MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7651 Mensagem por Bourne » Seg Mai 07, 2018 3:44 pm

Túlio escreveu: Seg Mai 07, 2018 12:40 pm De onde esse cara tirou a "pérola" de a desigualdade não ser um fenômeno natural? Claro que é, não consigo lembrar de uma só sociedade humana em que todo mundo fosse igual; pior, nem os animais gregários o são, até bandos/alcatéias de leões e lobos têm líderes que vivem melhor que os demais. Até abelhas e formigas têm sua hierarquia social, com uma maioria submetida a uma minoria.

Aliás, uma sociedade plenamente igualitária estaria fadada à extinção, pela absoluta falta de estímulo ao progresso.
Precisa contextualizar melhor.

A desigualdade em relação a renda e riqueza que se refere o autor, Piketty e outros é provocada pelo papel do estado (tributação, gasto e regulação do setor privado). No sentido de que o tipo de intervenção pública nas últimas décadas, mais acentuada pós-crise de 2007/08 foi de acentuar a desigualdade de renda. O foco deles são os países desenvolvidos que o estado é relevante para redistribuição de renda. Seja pela pregressividade dos impostos sobre renda e propriedade. Seja pela oferta de bens públicos como saúde, educação, seguridade social que aumentam a renda liquida da média da sociedade que não precisa contratar empresas privadas para ter acesso. Nesse caso inclui o desenho do sistema tributário, direcionamento de gastos, tipo de regulação de como o setor privado funciona no sentido amplo que abrange mercado de trabalho, política comercial, industrial, educacional entre outros.

O combate a desigualdade tem um forte sentido econômico. Primeiro de elevar a qualidade de vida da população em geral. Segundo ter efeitos positivos sobre produtividade e crescimento. Já que se há maior igualdade na oferta de saúde, educação, urbanização e outros é possível selecionar os melhores trabalhadores que vão contribuir para economia. Assim não avalia a formação em si. Terceiro que deve reduzir a tendência de instabilidade política e social porque é possível transitar dentro da estrutura social.

No Brasil é mais grave porque a preocupação nunca foi ter um estado comprometido com a redução da desigualdade de renda e na oferta de bens públicos que elevem bem-estar da sociedade, condicionados também com efeitos positivos sobre produtividade. Poer exemplo, o sistema tributário baseado em impostos sobre consumo e produção, extremamente complexo e que possuem várias fugas para quem o conhece. O modelo básico da década de 1950 e implementada no governo militar está até hoje aí. Não muda por resistências diversas. E no gasto também como as políticas de "defesa da industria nacional" com crédito subsidiados para meia duzia e incentivos as importações de bens intermediários, de capital e insumos.

O Brasil e o país em que depois do governo a distribuição de renda piora. Isto é, o Estado ajuda a concentrar renda. Por isso que o Brasil está virando estudo de caso no mundo. Lá na equipe do Piketty tem uma equipe só para cuidar do Brasil e entender o que ocorre aqui.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7652 Mensagem por Bourne » Seg Mai 14, 2018 3:32 pm

Mais uma fase do golpe. Agora o alvo são essas estruturas fascistas e representantes dos setores não produtivos como as federações das industrias.

Já que elas que são contra abertura ao comércio, dão pulinhos de alegria quando ganham subsídios de crédito e tributários, e que depois choram porque o governo não defende mais a "velha industria nacional nascente". No meio do caminho não deixam outros assumirem as entidades, mudar a pauta de reivindicações ou surgirem setores novos.
Forte hemorragia dos sindicatos patronais
Entidades sofrem enorme queda de receitas e estão à beira da desintegração

As finanças das entidades patronais estão à beira do colapso e isso deve mudar tudo no sistema de representação dos empresários. Os sindicatos dos trabalhadores não foram os únicos a ir à lona pelo fim do imposto sindical.

O sistema que acaba de ter suas veias rasgadas foi a estrutura corporativista inspirada na Carta del Lavoro de Mussolini, instituída ainda na década de 1940 pelo presidente Vargas. Tanto os trabalhadores quanto os empresários foram organizados em sindicatos unidos em federações estaduais e estas, por sua vez, em confederações nacionais. O Ministério do Trabalho se encarregou, então, de meter a colher do Estado nesses caldeirões de maneira a garantir o jogo político do governo.

Essa estrutura foi financiada pela contribuição sindical obrigatória que correspondia a um dia de salário por ano por parte do trabalhador e, no caso dos empresários, por contribuição, também obrigatória, calculada com base no faturamento das empresas.

As distorções não tardaram. Na área dos trabalhadores, apareceram os sindicatos pelegos (que faziam o jogo do patrão) e os sindicatos fajutos, que se limitaram a tirar proveito do imposto sindical para sustento de grupelhos encarregados de se perpetuar nas diretorias das entidades.

