Mundo Árabe em Ebulição
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
O fanatismo religioso surge em qualquer lugar, independente do grau de desenvolvimento econômico do país. Como exemplo temos o "Templo do Povo" seita criada nos EUA por um tal Jim Jones que acabou no assassinato de um parlamentar americano que investigava a seita e na morte de 918 adeptos, a maioria por suicídio em 1978 na Guyana. Em 1995 tivemos aquela seita de malucos japoneses que lançaram gás sarin no metrô de Tóquio. Qualquer ideia religiosa, por mais maluca que seja, sempre consegue adeptos em qualquer lugar.
Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
- LeandroGCard
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
É claro que sempre vão existir malucos que irão se apegar às ideias mais estapafúrdias que aparecerem, mesmo tendo alto grau de instrução e padrão de vida elevado. Mas estes serão apenas pequenas minorias que embora possam vir a causar problemas jamais conseguirão constituir verdadeiros exércitos capazes de conquistar territórios e populações, como fazem o Isil, o Boko Haram, ou as milícias de ambos os lados na Ucrânia. E é a este tipo de problema que a fala do Obama se refere.
Eu na verdade concordo com o presidente americano quando ele diz que a falta de perspectivas é o principal motivo para atrair grande quantidade de pessoas, principalmente os mais jovens, para opções mais radicais como o jihadismo no OM ou o crime organizado aqui no Brasil. O problema da fala dele é não reconhecer que esta falta de perspectivas não é exclusividade de países pobres com estados falidos, mas está se tornando cada vez mais comum mesmo em sociedades avançadas como a europeia e a norte-americana, em função do aumento da concentração de renda e da desigualdade que vem se observando nos últimos anos. Um século atrás esta situação levou multidões a seguir as doutrinas fascista e comunista, mas hoje, com o grande nível de egocentrismo e egoísmo das novas gerações, o fanatismo religioso e o crime parecem exercer uma atração maior do que qualquer doutrina político/econômica (embora estas, à direita e à esquerda, também continuem atraindo muita gente).
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Eu na verdade concordo com o presidente americano quando ele diz que a falta de perspectivas é o principal motivo para atrair grande quantidade de pessoas, principalmente os mais jovens, para opções mais radicais como o jihadismo no OM ou o crime organizado aqui no Brasil. O problema da fala dele é não reconhecer que esta falta de perspectivas não é exclusividade de países pobres com estados falidos, mas está se tornando cada vez mais comum mesmo em sociedades avançadas como a europeia e a norte-americana, em função do aumento da concentração de renda e da desigualdade que vem se observando nos últimos anos. Um século atrás esta situação levou multidões a seguir as doutrinas fascista e comunista, mas hoje, com o grande nível de egocentrismo e egoísmo das novas gerações, o fanatismo religioso e o crime parecem exercer uma atração maior do que qualquer doutrina político/econômica (embora estas, à direita e à esquerda, também continuem atraindo muita gente).
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
A falta de educação formal pode ser UMA DAS culpadas por levar algumas pessoas a luta armada, mas não ao extremismo religioso. Como bem citado anteriormente, o extremismo brota em qualquer região do planeta, em qualquer nível educacional. E uma vez nesse meio, muitas pegam em armas também.Bourne escreveu:Falta de educação formal é um fator em conjunto com falta de estrutura institucional, leis, regras e perspectivas. O ambiente conspira para levar os jovens a serem radicais e virarem guerrilheiro para algum grupo. É o caso das guerras civis na áfrica, partes do oriente médio e norte da áfrica com o agravante de ter o componente religioso e financiado por outros interesses.
No caso do Iraque a estrutura formal do país implodiu após a ocupação iniciada em 2003, sem ser reconstruída até hoje. Na síria, a guerra civil que se seguiu a primavera árabe local implodiu país. A situação permitiu que o estado islâmico se instalasse e tivesse apoio para se sustentar até agora, mas não vai durar. Por que tem uma fundamentação frágil e administrar é muito mais complicado que lutar. Em um país constituído e forte seriam reprimido se não cumprissem os acordos básicos da sociedade.
