Túlio escreveu: ↑Ter Jul 05, 2022 11:38 pm
Me lembrei agora da "dupla dinâmica"
Freddie Mac/Fannie Mae (estatais DOS EUA ):
too big to fail.
Para não mencionar o Lehman Brothers, que manteve a sua classificação
A (
Investment Grade) até o exato momento em que quebrou.
Mas 2008 é merreca perto do que nem está mais vindo,
já está aí.
Para a empresa ser socorrida, estão falando em "Momento Lehman" para a Uniper. Ela será socorrida. Não se trata apenas da dependência energética, mas por causa da transição energética per se. Os terminais GNL serão construídos em três cidades através da Uniper, os trabalhos ainda vão começar, mas os alemães querem acelerar o processo, mas duvido muito que tenham êxito até o final de 2023, quando os primeiros projetos estiverem em processo de finalização ou já finalizado, o primeiro terminal só terá capacidade de instalação para suportar quase 9% de energia que a Alemanha importa da Rússia.
Sabe o que é mais interessante nisso tudo?
O volume de exportação de gás russo para Alemanha baixou 60% do que os volumes exportados do ano passado, sendo que, ao mesmo tempo, os preços do gás aumentaram, mesmo com essa diminuição acima da metade em termos de volume de gás exportado, os russos conseguiram arrecadar ainda mais por causa da subida dos preços, a própria Gazprom que está induzindo esse volume cada vez menor de exportação em termos volumétricos, não é a Europa que está racionalmente reduzindo, isso porque os contratos de longo prazo ainda estão vigentes, a Rússia que está diminuindo radicalmente a exportação de gás pra Europa.
Entre os dias 11 e 21 de julho, a Gazprom irá fazer uma parada nas operações, isso deixará ainda mais estressante o mercado de energia da Alemanha, o que afetará consequentemente a Uniper assim como os preços do gás, o preço hoje já está US$1,800 por m3.
Ainda assim, estou vendo muito ecos sobre o período do outono, tanto do lado russo quanto do Ocidente.
Um exemplo:
https://www.telegraph.co.uk/world-news/ ... -doubters/
Ukraine needs a victory before autumn to silence Western doubters
EU acho que ocorrerá algo grande no outono, tudo indica ser uma questão de energia da Europa envolvendo a Rússia. Há uma opinião de que os russos estão esperando o outono. No outono, a crise global se intensificará no planeta. Então todos não terão tempo para ficar se concentrando na Ucrânia e, em geral, não também não terão tempo para a Rússia.
Um outro exemplo, olha a seguinte notícia:
A Comissão apresentará plano de ação de emergência em meados de julho em caso de desligamento de gás da Rússia - chefe da Comissão Europeia
Isso chega até ser irônico. A potência exportadora tem um déficit comercial, enquanto a bomba de gasolina disfarçada de país tem superávit recorde.
Além disso, a notícia recente é de que o Bundestag quer lançar o Nord Stream 2. Está mais do que visível de que as sanções tiveram o efeito reverso, nada saiu como planejado, a demanda inicial era de que as sanções derrubariam o governo pela iniciativa do povo, uma coisa muito difícil de se fazer na Rússia, onde até mesmo os canais de informações ocidentais ou saíram ou foram expulsos devido ao fechamento compulsório dos canais de comunicações russas no Ocidente, isso acabou fortalecendo o Putin. Os caras estão totalmente desesperados. Mas a Lagarde disse que está tudo bem. Confia.
https://newsunrolled.com/economy/53424.html
Bundestag calls for launch of Nord Stream 2
Petróleo:
Esta é uma questão interessante que no final parece determinar até que ponto o Oeste, especialmente a zona do euro, é capaz de substituir o suprimento russo de hidrocarbonetos. A prática de 'lavagem de óleo' na verdade já acontece há algum tempo, principalmente com o petróleo iraniano durante os embargos. Basicamente, os proprietários de navios-tanque enchem metade dos navios-tanque com óleo legítimo acordado com os clientes e enchem a outra metade com óleo de grau semelhante do Irã com preço de banana.
Como a Rússia agora está sob embargos do Ocidente coletivo, então a prática compreensivelmente acontecerá com o petróleo russo. Especialmente se o preço de barganha pode ser acordado. Tem sido falado que isso acontece ultimamente com petroleiros gregos, mas não estou surpreso se isso acontecer com outros petroleiros.
https://www.spglobal.com/commodityinsig ... an-sources
A maior pressão para a logística marítima do petróleo russo é a questão de seguro. A maioria dos seguros marítimos são do mercado de corretagem de Londres. Assim, ou o russo deve fornecer seu próprio seguro ou outra corretora de seguros do mercado financeiro (provavelmente Xangai ou Hong Kong) que o cubra. Como compensação, essas corretagens aumentarão os custos, que é uma das razões pelas quais os russos venderam seus hidrocarbonetos a preço de desconto para cobrir o aumento dos custos logísticos.
