Revanchismo sem fim

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
Brasileiro
Sênior
Sênior
Mensagens: 9458
Registrado em: Sáb Mai 03, 2003 8:19 pm
Agradeceu: 252 vezes
Agradeceram: 562 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#706 Mensagem por Brasileiro » Qua Mai 11, 2011 1:35 pm

Zelhos escreveu:Muito se fala que o comunismo matou muita gente, mas quem matou? na URSS mesmo se tinha 2 alvos, religiosos apoiadores da monarquia e os Bolcheviques que eram comunistas, Stalin era um louco assim como Hitler, tanto que ele esta longe de ser unanimidade entre os comunas, toda ditadura persegue e mata os opositores, seja ela capitalista ou comunista, mas cai entre nos, quantas pessoas o capitalismo matou? na Guerra da Coréia? do Viatinã? nas 2 guerras do golfo? Iraque? Afeganistão? etc... sem falar nas milhões de pessoas que morrem por ano vitimas da fome, falta de assistência médica e tudo isso que vemos na África
O que 'limpa' a cara do capitalismo é que as mortes que ele provoca quase nunca ficam relacionadas a algum nome. Não existe um Stalin do capitalismo para servir de bode espiatório. Se não tem ninguém para botar a culpa então fica fácil afirmar que essas mortes simplesmente aconteceram e não tem nada a ver com o sistema atual.

E não são apenas coisas modernas, mas a dominação da Índia, as guerras do ópio e o própro tráfico de drogas só existem graças ao impulso egoísta/imediatista/consumista e ganancioso das pessoas. É esse espírito é o alimento do capitalismo.
Não existe cooperação, nem cultura, nem nada. O que existem são produtos, vendedores de produtos e compradores de produtos, ou seja, oportunidades para se fazer negócios e ganhar alguma coisa.



abraços]




----------------
amor fati
Avatar do usuário
rodrigo
Sênior
Sênior
Mensagens: 12888
Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
Agradeceu: 221 vezes
Agradeceram: 424 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#707 Mensagem por rodrigo » Qua Mai 11, 2011 1:56 pm

O capitalismo matou, mata e ainda matará por muito tempo. Mas a guerra, dentro do contexto capitalista, é um péssimo negócio. Foi tornada abre-alas pelos americanos, que já nascem sendo aculturados com espírito bélico. Isso tem seus prós e contras. Mas perde longe do que o comunismo fez e ainda almeja fazer.
quantas pessoas o capitalismo matou? Afeganistão?
Não tem nada a ver com idelogia, mas resposta ao público americano pós 11 setembro.
quantas pessoas o capitalismo matou? nas 2 guerras do golfo?
Bom, na primeira quero que me digam quem não foi da aliança contra o Iraque, porque existiam países de todo tipo. Na segunda foi injusto mesmo, pode botar na conta. Mas foi um péssimo negócio, assim como demonstrado com a Venezuela, é mais fácil deixar o ditador fazer seu teatro e continuar vendendo seu petróleo do que ir lá pegar com as próprias mãos.
quantas pessoas o capitalismo matou? do Viatinã?


Vietnã? Empatou, os dois lados mataram. Mas em combate nenhum lado pode reclamar. Mas a limpeza ideológica realizada pelo Vietnã do Norte no pós guerra, com apoio explícito da URSS e China, não é comentada.
quantas pessoas o capitalismo matou? na Guerra da Coréia?


A Coréia do Norte invadiu, massacrou a população civil sul coreana, e não fosse a intervenção americana e aliada, o Sul seria uma extensão da miséria predominante no Norte comunista. Isso é total desconhecimento de história ou a defesa cega e irresponsável da ideologia!!! O Sul hoje é próspero, e não precisou de demagogia nenhuma de comunismo para atingir excelentes níveis de vida para sua população, em qualquer nível social e/ou econômico. O Norte...