O problema é quando analisamos com os olhos ocidentais, com a cultura ocidental na cabeça, ai já achamos que é falta de estrutura e etc. O que ajuda a ter essa ideia é o fato de traficantes, aqui e em outros países do continente americano, se apoiarem no braço armado formado por jovens sem base educacional, sem cultura. Porém se apoiam neles porque é mais fácil de corromper, mas não quer dizer que só pega em arma e se compactua com ideias extremistas quem não tem cultura ou base educacional.
Quando se coloca religião no meio, não da mais pra comparar com traficantes. É outra estrutura.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
O problema quando entram ideias abstratas na equação, como religião ou ideologia (ou até torcida de futebol), é que aí meia dúzia de "malucos" bem-formados e com recursos acaba conseguindo mobilizar enormes multidões de desfavorecidos que tem pouca ou nenhuma capacidade de raciocínio crítico. Aí é que surgem os Isis e Boko Harams da vida.Skyway escreveu:Quando se coloca religião no meio, não da mais pra comparar com traficantes. É outra estrutura.
Mas sem a massa de desfavorecidos o máximo que se consegue é um punhado de malucos, que pode causar estragos pontuais mas não colocar territórios e populações inteiras sob seu domínio. Algo como os fanáticos do Jim Jones, os terroristas do metrô de Tóquio ou a própria Al Quaeda nos tempos do ataque às torres gêmeas, que eram grupelhos aguerridos, violentos e perigosos, mas não exércitos.
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Editado pela última vez por LeandroGCard em Qua Mar 18, 2015 12:15 pm, em um total de 2 vezes.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Não acho que seja assim. O extremismo religioso, em todas as suas formas (armada ou não), atrai pessoas de qualquer classe, qualquer cultura.LeandroGCard escreveu:É claro que sempre vão existir malucos que irão se apegar às ideias mais estapafúrdias que aparecerem, mesmo tendo alto grau de instrução e padrão de vida elevado. Mas estes serão apenas pequenas minorias que embora possam vir a causar problemas jamais conseguirão constituir verdadeiros exércitos capazes de conquistar territórios e populações, como fazem o Isil, o Boko Haram, ou as milícias de ambos os lados na Ucrânia. E é a este tipo de problema que a fala do Obama se refere.
Eu na verdade concordo com o presidente americano quando ele diz que a falta de perspectivas é o principal motivo para atrair grande quantidade de pessoas, principalmente os mais jovens, para opções mais radicais como o jihadismo no OM ou o crime organizado aqui no Brasil. O problema da fala dele é não reconhecer que esta falta de perspectivas não é exclusividade de países pobres com estados falidos, mas está se tornando cada vez mais comum mesmo em sociedades avançadas como a europeia e a norte-americana, em função do aumento da concentração de renda e da desigualdade que vem se observando nos últimos anos. Um século atrás esta situação levou multidões a seguir as doutrinas fascista e comunista, mas hoje, com o grande nível de egocentrismo e egoísmo das novas gerações, o fanatismo religioso e o crime parecem exercer uma atração maior do que qualquer doutrina político/econômica (embora estas, à direita e à esquerda, também continuem atraindo muita gente).
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Não acho que vale comparar com o crime organizado por que agem com bases muito distintas, com estruturas muito diferentes.
O traficante ou bandido em sua esmagadora maioria foi um jovem sem cultura, que via como futuro ser pedreiro, gari, entregador e etc. E viu no tráfico uma maneira rápida de ganhar muito dinheiro além de um certo status dentro da comunidade. Isso que salta aos olhos de um jovem sem cultura na favela. Uma vez tendo iniciado a "carreira" no meio, a coisa só evolui, e logo ele ta sequestrando, organizando as vendas nas favelas e etc. A intenção dele é ganhar dinheiro, não importa o que faça, até por que ele vive em uma cultura ocidental majoritariamente capitalista, onde ter dinheiro permite a ele comprar o que deseja.
Já o jihadista via de regra é guiado pela religião, seu objetivo não é ganhar dinheiro até porque em um país destruído pela guerra ele sabe que não teria onde gastar. Ele não mata por que com isso ele vai ganhar dinheiro, ele mata por que acredita que aquela vida não vale nada, principalmente por que não acredita no que ele aprendeu como verdade absoluta. E ele comprou essa "verdade", que é tão certa pra ele como noções de cultura ocidental são para nós, como o direito de uma mulher mostrar o rosto e se maquiar.