O que a UE quer fazer?
Os líderes do G7 começaram a debater sobre a imposição de um teto de preço do petróleo russo.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2 ... cado.shtml
Como planejam fazer isso?
Esse limite poderia ser aplicado com a restrição para o seguro das embarcações russas a partir de um preço ou com ameaça de sanções diretas aos países compradores, mas isso não foi definido.
Como resposta, a Índia assim como a China já afirmaram publicamente que se a UE fazer isso, eles entrarão como seguradores do petróleo russo usando seus próprios navios e companhias de seguros.
Quanto à obtenção de gasolina ou outros produtos à base de refino das refinarias indianas, ocorre principalmente devido aos custos mais baixos de suas refinarias, o que também se deve ao fato de estarem obtendo petróleo russo mais barato. Em teoria, os clientes podem perguntar de onde vem o petróleo bruto. No entanto, pelo que entendi de um dos negócios de commodities, a maioria dos clientes não viu isso, desde que obtivessem preços melhores. No final das contas, a maioria das leis só tem que declarar a origem do produto das refinarias, e não do petróleo bruto.
Eles têm que entender que não há como a economia global evitar os recursos russos (sejam hidrocarbonetos, metais, minerais, incluindo os processados). É muito grande e algum mercado sempre precisará deles. A Rússia simplesmente é muito maior que o Irã ou a Venezuela, que não pode ser evitada assim sem contra-atacar.
https://markets.businessinsider.com/new ... ons-2022-6
Isso não está acrescentando muito do que escrevi. No entanto, isso é apenas mostrado como vários planos do Ocidente para espremer o petróleo russo do mercado global (incluindo o mais recente 'sonho' de limitar os preços do petróleo russo), nunca funcionarão totalmente. Isso pode ter o efeito contrário. A Rússia pode vender mais barato para o mercado amigável (como está fazendo agora) e aumentar o preço da margem para cobri-la em direção ao mercado não amistoso.
https://www.middleeastmonitor.com/20220 ... -supplies/
Este é o exemplo de mudança de mercado que mencionei. Quando parte do petróleo russo é cortada por seus compradores do euro, a Rússia simplesmente encontra novos compradores. Neste caso, a China, que a Rússia lhes dá desconto.
Enquanto isso, os sauditas, que só querem vender no preço total de mercado, sabem que estão sendo cortados no mercado chinês pelos russos. No entanto, não importa, já que os clientes do euro precisam de mais petróleo para trocar o suprimento russo.
Isso é o que acontece no mercado de commodities. A oferta é finita e a demanda crescente devido ao aumento das atividades econômicas após o Covid. Mais importante ainda, as pessoas ainda precisam de petróleo e gás (hidrocarboneto), não importa o quê.
Assim, os EUA e o Ocidente sonham em privar os russos das receitas de hidrocarbonetos e outras commodities simplesmente não funcionarão. O mercado está mudando, e quanto mais euros receberem petróleo de outros fornecedores no Oriente Médio ou na África, mais o mercado asiático receberá os russos.
Afinal, um novo equilíbrio de mercado será alcançado, é apenas uma questão de tempo para se ajustar.
https://shafaq.com/en/Economy/Iraq-redi ... ussian-oil
O outro exemplo das consequências do desconto do petróleo russo e o redirecionamento do setor de petróleo e gás mundial. O Iraque, um dos maiores produtores de petróleo do mundo não consegue encontrar compradores no mercado asiático, alegando estar sendo inundado pelo petróleo russo barato. Eu já postei anteriormente que a Rússia já é o maior fornecedor de petróleo para a Índia, ano passado a Rússia não estava nem entre os 4 maiores fornecedores. A China está na mesma direção da Índia em aumentar a importação do petróleo barato russo.
O grande problema para a UE é que não existe alternativa a curto prazo do petróleo russo. Os sauditas aumentam muito a produção? Outros produtores também aumentam a produção? Até os produtores norte-americanos relutam em fazê-lo. Não importa o quanto Biden os empurre.
