Geopolítica
Jornalista inglês garante: governo argentino prepara uma nova Guerra das Malvinas
31/10/2014 17h57 Por Frederico Vitor Edição 2051
Após o anúncio de que a Argentina assinou com o Brasil um documento de intenções para obtenção de 24 caças Saab Gripen NG-BR, articulista britânico alerta o Reino Unido para inclinação revanchista de Buenos Aires por controle de arquipélago
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Jornalista Robert Fox anuncia que argentinos preparam nova guerra pelas Malvinas
O jornalista britânico Robert Fox sugeriu em artigo publicado na última terça-feira, 28, na revista The Week, que a Argentina está se preparando para uma nova confrontação bélica contra o Reino Unido pela soberania das Ilhas Malvinas/Falklands. O arquipélago situado no Atlântico Sul e sob controle do governo britânico, já foi palco de um conflito armado ocorrido em 1982 e vencido pelos europeus, após quase três meses de guerra que deixou um saldo sangrento de mais de 1.300 mortos do lado argentino e outros 300 do lado inglês.
Segundo Robert Fox, que trabalhou na cobertura da Guerra das Malvinas em 1982, “essa é a primeira grande compra de veículos bélicos por parte da Argentina desde o fim do conflito”. Além disso, o jornalista destaca a parceria dos argentinos com o Brasil na compra de caças europeus, que “serviriam de modelo para uma indústria e um mercado latino-americano.”
O jornalista inglês ainda afirma que o Parlamento Britânico deve se preocupar, já que “os jatos adquiridos pela Argentina são superiores aos do Reino Unido” que, segundo ele tudo isso deveria ser um aviso ao governo britânico para que comece a fazer alguma coisa para resolver a questão das Ilhas Malvinas, antes que se torne mais uma vítima da filosofia de política externa do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.
Jornalista inglês se equivoca em alguns fatos
Talvez movido pelo senso patriótico, levando em consideração que Robert Fox cobriu a Guerra da Malvinas ao lado de soldados compatriotas, possa ter levado o respeitável jornalista a cometer alguns equívocos em seu artigo. Primeiramente, o governo argentino não fechou negócio com o Brasil para a compra de caças supersônicos de tecnologia sueca que seriam fabricados em solo brasileiro.
Na realidade, o ministro da Defesa da Argentina, Agustín Rossi assinou com seu colega brasileiro, o ministro Celso Amorim, um acordo de cooperação bilateral que garantirá base jurídica e política para a ampliação de projetos conjuntos entre os dois países no setor aeronáutico.
A assinatura da documentação diplomática ocorreu na oportunidade em que a Embraer apresentava á imprensa brasileira e internacional o mais novo jato cargueiro KC-390, desenvolvido em parceria com argentinos, portugueses e checos. Na oportunidade, Agustín Rossi também assinou a decisão do governo argentino de iniciar as negociações para aquisição de 24 caças suecos Gripen NG que serão produzidos no Brasil. As condições da compra, assim como a eventual participação argentina na produção desses aviões, serão objeto de tratativas, nos próximos meses, entre representantes dos dois países.
O caça sueco foi o vencedor da licitação FX-2 para equipar a Força Aérea Brasileira com 36 aparelhos pelo preço de mais de 9 bilhões de reais, juntamente com a transferência de tecnologia. Na concorrência, o Gripen NG derrotou o americano F-18 Super Hornet e o francês Dassault Rafael.
Negociações abertas
Deste modo, ainda não há nada acertado de que a Casa Rosada — sede do Executivo argentino — tenha batido o martelo para aquisição, via Brasil, de 24 sofisticados jatos de combate de tecnologia sueca. Negócio deste porte envolve bilhões de dólares, e a economia argentina não passa pelo seu melhor momento. Pelo contrário, o peso argentino nunca esteve tão desvalorizado perante a moeda americana, e a inflação bate a casa dos 200% ao ano.
Outra questão que deve ser levado em consideração é o estado de penúria em que se encontra as Forças Armadas argentinas que, atualmente, não teriam as mínimas condições de bancar qualquer aventura militar, principalmente contra o Reino Unido. Outrora a mais sofisticada máquina de guerra da América do Sul, hoje o orçamento de Defesa da argentina é o menor da América do Sul — apenas 1.2% do PIB.
Robert Fox afirma em seu artigo que os caças Saab Gripen NG seriam superiores aos jatos mantidos pelos britânicos para a defesa aérea das Ilhas Malvinas/Falklands, o que seria outro equívoco. Segundo publicações especializadas que foram consultadas para esta matéria, a Royal Air Force (RAF) — Real Força Aérea Britânica — mantêm em prontidão pelo menos quatro caças supersônicos Eurofighter Typhoon EF-2000, a ponta da lança da aviação de combate da Força Aérea de vossa majestade.
Caça sueco Saab Gripen NG. Avião de combate será fabricado no Brasil e despertou interesse argentino
Retórica peronista
Levando em consideração que o Gripen NG ainda é um projeto, ou seja, existe apenas um protótipo para demonstrações, há estimativas de que o jato sueco vai ter performance bem próximas aos dos Typhoons — baseado em dados e informações da empresa sueca que desenvolve o avião. Portanto, os Gripens não poderiam superar os caças ingleses com facilidade em um hipotético combate aéreo, como anuncia Robert Fox em seu artigo.
Lembrando que além de caças, os ingleses mantêm, desde 1982, mais de 2 mil militares de prontidão no arquipélago, em sua maioria fuzileiros reais — Royal Marines — centenas de blindados, dezenas de mísseis antiaéreo e radares de alerta aéreo antecipado. Há informações de que imensos submarinos de propulsão nuclear da Marinha Real Britânica — armados de mísseis e torpedos — têm se revezado no patrulhamento das águas que cercam as ilhas. Enfim, as Malvinas/Falklands hoje são verdadeiras fortalezas militarizadas.
É fato que nos últimos anos, a presidente argentina Cristina Kirchner, vem sustentando um discurso revanchista além de questionar publicamente o controle inglês sobre as Malvinas/Falklands. Mas, a realidade mostra que a retórica da líder sul-americana não passa de bravatas e que não haveria a mínima sustentação para uma nova aventura belicosa argentina para reaver o controle daquelas ilhas. Pelo menos não por agora.
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