Ainda vai dar muita chiadeira isto :
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Boeing se reorganiza depois de derrota para Airbus
David Herszenhorn e Jeff Bailey
Poucas horas depois que a Força Aérea dos Estados Unidos anunciou o vencedor de um contrato de US$ 35 bilhões para a aquisição de aviões de reabastecimento aéreo, em 29 de fevereiro, um avião da Airbus decolou de Getafe, na Espanha, e ascendeu a uma altitude de 8,1 mil m para um encontro com um caça português F-16.
Em seguida, nos céus ao sul de Madri, os aviões se aproximaram gradativamente, até que uma mangueira equipada com asas se estendeu da traseira do grande Airbus e conectou os dois aparelhos. Pela primeira vez, o sistema de bombeamento transferiu combustível a outro avião, um total de 7,6 mil litros, em diversas conexões.
A tecnologia de transferência de combustível entre aviões em vôo pode não ser um grande avanço - de fato, o sistema está em uso há mais de 50 anos -, mas ajudou a matriz da Airbus e sua parceria, a Northrop Grumman, a demonstrar a competência técnica da parceria.
Ávida por ingressar no mercado norte-americano de defesa, a European Aeronautic Defense and Space (EADS), proprietária da Airbus, tomou diversas medidas ousadas, nenhuma das quais possivelmente mais dramática do que construir o sistema de transferência de combustível, seguindo os padrões mais avançados, sem que uma encomenda existisse -um investimento de US$ 100 milhões.
Como resultado, a Boeing, orgulho do setor aerospacial dos Estados Unidos, foi derrotada em seu próprio terreno na disputa por um contrato que pode vir a ser um dos maiores em aquisições militares de todos os tempos.
Agora, o debate sobre o impacto da decisão quanto ao nível de emprego norte-americano está varrendo Washington e Seattle (que abriga fábricas da Boeing). No entanto, a natureza cada vez mais globalizada da construção de aviões de grande porte faz com que reduzir o debate a uma disputa entre Europa e América seja simplificação exagerada do problema.
Na sexta-feira, a Boeing foi informada detalhadamente pelo Pentágono quanto aos motivos de sua derrota na concorrência. Agora, tem até quarta-feira para decidir se apresenta apelo formal.
A empresa e seus aliados em Washington já expuseram diversos argumentos, entre os quais a perda de grande número de empregos norte-americanos devido à transferência de produção para o exterior, e o fato de que contratos militares sensíveis não deveriam ser concedidos a uma empresa estrangeira.
Mas caso a Boeing tente reverter a decisão, pode se ver em posição difícil e sofrer acusações de retardar ainda mais a aquisição de equipamentos criticamente necessários em tempo de guerra.
A empresa também pode ser obrigada a encarar novamente o escândalo de corrupção que veio à tona em 2004 e resultou em cancelamento de um contrato de US$ 20 bilhões sob o qual a companhia arrendaria aviões-tanque à Força Aérea. Dois executivos da companhia terminaram na cadeia como resultado, e o presidente-executivo do grupo se viu forçado a renunciar.
A EADS e a Northrop Grumman propuseram um avião-tanque que seria produzido com base em jatos Airbus 330 reestruturados, e ofereceria mais capacidade de combustível que a proposta rival, um Boeing 767 modificado. Além disso, o projeto dos parceiros também ofereceria mais flexibilidade, porque os aparelhos poderiam ser usados no transporte de carga, soldados, refugiados e assistência humanitária.
A Boeing era vista como franca favorita para obter o contrato, por ter sido a primeira empresa a produzir aviões-tanque de grande porte, e prometeu um novo sistema de reabastecimento, mas não construiu um protótipo. Um analista que acompanhou a disputa disse que a Boeing se comportou de modo arrogante, e ofereceu um plano que, na opinião dos oficiais da Força Aérea, colocaria apenas 13 aparelhos em operação em 2013, ante 49 para a equipe da EADS.
O revés sofrido pela Boeing gerou furor protecionista no Congresso. E os pré-candidatos democratas à presidência, senadores Hillary Clinton e Barack Obama, declararam em campanha que a perda de empregos na Boeing refletia outras decisões políticas do governo Bush, que resultaram na transferência de empregos para o exterior.
Mas a retórica exacerbada pode vir a parecer nacionalista em excesso, ou até mesmo hipócrita, quando as implicações reais em termos de empregos e segurança nacional se tornarem mais claras. A Boeing, por exemplo, produziria boa parte do avião no exterior, e alguns especialistas dizem que as alegações quanto à perda de empregos diante de um concorrente estrangeiro parecem exageradas.
Mas por enquanto os discursos nacionalistas e pró-Boeing não mostram sinal de descanso.
"Temos de realmente fazer com que este país desperte", disse a senadora Patty Murray, democrata de Washington, Estado em que a Boeing é responsável por grande número de empregos. "Corremos o risco de perder uma importante porção do nosso setor aerospacial para os europeus, e de maneira irreversível".
A Força Aérea, por sua parte, continua a alegar que simplesmente escolheu o melhor avião. Sue Payton, secretária assistente da Força Aérea, declarou em audiência no Congresso, na semana passada, que "a Northrop Grumman mostrou o melhor trabalho".
Payton também discordou das alegações de que a Força Aérea teria manipulado o processo em benefício da Airbus. Ela disse que a equipe envolvida no projeto seguiu cuidadosamente as leis de concorrência, entre as quais a lei que dispõe preferência para produtos norte-americanos, nos termos da qual, ela apontou, certos países, entre os quais os aliados dos Estados Unidos na Europa Ocidental, recebem tratamento igual ao conferido a grupos norte-americanos.
"Eu vejo a Northrop Grumman como empresa norte-americana", afirmou Payton. "A General Electric, que tem fábricas em Ohio e na Carolina do Norte, é uma empresa norte-americana. Mas não foi isso que determinou a decisão".
"Vocês dizem que desejam concorrência justa e aberta, nos termos da lei", ela disse ao Congresso. "Nós cumprimos essas leis".
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME