ONU pede cessar fogo na Faixa de Gaza, mas ataques israelenses contra o Hamas continuam e número de mortos ultrapassa 280

Fumaça toma conta da cidade, no segundo dia de ataques israelenses - EFE
ELÉM e GAZA - Um dia após o início dos ataques aéreos de Israel contra as instalações do grupo islâmico palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança da ONU aprovou neste domingo uma declaração pedindo o fim da violência na região, onde o número de mortos ultrapassa 280 e o de feridos supera 900. A operação está sendo considerada a mais violenta desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
O comunicado lido pelo embaixador da Croácia na ONU, Neven Jurica, não tem o peso de uma resolução, apenas expressa a opinião dos 15 integrantes do conselho que, depois de quatro horas de discussão, pediu ainda que os dois lados levem em conta a crise humanitária na Faixa de Gaza. O documento contém um apelo para que Israel abra os postos de fronteira com o território palestino para permitir a entrada de ajuda.
Apesar do pedido do conselho de segurança, aviões israelenses realizaram outros bombardeios neste domingo. Os novos ataques alvejaram, entre outros locais, um prédio do governo do Hamas. No sábado, o número de mortos já ultrapassava 200, marcando a data como o dia mais sangrento na história do território palestino. Durante a noite, uma importante estrada e uma mesquita foram atingidas. Ao menos duas pessoas morreram no templo, localizado na Cidade de Gaza. Em resposta às agressões, os palestinos dispararam mais de 60 mísseis contra Ashdod, cidade que fica a 37 km da Faixa de Gaza e tem o porto mais importante de Israel. A Organização para a Libertação Palestina (OLP) convocou um dia de luto na Cisjordânia e Jerusalém.
Neste domingo, o governo de Israel deu mais um sinal de que a violência vai continuar, ao aprovar no conselho de ministros a convocação de 6.500 homens das fileiras da reserva para se prepararem para uma incursão militar terrestre em Gaza, em apoio aos bombardeios aéreos. Segundo a imprensa israelense, será um ataque como o realizado em junho de 2006, após o seqüestro do soldado Guilad Shalit por três milicianos palestinos.
O Exército já mobilizou centenas de soldados em torno de Gaza para se preparar para esta operação terrestre de grande escala. O ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, advertiu que "aprofundará e ampliará sua operação do modo que for necessário".
- Se sentem falta de botas sobre a terra, terão o que querem - disse Barak em uma entrevista na qual explicou que o objetivo da operação é mudar as regras do jogo.
Ainda no sábado, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, afirmou que dará ao seu Exército o tempo necessário para devolver a "vida normal" aos moradores do Sul de Israel, alvo dos lançamentos palestinos. Já o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, pediu que os palestinos realizem uma terceira intifada contra Israel. O líder do governo em Gaza, Ismail Haniyeh, prometeu que a região nunca vai se entregar.
- Não vamos deixar nossa terra, não vamos levantar bandeiras brancas e não vamos ficar de joelhos, exceto diante de Deus - disse Haniyeh em mensagem aos palestinos publicada em um site.
- Há sangue por todo lugar, há feridos e mártires em todas as casas e em todas as ruas. Gaza hoje foi decorada de sangue... Pode haver mais mártires e pode haver mais feridos, mas Gaza nunca será destruída e nunca vamos nos render - acrescentou.
Abbas diz que Hammas poderia ter evitado os bombardeios
Líder do grupo secular Fatah, que perdeu o poder em Gaza para o islâmico Hamas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, também condenou os bombardeios, mas culpou o Hamas pela situação, afirmando que o grupo poderia ter evitado a violência. Abbas pediu ajuda do exterior para evitar novos ataques.
- Conversamos com eles (Hammas) e dissemos 'por favor, nós pedimos, não encerrem a trégua'. Deixem que o cessar-fogo continue, então poderíamos ter evitado o que aconteceu - disse.
A comunidade internacional reagiu aos ataques, pedindo um novo cessar-fogo entre Israel e o Hamas. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nota afirmando que deplora os ataques de Israel, e criticando também o lançamento de foguetes palestinos.
O premier israelense pediu paciência à população.
- Pode levar tempo, e cada um de nós deve ter paciência para podermos completar a missão - disse Olmert a jornalistas. - Cidadãos israelenses: é possível que no curto prazo, o número de foguetes aumente e eles terão um alcance maior do que nós estamos acostumados.
Principal aliado de Israel,
os EUA não condenaram os ataques e responsabilizaram o Hamas pela quebra da trégua com Israel, que vigorou durante seis meses, e não foi renovada na semana passada.
Os ataques israelenses aconteceram um dia depois de o Hamas voltar a lançar mísseis contra Israel e, acidentalmente, matar duas crianças em Gaza . Também na sexta-feira, Olmert havia autorizado a reabertura das fronteiras com Gaza para a entrada de ajuda humanitária. No começo da semana, o Hamas disse que Israel iria abrir os portões do inferno caso realizasse ataques.
Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/ ... 712374.asp