Editado pela última vez por rodrigo em Qua Mai 11, 2011 6:19 pm, em um total de 1 vez.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

João Guimarães Rosa
Avatar do usuário
Zelhos
Avançado
Avançado
Mensagens: 611
Registrado em: Dom Out 24, 2010 8:06 pm
Localização: Votorantim/SP
Agradeceu: 21 vezes
Agradeceram: 84 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#708 Mensagem por Zelhos » Qua Mai 11, 2011 2:20 pm

Horas matar meio Afeganistão só para satisfazer o publico também né, não preciso nem falar

No Viatinã eles forjaram um ataque para justificar a guerra que consideravam ganha, só para não deixar mais um pais ser comunista

Coréia do Sul hoje é prospera porque os EUA despejaram dinheiro lá para o comunismo não avançar, do mesmo jeito que fizeram na Europa depois de 1945, e se a Coréia do Norte é pobre é por causa dos embargos e boicotes que os impuseram, e também eu nem os consideram socialistas, para mim são fascistas




Um dia é da caça... o outro do caçador...


Imagem
Avatar do usuário
Brasileiro
Sênior
Sênior
Mensagens: 9458
Registrado em: Sáb Mai 03, 2003 8:19 pm
Agradeceu: 252 vezes
Agradeceram: 562 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#709 Mensagem por Brasileiro » Qua Mai 11, 2011 5:57 pm

rodrigo escreveu:O capitalismo matou, mata e ainda matará por muito tempo. Mas a guerra, dentro do contexto capitalista, é um péssimo negócio. Foi tornada abre-alas pelos americanos, que já nascem sendo aculturados com espírito bélico. Isso tem seus prós e contras. Mas perde longe do que o comunismo fez e ainda almeja fazer.
Brasileiro escreveu:quantas pessoas o capitalismo matou? Afeganistão?
Não tem nada a ver com idelogia, mas resposta ao público americano pós 11 setembro.
Brasileiro escreveu:quantas pessoas o capitalismo matou? nas 2 guerras do golfo?
Bom, na primeira quero que me digam quem não foi da aliança contra o Iraque, porque existiam países de todo tipo. Na segunda foi injusto mesmo, pode botar na conta. Mas foi um péssimo negócio, assim como demonstrado com a Venezuela, é mais fácil deixar o ditador fazer seu teatro e continuar vendendo seu petróleo do que ir lá pegar com as próprias mãos.
Brasileiro escreveu:quantas pessoas o capitalismo matou? do Viatinã?
Vietnã? Empatou, os dois lados mataram. Mas em combate nenhum lado pode reclamar. Mas a limpeza ideológica realizada pelo Vietnã do Norte no pós guerra, com apoio explícito da URSS e China, não é comentada.
Brasileiro escreveu:quantas pessoas o capitalismo matou? na Guerra da Coréia?
A Coréia do Norte invadiu, massacrou a população civil sul coreana, e não fosse a intervenção americana e aliada, o Sul seria uma extensão da miséria predominante no Norte comunista. Isso é total desconhecimento de história ou a defesa cega e irresponsável da ideologia!!! O Sul hoje é próspero, e não precisou de demagogia nenhuma de comunismo para atingir excelentes níveis de vida para sua população, em qualquer nível social e/ou econômico. O Norte...
Rodrigo, sua citação está incorreta.

Foi o amigo Zelhos quem disse. Se puder editar eu ficaria agradecido.


abraços]




----------------
amor fati
Avatar do usuário
rodrigo
Sênior
Sênior
Mensagens: 12888
Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
Agradeceu: 221 vezes
Agradeceram: 424 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#710 Mensagem por rodrigo » Qua Mai 11, 2011 6:18 pm

Brasileiro escreveu:Rodrigo, sua citação está incorreta. Foi o amigo Zelhos quem disse. Se puder editar eu ficaria agradecido.
Você tem toda razão, foi o meu uso incorreto da citação do texto que lhe citou.
Zelhos escreveu:Coréia do Sul hoje é prospera porque os EUA despejaram dinheiro lá para o comunismo não avançar, do mesmo jeito que fizeram na Europa depois de 1945, e se a Coréia do Norte é pobre é por causa dos embargos e boicotes que os impuseram, e também eu nem os consideram socialistas, para mim são fascistas
Então, é melhor ficar do lado de quem? De acordo com sua própria descrição, a guerra foi uma atrocidade capitalista.
Zelhos escreveu:No Viatinã eles forjaram um ataque para justificar a guerra que consideravam ganha, só para não deixar mais um pais ser comunista
Exatamente. Nada além do modus operandi da guerra fria. A URSS invadiu e massacrou a oposição em países de sua periferia, em ações que lamentavelmente nunca são lembradas.
Horas matar meio Afeganistão só para satisfazer o publico também né, não preciso nem falar
Meio Afeganistão ou meio Taleban? Pior fez a URSS, que tentou e voltou pra casa com o rabo entre as pernas. Os EUA não foram lá por razões ideológicas, e nenhum país do mundo se posicionou contra. Não fique contra os americanos só por ficar.




