Matheus escreveu: ↑Qua Jun 24, 2020 10:24 am
Vamos supor um cenário em que "a chapa começa esquentar" na região da fronteira por uma descoberta de grande jazida de petróleo e a Colômbia esteja sob "gestão" de um governo populista que precisa de uma cortina de fumaça para mudar o foco de uma crise econômica. Supor também que a FAB tenha recebido seus Gripens e sistemas AA.
Parece-me óbvio que um "esforço de guerra", teríamos rapidamente Gripens em São Gabriel da Cachoeira, Boa Vista e Rio Branco, inicialmente, bem como o transporte de AA para estes locais, deslocamento dos AEW/SR, KCs e demais aeronaves e materiais de apoio. Nosso grande problema seria a fronteira Letícia/Tabatinga, mas que poderia ser atacada através de Cruzeiro do Sul, no Acre, inclusive atacando com MT300/Gripen a aprtir deste ponto, que possui ligação rodoviária pela BR364. A partir de Tefé, o EB/FAB e MB, poderiam deslocar infraestrutura pelo rio Amazonas criando pistas de desdobramento em pequenas cidades, com material de apoio/AA/aeronaves, sendo utilizados num eventual inutilização da base de SGC. O SNB, poderia ser deslocado para a costa colombiana armado com MT300, colocando a principal base colombiana (ALA1), e até mesmo Bogotá sob risco de receber algum MT300.
Enfim, só "viajando na maionese. Como dizia o Degan, "hoy por hoy", tanto nós como Colômbia estamos jodidos...
Imaginando que os F-16 possam operar de pistas próximas da fronteira, e eles tem várias, assim como os Gripen E/F, podemos antever que qualquer coisa ao longo dos 1600 kms de linha com eles pode ser atacado em um raio de no mínimo 500 kms, sem necessidade de Revo. Isso põe Tefé, Tabatinga, Eirunepé, Cruzeiro do Sul, São Gabriel da Cachoeira e Barcelos sob a mira imediata dos caças colombianos.
Não é preciso dizer que todos os PEF estão sobre seu alcance. Em todas essas cidades existem OM de pelo menos uma força. Todas elas tem pistas que oferecem condições mais adequadas de operação para aviões de todos os tipos que a FAB mantém.
Aliás, no caso dos PEF e do aeroporto de Tabatinga, ataques aéreos seriam desperdício de munição e querosene, já que até com simples morteiros pode-se tirar as pistas e as OM de circulação por um bom tempo. E uma vez impedidas, não existe outra forma de chegar neles que não seja via fluvial ou por helicópteros. Notar que não temos meios suficientes nem de longe para fazer uma coisa e outra, demandando o arresto forçado de meios privados para fazer esse apoio e ligação neste caso.
A fim de evitar tal cenário, é necessário que a FAB pelo menos disponha de caças em Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira, as duas únicas pistas que oferecem as condições mais próximas do necessário para operarem full time e ainda prover o apoio logístico e operacional necessário aos caças. A partir delas o caça sueco e seus 926 kms de raio de ação pode fazer a defesa aérea da fronteira colombiana na íntegra. Com este alcance podemos cobrir o nosso lado e ainda ter capacidade de penetração no território vizinho até mesmo Bogotá no caso do uso de taques subalares.
Como tenho colocado, o problema maior é que não dá para fazer isso com caças em Manaus ou Belém.
Ainda que desdobrados, cada cidade desta teria que absorver no mínimo 1 esquadrão (12 a 18 undes) a fim de se conseguir operacionalidade 24/7 coerente com o tamanho da empreitada.
Aeronaves de apoio como os KC-390 e E/R-99 podem operar a partir de Manaus ou até mesmo Tefé, caso necessário.
Bem, aí entramos naquela questão: os 108 caças propostos são suficientes para apoiar, por exemplo, este cenário?
É preciso observar que neste caso, além dos dois municípios acima, Tefé, Manaus e Eirunepé que possuem OM da FAB precisariam de defesa aérea também. Isto significa que ao menos 1 esquadrão de caças da FAB tem obrigatoriamente que cobrir estas localidades. Genericamente, isto significaria pelo menos 60 caças.
Tomando como base os 36 que seriam alocados a Manaus, ainda teríamos um hiato de 24 aeronaves que teriam de ser deslocadas dos outros dois grupos de caça em Brasília e Santa Maria, segundo a ideia pensada pelo ex-cmte da FAB.
Estou falando de um número mínimo, o que caso fôssemos dispor de 18 undes - para sermos eficientes e não somente eficazes - em cada cidade, seriam em torno de 90 caças, o que praticamente é toda a frota planejada da FAB. Ou seja, estaríamos mais uma vez tentando cobrir a cabeça e descobrido os pés. Cabe ainda dizer que Porto Velho e Belém, onde estão localizados os outros dois centros do CINDACTA IV além do de Manaus, também seriam objeto de atenção e defesa, aumentando mais ainda a demanda por caças. Nesta brincadeira, já seriam em torno de 84 undes, pelo menos. Se fossem 18 undes a brincadeira passaria fácil da centena. Sequer teremos caças em quantidade para isso.
Enfim, se formos falar em artilharia AAe, que complementa a defesa aérea, seria o caso de falar em pelo menos 5 bia ou grupos AAe, de qualquer tipo de sistema. Idealmente, teriam que ser curta/média/longa distância e curta/média/grande altura para as cidades e curto e média altura e alcance para as demais localidades, onde, por exemplo, estejam os sítios do Cindacta IV. Onde iríamos arrumar tanta AAe em curto espaço de tempo?
Para tudo isso é necessário que a frota de KC-390 e E/R-99 estejam disponíveis 24/7 durante o período de operações. Neste aspecto, contar com uma quantidade expressiva destes meios é importante tanto quanto indispensável, o que no caso do avião da Embraer pode ser providenciado mediante a manutenção das entregas acordadas com a empresa, dado que teremos 28 undes, que além do transporte tático, também podem providenciar o Revo. Já aqueles outros, possuímos apenas 5 e 3 undes respectivamente, e com certeza, tanto um como outro não estarão disponíveis 100% do tempo. Isso diminui as nossa capacidade de alerta e C4I. A não ser que a FAB demandasse os C-99 e o transformasse em versões ISR, algo improvável de acontecer no curto prazo. Além de muito caro, e dependente de importações de insumos, que poderiam vir, ou não.
Notar que neste contexto a posse e uso de aeronaves pesadas de carga seria uma necessidade a ser coberta, já que as mesmas poderiam suprir no nível estratégico a logística de operação tanto da FAB como das demais forças. Mas isso seria outro imbróglio já que a quantidade a ser utilizada seria algo maior que os 4 KC-137 aposentados; atualmente não conseguimos sequer uma única aeronave usada para cobrir este hiato. A alternativa seria utilizar aviões comerciais de empresas brasileiras de carga, que não custa lembrar, a frota pode ser contada a dedo, e por isso, também longe de serem uma solução apropriada.
É possível perceber neste cenário hipotético, que o mesmo basicamente se repetiria em relação a Peru, Venezuela ou Bolívia de acordo com os seus cenários particulares.
Obviamente também é possível verificar que não temos hoje, no curto e médio prazo os recursos necessários para que a FAB possa efetivamente prover a defesa aérea do país em caso de um conflito, ainda que limitado e de curto prazo, com os vizinhos do norte, caso estes venham a possuir caças modernos e em quantidades além das hoje apresentadas.
As soluções nós temos no papel. Se nos servem, ou serão suficientes, o tempo, e talvez a repetição da história nos dirá.
abs