helio escreveu:Leandro, eu conheço também a EMBRAER. Eu estive inumeras vezes na fábrica desde a fabricação dos Bandeirante nos em 1973 até os EMB190. Conheço também a fábrica de Gavião Peixoto, visitei em 2010.Infelizmente a utilização de material composto não se resume a fazer flaps ou asas, eu vi na Boeing fazer estruturas do caça F18 em material composto, coisa que desculpe, mas a EMBRAER não tem ainda a capacidade. A partir de uma estrutura de material composto, se torna muito mais fácil projetar aviões muito mais leves e maiores.
Conversei com engenheiros aeronauticos da EMBRAER, e para muitos a cereja do bolo da ToT seria dominar esta tecnologia
Hélio,
A fabricação de peças de material composto não é desenvolvida pelas empresas aeronáuticas, ela é desenvolvida pelos fornecedores de insumos e equipamentos do ramo. Sei bem o que falo, porque minha pós-graduação na COPPE foi exatamente nesta área. As características dos materiais (composição das resinas e dos reforços), os conceitos dos berços de laminação com seus canais de vácuo, as autoclaves, etc..., tudo isso está disponível no mercado (sistemas e tecnologia) para quem quiser comprar. Foi o que Boeing, Dassault e Saab fizeram, elas adquiriram os equipamentos que você viu no mercado, não os construíram internamente (com exceção dos berços, que não são nenhum mistério).
O que as empresas aeronáuticas desenvolvem são as aplicações de projeto, que são independentes do tamanho dos componentes. Neste ponto é que com certeza empresas como Dassault, Boeing e Saab devem ter mais experiência que a Embraer, simplesmente porque seus engenheiros já projetaram e testaram peças de maior complexidade (e nem tanto tamanho) do que aquelas que a Embraer precisou desenvolver até hoje, e os engenheiros da Embraer gostariam é claro de ter acesso às informações sobre os problemas surgidos no desenvolvimentos destas peças e dos truques utilizados para contorná-los. Este é o tal aprendizado de que se faz com pesquisa aplicada, que não tem curso acadêmico de doutorado ou pós-doutorado que possa ensinar. Mas esta não é uma barreira intransponível, é algo que a própria Embraer pode também desenvolver sozinha em alguns meses de trabalho, se for necessário. Americanos, Franceses e Suecos o fizeram, e não há porque considerar que tenham alguma superioridade inata que os permitiu conseguir algo que os brasileiros só fariam se eles nos viessem ensinar. A Embraer já fez isso muitas e muitas vezes, e vai continuar fazendo sempre que for preciso, como o faz qualquer empresa que julgue necessário.
E não se preocupe com o KC-390, se for descoberto que para obter sucesso de mercado ele precisa de fato incorporar os tais elementos complexos de materiais compostos isto será feito sem maiores problemas, o histórico dos novos desenvolvimentos da Embraer É MELHOR que o de europeus e americanos, e não dependerá de nenhuma Tot do FX para acontecer. Mas isso só será feito se realmente valer à pena em termos de custo/benefício, e nem sempre é este o caso.
Se formos comparar a linha de montagem destes modernos caças com o do Super Tucano por exemplo, voce vai logo perceber uma diferença enorme de tecnologia aplicada na linha de montagem.
Algumas caracteristicas sutis que mesmo um cara como eu que não sou engenheiro( sou graduado em arquitetura e urbanismo) repara de cara:
1- Na linha de montagem da EMBRAER o barulho é grande, eu ví a equipe utilizar lixas eletricas, furadeiras, bateção de martelos de borracha, etc... além de um ar desorganizado de componentes em vários locais do galpão. O uniforme são simples macacões.
2- Na linha do Rafale e do F18, vc estranha pelo silencio sepulcral do galpão. Todos os componentes são micrometricamente instalados. Não se fura absolutamente nada. Todos os funcionários tabalham sentados em pequenas poltronas. A ergonometria dos funcionarios foi pensada nos minimos detalhes. Quando se termina um estágio da montagem, o transporte para a seção seguinte e feito em plataformas que paraticamente deslizam o avião, e sem som nenhum(no começo até pensei que eles flutuavam). O chão é tão limpo e exigido para que seja mantido que os visitantes tem que andar num corredor especialmente projetado. Vc não vê um pó sequer (do Super Tucano, estava lado a lado com prototipos do AMX, cobertos de poeira). São produtos ultra-sensíveis.