Na área dos empresários, grande parte dos chamados sindicatos patronais, ainda que inexpressivos e de baixíssima representatividade, passou a eleger as diretorias de cada federação. O sindicato dos fabricantes de tampinhas de refrigerante, por exemplo, tem o mesmo voto que o da indústria de veículos. Os diretores, por sua vez, frequentemente se aproveitaram do cargo para alavancar carreira política ou, simplesmente, para praticar cartolagem empresarial.

Como essa estrutura não servia para dar força aos empresários, cada setor se encarregou de criar associação que, por meio de contribuições voluntárias, passou a defender seus interesses comuns. Essa foi a razão da disseminação de grande número de siglas, quase todas iniciadas pela letra A (de Associação), algumas, no entanto, ligadas aos próprios sindicatos empresariais.

Depois de promulgada a reforma trabalhista, embora saíssem à cata de contribuições, desta vez voluntárias, os sindicatos patronais, as federações e as confederações sofreram enorme queda de receitas.

Imagem

A outrora tão poderosa Fiesp, por exemplo, chegou a arrecadar R$ 16,9 milhões em contribuições sindicais no ano passado, quase todas no início do ano. Neste 2018, obteve apenas R$ 2,4 milhões, redução de 85,8%. A Federação do Comércio paulista viu sua arrecadação minguar de R$ 29,3 milhões no ano passado para apenas R$ 6,1 milhões neste ano.

Diante do quadro, as entidades patronais vivem situação inédita, à beira da desintegração. Para o professor Jorge Boucinhas Filho, da FGV, a saída é demonstrar o valor da entidade e criar mecanismos para aumentar o número de filiados. Muitos sindicatos, já na UTI, recorrem à promoção de eventos, oferta de novos serviços e até na cobrança de contribuições em atraso.

Fica para ser conferido até quando poderão contar com as receitas correspondentes às “taxas de administração” do Sistema S (Sesi, Senai, Sesc, Senac e Sebrae), cuja estrutura contributiva não foi atingida pela reforma trabalhista.

A representatividade, no entanto, que já não era lá essas coisas, agora parece gravemente abalada. Muitas entidades menores localizadas no interior do País já abriram mão de sede própria, recorreram a demissões de pessoal, cortes de viagens e de despesas com solenidades. Mesmo que admita queda geral de receitas de apenas 14%, a Fiesp reduziu em 20% seu quadro de funcionários.

A fusão de sindicatos pode, em princípio, ser uma saída: “Para defender seus interesses, é melhor poucos sindicatos fortes do que muitos sindicatos fracos”, observa Boucinhas.

Para o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, o fim da contribuição sindical obrigatória é o incentivo que faltava para que as entidades empresariais se tornem representativas e que façam valer a pena cada contribuição que obtiverem. Mas o que vier a ser remontado não terá nada a ver com o que já foi.

http://economia.estadao.com.br/noticias ... 0002305315
É sarcasmo, amigos. O pessoal como da Anfavea estão firmas e fortes. Eles são muito bem articulados e coerentes com quem representam. Outras entidades como Abimaq, ligadas a agricultura e transporte, infraestrutura idem. Outras, a maioria dos sindicatos e federações, são baseados nas receitas de imposto sindical e sistema S. Sem imposto sindical viram falimentares. E os gastos com sistema S devem ser mais fiscalizados para reverter em serviços de formação e assessoria para os filiados. O que pode acontecer com a perda do imposto sindical.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7653 Mensagem por knigh7 » Ter Mai 15, 2018 8:57 pm

O comentário do Waack tem um liame com a realidade político-econômica do Brasil.





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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7654 Mensagem por Bourne » Sáb Mai 19, 2018 12:21 am

Parem as máquinas!!!
Geraldo Alckmin anuncia mais 3 nomes de sua equipe econômica
Edmar Acha fará plano de abertura econômica

Mendonça de Barros estudará área agrícola

O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, anunciou nesta 5ª feira (17.mai.2018) novos 3 nomes para a equipe que montará seu plano de governo: Edmar Bacha, José Roberto Mendonça de Barros e Alexandre Mendonça de Barros.

Além de Pérsio Arida, irão participar da elaboração do plano econômico os economistas Edmar Bacha, que participou da elaboração do Plano Real, José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e o agrônomo Alexandre de Barros.

Pérsio coordenará a elaboração das propostas para a área econômica. O programa de governo do ex-governador de São Paulo está sob coordenação do sociólogo Felipe D’Ávila. “Ninguém faz nada sozinho. É preciso ter time, não adianta ter só um craque”, disse Alckmin à Reuters.

Alexandre e José Roberto de Barros devem elaborar propostas para a área agrícola, enquanto Edmar Acha se debruçará em elaborar 1 plano para a abertura econômica.

https://www.poder360.com.br/eleicoes/ge ... economica/
O Alckmin anunciou sua equipe econômica: Persio Arida; Edmar Bacha; José Roberto Mendonça de Barros; e Alexandre Mendonça de Barros. Quatro nulidades na academia e burocracia nacional e internacional. Eles poderiam até ter feito algo no passado, especialmente o Persio Arida e Edmar Bacha, mas foi lá na década de 1970 e 1980. Hoje são dinossauros e lobistas profissionais. Deveriam estar no asilo, cadeia ou ambos. O detalhe é que os "Mendonça de Barros" são irmãos.