"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

João Guimarães Rosa
gil eanes

Re: Revanchismo sem fim

#711 Mensagem por gil eanes » Qui Mai 12, 2011 1:52 am

Uma moeda tem sempre dois lados. A menos que ela tenha sido forjada com as mesmas faces em ambos!




Avatar do usuário
prp
Sênior
Sênior
Mensagens: 9255
Registrado em: Qui Nov 26, 2009 11:23 am
Localização: Montes Claros
Agradeceu: 155 vezes
Agradeceram: 444 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#712 Mensagem por prp » Dom Mai 15, 2011 3:03 am

rodrigo escreveu:
Zelhos escreveu:Coréia do Sul hoje é prospera porque os EUA despejaram dinheiro lá para o comunismo não avançar, do mesmo jeito que fizeram na Europa depois de 1945, e se a Coréia do Norte é pobre é por causa dos embargos e boicotes que os impuseram, e também eu nem os consideram socialistas, para mim são fascistas
Então, é melhor ficar do lado de quem? De acordo com sua própria descrição, a guerra foi uma atrocidade capitalista.

.
Haiti ficou do lado dos EUA, quer dizer que lá está melhor que a CN? Mais próspera?




Avatar do usuário
suntsé
Sênior
Sênior
Mensagens: 3167
Registrado em: Sáb Mar 27, 2004 9:58 pm
Agradeceu: 232 vezes
Agradeceram: 154 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#713 Mensagem por suntsé » Dom Mai 15, 2011 9:43 am

prp escreveu:
rodrigo escreveu: Então, é melhor ficar do lado de quem? De acordo com sua própria descrição, a guerra foi uma atrocidade capitalista.

.
Haiti ficou do lado dos EUA, quer dizer que lá está melhor que a CN? Mais próspera?
Existe uma grande diferença

Na Coreia do Sul, existiam pessoas sérias, preocupadas em usar o interesse dos EUA por eles para desenvolver o país.

No Haiti, o que existia era só 2 ditadorzinhos, preocupados em irriquecer as custas do país.




Avatar do usuário
prp
Sênior
Sênior
Mensagens: 9255
Registrado em: Qui Nov 26, 2009 11:23 am
Localização: Montes Claros
Agradeceu: 155 vezes
Agradeceram: 444 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#714 Mensagem por prp » Ter Mai 17, 2011 11:48 pm

A tá bom viu. :roll:




Avatar do usuário
Zelhos
Avançado
Avançado
Mensagens: 611
Registrado em: Dom Out 24, 2010 8:06 pm
Localização: Votorantim/SP
Agradeceu: 21 vezes
Agradeceram: 84 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#715 Mensagem por Zelhos » Qua Mai 18, 2011 2:06 pm

prp escreveu:
rodrigo escreveu: Então, é melhor ficar do lado de quem? De acordo com sua própria descrição, a guerra foi uma atrocidade capitalista.

.
Haiti ficou do lado dos EUA, quer dizer que lá está melhor que a CN? Mais próspera?



Não se trata de lados, o que fez a Coréia do Sul e a Europa prosperarem foi a Doutrina Truman e o Plano Marshall




Um dia é da caça... o outro do caçador...


Imagem
Avatar do usuário
Slotrop
Avançado
Avançado
Mensagens: 691
Registrado em: Sex Dez 12, 2008 9:23 pm

Re: Revanchismo sem fim

#716 Mensagem por Slotrop » Qua Mai 18, 2011 2:07 pm

Alem disso, o que fez esses países prosperarem, foi a ameaça de destruição/ocupação, esse é um dos maiores motivadores que existem.




