Luís Henrique escreveu:O debate aqui está muito interessante.
Independente de quem é melhor Leo 1A5 ou TAM, eu ainda acho um absurdo o Brasil possuir um MBT EQUIVALENTE ao argentino e ainda mais manter uma EQUIVALÊNCIA QUANTITATIVA.
Sendo um país bem maior economicamente e territorialmente, se os Argentinos possuem cerca de 300 MBT, nós deveríamos possuir, pelo menos, o DOBRO.
E com vantagens QUALITATIVAS também.
Uma vez que as forças armadas argentinas estão quase quebradas, não DEVERIA servir de parâmetro para nós.
Vejas bem, não é que eu discorde de ti, o problema que vejo é que queres, ao menos aparentemente, ter algo simplesmente por ter e te fixaste no Leo2A4 sem estudar que vantagens poderia (ou não) ter para nós no mundo Real. Vou repetir de modo resumido algo que já postei - vai saber onde - de maneira bem detalhada anteriormente:
Desde o século XIX foram sendo estabelecidas as ameaças ao Brasil e como combatê-las. Eram:
SÉCULO XIX:
1 - Vizinhos (inimigo externo) - Éramos uma Monarquia de origem Portuguesa em meio a um grupo bastante instável de Repúblicas resultantes do desmanche das colônias Espanholas na América do Sul. Lutavam constantemente entre si e contra nós. Culminou na Guerra do Paraguai quando, após a Vitória Final, ficou estabelecido que se deveria estar sempre em condições de enfrentar a vizinhança, talvez até mais de um ao mesmo tempo mas jamais todos juntos, eis que demasiado desunidos e mesmo demasiado hostis entre si para isso.
2 - Povo (inimigo interno) - Constantes revoltas e movimentos independentistas/separatistas mostraram que o Povo era perigoso à integridade nacional. Após a derrota dos últimos movimentos de cunho separatista, ficou estabelecido que se deveria estar sempre em condições de enfrentar qualquer tipo de insurreição popular.
E foi com estas noções de Capacidades de Defesa que entramos no
SÉCULO XX:
Já tínhamos experiência, oriunda do século anterior, de que disputas com a Potência Regional (EUA) e as Grandes Potências Mundiais (principalmente Inglaterra e França) podiam ser facilmente resolvidas pela Diplomacia, tendo sido perdido no final do século XIX em territórios pouco menos de 20.000 km² para uma delas (Inglaterra), que no entanto havia tomado para sua Guiana Inglesa cerca de 33.000 km²; por mediação do Rei da Itália, pouco mais de 13.000 km² nos foram devolvidos.
Então, em meados da segunda década, surge a terceira ameaça:
3 - Ataques por parte de grandes potências (inimigo externo) - Apesar de oficialmente neutro, o Brasil apoiava a Inglaterra, comerciando com ela e mesmo colocando navios mercantes à sua disposição. Isso levou a Alemanha a liberar seus submarinos para afundar nossos navios. A já mencionada Ameaça 2 (Povo) também ressurgiu, na forma de violentas manifestações populares, a favor e contra a participação do Brasil na guerra. Assim, com apoio principalmente de Inglaterra e França, o País pôde se defender dos ataques Alemães; do Povo já sabia se defender sozinho.
Ainda na primeira metade do século, nova grande conflagração e nós novamente sob ataque Alemão. Desta vez o aliado - até hoje - que realmente segurou as pontas foi os EUA. Após a Vitória Final (onde não ficamos só no Plano Calógeras mas efetivamente mandamos forças para lutar em terras Europeias), a resposta para a Ameaça 3 estava definida: diante de um ataque por parte de uma grande potência, os EUA nos acudiriam.
Assim, ao longo do século XX, todo o planejamento, treinamento, Doutrina e equipamento (e mesmo ações) de nossas FFAA estiveram voltados para o enfrentamento - sós ou com a ajuda de grandes potências, primeiro Inglaterra e França, depois os EUA - das 3 Ameaças citadas. Isso perdura até hoje (e justifica plenamente o Leo1A5, p ex), mas...
SÉCULO XXI - UMA PROSPECÇÃO
A - O FATOR LULA
Movido por seu imenso ego e, deste modo, decidido a deixar marca indelével de sua passagem pelo governo (no que foi muito bem sucedido, até em vias onde não esperava que ocorresse) o citado ex-presidente, que assumiu em 2003, decidiu adotar um maior protagonismo nas relações internacionais, coisa da qual mal se falava no Brasil. Demoliu o até então vigente "pragmatismo responsável", coisa tão indefinida quanto o próprio nome e, em tese sob os auspícios da ONU mas na prática dos EUA, obteve o comando da MINUSTAH que, por bem mais de uma década, somou a maior quantidade de tropas que o Brasil deslocou para o exterior desde a 2GM.