Sinal de que nem os caras (e mulheres) boas querem papo com PSDB.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7655 Mensagem por knigh7 » Dom Mai 20, 2018 2:13 pm

Samuel Pessôa
Populismo de Pochmann
Não adianta negar as restrições do mundo, pois a conta sempre chega

O professor do Instituto de Economia da Unicamp Marcio Pochmann, responsável pelo programa do candidato do PT, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 29 de abril, afirmou: "O fundamental no início do governo é um programa de emergência, que permita ao país sair da crise e voltar a crescer. Nós entendemos que a questão fiscal se resolve com volta do crescimento".

Certa feita, o presidente da Argentina Juan Perón escreveu em carta ao então presidente do Chile, Carlos Ibáñez: "Meu caro amigo: dê ao povo tudo o que for possível. Quando lhe parecer que você está dando muito, dê mais. Você verá os resultados. Todos irão lhe apavorar com o espectro de um colapso econômico. Mas tudo isso é uma mentira. Não há nada mais elástico do que a economia, que todos temem tanto porque ninguém a entende".

Para os populistas, a economia é elástica e a crise fiscal se resolve apertando o pé no acelerador e colocando a economia para crescer. Na América Latina o populismo produziu décadas de inflação e estagnação. A Argentina regride há sete décadas.

É compreensível que políticos escolham a estratégia populista. Dá resultados eleitorais. É péssimo para o país e para a sociedade e, principalmente, para os pobres --populismo sempre leva à crise e ao desemprego--, mas traz bônus eleitorais no curto prazo.

Quando técnicos ou intelectuais prometem o Paraíso, eles escondem dos cidadãos as reais limitações da economia e os verdadeiros problemas a serem enfrentados.

Pior ainda, dão munição à pior forma de política: a que procura manipular a opinião pública em busca de votos, evitando uma discussão civilizada e adulta de nossos problemas.

O desequilíbrio fiscal representa um genuíno conflito distributivo. Se no século 19 esse embate se dava prioritariamente no âmbito do confronto entre o capital e o trabalho, hoje seus principais campos de batalha são o Tesouro Nacional e o Congresso, que é a instância que arbitra o conflito.

Sempre haverá temas técnicos. Por exemplo, qual será o efeito desta ou daquela forma de tributação sobre o crescimento? E sobre a desigualdade e pobreza? Estes e outros temas demandam o debate sério informado com o melhor aporte da academia. Mas a decisão final é política.

A teoria demonstra, e nossa história já provou,que a política preconizada por Pochmann sempre nos levou à inflação e ao desemprego. Não há nenhum indício ou estudo acadêmico sério que indique que seria diferente desta vez. E, como já disse, das formas de tentar gerir o conflito distributivo, a única pior que a inflação é a guerra civil.

Pochmann, em artigo na Folha na quinta-feira (17), chamou-me de paladino do governo para ricos. Mostrou os números dos lucros dos bancos no governo Temer. Se tivesse se dado ao trabalho de averiguar a lucratividade dos bancos nos anos Lula e Dilma, notaria que foi ainda maior do que no último biênio.

No início do governo Lula, Pochmann também foi contrário à focalização das políticas públicas nos mais pobres, princípio que está na base do programa Bolsa Família.

Uma das raízes da atual crise política foi uma campanha eleitoral em que se esconderam da sociedade seus limites, escolhas e conflitos. Repetir a estratégia, fugir a um debate civilizado e adulto, levará ao aprofundamento da crise.

Não adianta negar as restrições do mundo, pois a conta sempre chega. Na Argentina de Perón, na Argentina hoje e no futuro que Pochmann propõe.


https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2 ... ensa.shtml




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7656 Mensagem por Bourne » Seg Mai 21, 2018 10:42 am

O Marcio Pochmann (e vários campineiros como Alexandre Rossi, Paulo Bastos) sempre foram uma piada. Nunca foram levado a sério. Não são pesquisadores. São outra coisa que em outros países iriam parar algum departamento multidisciplinar de humanas. Multidisciplinar porque se não faz modelo, pesquisa com dados primários, hipóteses fundamentadas não tem espaço na economia, história, ciência política e outros.

Assim, eles só sobrevivem, pelas camaradagens e ser o que sobrou dos quadros "técnicos" do PT. Entre aspas por não ser técnico. O pessoal da UFRJ que tava no governo Dilma pegou a mala e fechou com Boulous. Mesmo assim, os caciques do PT (Palocci, Dirceu, Lula e outros) não confiavam nesse pessoal. Tanto que entregaram a política econômica e social para o Marcos Lisboa e outros que eram jovens PhDs reconhecidos no Brasil e exterior. E deram liberdade para eles trabalharem. As críticas conta focalização e reformas micro dos campineiros e do Pochmann eram ignoradas. Sempre foram. Porque eram loucuras.

