Colômbia e Estados Unidos, Brasil e França, Venezuela e Rússia. A “corrida armamentista” na América Latina tem acirrado ânimos na região. Dúvidas, medos e trocas de acusações apimentam um cenário incerto. Os acordos militares já resultaram em duas reuniões da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), mas o consenso, até agora, passou longe do jogo de interesses dos países.

O acerto entre o colombiano Álvaro Uribe e o americano Barack Obama para a utilização de sete bases colombiana pelos EUA iniciou a polêmica que acendeu a luz de alerta no continente. Uribe garante que o acordo visa combater o narcotráfico e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), consideradas pelos governos colombiano e americano como um grupo terrorista.

A permissão da Colômbia, no entanto, desencadeou uma série de reações na América do Sul. As críticas mais veementes partiram de Venezuela, Equador e Bolívia. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, chegou a dizer que o acordo provava a intenção da Casa Branca de intervir em outros países da região e deixava a América Latina “à beira da guerra”.

Por duas vezes, líderes tentaram, em vão, amenizar as tensões em encontros dos 12 países da Unasul, em 28 de agosto e na terça-feira passada. Na primeira reunião, em Bariloche, na Argentina, com a presença dos presidentes, foram sete horas de divergências e uma resolução final admitindo que o conflito estava distante de ser superado.

O segundo evento, envolvendo chanceleres e ministros da Defesa, também teve desfecho previsível. O único avanço foi o governo colombiano aceitar a proposta de garantir, por escrito, que seu tratado com os americanos não resultará em ações militares nos países vizinhos. Diante das pressões e da enxurrada de críticas, a Colômbia aventou a possibilidade de se desligar da Unasul.

No último dia 7, o líder brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, formalizou com o francês Nicolas Sarkozy, em Brasília, acordo de cooperação militar para reaparelhamento das Forças Armadas, que receberá 50 helicópteros. A Marinha ganhará também um submarino nuclear e quatro convencionais tipo Scorpène, em investimento de R$ 19 bilhões. O País ainda está na iminência de fechar a compra de 36 caças da empresa francesa Dassault, em detrimento da americana Boeing, o que estremeceu a relação entre Brasil e EUA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, classificou como a escolha da França como “política”. A Suécia também está na briga.

As Américas foram sacudidas, há uma semana, com o anúncio, por parte da Venezuela, da obtenção de um empréstimo de US$ 2,2 bilhões da Rússia, para a compra de 92 tanques e sistemas de mísseis antiaéreos dos ex-soviéticos, que são seus aliados estratégicos. Em visita à Rússia, Chávez trocou afagos com o colega Dmitri Medvedev. A notícia caiu como uma bomba entre os americanos: a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, cobrou transparência e externou a preocupação da Casa Branca de uma possível “corrida armamentista em curso na região”. O líder venezuelano, contudo, alegou que seu objetivo é apenas modernizar a frota de veículos armados do país.

A Venezuela mantém ainda tratados na área de defesa com o Irã, inimigo histórico dos Estados Unidos. As relações diplomáticas entre americanos e iranianos estão rompidas há 30 anos e, apesar da tentativa de reaproximação ensejada por Obama, a república islâmica é vista como ameaça ao Ocidente.

A América do Sul assiste a outras movimentações em torno de acordos militares. A Bolívia já se mostrou disposta a negociar com a Rússia, o Equador também caminha nesse sentido e o Chile já iniciou, há alguns anos, o reaparelhamento de suas Forças Armadas.

PREVENÇÃO

O cientista político Jorge Zaverucha, diretor do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas e da Criminalidade (NICC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), alerta para o risco desses acordos militares. “Isso é um perigo, porque se você tem armas é muito mais fácil que elas disparem. E há diferenças regionais gritantes, que podem agravar a questão”, pondera ele.

Zaverucha pontua que o projeto bolivariano tocado por Hugo Chávez iniciou a corrida armamentista na América do Sul. “A Venezuela tem claramente um projeto de expansão ideológica. Formou um bloco com Bolívia, Equador, tentou aproximação com Honduras até o golpe de Estado. Tudo começa quando a Venezuela resolve questionar a liderança americana na região, o que gera insegurança em seus vizinhos e inicia essa corrida”, explica.

Na opinião do historiador Luis Fernando Ayerbe, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), o reaparelhamento das Forças Armadas não constitui perigo para a região. Pelo contrário, “está levando a um maior equilíbrio militar, que favorece a prevenção de eventuais conflitos entre os países”.

Ayerbe explica que o acordo entre colombianos e americanos tem raízes no passado, com a cooperação selada por meio do Plano Colômbia, durantes os governos de Andrés Pastrana (1998-2002) e Bill Clinton (1993-2001). No caso da Venezuela, o acerto com a Rússia foi favorecido pelo episódio em que os EUA vetaram a compra de aviões fabricados com componentes de origem americana.