B - O CRIME ORGANIZADO
Desde finais do século anterior, o progressivo abandono pelo Estado de comunidades inteiras foi criando um vácuo de poder, ocupado pela criminalidade. Com a popularização dos telefones celulares e da internet, já neste século, o crime começou a se sofisticar e mesmo ganhar ares empresariais. Ante a omissão do Estado em criar políticas eficazes de reocupação dos espaços abandonados e criação de melhores capacidades de Segurança Pública, as própria Forças Armadas foram chamadas - e o são cada vez mais - a intervir, com as chamadas Ações GLO. Passaram então a identificar uma nova ameaça, a 4 (na verdade uma variação da 2), na forma do Crime Organizado.
C - A CRISE POLÍTICA
Esta, praticamente eterna no Brasil, se agudizou ali pela metade do segundo mandato da sucessora de Lula, Dilma Roussef, causando inclusive seu
Impeachment. Os escândalos e casuísmos para encobri-los não se reduziram, ao contrário, aumentaram exponencialmente, tornando vulnerável a própria essência do Estado de Direito. A situação, cada vez mais insustentável, chegou a um ponto crítico com as declarações do General Mourão, falando abertamente em golpe militar e sem ser sequer repreendido. Ao mesmo tempo, foi anunciado aqui mesmo no DB que, mesmo com crise econômica, as FFAA começam a se preparar para nova intervenção externa, desta vez provavelmente na República Centro Africana (RCA), TO muito mais complicado e perigoso do que o Haiti. A Missão também o é, agora não se trata de simples manutenção mas de IMPOSIÇÃO de paz. Somando-se isso ao iminente final da MINUSTAH, é muito difícil não chegar à conclusão de que as FFAA se impuseram ao Poder Civil - podre até a medula - e, como condição para não intervirem de vez na situação política, receberem novas e mais complexas comissões no exterior. Lugares problemáticos onde desdobrar e empregar forças não faltam no perigoso mundo de hoje, bem como solicitações da ONU e, com o tempo, dos EUA (em suas famigeradas coalizões). E eis que finalmente chegamos ao ponto, onde abandonamos o off-topic e retornamos ao tema:
AMEAÇA 5 - Proteção de forças desdobradas em missões de combate em TOs no exterior - Ásia, África e Oriente Médio (até a América Latina) são lugares necessitados de intervenções da ONU, mas é suicídio se envolver lá na base do improviso, com armas e equipamentos de segunda mão ou de duvidosa qualidade. São lugares infestados de RPGs, Msls AT, minas e IEDs, e tudo isso manejado por pessoal que passou a maior parte da vida lutando contra forças superiores, tendem a levar ao limite tanto homens quanto armas e equipamentos. Com os primeiros (lotes de) sacos pretos retornando ao Brasil, ou de preferência como prevenção a isso (difícil mas...), o treinamento, as técnicas e táticas usadas por nossas FFAA terão que evoluir muito. Ante a necessidade de emprego de MBTs, será visto que Leo1A5 (diante das ameaças citadas anteriormente) é apenas um custoso caixão, com péssimo efeito propagandístico; mesmo o 2A4¹ ou versões mais antigas do Abrams e de MBTs Russos não gozam de alta estima neste tipo de missão, sendo usados apenas por quem não tem opção e pode se dar ao luxo de sequer ter que explicar baixas à sua população. Nosso caso é muito diferente, lembremos de 2010: num único dia morreram dezoito militares Brasileiros. Poucos problemas ocorreram, se é que houve algum. É que faleceram numa tragédia natural, um terremoto que matou cerca de 200 MIL pessoas. Como teria sido se, num único dia, dezoito de nossos militares fossem a óbito NO EXTERIOR por ação direta de forças inimigas, metralhados, bombardeados, torrados dentro de blindados de fraca proteção? Creio que o resultado seria bem diferente...
Assim, concluo dizendo que, a se confirmar o envolvimento cada vez mais aprofundado de nossas FFAA em ações realmente
de guerra e no exterior, ou a aquisição de equipamentos
up-to-date, desde armas leves até blindados e peças de artilharia será inevitável, ou o dito envolvimento se encerrará de maneira bastante precoce. No primeiro caso, outra coisa inevitável será passarmos a contar com FFAA de alto nível e progressiva retirada do objeto deste tópico, o Leopard 1, dos nossos RCCs/RCBs, assumindo o seu lugar blindados realmente de meter medo (neutralizando de vez as Ameaças 1 e 2) na cambada; no segundo caso a convulsão social é que será inevitável e, com as FFAA agora desacreditadas e desmoralizadas, pouco poderão fazer.
Aguardemos, pois.
SE de fato partir a missão de Imposição de Paz rumo a um País conflagrado e com tudo para piorar ainda mais e
SE as FFAA compreenderem que não é mais o Haiti e solicitarem (e receberem) o que é realmente necessário, teremos muitos debates pela frente, sobre coisas que ainda sequer imaginamos possíveis.
¹ - Leo2A4 só se for assim, e fica mais caro que 2A7: