Coronavírus: como alguns países conseguiram conter a doença
Veja algumas estratégias internacionais bem-sucedidas contra a covid-19 e saiba se elas poderiam ser aplicadas no Brasil
Andréa da Luz, Florianópolis 28/03/2020 às 07h00
Atualizado Há 1 hora
Em meio à crise global do novo coronavírus, com seu número crescente de infectados e mortos, alguns países conseguiram implementar boas práticas de combate ao contágio e frear o avanço da covid-19. Coreia do Sul, Japão, Alemanha e China adotaram estratégias diversas que as ajudaram a manter ou retomar o controle sobre a situação epidemiológica.
Dentre as medidas adotadas por esses países destacam-se a testagem em massa, inclusive de pessoas com sintomas leves ou assintomáticas, o isolamento de grupos de risco, além de rastreamento de infectados durante a quarentena em suas residências. Nem todos estabeleceram o isolamento obrigatório de suas populações, mas ainda assim tiveram êxito.
Por que essas medidas deram certo? Será que essas estratégias poderiam ser adotadas no Brasil para ajudar o país a ‘achatar a curva’ de propagação da doença?
Para responder essas questões, a reportagem do nd+ conversou com a médica infectologista da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, Regina Valim.
O caso da Coreia do Sul
Cada país adota diferentes maneiras de conter a pandemia. Na Coreia do Sul, por exemplo, que está em 10º lugar em número de casos, a quantidade de infectados nesta sexta-feira (27) era de 9.332 pessoas, mas apenas 139 mortos. Os dados se baseiam no mapa global do coronavírus, mantido pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o país oriental teve uma reação rápida e adotou a testagem em massa quando ainda possuía cerca de 50 casos. Também implementou o modelo “drive thru” no qual as pessoas não precisam sair do carro para fazer o exame, controle de temperatura dos viajantes que chegavam de países considerados de risco, além de mapeamento por GPS dos infectados em quarentena.
Com experiência prévia de outras epidemias, como a Sars e a Mers, e detentora de alta tecnologia, a nação fabrica reagentes que detectam o vírus e presenciou uma corrida das empresas privadas para o desenvolvimento de novos testes rápidos, com resultados em 48 horas. O exército foi para as ruas fazer um trabalho rigoroso de desinfecção e agora, o país endurece as regras para viajantes que chegam da Europa.
Para a médica Regina Valim, a testagem em massa seria a “estratégia ideal”, porém é preciso levar em conta a extensão territorial e número de habitantes do Brasil. “A testagem em massa é eficiente junto com outras medidas, mas precisamos analisar nossa viabilidade financeira. Competimos na compra de insumos com vários outros países, o que também encarece a produção de testes nacional”, analisa.
Japão
Os japoneses testaram e identificaram quem estava com o vírus já no começo do surto, quando a China ainda registrava seus primeiros casos. Agora, contabilizam 1.387 casos e 49 mortos. O país está em 30º lugar em número de contágios mesmo possuindo 28% da população acima de 65 anos. Não adotou quarentenas em cidades nem isolamento obrigatório. Sua estratégia principal é testar, identificar e isolar grupos de contágio.
Nesse caso, a infectologista destaca a questão cultural. “É um povo muito mais contido e que tem hábitos de higiene enraizados no modo de vida, acostumados, por exemplo, ao uso de máscaras nas ruas”, afirma Valim. Aqui no Brasil somos muito mais ‘calorosos’, portanto o isolamento social pode ser mais necessário.
Alemanha
Na Europa, a Alemanha se destaca frente a situação caótica da Itália (86.498 casos; 9.134 mortos) e da Espanha (64.285 infectados e 4.940 mortos). O país nórdico tem taxa de mortalidade mais baixa que de outros países e realiza diagnóstico precoce com testagem maciça da população e quarentena para grupos de risco (isolamento vertical).
Além disso, quer implementar o rastreamento digital de casos suspeitos, como na Coreia, mas esbarra em regras de privacidade da União Europeia.
De acordo com a mídia internacional, tem capacidade para realizar 160 mil exames por semana, contra cerca de 70 mil na Coreia do Sul. Embora esteja em 5º lugar no número de casos, com 50.871 testes positivos, logo atrás da Espanha, o número de óbitos é de apenas 342.
Para Regina Valim, vale a pena o Brasil avaliar com cuidado a possibilidade do isolamento vertical, colocando em quarentena apenas os grupos de risco. “Mas isso demanda um estudo sobre o comportamento local da pandemia, incluindo análise da curva de contágio e média de idade dos infectados para identificar os grupos de maior vulnerabilidade”, diz.
“Para isso, precisamos de um determinado número de testagem rápida em pessoas assintomáticas e com poucos sintomas, o que permitiria entender como ocorre a dispersão do vírus”, afirma.
Segundo a médica, o Estado de Santa Catarina terá esse dado disponível quando os testes rápidos chegarem. “O estudo será feito e dará embasamento para adoção de outras medidas restritivas”.
China
Embora abrigue o foco inicial da doença, com o epicentro em Wuhan, a China parece ter estabilizado sua curva de contágio. Com 81.897 pessoas doentes e 3.296 mortes, o país asiático alcançou o platô de evolução da doença por volta de 18 de fevereiro, mas agora endurece as medidas para conter novos contágios vindo de fora, com o fechamento das fronteiras. É um exemplo onde o isolamento foi fundamental para a contenção da doença.
A China restringiu viagens, determinou o autoisolamento de cidadãos especialmente em Wuhan para conter a propagação interna, e aplicou testes rápidos para a confirmação de infecções. No pico da epidemia, também construiu um hospital provisório em apenas 10 dias, com mil leitos para tratar os infectados.
“O país está em outro momento da pandemia. Teve o ápice, controlou, e agora luta para não reintroduzir o vírus, por isso vigia a entrada de pessoas que chegam de outros países onde a doença está se alastrando”, afirma Valim.
“Como não há vacina e os países estão em diferentes estágios de propagação, o vírus pode entrar novamente e haver novos surtos, então novas medidas ainda são necessárias”, conclui a médica.
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