Em relação a outros países da América do Sul, Luis Fernando Ayerbe não vê o governo Evo Morales no circuito de reaparelhamento, por limitações econômicas. “A Bolívia não tem condições de investir pesadamente nessa área”, acredita. Já o Equador, “por causa de seu conflito com a Colômbia”, pode iniciar movimentações nesse sentido. Os dois países romperam relações em março de 2008, após bombardeio colombiano a um acampamento das Farc em território equatoriano. Na contramão da animosidade, os chanceleres das duas nações se reunirão na terça-feira, em Nova Iorque, num gesto que pode ensaiar o retorno da normalidade diplomática. A retomada, contudo, depende da aceitação, por parte da Colômbia, de cinco exigências feitas pelo governo de Rafael Correa, entre as quais o fim das recorrentes denúncias de que o Equador dá guarida às Farc.

Na boa, mas o artigo precisa explicar o significado "o que é uma corrida armamentista", pois convenhamos os exercitos da América Latina só batem em cachorro morto, e olha com muita dificuldade.Mesmo se for para defender sua "SOBERANIA" não agüentariam dois meses para fazer um acordo.Por isso é dificil de ter uma guerra.Ex. Argentina Malvinas.

Se for para ter um EXERCITO mais capaz que possa, sim fazer uma retalhiação para proteger sua soberania, e ele ter meios para lutar por um período médio, há de se gastar dinheiro, é um ônus necessário.Mas se for para brincar de exercito, e ver qual é o mais medíocre, falta pouco.

Re: GEOPOLÍTICA

Enviado: Dom Set 20, 2009 1:19 pm
por Marino
Revista Época
Mundo
“O Brasil teme se aproximar dos EUA”
Não há mais como fugir do debate de uma parceria diplomática ativa com Washington, diz o especialista
JULIANO MACHADO

As declarações de amizade dos presidentes Barack Obama e Luiz Inácio Lula da Silva, na prática, não melhoraram nada as relações entre Brasil e Estados Unidos. É o que pensa o especialista em relações internacionais Matias Spektor, autor do recém-lançado Kissinger e o Brasil. Para Spektor, a política de aproximação com o Brasil planejada pelo ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger nos anos 70 foi “o único momento de nossa história em que houve a intenção de uma parceria ativa com os americanos”. A experiência de Kissinger fracassou, mas abre uma reflexão sobre os prejuízos da visão de que é preciso escolher entre alinhamento automático e distanciamento para lidar com os EUA, afirma Spektor.

ENTREVISTA - MATIAS SPEKTOR

QUEM É
Tem 32 anos. Nasceu em Rosário, na Argentina, mas veio morar no Brasil aos 10 anos

O QUE FAZ
Doutor em relações internacionais pela Universidade de Oxford, é coordenador do Centro de Estudos sobre Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas

O QUE PUBLICOU
Kissinger e o Brasil (Editora Zahar, 2009). Seu segundo livro será uma análise comparativa de países emergentes entre 1961 e 1981


ÉPOCA – O que levou Henry Kissinger a buscar uma aproximação com o Brasil?
Matias Spektor – Os anos 70 marcaram um ciclo de expansão de países periféricos, como se fossem os Brics antes dos Brics (termo cunhado em 2001 para designar as economias do Brasil, da Índia, da China e da Rússia). O papel de Kissinger foi perceber, contra a opinião dominante nos Estados Unidos, que o Brasil não só crescia a passos acelerados, como também tinha uma política externa ambiciosa. Portanto, convinha trazê-lo para perto e transformá-lo em parte do pilar do projeto americano de governança global. Era um visionário, mas ao mesmo tempo a maioria de suas apostas foi errada.

ÉPOCA – Por quê?
Spektor – Kissinger apostou na ditadura brasileira, implodida pela crise econômica. Defendeu o apartheid na África do Sul. No Irã, apoiou o xá Reza Pahlevi, expulso pela revolução islâmica. Ele detectou um mundo emergente que devia ser integrado, mas quase sempre errou na maneira de fazer essa integração.

ÉPOCA – Qual foi o significado da assinatura, em 1976, do Memorando de Entendimento entre Brasil e EUA?
Spektor – Foi a primeira vez em que os EUA se comprometeram a manter encontros diplomáticos regulares com um país em desenvolvimento. Reconheceram que o Brasil importava para o cenário mundial. Essa iniciativa de Kissinger, costurada com (Antônio Francisco Azeredo da) Silveira (chanceler brasileiro de 1974 a 1979, durante o governo de Ernesto Geisel), foi o único momento da nossa história em que houve a intenção de uma parceria ativa com os americanos. A expectativa americana era que o Brasil fosse um aliado na Guerra Fria e coordenasse as políticas dos EUA na América do Sul. Mas a cooperação nunca decolou.