O Troll é sutil na busca por alimento.
gil eanes

Re: Revanchismo sem fim

#717 Mensagem por gil eanes » Dom Jul 03, 2011 1:02 pm

ARTIGOS - 01/07/2011 - 09h37
A Guerrilha do Araguaia

Por Hiram Reis e Silva
“é dedicado a todos os militares que morreram na Guerrilha do Araguaia defendendo a Pátria contra o Partido Comunista do Brasil (PC do B) que queria impor, à força, através da luta armada, o regime comunista no Brasil”.
(José Vargas Jiménez - Guerrilha do Araguaia)

- Guerrilheiros da “Liberdade”

O ato de “reescrever a história” não é um fato novo na biografia da humanidade e muito menos privilégio dos brasileiros. Quantas vezes foi usado para melhorar a auto-estima de um povo em relação às suas conquistas e glórias maximizando-as e dando-lhes um colorido simpático e atraente. Infelizmente, quando certos ParTidos com tendências totalitárias estendem seus tentáculos pelos tortuosos meandros do poder há um propósito claro de reescrever a história omitindo aquilo que não lhes é conveniente e usando de ardis de toda a ordem para mascarar desvios de conduta e atrocidades ou transformar antônimos em sinônimos - totalitarismo em democracia.

A afirmativa “nunca antes na história deste país” empregada com frequência pelos alienados encastelados do poder da república reflete apenas seu desconhecimento do passado. Ao negar as conquistas realizadas pelos seus antecessores, apoderando-se de programas iniciados em outros governos, olvidam o trabalho incansável das gerações que os antecederam. Seria menosprezar o trabalho de nossos pais e avós, desconsiderar as belas páginas da história gravadas “Ad æternum” pelos nossos heróis.

“As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática”. (Daniel Aarão Reis Filho, ex-guerrilheiro do Movimento Revolucionário 8 de outubro - O Globo, 23/09/2001)

Por esta razão, reproduzo a reportagem do Tenente José Vargas Jiménez a respeito da Guerrilha do Araguaia tão decantada pelos radicais de esquerda que se intitulavam “guerreiros da liberdade”.

- Eles Querem Mudar a História do Brasil
Fonte: Patrícia Belarmino – O Estado - Mato Grosso do Sul Sábado, 25 de junho de 2011

Militar aposentado, o corumbaense José Vargas Jiménez relembra dias de luta durante a Guerrilha do Araguaia

Aos 63 anos, o militar da reserva José Vargas Jiménez é um pedaço da história recente do Brasil. Militar que lutou durante a Guerrilha do Araguaia (1972 - 1975), ele protagonizou uma história que colocou brasileiros em lados antagônicos. De um lado, militares ordenados a executarem aqueles que oferecessem resistência a prisão, e do outro, jovens que lutavam em nome do comunismo.

Corumbaense, Vargas se preparou na região amazônica, onde fez um curso de sobrevivência na selva. Conhecido durante a guerrilha pelo nome de Chico Dólar, o militar conta em entrevista exclusiva ao jornal O Estado como foi a operação que resultou na morte de 69 guerrilheiros, 11 militares e quatro camponeses sem ligações políticas. Os guerrilheiros se instalaram na região em 1968, em uma ação comandada pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil).

Favorável à abertura dos arquivos secretos do Regime Militar (1964-1985), Vargas já lançou o livro “Bacaba - Memórias de um guerreiro de selva na Guerrilha do Araguaia”. E, agora, lança o segundo título “Bacaba II”, que conta os quatro anos de operação no Araguaia, inclusive a Operação Marajoara, considerada a mais dura. Nos livros, ele reúne documentos considerados secretos pelo Exército Brasileiro. Nestes documentos, constam nomes e fotos de guerrilheiros que deveriam ser executados.

Sem relatar casos de tortura, Vargas afirma que durante os meses em que passou no Araguaia, a ordem era uma só: matar quem reagisse à prisão. “Primeiro, era capturar. Na reação, você matava. Porque guerra é guerra. Se você não mata, você morre. Eu tinha um contrato com o meu grupo de combate: jamais nos entregaríamos vivos. Preferíamos morrer em combate”, relembra.

O sul-mato-grossense conta que capturou dois homens, o camponês Zezinho e o estudante Piauí. O último, hoje consta na lista de desaparecidos políticos. Vargas afirma que entregou os dois homens vivos ao lendário Major Curió. “Quando retornei lá, em 1976, um companheiro me disse que ele tentou fugir e, por isso, foi morto. O Zezinho era um jovem camponês e está vivo até hoje”.