Agora o Samuel Pessoal, ele não é bom. Várias vezes ele comete deslizes feio e erros bizarros na interpretação da literatura. Especialmente a parte que não lhe agrada e diz que ele está errado. Por exemplo, na época que escreveu um texto que fiz que capital físico e tecnologia não importam, que a literatura diz que depende do capital humano. ERRADO!!! Os modelos dizem que é a relação e interação entre ambos, somados as regras e estrutura institucional de interações. Outra bizarrice, o contrato social destruiu a produtividade e que a literatura diz isso. Está ERRADO!!!! A literatura enfatiza que depende de como da estrutura tributária, como é direcionado os gastos, a qualidade institucional e das regras de interações, estrutura social, preferências da sociedade e outros.

Eu li a literatura que diz entender. Sei onde ele capota o jipe. Quando entre para temas mas técnicos se perde.

O Samuel Pessoa é outro que preferiu não embarcar com Alckmin. Também está distante. Dizem nos corredores que existe disposição de jovens e tão jovens PHDs olharem Marina e Ciro. Pasmem senhores, especialmente provenientes da equipe do Ciro, começam a receber cartilhas, telefonemas e convites para jantares de outros coleguinhas mais políticos. Os termos de trabalho seriam bem similares ao do primeiro governo Lula. Boa parte dos técnicos do governo Temer podem ficar.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7657 Mensagem por Bourne » Qui Mai 24, 2018 10:32 am

Existe fundo de verdade de que a greve dos caminhoneiros provém dos incentivos pós-crise de 2008/2009 e que foram estendidos até idos de 2014.

Existe muito equipamento sobrando. Seja de caminhões e máquinas e equipamentos. Agora boa parte já está velho e precisa ser substituído. No caso das transportadoras e empresas, estão repassando os caminhões para as pequenas empresas e autônomos. O resultado tem um monte de caminhão na praça e que derrubaram o valor do frente. Não há margem para assimilar os choques de custos do diesel. Pode ver que as entidades que controlam os frentes apoiam a greve e refazem o discurso que não tem margem. E que também faz sentido.

No fim das contas estoura no governo e Petrobras. O governo fraco e não firmar uma posição. Vai estourar lá em 2019 no novo governo. Quem sabe a situação também incentive a reforma tributária com a tal progressividade, desoneração do setor produtivo que todo o candidato promete. Mas antes tem a reforma da previdência urgente para liberar recursos do orçamento para outras áreas.
Batida de caminhão na crise nacional

Tumulto detonado pelo preço de combustíveis é um laboratório do que está por vir
Bastou uma greve de caminhoneiros de três dias para que ficasse explícito o emaranhado de crises brasileiras.

É um laboratório do que está por vir em 2019, ano em que começa o conflito aberto em um país de cobertores curtos e de reis nus, de lideranças políticas com vergonhas expostas.

Um conflito que seria de natureza privada, no fundo, imediatamente explodiu no colo de um governo falido. A reação da elite política à crise ressaltou seu oportunismo limítrofe.

Caminhoneiros e transportadores em geral se queixam no fundo de que não conseguem repassar o aumento do custo de combustíveis, do diesel, para seus preços, os fretes. Por quê?

Além de problemas nos contratos do setor, persiste um problema evidente desde 2015: há caminhoneiros e caminhões sobrando. Houve superinvestimento em capital, facilitado pelo crédito subsidiado no governo anterior, problema agravado por, vejam só, melhorias logísticas.

Em conversas informais, caminhoneiros dizem que está duro negociar aumento de frete, que indústria, agropecuaristas e empresas negociantes de commodities alegam que a crise estreitou as margens delas também.

O aumento rápido e imprevisível de custos, devido à nova política de preços da Petrobras, agrava o problema, decerto. A alta carga de impostos facilita uma curiosa coalizão. Caminhoneiros e associações empresariais, várias delas contratadoras de fretes, pedem menos tributos. Todos se juntam contra a Petrobras.

A Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), organização empresarial, diz que a greve é legítima. Critica a proposta de governo e Congresso de reonerar empresas (voltar a cobrar contribuições mais pesadas para a Previdência, que haviam sido desoneradas por Dilma Rousseff).

Quer revisão nos reajustes da Petrobras, pois o diesel, dizem, deve ter tratamento diferente, dado seu impacto geral nos preços, mas "sem que isso represente ingerência ou um retrocesso no processo de recuperação da Petrobras". É a quadratura do círculo.

A Aprosoja Brasil (Associação dos Produtores de Soja) apoia a reivindicação caminhoneira, diretamente interessada que é; a CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) apoia o movimento.

O governismo majoritário na Câmara dos Deputados fazia corpo mole quanto a reformas, o programa de Michel Temer, sabotando particularmente medidas que remendariam o cofre furado do governo, como a reoneração da folha de pagamentos. Para piorar, fazia favores e perdoava dívidas gordas de setores empresariais.

De súbito, liderada por Rodrigo Maia (DEM) recorre à reoneração a fim de tapar o buraco que será deixado pela desoneração dos combustíveis (fim ou redução da cobrança de Cide e PIS/Cofins). De resto, Maia, candidato a presidente deste país quebrado, passa a dizer que há "folga" no Orçamento deste ano.

A Petrobras, que recusava interferência em sua política de preços, por sua vez dá uma gorjeta de 10% no preço do diesel, temporária.

É uma conjunção de oportunismos rasteiros para lidar com problemas de fundo, conversinha referendada pelo "bloco no poder". É outro movimento concertado para dizer, em suma, que os ajustes econômicos (fiscal, de preços etc.) são necessários, desde que seja no couro dos outros.

Em 2019, 2020, a farinha será pouca, quase nenhuma, e a luta para manter o pirão será feia. A crise de agora é uma amostra pequena do que virá.

Vinicius Torres Freire
Na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião' e correspondente em Paris.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/v ... onal.shtml




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7658 Mensagem por Bourne » Sáb Jun 16, 2018 9:46 am

Só boas notícias. O próximo presidente vai comandar o que restou do barco e completar o naufrágio.
Memoráveis pedaladas
Fiscalistas temem furo ao teto de gastos, mas regra de ouro está sob risco iminente


A fragilidade fiscal do Brasil, com o Estado quebrado e o endividamento público caminhando para 80% do PIB, tem suscitado grande inquietação sobre o futuro do dispositivo constitucional que estabeleceu o teto de gastos da União. Vários presidenciáveis se opõem ou, no mínimo, são céticos sobre a permanência dessa trava nas despesas.

Especialistas calculam como elevada a probabilidade de descumprimento do limite já em 2019. O TCU estima que a máquina pública possa parar a partir de 2024: com os gastos obrigatórios —principalmente Previdência e funcionalismo— consumindo a totalidade dos recursos orçamentários sob o teto, não haverá dinheiro nem para cafezinho.

Há pânico entre fiscalistas, temerosos que o mecanismo criado por Michel Temer seja flexibilizado ou banido, e o complexo legado fiscal herdado pelo novo mandatário jogue o país numa situação de insolvência.

Mas o que dizer de outra norma fiscal vigente, que está na iminência de ser pedalada? Com a redundância de regramentos no manejo das contas federais —teto de gastos, meta de resultado primário e regra de ouro— essa última tem perdido espaço no debate eleitoral.

A regra de ouro impede a emissão de dívida em volume superior aos investimentos. Ou seja, proíbe que o Tesouro tome recursos para bancar despesas correntes e determina que exceções ao princípio sejam autorizadas pelo Congresso.

Temer deixará para o próximo presidente um buraco na regra de ouro de R$ 254 bilhões, que deverão ser cobertos com a aprovação de créditos adicionais pelos parlamentares. A solução foi incluída no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2019 e vem sendo refutada por consultorias técnicas da Câmara e do Senado, com um alerta sobre os riscos de instabilidade política e de o assunto chegar ao Judiciário.

A equipe econômica diz que a alternativa foi previamente acordada com o TCU. O mesmo tribunal que condenou Dilma Rousseff pelas memoráveis pedaladas fiscais.

Julianna Sofia
É secretária de Redação da sucursal em Brasília. Atuou na cobertura de temas econômicos.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/j ... adas.shtml




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7659 Mensagem por Túlio » Sáb Jun 16, 2018 4:21 pm

Há sempre as chamadas "imprevisibilidades previsíveis", e quero chamar a atenção para uma delas, situando-a no espaço e no tempo: bueno, logo após o Lullahu Akbar vencer as Presidenciais em 2002, o tale de "mercado" se apavorou com a "iminente chegada do comunismo" e o Brazil despencou, com multidões de especuladores retirando seus dólares e euros, tão necessários ao governo para rolar suas eternamente "impagáveis" dívidas, a ponto de o futuro "ex", FFHH, precisar arrumar um empréstimo de emergência com os EUA, que nem sabiam o que fazer com tanto dólar, tão aquecida estava a sua economia. Isto que citei, aliás, sempre acaba se espalhando pelo mundo todo e me parece ser talvez a principal razão para a hegemonia dos ianques: se eles e$tão bem, o mundo e$tá bem; se despencam levam o mundo junto (Grande Crise da década passada).

Bueno, o superaquecimento da economia mundial levou ao boom das commodities, das quais somos grandes exportadores. Então, uma economia de que todo mundo, do geniozinho acadêmico ao jornalista enrolão, fazia as previsões mais catastrofistas possíveis e imagináveis, deslanchou. O resto nós sabemos, creio até que nem o nosso GROFAZ esperava por essa, começou a entrar dinheiro por tudo quanto era buraco. Pena que não soube usar, preferindo o populismo imediatista e eleitoreiro ao Estadismo, que lhe esteve ao alcance da mão por anos a fio.

