orestespf escreveu:
Entendo, PRick, e até acho que você está certo. Mas no caso do assunto Defesa, em particular, existe algo sintomático, que acredito que poucas pessoas perceberam. Por incrível que possa parecer toda a imprensa está do lado do Governo quando o assunto é defesa, ninguém ousa dar uma opinião diferente (ou muito diferente), a única que tentou algo foi o Merval questionando a "aproximação" (sugerindo ser perigosa) com os franceses. O mais interessante disso é que a imprensa virou porta-voz do Jobim e Mangabeira, só sai o que eles querem. Observe isso!
Assim, observando este texto postado pelo Marino, dá para perceber nitidamente o quanto que vazou do Plano de Defesa ali, muito mais do que as pessoas sabem. Ali ele revela detalhes de bastidores que as pessoas mais desatentas não perceberiam em uma primeira leitura. Aliás, vou além, preste atenção nestes textos que o Marino tem postado aqui (com regularidade) no DB. São extremamente reveladores, só que ele e outros que sabem alguma coisa não podem comentar, até mesmo por motivos óbvios.
Dou alguns exemplos sobre o último texto postado por ele. Lá fala "perguntas", se você der uma olhada em um artigo meu para o UFJF Defesa sobre o Plano Estratégico Nacional de Defesa, verá que as tais perguntas são diretrizes para este Plano. Foi isso que me motivou a escrever tal texto, está tudo lá, mas de forma sutil.
Fala-se também em "duas rodadas de encontros com os comandantes", a primeira, segundo "eles", não foram respondidas as perguntas, logo se fez necessário (na cabeça "deles") mais uma, introduzindo novas perguntas e que aparecem neste texto postado (sutilmente, mas estão lá).
Fala-se também em "guerra assimétrica x guerra convencional" e a idolatria dos ministros sobre a "dissuasão". Já foi postado aqui também um texto onde o Jobim fala que as FFAA devem ser dissuasórias, algo que segundo ele não são (na cabeça dele. hehehe).
Tudo isso vem sendo sistematicamente pela imprensa, tudo está sendo revelado, pelo menos para quem quer entender, até porque o perfil dele é de língua solta (nada pejorativo, é uma escolha dele, uma forma política inclusive de se manifestar publicamente). Inclusive este papo sobre o TOA (Amazônia) que é uma das coisas defendidas pelo Mangabeira (não é a primeira vez), é fácil achar textos onde o MG fala abertamente sobre seu plano estratégico para a região. Agora resolveram mixar tudo, ou seja, plano social + plano de desenvolvimento + plano de defesa para a região amazônica.
Este não é o problema, o erro é achar que os problemas só estão lá, o erro é desmobilizar as forças no Sul e Sudeste para levar para o Norte, o erro é pensar em guerra assimétrica naquela região, o erro é achar que dissuasão resolve o problema.
A imprensa não vai colocar um furo sobre assuntos de Defesa ou sobre o Plano de Defesa, não precisa, os dois ministros vem revelando tudo, eles são as fontes primárias dos jornalistas.
A questão da dissuasão tem me incomodado e muito, principalmente por ecoar na imprensa leiga. A teoria da dissuasão aplica-se a qualquer capacidade que pode impedir o inimigo de atingir os seus objetivos. É difícil provar a validade de qualquer teoria de dissuasão, pois não é possível demonstrar de forma conclusiva a razão por que qualquer coisa não aconteceu.
A ausência de atividade de corrida aos armamentos não prova que um competidor foi persuadido, assim como a ausência de agressão não prova que um hipotético agressor foi dissuadido. Além disso, mesmo que estivéssemos certos quanto a um mecanismo de dissuasão que funcionou durante um certo tempo, não podemos ter a certeza que funcione sempre.
Colocando de outra forma, a dissuasão pode falhar e a guerra pode chegar sem aviso prévio. Esta possibilidade leva-nos ao tema controverso da ação preventiva, que está ligado às dúvidas quanto à fiabilidade de qualquer tipo de dissuasão.
Entende minha preocupação? Os ministros parecem não saber disso, acham que dissuasão é fim, mas é meio. Da forma que eu coloquei, a dissuasão pode falhar (e se der certo, não saberemos porque deu), mas e se falhar, o que acontece? Guerra! E se as forças forem apenas dissuasórias? Não há tempo para reverter a coisa.
Depois escrevo mais, tá ficando longo demais. rsrsr
Abração,
Orestes
Orestes,
No assunto sobre defesa, como quase em todo assunto mais especializado, o que reina é muita confusão, muita incapaciadade de lidar com o tema, uma quantidade enorme de besteiras e muita opinião, sem conhecimento de causa. Vamos aos fatos:
Abstraindo o conceito de dissuasão, que como qualquer conceito muito abstrato, carrega um alto grau de subjetividade e complexidade, ou seja, é necessário para os textos sérios sobre o assunto, definir aquilo que se entende por dissuasão.
