En sentido estricto, Galicia no se independizó de nadie sino que la independizaron.
Embora não tenha nada a ver com o império português, históricamente a Gallaecia (lêr Galécia) era já uma realidade, antes sequer da chegada dos árabes, e criada pelos romanos para definir uma área da «Hispania».
A Gallaecia por ser uma região remota (relativamente ao mediterrâneo) sempre foi das menos romanizadas e também das menos ricas.
Por essa razão, os árabes interessam-se pouco pelo noroeste peninsular. A norte do Douro, o dominio dos Árabes não chegou a somar 50 anos (cinquenta).
Logo, a Gallaecia, e a sua decorrente Galiza, é sim uma realidade do ponto de vista histórico e étnico desde há muito tempo.
A Gallaecia, tem históricamente raizes mais antigas que o próprio Reino de Leão. Mas na realidade, a constituição do reino de Leão, não passa da reconstrução da Gallaecia com a diferença de que a capital passou para a cidade de Leão, por causa da pressão dos ataques Vikings que ocorreram em toda a costa norte e noroeste da Europa entre os séculos VIII e X.
O Reino de Leaão, é assim a antiga Gallaecia que passou a ser conhecida como reino que tem a capital em Leão.
Todas as restantes interpretações, de que a Galiza apareceu do Reino de Leão, são muito interessante mas têm em vista justificar realidades de hoje e não interpretar a História.
Voltando ao tema e referindo a questão colocada pelo Dieneces:
Creio que não podemos culpar os "Caudilhos" espanhóis pela divisão da américa espanhola. Essa tendência tem as suas razões de ser, mas parece-me que há um factor que influiu muito mais nessa separação da restante américa ao contrário do que ocorreu com o Brasil.
Do ponto de vista formal, além da Inglaterra, Portugal e a Russia foram os únicos países que de facto conseguiram opor-se a Napoleão.
Parece até patético comparar países tão esmagadoramente diferentes.
Mas os Russos evacuaram Moscovo e negaram a Napoleão apoderar-se efectivamente do poder na Rússia. Ele tinha a cidade, mas na realidade não era senhor da Rússia.
Em Portugal aconteceu algo parecido.
Ao transferir a capital, com toda a corte para outro lugar, os portugueses aproveitaram a profundidade ainda que descontínua do seu território para negar a vitória aos franceses.
Com isto, do ponto de vista formal, manteve-se o poder nas mãos do rei (ou melhor, do regente, porque a rainha tinha como sabemos sido destituida por loucura).
Ora na Espanha, ocorre o mesmo que noutros países europeus. Napoleão consegue efectivamente cortar a cabeça ao governo (ou governos) da Espanha e o país deixa de existir do ponto de vista formal. Os territórios peninsulares passam formalmente para um familiar de Napoleão.
É aqui que reside a principal diferença, que do meu ponto de vista vai condicionar os futuros diferentes da América Espanhola.
Sem um governo e um rei a quem reconhecer formalmente, as várias colónias (com as suas várias elites) deixam de ter do ponto de vista formal um senhor a quem obedecer.
Na Espanha, com as invasões napoleonicas, ocorre um fenomeno tipicamente espanhol, que é o da criação de multiplas entidades governativas, que são na realidade a demonstração da realidade multiétnica da peninsula e que aparecem sempre que o governo central perde poder.
Aperecem assim, as famosas «Juntas» governativas espanholas, que são pouco mais que pequenos poderes regionas, exigindo cada um deles o reconhecimento. A mais famosa das juntas é a «Junta de Cadiz» a qual, protegida pelos navios ingleses é responsável pela produção da primeira constituição espanhola.
O problema, é que a esta junta, somam-se muitas outras, e adicionam-se a estas também as juntas de todas as colonias e governos das várias Espanhas.
Portanto, deste ponto de vista, a razão principal para a implosão do imério espanhol das Américas e a não implosão do português, também tem muito a ver com o comportamento dos dois países perante a França de Napoleão.
E evidentemente que a Geografia também teve o seu papel.
O Brasil, era mais homogeneo, e o facto de com o tratado de Tordesilhas os portugueses terem posteriormente tomado a foz do Amazonas e do rio São Francisco permitiram a penetração através do atlântico e a navegação entre as várias partes do Brasil. Com apenas uma costa (Atlântica) os governantes brasileiros podiam enviar tropas para qualquer ponto, e aproveitar as vias de comunição (rios).
Ao contrário, a América espanhola estava condicionada pela dispersão geográfica, pela cordilheira dos Andes e pela pequena e infestada América Central (e pela inexistência de Canal do Panamá) que impediam que tropas de um lugar fossem enviadas com facilidade para outro lugar.
Portanto, há muitas razões para essa implosão do império espanhol.
Estas são algumas, e as outras creio que falámos há dias noutro tópico, e têm a ver com a questão da educação e a proibição das universidades no Brasil.
Cumprimentos