Novamente, quando a Rússia é empurrada de algum mercado, o que acontece é uma mudança de mercado. Porque a oferta é finita. Mesmo produtores sauditas e do Oriente Médio disseram na última reunião da Opep que não há capacidade no mundo disponível para substituir o petróleo russo.
https://www.reuters.com/business/energy ... 022-04-11/
Além disso, enquanto todo mundo está falando em reajuste do mercado, parece que como eu já havia mencionado logo no início que o petróleo russo está chegando aos mercados ocidentais passando por países terceiros, embora eu não tenho certeza disso. Resta saber se esta é uma solução temporária que será encerrada ou um buraco permanente nas sanções.
https://www.wsj.com/articles/russian-oi ... 1654076614
https://markets.businessinsider.com/new ... ent-2022-6
Mais de US$70 por barril é a faixa de petróleo com desconto russo sendo levado pela China e pela Índia. Alguns comentários pesam a acreditar que a Rússia tá tendo prejuízo com os descontos. O que não é verdade.
https://www.bloomberg.com/news/articles ... s-own-data
Mesmo com esse preço, a Rússia ainda consegue uma margem saudável, uma vez que se prevê que seus custos de produção estejam em torno de US$20 por barril. Assim, se o preço do petróleo global cair para US$70 por barril(US$100 na cotação atual), eles ainda podem vender confortavelmente a US$50 por barril.
Por que a Rússia precisa vender com desconto?
Basicamente, as sanções dos EUA e da UE atingem potenciais compradores russos no esquema de pagamento e nos custos de transporte (com sanções no seguro). A Rússia tenta compensar os custos de transporte fornecendo transporte usando seus próprios navios-tanque, no entanto, está limitando potenciais compradores fora da região da Eurásia. Além disso, ainda existem seguros dispostos a cobrir petroleiros russos, mas é claro que com aumento do prêmio. Assim, para atrair novos clientes em potencial, eles devem fornecer descontos atrativos para compensar.
Com a alegação da UE de que vão parar de comprar hidrocarbonetos russos até o final do ano, a Rússia tem que fornecer descontos contínuos para a China e a Índia (como principais compradores), além de outros potenciais na Ásia que desejam comprar hidrocarbonetos relativamente mais baratos (enquanto a UE recebe mais hidrocarbonetos do Oriente Médio ou África). No entanto, esta situação ainda está longe do sonho dos políticos dos EUA e da UE em tirar o mercado russo de exportação de hidrocarbonetos.
Outro assunto é o impacto das sanções na economia russa. Veja em 2022, o FMI prevê uma contração de -8,5% da economia russa. Isso é muito menos do que muitos analistas contratados pela mídia ocidental falando de cenários de contração do PIB de -15%, -30% ou até -50% na Rússia.
Não me entenda mal, a contração de -8,5% ainda é grande. No entanto, alguns estudos sobre vários bancos/bancos de investimento mostraram que o número pode variar de -5% a -10% de contração. Isso devido ao ajuste que a economia russa precisa fazer em seu comércio, mas por outro lado mostrou que o mercado vê que a Rússia até agora (relativamente sob este regime de sanções severas), consegue blindar grande parte de suas atividades de consumo doméstico.
Muitos desses analistas que preveem contrações muito mais terríveis na grande mídia conveniente esqueceram que a Rússia após 2014 estava na onda de sanções ocidentais mais ou menos já com ciclos relativamente fechados da economia. No sentido, muitos dos bens de consumo domésticos já produzem ou importam usando fontes não ocidentais. O rublo basicamente já é uma moeda que é negociada no "thin market". É por isso que é mais fácil para o Banco Central russo controlar o mercado de rublos.
Então, sim, as sanções os atingiram e os atingiram com força. No entanto, não tão grave quanto muitos no Ocidente esperavam. Pelo menos até agora eles conseguem se proteger contando com outras fontes para produção, seja de fontes domésticas ou não ocidentais, como China ou Índia.
Isto é o que acontece na globalização cada vez mais multipolar. As habilidades coletivas do Ocidente para ditar o fluxo de materiais não são tão grandes quanto 10 ou 20 anos atrás. O Ocidente ainda pode ditar grandes fatores nas negociações globais, mas não com o domínio de antes.
Dê uma olhada na projeção em 2023, especialmente nos lados da UE. As previsões de que as principais economias da UE terão um crescimento do PIB menor em comparação com este ano, enquanto a Rússia ainda terá contração, mas menores (de -8% este ano para -2% no próximo). Isso está sob suposições que as sanções ocidentais ainda são válidas. Na verdade, alguns dos bancos de investimento preveem entre contrações menores ou até mesmo pequenas recuperações. Assim, as previsões de 2023 para as economias russas variam de -3% a +2%.