Então ele teve cultura, teve educação, mas suas perspectivas eram diferentes da que pensamos. Muitos deles podiam ser o que quiser, mas o ódio religioso é mais forte do que pensar no que quer fazer pra ganhar dinheiro. Então o futuro que espere. Por isso estudantes universitários americanos, franceses, ingleses e de outros países fogem pra Síria. É uma luta mais importante que as próprias vidas de acordo com aquela verdade que eles compraram.
E isso é de todos os lados dessa luta, não só do Estado Islâmico. Grupos étnicos que lutam contra o EI também reúnem pessoas com o mesmo ideal, a diferença é que um grupo é apoiado pelo ocidente, e o outro não.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
O que define o tamanho de um grupo extremista armado não é o nível de cultura das pessoas a sua volta. É a cultura em que as pessoas a sua volta estão inseridas. A Al Quaeda era sim enorme na época dos atentados, e continua sendo até hoje. Bota um Jim Jones trocando jesus por alá pregando em uma vila em um país fundamentalmente muçulmano, e terá um grupo muito maior.LeandroGCard escreveu:O problema quando entram ideias abstratas na equação, como religião ou ideologia (ou até torcida de futebol), é que aí meia dúzia de "malucos" bem-formados e com recursos acaba conseguindo mobilizar enormes multidões de desfavorecidos que tem pouca ou nenhuma capacidade de raciocínio crítico. Aí é que surgem os Isis e Boko Harams da vida.Skyway escreveu:Quando se coloca religião no meio, não da mais pra comparar com traficantes. É outra estrutura.
Mas sem a massa de desfavorecidos o máximo que se consegue é um punhado de malucos, que pode causar estragos pontuais mas não colocar territórios e populações inteiras sob seu domínio. Algo como os fanáticos do Jim Jones, os terroristas do metrô de Tóquio ou a própria Al Quaeda nos tempos do ataque às torres gêmeas, que eram grupelhos aguerridos, violentos e perigosos, mas não exércitos.
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Edit: Não estou dizendo aqui que o Islã prega a violência ou o ódio religioso, mas interpretações e correntes mais extremistas são infelizmente muito mais difundidas do que com a bíblia por exemplo. E isso hoje em dia, por que a bíblia ja teve seus dias de extremismo ser mais comum.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Se você colocar este "Jim Jones muçulmano" para pregar no meio de uma sociedade islamita de classe média, educada e com um padrão de vida elevado o máximo que ele conseguirá será formar um grupelho de malucos radicais como fêz o original (ou o Bin Laden). Por isso não se vêem tantos jihadistas assim nas monarquias árabes, embora a cota de terroristas por lá seja até mais elevada que em outros países muçulmanos.Skyway escreveu:O que define o tamanho de um grupo extremista armado não é o nível de cultura das pessoas a sua volta. É a cultura em que as pessoas a sua volta estão inseridas. A Al Quaeda era sim enorme na época dos atentados, e continua sendo até hoje. Bota um Jim Jones trocando jesus por alá pregando em uma vila em um país fundamentalmente muçulmano, e terá um grupo muito maior.
Edit: Não estou dizendo aqui que o Islã prega a violência ou o ódio religioso, mas interpretações e correntes mais extremistas são infelizmente muito mais difundidas do que com a bíblia por exemplo. E isso hoje em dia, por que a bíblia ja teve seus dias de extremismo ser mais comum.
Agora, na África estão surgindo pastores cristão messiânicos em meio a populações carentes, e adivinha o que está acontecendo:
http://www.aljazeera.com/news/africa/20 ... 88288.html
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Vai depender da cultura dessa sociedade islamita de classe média, educada e com padrão de vida elevado. Assim como o cristianismo tem várias vertentes, umas mais extremistas e outras mais moderadas, o Islã também.LeandroGCard escreveu:Se você colocar este "Jim Jones muçulmano" para pregar no meio de uma sociedade islamita de classe média, educada e com um padrão de vida elevado o máximo que ele conseguirá será formar um grupelho de malucos radicais como fêz o original (ou o Bin Laden). Por isso não se vêem tantos jihadistas assim nas monarquias árabes, embora a cota de terroristas por lá seja até mais elevada que em outros países muçulmanos.Skyway escreveu:O que define o tamanho de um grupo extremista armado não é o nível de cultura das pessoas a sua volta. É a cultura em que as pessoas a sua volta estão inseridas. A Al Quaeda era sim enorme na época dos atentados, e continua sendo até hoje. Bota um Jim Jones trocando jesus por alá pregando em uma vila em um país fundamentalmente muçulmano, e terá um grupo muito maior.