Acontece que a economia mundial funciona em ciclos de bonança e crise, e parece que outro está em andamento, saindo da crise em direção à bonança. Isso nos inclui, grandes produtores de commodities que somos, e é perfeitamente admissível que o catastrofismo dos de sempre acabe dando outra vez com os burros n'água...




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7660 Mensagem por Bourne » Sáb Jun 16, 2018 6:45 pm

Ué... está vendo o dólar disparar? Já é o efeito das trombeta tocadas pelo FED. Eles estão com medo da inflação em que existem indicações que vai para meta ou superar. isso afeta o Brasil, os emergentes que estão na mesma situação, já anda puxando para cima as taxas de juros de outros países desenvolvidos. Esses dias a Argentina se agarrou aos empréstimos do FMI. Em seguida vem duas coisas para o Brasil.

A primeira que os insumos industriais e componentes vão subir de preço em reais. O que significa que vão ser repassados e alimentar a inflação. Ela já está renascendo. Um sinal foi a política de preços dos combustíveis que foi implodida em parte por esse movimento. E vários outros setores começam a preparar repasse dos custos. A inflação irá voltar e com um país em crise fiscal. A crise fiscal era para resolver em 2015/16, mas até hoje nada. Ou seja, juros reais maiores em um ambiente de crise de endividamento do governo. Não é legal.

A segunda a guerra comercial entre china e EUA prejudica e ajuda o Brasil. Prejudica porque eles tão brigando e vai sobrar para o Brasil em relação as exportações para EUA como no aço. Logo cai na rede outros bens manufaturas ou semimanufaturados que competem com EUA como peças automotivas e motores. Muitas feitas por firmas multinacionais instaladas no Brasil. Além mudar o mercado mundo e fazer muitos países e firmas redirecionarem os acordos. E beneficia porque abriu um corredor enorme para produtos agrícolas, madeira, petróleo e derivados, entre outros para china e outros países. A guerra apenas começou. Por exemplo, a China importa muita soja dos EUA, já anunciou que está no pacote de contra-ataque elevar tarifas e deixou claro que pode aprofundar. Isso beneficia quem produz soja produzida no América Latina e Brasil, também Austrália e África.

Esse mundão tão muito estranho




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7661 Mensagem por Túlio » Sáb Jun 16, 2018 6:56 pm

Não sei se entendi: discordamos exatamente no quê, @Bourne? Não me lembro de te ver negando desde teu primeiro post que li que a Economia se move por ciclos, creio até ter aprendido isso contigo (ou com o @LeandroGCard, ou com ambos, não tenho certeza), assim, o que eu escrevi de tão errado?

Admito que neste e mesmo em outros assuntos das Humanas sou claramente inferior - em termos de capacidade cultural e leituras - a VOSMEÇÊS, e não acho vergonhoso isso, só o seria se não arriscasse para tentar aprender algo, e ambos têm sido mais generosos do que eu creio merecer.

Assim, onde errei? Notar, não estou sendo irônico nem sarcástico, quero é APRENDER!




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7662 Mensagem por Matheus » Dom Jun 17, 2018 1:44 pm

Falar em inflação.. mês passado a RGE socou 20% de reajuste na luz, de uma vez só. Soma combustível com uns 30% no último ano. A hora que o consumo melhorar um pouco, a inflação virá galopante.




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Rurst
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7663 Mensagem por Rurst » Sex Jul 13, 2018 5:42 am

O festival da mamata assola o país

Câmara, Senado e STF aproveitam o intervalo entre Copa e eleição para praticar o esporte favorito de Brasília: criar privilégios para poucos, pagos com o dinheiro de todos nós

Quem quiser entender por que o Brasil não sai do buraco não precisa fazer muito esforço. Basta olhar o que tem acontecido em Brasília nesta entressafra entre a desclassificação da Copa do Mundo e o início da campanha eleitoral.

Enquanto todos estavam de olho na manobra petista para tirar da cadeia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um movimento sorrateiro tomou conta do Senado, da Câmara e até do Supremo Tribunal Federal (STF), com o objetivo de garantir privilégios com que o Estado costuma agraciar grupos de interesses organizados. Só as medidas adotadas pelo Congresso nas últimas semanas têm um preço estimado em mais de R$ 100 bilhões no Orçamento.

O resultado de maior impacto é certamente a revogação pelo Congresso da proibição de reajustes aos servidores em 2019 e da criação de novos cargos públicos. O custo dos aumentos no ano que vem é avaliado em até R$ 17,5 bilhões. Embora a questão seja crítica para o equilíbrio orçamentário e a situação do funcionalismo seja privilegiada em comparação com o setor privado, a medida nem se compara a privilégios de outra natureza garantidos pelos parlamentares.

O mais absurdo foi a aprovação ontem, no Senado, da tabela que estabelece um valor mínimo para o frete de caminhões, uma excrescência do ponto de vista econômico. Trata-se de uma distorção artificial nos preços de mercado, cujo preço o país ainda pagará durante muito tempo na forma de inflação.

