Cara Koslova
Concordo em parte do que você escreveu acima, significando que discordo em parte também.
Vou tentar me explicar e para isso vou destacar partes de seu texto, para melhor visualização.
Planejar em nível conceitual, alem de uma obrigação é uma necessidade para a MB e as outras FA’s
Totalmente de acordo. O planejamento primeiro se dá a um nível estratégico, como já expliquei em outra parte. Os meios navais, o "hardware", nada mais é do que consequência deste planejamento, e cada ítem pode e deve ser justificado aos condutores políticos do país. Pelo menos na MB.
mas daí a chegar a um projeto crível de Porta Aviões que possa ser adquirido pela MB e operado, dentro do futuro previsível, é um mero exercício de otimismo.
Veja bem, o que escrevi anteriormente é que temos a capacidade de projetar, trabalho intelectual. Dependendo do tamanho do hardware, ele não poderia ser construído no AMRJ. Talvez isto fosse um problema, não sei. Quando a MB projetou e decidiu construir as Corvetas no país, a então Verolme ganhou a licitação feita. Foi transferida tecnologia, criado um "estaleiro militar" na Verolme, o que nada mais foi do que separar uma área para construções militares, mas no final por diversos motivos, os navios foram rebocados para o AMRJ e lá terminados. Mas creio que a atual indústria naval possui capacitação, sim, para construir um PA, claro que com transferência de Know-how por parte do AMRJ. A eletrônica, com brilhantes exceções, seria importada.
Particularmente eu consideraria um feito espetacular se na próxima década fosse selecionado um projeto base de fragata multifuncional, seja ele Francês, Alemão ou Inglês, e a este projeto fosse adicionado componentes nacionais em alguns setores do navio, com a sua construção no AMRJ.
Este plano, simples, pragmático e necessário, esta dentro das metas da MB para a substituição de suas escoltas e caso seja cumprido com um atraso tolerável (algo completamente diferente do que houve com a Barroso) eu poderia chamar de vitoriosos os oficiais envolvidos neste plano.
Você também possui "fuentes"?
O primeiro deles é orçamentário e organizacional. Estes projetos precisam de dinheiro, tanto o executivo precisa reverter a sua burrice orçamentária em se tratando de contingenciamento de recursos bem como regularidade de investimentos, bem como as FA’s precisam ficar mais “leves” em alguns setores, efetivos, modelo previdenciário, fechamento de algumas instituições secundárias
A MB já provou que quebra paradigmas organizacionais e se adapta para conseguir materializar seus projetos. O exemplo típico é a área nuclear e submarinos. A área nuclear partiu do zero e hoje você sabe os resultados.
Os submarinos seguiram uma metodologia um pouco distinta, mas o Brasil hoje é o único país abaixo da linha do equador que constrói submarinos (creio que a Austrália vai se juntar). Quando há recursos com fluxo constante, as metas são atingidas a tempo e a hora.
A MB também, por falta de opção é verdade, se adaptou e ficou mais leve em vários setores, fechando várias OM, infelizmente no setor fim também, os navios. Estamos chegando a um limite perigosíssimo, do qual não vou me expandir. Já escrevi em outras partes muito sobre previdência.
o Brasil não tem uma industria naval com qualidade mundial em projeto e construção de navios de guerra.
Correto. A competência em projeto e construção de navios de guerra é do AMRJ (da MB). Somente um plano de qualificação das empresas, com encomendas e fluxo de recursos garantido poderia mudar este quadro. O INACE é um exemplo do que poderia ocorrer.
Não temos ainda nos meios navais o que a Embraer representa em termos aeronáuticos por exemplo.
Mas não precisamos partir do zero, como foi com a indústria aeronáutica. Qualificar o que existe, e temos indústria naval, é mais fácil do que começar do nada.
Outro fator importante dentro do dever de casa para se ter um navio desta classe, é a idéia de que é necessário uma aliança com fornecedores em um nível que permita alguma independência real. Itália, Espanha, são paises membros da OTAN, seus navios podem contar com aviões V/STOL, armamento estado da arte, radares, sistemas de guerra eletrônica de primeira linha, padronizados e com menores riscos políticos de fornecimento de itens necessários a manutenção.
Hummm, será que com o que você considerou um fato espetacular, a ser realizado, isto não estaria resolvido?
O Brasil não tem aliança estratégica alguma com paises fornecedores, não tem sequer uma estratégia de compras, sempre se comportou como um comprador ocasional, na maioria das vezes de itens de segunda ou terceira mão.
Aqui caímos na falta de visão escrita por você do executivo. Sabemos o que comprar, podemos explicar ítem por ítem, a MB pelo menos, a intenção é fabricar, então a compra ocasional é por total falta de opção. O executivo não quer investir (sim, pois compra na indústria local é investimento), então chega um vendedor da morte e oferece por 1/10 do valor de construção um meio que atende em parte a necessidade, e o executivo manda comprar. Claro que não se preocupa em gerar empregos, como na Espanha, em investir em capacitação, em tecnologia, ou que ficaremos comprando sobressalentes no país fornecedor, abrindo uma dependência material e estratégica.
Fazer o que? As FFAA explicam isto, é claro, mas o 1/10 do preço é o que entra na cabeça dos decisores.
Finalmente é necessário o mais importante, uma clareza de propósito quando a aquisição destes navios, que por sua vez são um mero reflexo de uma visão do que o pais quer ser enquanto nação. Nossa clareza de propósitos é difusa, não equacionamos os problemas a fim de obter os meios necessários para sua solução deixamos o "destino e o acaso" fazerem isto.
O mais importante eu sublinhei.´Já mostrei que podemos justificar cada ítem, baseados nas decisões políticas, que espelham planos estratégicos =
o quê + como. E digo mais, não é somente o que o país quer enquanto nação, mas o que ele vai precisar para atingir o que ele quer enquanto nação. Isto não é difuso, não na MB, equacionamos os problemas e apresentamos soluções, mas ...
Neste sentido, projetos como um Porta Aviões ou Submarino nuclear, são apenas planos em estágios hora básicos, hora intermediários de excussão, que não vão ficar prontos nunca.
O PA é estágio básico sim. O sub, espero que você se engane. Creio que até o meio do ano que vem podemos ter notícias melhores. Vamos aguardar.
Estes projetos simplesmente não vão a lugar algum, porque as reformas estruturais que teriam que antecedê-los não acontecem. Queremos construir a parede antes do alicerce.
Muito foi feito na MB, como é sabido por aqui. Formar engenheiros nucleares do zero, construir Aramar, montar a estrutura que a MB possui na USP, o IPQM, o AMRJ, o CASNAV, o CASOP, o IEAPM, etc, não são poucas realizações. O alicerce existe. Falta a decisão política de construir o edifício.
É um prazer debater com você.
Um forte abraço
Marino