O Estado - Como o senhor foi escalado para ir lutar na Guerrilha do Araguaia?

José Vargas - Foi em 1973, quando já tinha iniciado a Guerrilha. Serva em Corumbá em 1972 e fui transferido para o Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa, na região amazônica. Foi lá que eu fiz curso de guerra na selva. Quando retornei, no quartel onde servia, no 3º Batalhão de Fronteira, o coronel nos convidou, porque estávamos preparados. Éramos 60 homens e fomos para a guerrilha. Começamos em setembro, na Operação Marajoara, considerada a última fase da guerrilha.

O Estado - Como foi a Operação Marajoara?

José Vargas - Essa é aquela operação que não saiu em nenhum livro. Existem outras operações. No meu livro, Bacana I, conto os sete meses que passei lá. No segundo livro, conto toda a história da guerrilha, desde que ela começou. Inclusive, o episódio do (José) Genoíno (petista, que integrou o governo Lula). Graças a ele, conseguimos chegar aos guerrilheiros. Quando começamos em outubro, prendemos uns 40 camponeses na nossa primeira saída. Eu trabalhava com o Curió. Um dos meus colegas, o sargento Brito morreu lá. Nós prendíamos e entregávamos ao nosso chefe. Uma das diferenças é que nós trabalhávamos descaracterizados. Trabalhávamos barbudos, de chinelo e não tínhamos nome verdadeiro. O meu apelido era Chico Dólar. Tanto que éramos parecidos com os guerrilheiros que, nós tínhamos fogo amigo. Como não tínhamos senha ou contra senha, quando encontrávamos outro grupo nosso, e chegávamos a trocar tiros.

O Estado - Quando vocês chegaram ao Araguaia, qual foi o primeiro impacto?

José Vargas - Eu comandava um grupo de 10 homens e o nosso sentimento era de medo. Então, para chegarmos a um local onde tinham guerrilheiros, cumpríamos todas as regras que nos foram ensinadas durante o curso de guerra na selva. Se demoraríamos uma hora para chegar em certo local, levávamos o dobro. Tudo tinha o máximo de cuidado. Depois, quando um soldado morreu em meus braços, o medo se transformou em raiva. Se era para chegar em meia hora, você levava 10 minutos. O medo se transformou em raiva e vingança. Você fica doido para pegar os guerrilheiros.

O Estado - Quantos guerrilheiros o senhor chegou a capturar?

José Vargas - Capturei dois guerrilheiros. Podia até tê-los matado, porque a ordem nossa era matar. Mas, primeiro, os prendíamos. Se eles resistissem, a gente trocava tiros. Porque eles também atiravam em nós. Mas se eles não resistissem, ficavam só presos. Prendi o Piauí (Antônio de Pádua Costa) e o Zezinho, e entreguei para o nosso chefe. O Piauí, hoje, consta na lista de desaparecidos. Quando saí em fevereiro de 1974, ele ainda estava vivo. Quando retornei lá, em 1976, um companheiro me disse que ele tentou fugir e, por isso, foi morto. O Zezinho era um jovem camponês que está vivo até hoje.

O Estado - Hoje, se fala muito do uso de tortura durante o Regime Militar. Qual era a recomendação das Forças Armadas para quem estava na linha de frente?

José Vargas - Teve a guerrilha urbana e a rural. Na guerrilha urbana, teve Dilma Rousseff, Tarso Genro e Zé Dirceu que foram presos. Isso foi antes de entrarmos. Na guerrilha rural, na qual estive, não teve ninguém para contar. As pessoas foram todas mortas. Talvez, no período anterior ao meu, tenha acontecido isso (tortura). No meu, não teve.

O Estado - A ordem era matar?