Sem desmerecer a EMBRAER, se comparar com a Dassault e Boeing(da fábrica de caças), é como comparar a linha de montagem da Volkswagen dos anos 70, com a fábrica atual da IVECO em 7 Lagoas.
Hélio, já tive a oportunidade de conversar na Europa com dois engenheiros russos que visitaram a serviço a fábrica da Sukhoi, e também estiveram na Embraer como visitantes. A impressão deles foi parecida com a sua só que no sentido inverso, as linha de montagem da Embraer lhes pareceram muito mais avançadas do que as da empresa russa, onde eles disseram que até mesmo ajuste de chapas na montagem final são feitos (ou pelo menos eram na época do SU-27, quando eles estiveram lá) na base do martelo! Mas isso não significa que os caças da Sukhoi fossem de qualquer forma inferiores aos ocidentais equivalentes, em muitos aspectos era bem ao contrário!
Mais uma vez, em certos setores como aviões, automóveis e navios o aspecto da linha de produção pode dar uma impressão muito errada sobre a verdadeira qualidade do que se está produzindo. Não se impressione muito com automações e o ambiente de trabalho da peãozada, busque verificar como é que o produto final em si se comporta (lembre-se do Rolls&Royce e do Gol):
Rolls&Royce (peão com enorme equipamento de solda manual, imagine a precisão
)
Gol (4 robôs). E observe que o modelo do Rolls é novo, enquanto o do Gol é velho
!
Desculpe Leandro, mas está se confundindo artesanato com produção em série. A linha de montagem do Super Tucano comparando com a Dassault , está mais para uma fábrica do Puma( aquele carro de fiberglass que fez sucesso na década de70 e 80) do que de um da Renault atual.
É gritante a diferença....
Bem, se você considera a Embraer uma empresa de artesanato, aí não temos muito mais o que conversar. Ainda bem que os clientes dela parecem não considerar seus produtos como artesanais... . Agora, falando sério: você acha que se fosse para produzir de forma incompleta meia centenas de aviões como foi o caso do AMX, ou para reformar velharias de 50 anos de idade como os F-5 e os A-1, uma Dassault, Saab ou Boeing iriam montar uma linha como as que você viu? Ou isto só se justificou porque seus governos concordaram em pagar várias dezenas de minhões por cada unidade destes caças (sabia que inclusive estas linhas de montagem altamente sofisticadas são usadas para justificar para os impressionáveis políticos este altíssimo preço cobrado por unidade
?)
Como já expliquei discordo com vc, lembre-se daquela velha muleta das pessoas que defendem o AMX: o avião serviu para desenvolver tecnologia para projetar o EMB-145, uma verdade, mas isto não significa que o AMX seja bom....
Esta muleta posso dizer que jamais usei, se procurar nos meus posts antigos verá que eu estava na Embraer na época em que o AMX estava ainda sendo desenvolvido, e as tais tecnologias que ele teria trazido para a empresa já estavam sendo empregadas nos demais aviões que ela produzia na época e também nos novos projetos que estava desenvolvendo (a família ERJ). O AMX justificou a compra de alguns equipamentos e o estudo de alguns aspectos específicos do projeto de caças (como asas de painéis usinados em 5 eixos), mas teve pouco ou nenhum impacto nos demais projetos da empresa, que por terem outras aplicações e características não usam as mesmas tecnologias. O que se aprendeu com ele talvez pudesse ter sido utilizado na época para desenvolver um novo caça, que poderia ter substituído o F-5. Mas, como hoje, não haveria escala para justificar o investimento e o esforço.
Repare Leandro que a maioria aqui discutia aquela balela dos códigos fonte, mas ninguem se lembrava de um componente vital para o caça voar: seu motor. Entusiasta é assim mesmo, quer mesmo discutir as suites de armas do vetor. São como crianças no Salão do Automóvel, antes de ver o motor querem ver o velocimetro para checar qual é a velocidade máxima que o carro alcança.
Um dos pontos mais importantes para mim é o Tot para fabricar um motor. Sabia que a Fabrica Militar de Aviones da Argentina na época de Perón já fabricava motores nacionais?
Este é de fato um ponto que me chama a atenção, pouco se discute esta questão dos motores. Acho até que se na FAB fosse dada a ela a importância devida, a shortlist poderia ter saído diferente. Nunca me esqueço que tanto China quanto India fabricam localmente o Saturn. Seria sim possível desenvolver um excelente caça leve usando um motor destes... .
Grande abraço,
Leandro G. Card