ÉPOCA – Quais eram os entraves?
Spektor – Do lado americano, vários oficiais do Departamento de Estado eram contra nomear um país da América do Sul como nação-chave. Eles temiam uma reação negativa de outros países, como a Argentina, que então rivalizava conosco no continente. E recusavam o apoio a uma ditadura brutal, que torturava seus presos. Do lado do Itamaraty, fazer negócio com os americanos parecia arriscado. Engajar-se com os EUA implicava se expor a novas “áreas de conflito” com a superpotência e assumir responsabilidades no continente que o Brasil não queria. O plano de aproximação era um esforço pessoal de Kissinger, que sabia das hesitações do Brasil. Quando Kissinger deixou o poder, com a chegada à Casa Branca do democrata Jimmy Carter (1977-1981), a iniciativa chegou ao fim.

ÉPOCA – Como se relacionam hoje o Brasil e os EUA?
Spektor – Muitas das dinâmicas daquele período continuam vigentes, entre elas a percepção, sintetizada numa frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que “quanto menos a gente entrar no radar dos EUA, melhor”. O chanceler Silveira dizia na época das negociações com Kissinger que havia o risco de aumentar os “acidentes de rota”. Exceção a essa tentativa de parceria ativa, nossa relação com os EUA é regida por duas situações básicas: alinhamento automático, que é o Brasil seguir os EUA a reboque, como ocorreu no pós-Segunda Guerra Mundial e logo depois do golpe de 1964, ou o distanciamento, que é a visão dominante. Isso foi a tônica na Guerra Fria e perdura até hoje. O Brasil tem relações mais distantes com os EUA que qualquer um dos outros Brics.

Se o Brasil quiser ser potência emergente de fato, vai ser forçado a entrar no radar dos EUA

ÉPOCA – Obama disse que o presidente Lula era “o cara”. Essa afeição entre os presidentes pode melhorar a relação?
Spektor – Não. É uma percepção fora de lugar. O fato de dois chefes de Estado terem empatia mútua não se traduz, necessariamente, em programas de cooperação. Nos principais pontos da agenda, seja comércio, proliferação nuclear, promoção da democracia ou segurança internacional, Brasil e EUA têm interesses conflitantes. Sorrisos em fotos e o fato de Obama ter usado com Lula uma expressão corriqueira nos EUA não têm relevância estratégica nenhuma. O que existe é uma expectativa americana de o Brasil se tornar um país disposto a pagar os custos de gerir a ordem internacional. E o Brasil tem sido muito relutante.

ÉPOCA – Isso frustra os EUA?
Spektor – De certa forma, sim. Na percepção americana, o Brasil está jogando numa liga menor que seu peso sugere. O Brasil é relativamente tímido, na visão de Washington. Contrariamente ao que se acredita por aqui, os EUA querem que o Brasil se fortaleça. É como me disse Kissinger, quando o entrevistei em 2006 para escrever o livro: “Eu queria muito que o Brasil fosse mais poderoso. Queria acelerar sua ascensão”.

ÉPOCA – Qual foi o envolvimento de Kissinger na Operação Condor, uma aliança entre ditaduras do Cone Sul nos anos 1970 para caçar opositores?
Spektor – Não há dúvidas de que Kissinger apoiou ostensivamente a repressão no Cone Sul. É por isso que ele não viaja para países como o Brasil, pois pode ser chamado por um juiz local a depor em processos de violação de direitos humanos. No entanto, em relação à Operação Condor, não há até agora evidências documentais de que nem o Brasil, muito menos Kissinger, tivesse uma posição proeminente. Há uma diferença entre Kissinger conhecer essas estratégias e ter participado delas ativamente.

ÉPOCA – Qual é o legado de Kissinger para as relações entre Brasil e EUA?
Spektor – Kissinger foi um tom destoante da norma diplomática entre os dois países. Se foi bom ou ruim, é difícil dizer, porque durou pouco. Nossa geração ainda vive um dilema enorme: como fazer para lidar com a maior potência do mundo? A decisão não pode se restringir a uma falsa escolha entre alinhamento automático e distanciamento. Se o Brasil quiser ser potência emergente de fato, vai ser forçado a entrar no radar dos EUA. Não adianta fazer a política do pato, que é enfiar a cabeça embaixo d’água na hora que passa o gavião. Kissinger nos faz refletir sobre o que ganharíamos com uma parceria ativa com os EUA. Não estou advogando pela aproximação, mas isso deveria ser debatido na sociedade. Por que ninguém fala numa possibilidade de acordo comercial bilateral? O Brasil tem medo de se aproximar dos EUA. Isso não é necessariamente errôneo, mas não podemos ficar presos a uma dicotomia do passado.