José Vargas - Primeiro, era capturar. Na reação, você matava. Porque guerra é guerra. Se você não mata, você morre. Eu tinha um contrato com o meu grupo de combate: jamais nos entregaríamos vivos. Preferíamos morrer em combate. Porque, se não, nos capturavam e nos torturavam. No meu período, o Comando Militar da Amazônia treinou 120 homens. Vieram, ainda, 100 paraquedistas do Rio de Janeiro. Os guerrilheiros eram cerca de 100, 120. Na Operação Papagaio, o Exército enviou 1,2 mil homens fardados. Só que levou de Brasília, Minas, Goiânia. Esses militares não estavam acostumados a sobreviver na selva, tanto que os guerrilheiros venceram. Na operação seguinte, a Sucuri, foram os homens do serviço de inteligência. O Exército mandou 32 homens, que ficaram quatro, cinco meses. Ai foram descobertos três grupos de combate. Quando eles saíram, o Exército fez a Operação Marajoara, que só tinham especialistas. Eles (guerrilheiros) eram jovens também. Eu tinha 24 anos. Lá, tinha jovens de ideais comunistas, que foram treinados na China e em Cuba. Depois, eles treinavam os camponeses e os outros colegas. Isso começou em 1968 e só foram descobertos em 1972. Eles queriam ganhara população para que se levantasse contra as Forças Armadas.

O Estado - Então, eles já conheciam toda a região?

José Vargas - Sim, com certeza. Eles estavam lá desde 1968 e nós só chegamos em 1972. Estavam quatro anos à frente de nós. Conheciam tudo e a população os apoiava. Eles cuidavam da população, ofereciam serviços de médicos, por exemplo. Mas eles também precisavam aprender a sobreviver. Alguns camponeses chegaram a ensiná-los a plantar, porque eles não sabiam.

O Estado - O que motivou o senhor a escrever dois livros sobre este período?

José Vargas - O primeiro, Bacaba, escrevi em 2007. Eu tinha documentos que me deram como confidenciais-secretos. Eram sobre elementos que deveriam ser capturados e falava em qual região eles estavam. A cada comandante de grupo, foi entregue esses documentos que tinham fotos. Se você matava um corpo no meio da selva e não identificava pelas fotos, vieram ordens para arrancar a cabeça e as mãos. Isso não era por raiva, mas só para identificá-los. E isso só aconteceu em três casos. Então, tinha todos esses documentos e já havia dito ao meu filho que, quando morresse, era para ele entregar a um jornalista ou historiador para que soubessem a verdade. O que me deixou revoltado foi que há cinco, seis anos atrás, os nossos chefes não falaram mais nada e os que estão no poder, até hoje, são terroristas. E eles querem mudar a história do Brasil. Eles falaram que lutaram contra nós, para impor a democracia e isso me deixou revoltado. Como tinha ido para a reserva em 1994, resolvi escrever esses livros. Ninguém me patrocinou e mesmo assim consegui. No livro, toda a verdade está contada e tem os documentos. Eles falam que nós matamos, mas não contam que mataram também. No meu segundo livro, estou mostrando toda a relação de militares que eles (guerrilheiros) mataram. É uma forma de mostrar que sou prova viva da história. Até hoje, eles dizem: “lutávamos para impor a democracia”. Antes de matarmos um guerrilheiro, eles mataram um homem nosso, o cabo Rosa. No ano passado, um guerrilheiro foi enterrado com honras. E os nossos chefes não falaram nada. No meu livro, estou provocando os dois lados.

O Estado - O senhor acredita que esta é uma história de meias verdades?

José Vargas - Dos dois lados. Se eles criarem a comissão da verdade, eles também devem olhar o lado deles. Eles só falam que nós matamos. Ninguém fala que eles também mataram. Já estive no Congresso três vezes e cheguei a ser ameaçado de morte. Mas não tenho medo de morrer. Há três meses, prenderam o Curió por porte de arma. O Estado - O senhor foi um dos que voltou no Araguaia para tentar localizar os corpos? José Vargas - Sim, nós fomos lá em Bacaba e mostrei onde tinha visto umas ossadas, mas não estava mais lá. Depois, teve a operação limpeza, que foi comandada pelo Curió.

O Estado - Hoje, se discute muito a abertura dos arquivos da época da Ditadura. Como o senhor vê essas movimentações?

José Vargas - Eu acho bom. Assim, vamos ver os dois lados. Porque hoje só se vê o lado deles, que estão no poder. Combati para ter essa democracia e sou idealista. Meus livros são para que as pessoas saibam a verdade. Tudo bem, que nossos chefes precisam cumprir as ordens da presidente, mas eles não dão a opinião deles. Eles só fazem isso quando vão para a reserva.

