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Mensagem
por Túlio » Sex Jan 04, 2008 5:00 pm
Antes de ser chamado de puxa-saco do 04, permitam-me postar um trecho de um dos FANTÁSTICOS posts da Koslova, poucas kôzaz eu fiz tão certas, quando era Moderador, quanto tornar FIXO o tópico com os posts dela, lá nos 'Geraes'. Aí, então, O PORQUÊ DE EU TAMBÉM PREFERIR ACLOS A SARH PARA APLICAÇÕES DE DEFESA DE PONTO...
Com a palavra, a Mestra Koslova:
Falando especificamente sobre os SAM.
Os de defesa de ponto existem em três sub classes em função de seus
direcionamento:
SARH (Semi-Active Radar Homing). Seriam sistemas semi-ativos como o
ASPIDE ou o Sea Sparrow.
ACLOS (Automatic Command to Line Sight). Sistemas por linha de visada
são empregado em mísseis como o Sea Wolf, Crotale, Barak, Bamse etc.
IR/IIR. (Infra-Red / Imaging Infra-Red) Mísseis como o RAM, Simbad,
Umkhonto.
Destas três classes apenas o ACLOS é um sistema naval por excelência,
as outras duas tem características peculiares que as tornaram
aplicáveis a ambientes navais.
Sistemas SARH são heranças de sistemas AAM adaptados para uso naval,
não se projeta um SAM com menos de 20Km de alcance com técnica SARH.
O míssil SAM só vai ser semi-ativo e for derivado de um projeto de
AAM (Sea Sparrow, ASPIDE) ou se for de longo alcance como o Standard.
Porque desta situação?
Um míssil SARH precisa de uma antena com movimento mecânico de
varredura que deve ter uma exigência mínima de diâmetro para que
tenha um ganho mínimo que permita a ela captar o eco do alvo.
Este diâmetro mínimo de antena trava o diâmetro base da célula do
míssil, que por sua vez determina seu arrasto.
Alem do arrasto, existem pesos maiores associados a antena,
mecanismos de varredura, geradores de pressão pneumática para a
varredura etc. Isto trava o peso do míssil em uma faixa acima do
ideal.
Um projeto ACLOS não precisa de antena de radar na ponta do míssil,
isto elimina diâmetros mínimos de célula, gera economia de peso,
simplificação de projeto.
Como peso é uma coisa que varia sempre de forma logarítmica em um
míssil, os ganhos de arrasto e peso de célula tem um reflexo muito
diferente em mísseis de defesa de ponto ACLOS x SARH.
Quer um exemplo:
Um Sea Sparrow (SARH) tem cerca de 15km de alcance, seu peso é de
230Kg
Um Crotale (ACLOS) tem cerca de 12Km de alcance, seu peso é de 86Kg
Em resumo o Crotale pesa apenas 37% do Sea Sparrow e tem 80% do seu, alcance, é uma relação peso x alcance muito favorável. Isto acontece
em função destas questões que comentei de diâmetro mínimo de célula e
pesos suplementares que um SARH tem e um ACLOS não.
Outra grande vantagem do ACLOS sobre o SARH para defesa de ponto é a
acuidade.
Sistemas SARH tem limitações neste tipo de aplicação quando a RCS
mínimo do alvo (em função do menor ganho de antena do míssil em
relação ao ganho de antena de um radar de controle de tiro ACLOS),
assim como tem que operar em faixas de freqüência menores (<11Ghz),
para que a absorção atmosférica não destrua o sinal de eco. Um ACLOS
pode operar em freqüências maiores (tipicamente 34Ghz) onde a
precisão é melhor.
O resultado é a acuidade, um Sea Wolf em conduções controladas já
interceptou uma granada lançada por um canhão de 144mm, um Aspíde não teria acuidade e tempo de resposta para este tipo de aplicação.
Estas características de baixo peso (implica no tempo de reação e
capacidade de armazenagem a bordo), assim como melhor desempenho
contra baixo RCS (implica em melhor performance contra mísseis
antinavio), e melhor acuidade (implica em melhor capacidade contra
alvos em vôo rasante), tornam o ACLOS amplamente favorável em relação ao SARH em aplicações de defesa de ponto.
Não quero dizer com isto que mísseis SARH não são bons, a questão é a
região de operação, para faixas acima de 20Km o SARH é amplamente
mais indicado que o ACLOS.
Sem detalhar muito, a principal razão é a acuidade de direcionamento
terminal, que muda radicalmente a favor do SARH conforme a distancia
aumenta.
Um ACLOS basicamente é um sistema onde o radar de controle de tiro a
bordo do navio estabelece uma linha reta entre ele e o alvo e lança o
míssil, através de um transponder a bordo do míssil ele compara a
posição do míssil com a linha reta imaginaria radar - alvo, e manda
sinais para corrigir a posição do míssil de modo que ele sempre
esteja na linha reta radar – alvo e com isto entre em curso de
colisão.
A muito grosso modo isto é um ACLOS.
Conforme aumentamos a distancia radar-alvo qualquer erro angular
entre o radar e o centróide do alvo vai aumentando a distancia de
incerteza na qual o míssil pode passar do alvo, isto exige ogivas
enormes, novamente dentro da progressão logarítmica de peso existe um
ganho enorme de peso no míssil.
Veja um exemplo.
SA-02, direcionamento ACLOS, 50Km de alcance, 2300Kg de peso, 200Kg
de ogiva
Patriot PAC-1, direcionamento SARH, 60Km de alcance, 920Kg de peso,
90Kg de ogiva.
Em outras palavras, SARH de 50km de alcance pesa 40% de um ACLOS de mesmo alcance.
Resumo da opera.
Em pequenos alcances (<15km) o ACLOS é superior e peso x alcance e
acuidade
Em maiores alcance (>30Km) o SARH é superior em peso x alcance e
acuidade
Para um navio de combate em se tratando de defesa de ponto mísseis
ACLOS são significativamente superiores, portanto a escolha ao meu
ver recairia sobre um SAM como o BARAK, SEA WOLF, BAMSE, CROTALE.
Todos são muito equivalentes, porem o Sea Wolf já foi provado em
combate e possui um projeto totalmente otimizado para emprego naval,
neste caso ele estaria em ligeira vantagem ao meu ver.
Apenas dando uma pincelada rápida em sistema IIR que seriam a outra
classe de SAM de defesa de ponto.
SAM baseado em IR só vão existir em duas situações:
Aplicações Man Pad (Igla, Stinger, Mistral etc..)
Projetos derivados de AAM, (Chaparral, RAM, por exemplo)
IR em SAM tem uma grande série de desvantagens, todas elas atreladas
a irregularidade de condições de travamento do míssil no alvo em
função das condições ambientais, posição do sol, chuva, neblina,
temperatura do alvo etc.
Em sistemas portáteis como o Stinger IR é importante porque elimina
muito o peso final do conjunto míssil + lançador, que deve ficar em
até uns 17Kg para poder ser transportado pelo soldado a pé.
Fora aplicações como esta não se costuma usar IR em SAM, alem é claro
de sistemas adaptados como o Chaparral.
Mas porque então se usa SAM IR em alguns navios?
Basicamente são aplicações peculiares. Ou se usa sistemas IR a bordo
em pequenas embarcações de patrulha, mísseis leves e baratos como o
Simbad, ou se usa SAM IR em retrofit de meia vida de embarcações,
eles tem a vantagem de preço, já que não associam a eles radares
complexos e caros de controle de tiro que um ACLOS iria trazer. São
aplicações paliativas que visam baixos custos ou aumentar a demanda
de produção de células de AAM já existentes como AIM-9.
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)