Edit: Não estou dizendo aqui que o Islã prega a violência ou o ódio religioso, mas interpretações e correntes mais extremistas são infelizmente muito mais difundidas do que com a bíblia por exemplo. E isso hoje em dia, por que a bíblia ja teve seus dias de extremismo ser mais comum.
Agora, na África estão surgindo pastores cristão messiânicos em meio a populações carentes, e adivinha o que está acontecendo:
http://www.aljazeera.com/news/africa/20 ... 88288.html
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Simples, levante a ideia de bater na porta de todo mundo pra converter as pessoas para a religião que você acredita, e quem estiver inserido em uma cultura religiosa um ponto mais voltado para o lado ativo (que leva ao extremismo armado) vai achar uma ótima ideia. Mas quem estiver inserido em uma cultura religiosa mais passiva (que leva a tolerância religiosa), vai acha uma péssima ideia. E essas pessoas podem estar morando no mesmo país, na mesma cidade, mas com visões completamente distintas.
Então se você tiver uma sociedade islamita de classe média, educada e com padrão de vida elevado mais voltado ao lado ativo, um Jim Jones faria um belo estrago. Caso contrário, só reuniria os malucos que ele arrumou em uma sociedade mais tolerante religiosamente falando como é a maioria dos EUA.
Quanto as monarquias, é só analisar a cultura do país, e principalmente as leis locais para quem se exalta e ruma ao extremismo. (Leis essas que são estabelecidas de acordo com a citada cultura mais passiva) O que eles fazem então? Exportam terroristas, extremistas, jihadistas...
Ai podem até falar: "Mais passiva? Vai uma mulher andar sem véu na Arábia Saudita..." Sim, uma mulher que não seja árabe, que não seja muçulmana pode andar sem véu. Agora vai andar sem véu em território do Estado Islâmico... O passivo não quer dizer abrir mão dos seus costumes, mas tolerar mesmo que minimamente quem pensa diferente.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Na Arábia Saudita mesmo as mulheres não muçulmanas precisam seguir a sharia na maior parte do país, com exceção de alguns poucos resorts construídos especificamente para estrangeiros. Minha cunhada passou pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos no final do ano passado, e não pôde ir a certos lugares porque teria que usar o Nikab completo, mesmo sendo cristã protestante (meu cunhado é pastor evangélico, eles passaram por lá estendendo uma peregrinação a Jerusalém).Skyway escreveu:Ai podem até falar: "Mais passiva? Vai uma mulher andar sem véu na Arábia Saudita..." Sim, uma mulher que não seja árabe, que não seja muçulmana pode andar sem véu. Agora vai andar sem véu em território do Estado Islâmico... O passivo não quer dizer abrir mão dos seus costumes, mas tolerar mesmo que minimamente quem pensa diferente.
Ela também não podia ir a lugar algum sozinha nem com nenhum outro homem além do marido. Isso foi um problema na hora de fazer compras, quando cada um queria ir a uma loja diferente mas o guia "sugeriu fortemente" que permanecessem o tempo todo juntos. Outra coisa até engraçada que aconteceu foi que o guia tinha que ficar explicando a toda hora para o pessoal de lá que eles eram marido e mulher, pois ela é negra e ele é branco. Não era nenhuma questão de preconceito racial, mas sim que o pessoal a princípio não associava um ao outro se eles não estavam de braços dados e achava que ela estava sozinha, e aí reclamava com o guia
![Wink :wink:](./images/smilies/icon_wink.gif)
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Sim, então você teve bem próximo de você um exemplo da diferença abissal de culturas. Não adianta nós analisarmos um cenário com ideias e princípios de uma cultura completamente diferente.LeandroGCard escreveu:Na Arábia Saudita mesmo as mulheres não muçulmanas precisam seguir a sharia na maior parte do país, com exceção de alguns poucos resorts construídos especificamente para estrangeiros. Minha cunhada passou pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos no final do ano passado, e não pôde ir a certos lugares porque teria que usar o Nikab completo, mesmo sendo cristã protestante (meu cunhado é pastor evangélico, eles passaram por lá estendendo uma peregrinação a Jerusalém).Skyway escreveu:Ai podem até falar: "Mais passiva? Vai uma mulher andar sem véu na Arábia Saudita..." Sim, uma mulher que não seja árabe, que não seja muçulmana pode andar sem véu. Agora vai andar sem véu em território do Estado Islâmico... O passivo não quer dizer abrir mão dos seus costumes, mas tolerar mesmo que minimamente quem pensa diferente.