Tudo isso é resultado do processo de ajuste que a UE e a Rússia têm que fazer para se desacoplar uma da outra. A Rússia estará mais tentando se unir ao Oriente, que potencialmente não pagará commodities/produtos russos tanto quanto o Ocidente. Enquanto a UE no Ocidente tem que se ajustar a fontes de commodities mais caras.
Sanções são guerras econômicas, e guerras econômicas mordem os dois lados.
https://www.theguardian.com/commentisfr ... imir-putin
Ok. É o The Guardian, mas você vê que o discurso mudou. Você mesmo já publicou a imagem da mudança de discurso dos analistas do Ocidente.
Mais uma vez, ainda é muito cedo para realmente avaliar até que ponto essas sanções custarão à Rússia. Ainda até agora, os dados, mesmo as projeções de muitos grandes players do mercado, não serão tanto quanto a liderança ocidental espera quando definir essas ações pela primeira vez.
Vai custar ao Ocidente também. O custo é basicamente porque tanto o Ocidente (especialmente a UE) quanto a Rússia precisam dissociar suas relações econômicas entre si. É pura ilusão quando eles estabelecem essas sanções pela primeira vez e dão a impressão de que o Ocidente só terá pequenos custos para pagar, já que muitos líderes ocidentais tentam minimizá-lo.
Agora eles começam a admitir na mídia que os custos serão substanciais o suficiente. As projeções sobre a UE 2022 e 2023 que o FMI colocou, na verdade, ainda são uma projeção suave para a UE. Alguns no mercado já calculam contrações potenciais (crescimento negativo) em alguns na UE, se eles forem muito apressados mudando fontes de energia e commodities da Rússia, sem garantir acordos razoáveis de outros fornecedores.
Isso acontece porque todos ainda voltam da recessão do COVID. Tudo ainda frágil, portanto, esta sanção acaba martelando o processo de recuperação. Se você colocar custos demais em suas economias ainda em recuperação, o efeito inverso acontecerá.
Ainda assim, a menos que esta guerra se transforme em confrontos diretos entre a OTAN e a Rússia (como querem alguns políticos agressivos no Ocidente), esse ajuste econômico acontecerá principalmente em 2022-23 apenas. A projeção da Moody's quando essa guerra acontecer já prevê isso. A maioria do mercado ainda acredita nisso.
No entanto, o que sairá após o ajuste de 2023, não será o business as usual. A posição da China será fortalecida, graças a isso como um dos fatores. Isso porque muitos mercados emergentes fora do Ocidente aumentam seu 'hedge' em relação ao mercado não ocidental. Podemos ver até mesmo os ricos reinos do Golfo basicamente empurrando para trás a pressão dos EUA e da UE para aumentar a produção de hidrocarbonetos mais conforme sua demanda.
Pessoalmente, acredito que isso se deve ao aumento das opções de outras polaridades fora do sistema de liderança dos EUA. Alguns deles vão ver que podem espalhar suas conectividades globais fora apenas da influência dos EUA. Basicamente, eles se tornam mais assertivos em relação aos EUA e ao Ocidente.
Na verdade a tendência já se mostrava antes dessa guerra, antes mesmo do Covid. Alguns participantes do mercado ocidental já alertaram a liderança dos EUA e da UE sobre os custos do sistema de mercado financeiro. Esses sistemas devem ser relativamente neutros para todos os usuários do mercado. Isso para garantir a continuação de alto nível de confiança em relação ao sistema.
Brincar com isso aumentará o fator desconfiança, especialmente de usuários não ocidentais. Isso aumentará as chances de outra opção, da qual a China é um dos principais benfeitores disso. Algo que a China já trabalha duro para conseguir, e agora parece que os EUA aumentam essas chances para a China.
Os EUA e o Oeste ainda serão os principais atores e fatores na economia global e no mercado financeiro. No entanto, as outras opções serão potencialmente mais rápidas do que o previsto anteriormente.
Olha como o mercado está mudando:
https://finance.yahoo.com/news/china-in ... 20164.html
China and India Funnel $24 Billion to Putin in Energy Spree
China spent $18.9 billion on Russian oil, gas and coal in the three months to the end of May, almost double the amount a year earlier, latest customs data show. Meanwhile, India shelled out $5.1 billion in the same period, more than five times the value of a year ago. That’s an extra $13 billion in revenue from both countries compared to the same months in 2021.