O que está o ocorrendo é um debate sobre as prioridades a serem dadas para a Defesa do País, dentro de um Plano, que tenta na medida do possível, alinhavar a Defesa estrito senso, com o resto do País, na verdade em toda nossa história, nunca houve um debate sério sobre o tema, fizemos alinhamentos automáticos e subordinados, até alcançarmos o alge durante o período da Guerra Fria, aonde nossas FA´s eram encaradas como um apêndice de uma força anti-URSS, nada mais além disso.
Do ponto de vista interno, desde o fim da Guerra do Paraguai, nossas FA´s passaram a viver da corporação como um fim em si própria, aonde a operacionalidade era relegada a planos inferiores.
Ora nossas FA´s estavam em posição clara de inferioridade em termos materiais, quando comparadas as FA´s da Argentina até uns 17 anos, portanto, de modo algum poderiam ser chamadas de dissuasórias ou qualquer outro termo correlato. Creio mesmo que foi sempre o tamanho da nação brasileira, o maior fator de dissuasão, se assim podemos chamar o termo.
O que assistimos agora, é de certa forma uma briga de poder, para saber qual serão as prioridades, e parte da corporação, vai agir como corporação, ou seja, sequer quer debater o tema, da mesma forma existem problemas no outro lado, gente que vai achar que descobriu a pólvora, pensando que um assunto ou medidas desse naipe, podem ou poderiam ser resolvidas em tão pouco tempo, não é sensato, eu diria mesmo que o verdadeiro processo de modernização de nossa sociedade nessa área, vai começar a partir do lançamento do Plano.
Me parece que algumas questões no Plano já estão postas, mas nem por isso podemos concluir que estejam decididas ou que não podem ser alteradas.
É claro que em alguns pontos o Plano já pode ser adiantado, como o NJ não cansa de dizer, o verdadeiro poder militar deriva da produção de suas próprias armas. Eu iria além, o verdadeiro poder militar deriva da produção, manutenção e operação de suas próprias armas, afinal, criar doutrinas, táticas e estratégias militares nacionais, é tão importando quanto o domínio das tecnologias e o fabrico das armas.
Também não existe como ser contra, a unificação e integração de planos de defesa e de incorporação de nossos vazios demográficos. No entanto, quem anda fazendo um verdadeiro carnaval sobre a Amazônia é nossa mídia conservadora, como sempre tratando o tema de modo superficial e de forma maniqueista. Isso não parte do governo, mas de nossas elites que gostam de demonizar ou glorificar pessoas e fatos. O mundo não é assim.
Do mesmo modo, o problema do desmatamento e do pessoal verde, é sempre tratado de forma leviana, tentando fabricar escândalos. Demonizando ou glorificando índios, ONG´s, traficantes, FARC´s, etc.. É lamentável que assuntos sérios sejam noticiados segundo interesses dos mais diversos, que os de revelar a realidade dos fatos.
Dado o tiroteio e a pouca confiabilidade geral, me resta ver o documento pronto, para depois emitir qualquer juízo de valor. O que posso dizer agora, é que tanto o NJ como o MG são quadros muito bons, do ponto de vista intelectual, é claro, ninguém está a salvo de erros, mais aí entra o debate sobre o documento já pronto. É certo que o ideal é que ele seja profundamente discutido, mas da forma como já está sendo tratado, o que pode acabar acontecendo é o fim do debate a respeito.
Ainda sobre os fatos estritos, podemos dizer que as iniciativas atuais são de boa conduta, tanto, a construção da fábrica de Helos de Transporte, quanto os SNA e o programa de SSK, são ótimas iniciativas. Está dentro do Plano, a compra dos FX-2. Me parece que são todas iniciativas para suprir lacunas importantes em nossas FA´s.
O debate sobre o que fazer adiante, ou quais serão as prioridades de nossas FA´s, e o material que deverá ser fabricado ou importado, tem que ser levado no seu tempo, de nada vale tentar ficar antecipando problemas. É certo que existem algumas escolhas a serem feitas, tanto na área do material, quanto na área de estruturas, infra-estruturas. O debate sobre o tamanho do contingente militar e sua alocação por nosso território é muito bem vindo. Me parece acertada também uma melhor distribuição dele por nosso território. Agora, como isso será feito, não cabe ao Plano, cabe a ele decidir os aspecto mais gerais.
Não vamos cair no conto, de que o Plano de Defesa vai solucionar todos os nossos problemas na área, muito terá que ser feito, pois trata-se de um processo novo, que começou recentemente.
O maior problema é que os ramos de nossas FA´s sempre atuaram de forma independente, sempre fizeram suas prioridades e determinaram, a partir delas, o que podiam comprar e usar em temos de material bélico, isso a meu ver é coisa do passado, é necessário repensar e rever toda essa estrutura tripartida e estanque. Os exemplos de nossa história são muito ruins nessa área.
Se a MB quer ser uma Marinha de Águas Azuis no futuro, terá que convencer nossa sociedade civil que tal fato é importante. O mesmo vale para qualquer Plano da FAB ou do EB. É certo, que para uma nação de mentalidade terrestre como o Brasil, a tarefa da MB será mais difícil. Tanto como para o EB tentar se livrar da alcunha de força anti-terrorista ou policia de fronteira. No entanto, esse debate tem que ser travado em nosso meio social.
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