Ela também não podia ir a lugar algum sozinha nem com nenhum outro homem além do marido. Isso foi um problema na hora de fazer compras, quando cada um queria ir a uma loja diferente mas o guia "sugeriu fortemente" que permanecessem o tempo todo juntos. Outra coisa até engraçada que aconteceu foi que o guia tinha que ficar explicando a toda hora para o pessoal de lá que eles eram marido e mulher, pois ela é negra e ele é branco. Não era nenhuma questão de preconceito racial, mas sim que o pessoal a princípio não associava um ao outro se eles não estavam de braços dados e achava que ela estava sozinha, e aí reclamava com o guia.
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Esse relato demonstra como a Arábia Saudita, um país que presa MUITO pelos costumes e cultura muçulmana, é tolerante. É só explicar a situação que as pessoas entendiam, mesmo estranhando. Essa restrição toda ao não uso do Nikab por estrangeiros não é assim também não, não se restringe a resorts. Mas como a cultura é muito diferente, aconselha-se não abusar para que uma pessoa mais exaltada não arrume confusão, mas não é obrigatório. Por isso o guia aconselhou fortemente e não alertou que era proibido, por que não é.
Os Emirados Árabes então, são mais tolerantes ainda.
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Um abraço!
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Segundo meu cunhado me contou, a coisa funciona da seguinte maneira na Arábia Saudita (sobre os Emirados na verdade não conversamos muito):Skyway escreveu:Por isso o guia aconselhou fortemente e não alertou que era proibido, por que não é.
Existe uma espécie de "patrulha da moral", composta por uns camaradas ligados à mesquita local. O trabalho deles é especificamente fiscalizar o cumprimento dos preceitos da sharia com relação ao comportamento, incluindo roupas, rezas, mulheres e etc... . Eles não estão sujeitos a nenhuma autoridade governamental e não seguem nenhum código de regras escrito, mas apenas a interpretação que aceitam do Alcorão, conforme discutido nas mesquitas e madrasas. Por isso cada um deles pode interpretar como bem entender a sharia e reclamar do que quiser, em função basicamente do seu próprio nível de fanatismo.
Estes camaradas são o motivo do guia ter advertido para meus cunhado e cunhada não irem a certos lugares, porque alguns deles são chegados a fazer escândalos (em árabe, imagine só). E eles tem a prerrogativa de prender quem quer que eles achem que ofendeu à sharia, seja nativo ou estrangeiro, muçulmano ou não. A rigor eles não poderiam fazer isso, teriam que chamar um policial, mas pelo que meu cunhado percebeu todo mundo tem medo deles por lá, até a própria polícia, e quando meu cunhado levantou o argumento de que ele tinha seus direitos o guia disse que perante Deus ninguém tem direito algum, e estes "patrulheiros" se arvoram a prerrogativa de serem os representantes de Deus na Terra
![Shocked :shock:](./images/smilies/icon_eek.gif)
É um negócio bastante bizarro, a sociedade ser patrulhada o tempo todo por estes camaradas que me lembraram muito os comissários soviéticos do período stalinista. Mas já vi gente querendo fazer coisa parecida por aqui também, em nome de outra religião...
![Rolling Eyes :roll:](./images/smilies/icon_rolleyes.gif)
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Sem dúvida, e é aí que moraria o perigo se não fosse uma situação sob controle no país. Apesar de ser uma vertente mais extremista, a coisa não acaba em morte ou tortura por mais assustador que possa ser. Tenho uma conhecida que trabalha lá, na cidade de Buraidah que fica em uma região ultraconservadora. Lá sim independente se é Árabe ou estrangeiro, a mulher tem que usar toda a vestimenta que é a Abaya, o Hijab e o Nikab.