Ela só pode ser explicada pela chantagem exercida pelos caminhoneiros com a greve que paralisou o país há algumas semanas. De quebra, eles ainda receberam uma anistia para as sanções judiciais aplicadas durante a greve e – atenção! – até mesmo para multas de trânsito.

Mas só quem violou a lei terá o benefício. Se você tomou cuidado para trafegar na faixa, respeitar os limites de velocidade, não estacionar onde é proibido e ultrapassar apenas em local seguro, paciência. Você não passa de um trouxa no país dos espertos.

O mesmo princípio foi adotado na anistia àqueles que já detêm um privilégio: empresas que pagam menos imposto por estar classificadas, de acordo com seu faturamento, nos critérios que definem a adesão ao programa Simples Nacional. Em janeiro, 471 mil contribuintes haviam sido excluídos do programa por ter débitos pendentes. Desses, 158 mil regularizaram a situação e voltaram a ser aceitos.

Pois também foram otários. O Senado deu aos 313 mil restantes – aqueles que, mesmo desfrutando alíquotas privilegiadas, deixaram de pagar imposto – o direito a renegociar suas dívidas pelos mesmos critérios generosos do Refis aprovado no ano passado: desconto de até 90% nos juros, 70% nas multas e 100% nos encargos legais.

Na mesma votação, os senadores restabeleceram benefícios tributários aos produtores de refrigerante, antes extintos pelo governo para compensar as perdas na arrecadação com as benesses aos caminhoneiros. Pelo texto aprovado no Senado, houve redução de 20% para 4% na alíquota do IPI aplicada aos extratos usados na fabricação daquelas bebidas açucaradas, que tanto contribuem para ampliar a incidência de doenças ligadas à obesidade no Brasil.

Claro que a Câmara não poderia ficar atrás. No imbróglio do projeto de privatização das distribuidoras da Eletrobras, sob o manto da medida demagógica que isenta o pagamento de contas de luz de até 70 quilowatts-hora (teoricamente, destinadas à população de renda baixa), foi inserido mais um jabuti numa árvore já carregada: as distribuidoras poderão repassar à tarifa as perdas com furto de energia.

Isso mesmo. Não apenas a conta daqueles que usam pouco será dividida entre todos os demais. Também a conta daqueles que roubam energia será repassada a quem paga. Eis de novo em ação o mecanismo clássico de socialização das perdas – uma nova distorção nos preços de mercado –, sob o pretexto de ajudar os pobres (o furto de luz é endêmico em favelas). Trata-se de um incentivo a quem usa energia furtada.

Mas nossos deputados não se cansam. Numa votação da comissão que rediscute as agências reguladores, inseriram um penduricalho que volta a permitir a contratação de parentes e aliados em estatais, vetada pela Lei das Estatais de 2016 – uma das poucas medidas moralizadoras tomadas pelo Congresso no esteio da Operação Lava Jato. O tema nem precisou ir a plenário. Aprovado na comissão, segue agora ao Senado.

Para completar o festival de privilégios que assola o país, a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, aproveitou seu plantão nas férias para deferir ontem duas liminares que garantem o pagamento de pensões às filhas solteiras de militares maiores de 21 anos. A decisão revoga uma decisão do Tribunal de Contas da União que, depois de verificar fraudes disseminadas e o pagamento de valores absurdos, determinava o cancelamento das pensões.

A valer o exemplo da liminar do ministro Luiz Fux que garante há quase quatro anos o pagamento de auxílio-moradia de R$ 4.300 a todos os juízes (e, por tabela, a procuradores) – a um custo anual estimado em R$ 1 bilhão aos cofres públicos –, as solteironas podem agora ficar tranquilas em relação a seu privilégio. É difícil acreditar que a liminar seja examinada pelo plenário num futuro próximo ou distante.

Os economistas Zeina Latif e Marcos Lisboa criaram a expressão “país da meia-entrada” para descrever a barafunda de privilégios concedidos pelo Estado a grupos de toda sorte capazes de exercer pressão em Brasília – pagos pelos impostos de todos os demais. É um problema aparentemente incurável de nossa sociedade, ainda mais insidioso e mais caro que a corrupção.

https://g1.globo.com/mundo/blog/helio-g ... pais.ghtml']https://g1.globo.com/mundo/blog/heli...a-o-pais.ghtml




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7664 Mensagem por Clermont » Qui Jul 19, 2018 9:39 am

Falso brilhante.

Carlos Alberto Sardenberg - O GLOBO, 19.07.18.

A presidente do STF, Cármen Lúcia, aprecia literatura. É bom. Revela ter sentimentos humanistas, atributo essencial para uma juíza. Pena que não se dedique tanto ao conhecimento ainda que básico de teoria econômica. Evitaria um tipo comum de equívoco: uma frase bonita que não diz nada ou, pior, não tem o menor sentido ou, pior ainda, revela um erro essencial.

