Rússia ataca Geórgia após ofensiva contra separatistas da Ossétia do Sul
O Globo Online
Agências internacionais
TBILISI - Forças russas atacaram, nesta sexta-feira, a Geórgia, interferindo no confronto entre as tropas do país e as forças separatistas da região georgiana da Ossétia do Sul. Os separatistas lutam para se unir à República Ossétia do Norte, que faz parte da Federação Russa. O presidente georgiano, Mikheil Saakashvili, afirmou que a "Rússia está travando uma guerra" com a Geórgia em seu território. Já o presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou que não vai permitir "a morte impune" de seus compatriotas, fazendo referência aos moradores da Ossétia do Sul que nos últimos anos vêm recebendo a cidadania russa.
Tropas da Geórgia lançam foguetes no território separatistas da Ossétia do Sul - Reuters
Autoridades afirmam que três soldados da Geórgia morrerm num ataque russo. A Rússia diz que 10 soldados de suas forças de paz foram mortos em território georgiano. Segundo um líder separatista, há centenas de civis mortos. Os Estados Unidos declararam apoio à integridade da Geórgia e pediram um cessar-fogo imediato. O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência para segunda-feira.
Jatos russos bombardearam a base aérea de Vaziani, perto da capital georgiana de Tbilisi, e o Saakashvili disse que dois aviões russos foram derrubados em território georgiano. As tropas da Geórgia haviam cercado a capital da região separatista, Tskhinvali, após bombardearem a cidade, matando ao menos 15 pessoas em resposta a um ataque. A região é uma rota cada vez mais importante para o setor de energia.
- Cento e cinqüenta tanques russos, veículos blindados e outros ingressaram na Ossétia do Sul. Essa é uma clara incursão no território de outro país. Temos tanques russos em nosso território, aviões em nosso território em plena luz do dia - disse o presidente da Geórgia em uma entrevista coletiva.
Veja no mapa onde fica a região - Arte/O Globo
A conflituosa região da Ossétia do Sul foi palco de intensos confrontos durante à noite de quinta-feira, quando as tropas da Geórgia lançaram uma ofensiva em resposta a ataques das forças da Ossétia do Sul a povoados georgianos. Os confrontos ficaram ainda mais violentos nesta sexta, quando tropas do país atacaram as forças separatistas com a ajuda de tanques e aviões de guerra, numa tentativa de retomar o território. Muitas casas estavam em chamas.
A crise - a primeira que o novo presidente russo, Dmitri Medvedev, enfrenta desde que assumiu o cargo, em maio - desperta temores de uma guerra na região. Tanto a Rússia quanto o Ocidente tentam ampliar sua influência influencia sobre a área. Medvedev afirma que integrantes das forças de paz russas estão entre as vítimas do bombardeio da Geórgia.
- Hoje à noite, as tropas georgianas cometeram na Ossétia do Sul um ato de agressão contra as tropas russas de paz e a população civil - disse Medvedev, afirmando que a Rússia "foi e é historicamente" garantia de segurança para os povos da região do Cáucaso.
Na quinta-feira, a Otan, a União Européia e os Estados Unidos, forte aliado da Geórgia, fizeram um apelo pelo fim do derramamento de sangue, enquanto Moscou prometeu responder depois de receber a informacção de que agentes de paz russos foram mortos pela artilharia da Geórgia.
Geórgia decreta mobilização geral, reunindo 100 mil homens
Antes mesmo da entrada de tanques russos no país, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, disse em mensagem transmitida pela TV local que é vítima de uma agressão em grande escala. Saakashvili decretou nesta sexta-feira a mobilização geral do país, reunindo cerca de 100 mil homens com formação militar. Segundo o presidente, a maior parte da Ossétia do Sul está sob controle georgiano.
- A Rússia está nos bombardeando. Foi lançada uma agressão em grande escala contra a Geórgia - disse Saakashvili. - As bombas e os ataques não nos assustam. Resistiremos e venceremos. Decreto a mobilização geral.
Segundo a emissora de TV Rustavi-2, cinco aviões russos bombardearam a cidade georgiana de Gori, a 25 quilômetros da Ossétia do Sul. O governo da Geórgia diz que pretende pôr fim ao governo que chama de "regime criminoso" e restabelecer a ordem na Ossétia do Sul. Do outro lado, o presidente da república russa da Ossétia do Norte, Teimuraz Mamsurov, disse que o comboio no qual viajava com ajuda humanitária para Tskhinvali também foi bombardeado por aviões georgianos.
Geórgia diz que objetivo é restabelecer paz e promete anistia
Em mensagem transmitida pela TV aos cidadãos do país, o primeiro-ministro da Geórgia, Vladimir Gurguenidze, afirmou nesta sexta que "as tropas governamentais manterão suas ações até que a paz seja restabelecida".
- Nossas Forças Armadas se viram obrigadas a começar a restabelecer a paz - afirmou o chefe de governo georgiano. - A Ossétia do Sul terá uma ampla autonomia, segundo padrões europeus, e os separatistas serão anistiados.
Gurguenidze afirmou que apesar das iniciativas da Geórgia pela paz, "os separatistas abriram fogo em massa contra aldeias georgianas". O primeiro-ministro ressaltou que o objetivo das Forças Armadas georgianas é garantir a segurança da população e eliminar grupos armados ilegais.
Separatistas fazem apelo por ajuda da Rússia
As autoridades Ossétia do Sul pediram à Rússia que defenda seus cidadãos. A maioria dos habitantes da Ossétia do Sul possui cidadania russa.
"O povo da Ossétia do Sul pede ajuda ao presidente e ao Executivo da Rússia, e que adotem medidas urgentes para defender os cidadãos que pertencem à Federação Russa" afirma em comunicado o Comitê de Informação e Imprensa (CIP) do Governo separatista.
O ministro georgiano da Reintegração, Temur Yakubashvili, também fez um apelo nesta sexta-feira à Rússia, mas pediu que exerça de verdade o papel de pacificadora na Ossétia do Sul, com o objetivo de evitar a resistência "inútil" das forças separatistas.
- Apostamos que muito em breve a Geórgia recuperará o controle de todo o território da Ossétia do Sul. Por isso digo que a resistência é inútil, só leva a mais vítimas e destruições. Acho que a Federação Russa deve intervir como verdadeiro pacificador, e a Rússia pode fazê-lo - acrescentou.
Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/ ... 636906.asp