Mas mesmo assim ela fala que acha super difícil uma mulher ser presa por lá por não sair assim por dois motivos: Primeiro por que é uma coisa cultural, então não existe a possibilidade de uma mulher local esquecer de colocar o Nikab, e segundo que como a Arábia Saudita não permite a entrada de turistas (apenas para peregrinação), não se vê estrangeiro nessa região que não esteja morando no país, mesmo que a trabalho.
Caso alguem, por algum motivo saia sem a vestimenta toda, ela vai ser alertada por todos na rua (dependendo de quem ela encontrar, não de uma maneira agradável, é verdade), e logo ela vai ter que voltar pra casa nem que seja levada pela Polícia Religiosa para se vestir de forma apropriada.
Mas isso é nessa região, por que na capital e em cidades mais populosas só é obrigatório o uso da Abaya, e nem precisa ser preta, podendo ser colorida, enfeitada e etc. Lembrando que mesmo na região mais conservadora, essas roupas são obrigatórias apenas para andar em público, por que em festas uma mulher pode ir até de vestido, desde que seja comportado, lógico. Em casa então ela pode até andar pelada se for o caso, desde que ninguém veja.
Agora a questão é que, para um desavisado isso denota falta de tolerância ou extremismo, mas não é. Não existe violência contra quem por algum motivo desrespeitar (talvez violência verbal possa ocorrer). Porém em regiões da Síria, Iraque e Irã por exemplo, países que majoritariamente são menos restritos que a Arábia Saudita no que diz respeito as roupas femininas, quem sair do que é imposto sofre as consequências na pele. Isso sim é extremismo, isso sim é intolerância. Em muitos desses países a mulher é obrigada a usar apenas a Abaya e talvez o Hijab, mas se por algum motivo aparecer sem um deles, ela não vai ser apenas conduzida a sua residência ou a uma delegacia...
Já nos Emirados Árabes a coisa é bem mais tranquila. Em dubai as mulheres podem andar de calça jeans e blusa, como aqui. Óbvio que saia ou vestido curto ou roupa colada não né, por favor...
Um abraço.
Mas mesmo assim ela fala que acha super difícil uma mulher ser presa por lá por não sair assim por dois motivos: Primeiro por que é uma coisa cultural, então não existe a possibilidade de uma mulher local esquecer de colocar o Nikab, e segundo que como a Arábia Saudita não permite a entrada de turistas (apenas para peregrinação), não se vê estrangeiro nessa região que não esteja morando no país, mesmo que a trabalho.
Caso alguem, por algum motivo saia sem a vestimenta toda, ela vai ser alertada por todos na rua (dependendo de quem ela encontrar, não de uma maneira agradável, é verdade), e logo ela vai ter que voltar pra casa nem que seja levada pela Polícia Religiosa para se vestir de forma apropriada.
Mas isso é nessa região, por que na capital e em cidades mais populosas só é obrigatório o uso da Abaya, e nem precisa ser preta, podendo ser colorida, enfeitada e etc. Lembrando que mesmo na região mais conservadora, essas roupas são obrigatórias apenas para andar em público, por que em festas uma mulher pode ir até de vestido, desde que seja comportado, lógico. Em casa então ela pode até andar pelada se for o caso, desde que ninguém veja.
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Agora a questão é que, para um desavisado isso denota falta de tolerância ou extremismo, mas não é. Não existe violência contra quem por algum motivo desrespeitar (talvez violência verbal possa ocorrer). Porém em regiões da Síria, Iraque e Irã por exemplo, países que majoritariamente são menos restritos que a Arábia Saudita no que diz respeito as roupas femininas, quem sair do que é imposto sofre as consequências na pele. Isso sim é extremismo, isso sim é intolerância. Em muitos desses países a mulher é obrigada a usar apenas a Abaya e talvez o Hijab, mas se por algum motivo aparecer sem um deles, ela não vai ser apenas conduzida a sua residência ou a uma delegacia...
Já nos Emirados Árabes a coisa é bem mais tranquila. Em dubai as mulheres podem andar de calça jeans e blusa, como aqui. Óbvio que saia ou vestido curto ou roupa colada não né, por favor...