O Estado - Da Guerrilha do Araguaia, o que mais marcou o senhor?

José Vargas - Depois que saímos de lá, muitos de nós ficaram internados. Até se reintegrar a sociedade foi muito difícil. Como estávamos em uma guerra, era normal ver morte. E quando viemos para a cidade foi difícil. Qualquer coisa que acontecia, já queria puxar uma arma. Cheguei neurótico. E só consegui me reintegrar por conta da ajuda da minha família.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Vice-Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E–mail: hiramrs@terra.com.br


Os artigos publicados com assinatura não representam a opinião do Portal Pantanal News. Sua publicação tem o objetivo de estimular o debate dos problemas do Pantanal do Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso, do Brasil e do mundo, garantindo um espaço democrático para a livre exposição de correntes diferentes de pensamentos, idéias e opiniões. redacao@pantanalnews.com.br




Avatar do usuário
Guerra
Sênior
Sênior
Mensagens: 14201
Registrado em: Dom Abr 27, 2003 10:47 pm
Agradeceu: 53 vezes
Agradeceram: 135 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#718 Mensagem por Guerra » Sáb Set 17, 2011 7:41 pm

Família de Lamarca tenta provar que ele não foi um 'desertor'


Exatos 40 anos após a morte de Carlos Lamarca, sua família ainda luta na Justiça para provar que um dos mais importantes militares a aderir à luta armada contra a ditadura não foi um desertor.

Em junho de 2007, a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça deu a Lamarca a patente de coronel e à sua viúva, Maria Pavan, o direito de ganhar R$ 12,1 mil mensais e R$ 902,7 mil de indenização.

Mas, em outubro daquele ano, a Justiça Federal no Rio, em ação movida por clubes militares das três Forças, ordenou a suspensão da promoção e dos pagamentos.

A decisão foi uma liminar, ou seja, teve caráter provisório. Passados quase quatro anos, o processo não ganhou uma sentença --o que deve ocorrer ainda neste ano.

A argumentação gira em torno do fato de Lamarca, ao se insurgir contra o governo, ter ou não abandonado irregularmente a sua função.

A juíza entendeu que "sua exclusão das Forças Armadas decorreu de abandono [em janeiro de 1969] do 4º Regimento de Infantaria de Quintaúna", o que caracteriza "crime de deserção".

Para a magistrada, a indenização foi uma "decisão política" altamente "questionável", um "pagamento de valores incompatíveis com a realidade nacional".

Para a família, a insurgência de Lamarca foi legítima e respeitou os princípios do Exército, no qual cumpriu carreira "brilhante", adjetivo usado pela Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.

"Quem desertou foram aqueles que, como militares e funcionários públicos federais, tomaram o poder pelas armas e imprimiram ao povo brasileiro a lei do silêncio e terror psicológico e físico", disse o filho Cesar Lamarca.

Na tarde de ontem, a reportagem não localizou representantes dos clubes militares autores da ação. O Exército não se pronunciou.
Eu estou torcendo que o argumento da familia Lamarca ganhe. Quero ver todos os militares desertores de 64 a 85 ganhando essa fortuna e sendo promovidos a coronel. É bom que atola de vez esse pais.




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#719 Mensagem por Clermont » Sáb Set 17, 2011 7:50 pm

Em junho de 2007, a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça deu a Lamarca a patente de coronel
Mas o homem foi de capitão a coronel, depois de morto?

Como é isso? Será que lá no inferno tem ECEME?




Avatar do usuário
Guerra
Sênior
Sênior
Mensagens: 14201
Registrado em: Dom Abr 27, 2003 10:47 pm
Agradeceu: 53 vezes
Agradeceram: 135 vezes

Re: Revanchismo sem fim

#720 Mensagem por Guerra » Sáb Set 17, 2011 7:57 pm

Clermont escreveu:Mas o homem foi de capitão a coronel, depois de morto?

Como é isso? Será que lá no inferno tem ECEME?
Promoção post mortem 3 postos acima. Ele deve ter morrido em serviço, estava no quadro de acesso para major e pagava pensão num posto acima. Tem a opção tb da justiça brasileira estar contaminada pelo revanchismo, mas eu quero acreditar que não é isso.




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
Responder