“Saúde não é mercadoria, vida não é negócio, dignidade não é lucro” — escreveu a ministra em decisão que suspendeu uma resolução da Agência Nacional de Saúde (ANS) sobre sistema de cobrança dos planos de saúde.

Você pode não conhecer o conceito de mercadoria (os conceitos) mas reconhece uma quando a vê. Um automóvel na concessionária é certamente uma mercadoria. Assim, vamos pela prática ilustrada.

Não se encontra o produto saúde numa prateleira de supermercado, mas é preciso comprar um monte de mercadorias, produtos e serviços, para ter saúde: comida, um bom lugar para morar, água, luz elétrica, roupas e... consultas médicas, vacinas, remédios, talvez uma cirurgia.

Ou seja, o que adianta fazer a bela frase “saúde não é mercadoria” se tudo o que se precisa para manter a saúde tem que ser pago nos mercados? Inclusive no mercado de planos de saúde.

Seria a doença uma mercadoria? Seria esse o sentido, crítico, da frase da ministra? Não deve ser. Também não faria o menor sentido. Não há um mercado de doenças — com o perdão da obviedade — mas se você não puder pagar por remédios, vai adoecer. De novo, tem mercado aí.

Dirão: mas quem é atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não paga nada e, sendo tudo de graça, não se encontra aí qualquer relação com o mercado.

Outro equívoco grave.

Primeiro, que não é de graça. Todos os brasileiros, saudáveis ou doentes, pacientes ou não do sistema público, pagam impostos para financiar o SUS. Além disso, o SUS compra remédios, contrata e paga médicos e enfermeiros, aluga serviços de hospitais particulares — e eis o mercado aí de novo.

“Vida não é negócio” — acrescenta a ministra.

A provocação aqui é tentadora. Assim: a Constituição garante o direito à vida (o que significa que o brasileiro não pode morrer, se divertia Roberto Campos), mas a lei não paga a vida; você precisa estudar, trabalhar e comprar um monte de coisas para viver. Logo, tem muitos negócios em torno da vida humana, inclusive, por exemplo, uma cara e complexa terapia intensiva que evita mortes.

E a ministra que nos desculpe, mas a morte é um negócio. Você ou sua família terão de pagar pelo seu enterro de primeiro ou segunda classe.

“Dignidade não é lucro” — arremata a ministra. Não dá para entender. Estaria querendo dizer que o lucro é indigno e que o prejuízo é digno? É tão absurdo que não se pode nem cogitar que isso tenha passado pela cabeça de Cármen Lúcia.

Talvez a ministra esteja querendo nos dizer que é indigno ter lucro nos negócios — opa! desculpem — nas atividades de saúde. Mas também não faz sentido. Se um hospital privado não tiver lucro simplesmente vai quebrar. Ao contrário, lucrando, pode acumular capital, contratar mais gente, ampliar os serviços, ganhar produtividade e, pois, garantir saúde para mais pessoas.

Talvez a ministra estivesse querendo dizer que é indigno quando uma instituição privada de saúde “rouba” nos procedimentos, faz um cateterismo, por exemplo, e cobra por transplante. Mas isso é tão ilegal quanto o açougueiro entregar coxão duro e cobrar por filé.

A literatura da presidente do STF suspendeu uma resolução da ANS que regulava um sistema de cobrança dos planos de saúde. A questão essencial é esta: quanto os planos podem cobrar dos usuários por contrapartida em consultas e procedimentos. No caso, a ANS regulou que os planos podem cobrar até 40% do valor do atendimento.

Isso envolve lógica econômica, para um enorme mercado. São 47 milhões de brasileiros que preferem fazer um contrato privado e pagar operadoras privadas, em vez de confiar no SUS e nas garantias constitucionais — obviamente, não cumpridas, portanto.

A questão econômica é a seguinte: quanto maior a contrapartida, menor o custo do plano. Exemplo: um jovem cheio de saúde, atleta, raramente precisará ir ao médico. Pode, pois, pagar uma mensalidade bem baratinha, topando pagar 50% de uma consulta, sabendo que talvez nem precise por mais de ano. Além disso, o sistema de contrapartida ajuda a prevenir o abuso (por exemplo, fazer mais exames do que o necessário porque é “de graça” e/ou já está pago mesmo).

Já quem sabe que vai precisar de mais cuidados comprará um plano completo, sem contrapartida, obviamente mais caro. Em boa economia: a operadora terá lucro com o jovem saudável e gastará dinheiro com o idoso doente. Mais, ganhando com o jovem pode equilibrar as contas e cobrar menos dos outros.

Entidades de suposta defesa dos consumidores dizem que as operadoras vão obrigar todos os usuários a aderir ao plano com contrapartida. Assim, querem até impedir as contrapartidas. Resultado: o plano fica muito caro para os jovens, reduzindo o mercado, já que ganham menos, e muito mais caro para os mais velhos e necessitados.

É o que dá essa (falsa) literatura.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#7665 Mensagem por Rurst » Sex Jul 20, 2018 11:23 pm





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