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Dízimo é uma ordenança do Senhor, é bíblico. Agora, o que o Pastor faz ou deixa de fazer com o dízimo do fiel é uma coisa que fica entre ele e Deus.Skyway escreveu:Temos exemplos disso aqui no Brasil, com médicos, advogados, economistas, engenheiros...pessoas com muito estudo e cultura, doando seu "dízimo" (se não me engano 10% de tudo que ganha, é isso?) para uma igreja, a mesma igreja que está juntando uma penca de jovens e denominando "Gladiadores do Altar". E alguém acha que no meio daqueles "gladiadores" não tem nenhum rapaz com boa educação, cursando medicina, direito, economia ou engenharia? Lógico que tem.
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Dízimo é uma ordenança do Senhor, para quem acredita. É bom deixar isso bem claro.Ziba escreveu:Dízimo é uma ordenança do Senhor, é bíblico. Agora, o que o Pastor faz ou deixa de fazer com o dízimo do fiel é uma coisa que fica entre ele e Deus.Skyway escreveu:Temos exemplos disso aqui no Brasil, com médicos, advogados, economistas, engenheiros...pessoas com muito estudo e cultura, doando seu "dízimo" (se não me engano 10% de tudo que ganha, é isso?) para uma igreja, a mesma igreja que está juntando uma penca de jovens e denominando "Gladiadores do Altar". E alguém acha que no meio daqueles "gladiadores" não tem nenhum rapaz com boa educação, cursando medicina, direito, economia ou engenharia? Lógico que tem.
Para quem não acredita, pode ser só um iludido dando dinheiro para o pastor, ou uma forma de se sentir bem com sua religião, ou algo que tem seu valor religioso mas que particularmente não faria, e etc... E entender que as pessoas são livres para pensar assim é que denota a tolerância religiosa. Não entender denota intolerância, e por aí vai.
Havendo respeito acima de tudo, ta tudo certo.
Um abraço!
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Re: Mundo Árabe em Ebulição
Pois é, perceba que são justamente as regiões mais pobres e com menos perspectivas as que tem o nível de extremismo mais elevado, mesmo quando as restrições religiosas em si são as mesmas ou até menores. E as áreas mais pobres de todas, na África e no Afeganistão, são onde o radicalismo se expande mais e assume as piores formas, como no caso do Boko Haram e o Talibã. Enquanto o Iraque, a Líbia e a Síria mantinham um nível social razoável o extremismo violento não era tão disseminado, mas após as guerras e revoluções empobrecerem a população ele se espalha como fogo.Skyway escreveu:Agora a questão é que, para um desavisado isso denota falta de tolerância ou extremismo, mas não é. Não existe violência contra quem por algum motivo desrespeitar (talvez violência verbal possa ocorrer). Porém em regiões da Síria, Iraque e Irã por exemplo, países que majoritariamente são menos restritos que a Arábia Saudita no que diz respeito as roupas femininas, quem sair do que é imposto sofre as consequências na pele. Isso sim é extremismo, isso sim é intolerância. Em muitos desses países a mulher é obrigada a usar apenas a Abaya e talvez o Hijab, mas se por algum motivo aparecer sem um deles, ela não vai ser apenas conduzida a sua residência ou a uma delegacia...
Já nos Emirados Árabes a coisa é bem mais tranquila. Em dubai as mulheres podem andar de calça jeans e blusa, como aqui. Óbvio que saia ou vestido curto ou roupa colada não né, por favor...![]()
Um abraço.
É este o meu ponto, a condição social potencializa o radicalismo, e o mesmo problema se passa com o crime. Ambos existem em qualquer lugar, mas assumem uma proporção muito mais ampla nas populações com menores perspectivas de progresso. Não há na verdade grande diferença entre os mecanismos responsáveis pelos dois fenômenos. Por isso não são os ricos descendentes europeus de bem sucedidos comerciantes iranianos, libaneses, sírios ou turcos que estão indo se juntar ao Isil, mas sim os filhos dos imigrantes pobres e sem recursos de todos os países árabes. E na América Latina não são os filhos da classe média que formam o grosso das gangues de traficantes, mas os dos pobres favelados.
Leandro G. Card