Super Flanker escreveu:Concordo que não dão a valorizaçâo qu deviam. Quando estudei 2ªguerra na escola, foi um desanimo, a professora deu a matéria em 2 aulas, e comentos sobre o Brasil na guerra em 5 minutos! ...isso é um absurdo.
Comprei uma revista esses tempos atrás só sobre 2ª guerra, me deixou chateado tbem. Apenas uma pagina na revista inteira sobre o Brasil.
Falow
e ela ainda deve ter passado pelo acordo entre alemnhã e URSS como gatos passam pela brasa.
Na minha escola o assunto foi bem trabalhado, inclusive o professor comprou pra gente um número da "História Viva" que fala exatamente do acordo entre Hitler e Stalin.
Agora vamos ser justos, a participação do Brasil no campo de batalha foi mínima. O importante mesmo é estudar as razões da entrada na guerra e as transformações que a 2ªGM provocou no nosso país.
Enviado: Ter Mar 13, 2007 3:45 pm
por Túlio
Tigrada, um site ESTUPENDO sobre a FEB, com relatos que deixariam até o Clermont de queixo caído...
Aproveito para direcioná-los à Canção Proibida do Expedicionário, que na época dava CADEIA!!!
Uma piada corrente no país, pouco antes de o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial, era que Hitler teria dito ser mais fácil ver uma cobra fumando do que os brasileiros conseguirem enviar tropas para a batalha. Quando, por não ter sido possível encontrar o número ideal de soldados necessários para compor um corpo expedicionário, o governo rebatizou o grupo para Força Expedicionária Brasileira (FEB) dizia-se que o Brasil não iria mais para a guerra porque havia “tirado o corpo fora”. Segundo novas pesquisas, indesejada pelas forças aliadas e pelos militares brasileiros, produto de uma negociação pragmática do Estado Novo, em busca de maior projeção global, a FEB foi à guerra e, ao retornar, ainda amargou o desprezo nacional e a censura militar sobre sua história. “Carecemos de conhecimento sobre o papel dos expedicionários na guerra, o que resulta nas ideias simplórias e absolutas sobre o seu desempenho: heróis ou trapalhões. Para as novas gerações, a participação brasileira na guerra parece tão distante quanto a Independência”, afirma o historiador César Campiani Maximiano, da PUC-SP, autor de Barbudos, sujos e fatigados (Grua Livros, 448 páginas, R$ 59). O estudo revela como os pracinhas incomodaram os militares do chamado “Exército de Caxias”, a ponto de terem suas memórias reprimidas, e forneceram munição para os movimentos dos direitos civis dos negros americanos, por ser a única tropa de combate que não promoveu a segregação racial em suas fileiras.
A FEB foi composta por 25 mil jovens brasileiros, transformados em soldados-cidadãos para combater as forças do Eixo na campanha da Itália, entre 1944 e 1945, a única força combatente da América Latina na Europa. “Com a convocação para a FEB, mais de 20 mil famílias foram diretamente afetadas pela guerra”, diz o pesquisador. A proposta de sua criação surgiu em meados de 1943 como um grandioso projeto governamental, que pretendia colher resultados estratégicos, modernizar o Exército brasileiro e adquirir experiência necessária para lutar contra inimigos internos e externos, imaginários ou não, segundo os militares.
“A FEB foi o núcleo de um projeto político que deveria fortalecer as Forças Armadas e dar ao Brasil uma posição de importância global como aliado dos Estados Unidos. O problema foi fazer os americanos pensarem o mesmo”, explica Letícia Pinheiro, professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. “No auge de seu esforço de guerra, os Aliados não queriam um parceiro que precisava ser vestido, alimentado, treinado e municiado, como o Brasil, e tentou-se desestimular as pretensões brasileiras. Mas o governo de Vargas insistiu no envio de uma força expedicionária para melhorar sua posição internacional na mesa de negociações do pós-guerra”, afirma o historiador Francisco César Ferraz, professor da Universidade Estadual de Londrina. As Forças Armadas, porém, não estavam preparadas para organizar uma expedição e os poucos oficiais com experiência de combate tinham lutado pela última vez em 1932. “A instrução do Exército era baseada na doutrina militar francesa de 1914, já ultrapassada, uma abordagem científica da guerra que, na Itália, se chocaria com uma realidade de incertezas, de necessidade de improvisação e de rápida tomada de decisões pelos oficiais”, diz Campiani.
“Tinha-se a percepção de que a fanfarronice encenada em campanhas nas coxilhas ou nos tiroteios contra estudantes paulistas destreinados seria suficiente para enfrentar o Exército alemão.” No ataque a Monte Castelo, por exemplo, o comandante brasileiro, general Zenóbio da Costa, dispensou o ataque prévio da artilharia sobre posições alemães dizendo: “Não precisa! Os meus meninos tomam aquela m. no grito!” (Como citado por César em seu livro, Barbudos, sujos e fatigados). “Quando os jovens foram convocados para a guerra, inaugurou-se uma nova organização para o Exército: a de cidadãos que eram convertidos em soldados para lutar pela pátria”, observa Ferraz. Mas não foi fácil. Os convocados depararam com a tradição francesa dos militares brasileiros. “Os oficiais eram muito ríspidos com seus subordinados e os praças recebiam prisões disciplinares pelos motivos mais insignificantes. A alimentação era de péssima qualidade e os uniformes vistosos dos oficiais contrastavam com o fardamento dos soldados, feitos de tecido barato que se rasgava com facilidade”, afirma Ferraz. Além disso, legiões de conscritos das classes mais altas logo trataram de arrumar “pistolões” que lhes garantissem a exclusão da FEB. O mesmo valeu para uma quantidade considerável de oficiais do Exército regular, que arrumaram meios escusos de fugir da obrigação. Para piorar, o exame de saúde seletivo era precário e, em muitos casos, deixou no Brasil convocados em condições de saúde satisfatórias para levar outros com problemas graves, que precisaram ser revolvidos da Itália em meio ao combate. Há mesmo o caso de um tenente que foi à guerra com olho de vidro. O principal motivo de exclusão, no entanto, era “dentadura insuficiente”.
Subnutrido - Mas não se sustenta o mito do “pracinha subnutrido”. “A FEB tinha mais a feição das colônias de imigrantes do Sul, dos bairros cariocas e paulistas e das cidades mineiras do que as alegorias cantadas pelos correspondentes que criaram a ideia de que ‘caboclinhos franzinos e cheios de ginga’ seriam, por natureza, superiores aos obtusos Übermenschen tedescos”, observa César. “Poucos soldados, porém, faziam ideia dos motivos que os haviam levado a combater alemães, o que preocupava os comandos pela ausência de motivação adequada de luta”, diz o pesquisador. A favor dos pracinhas foi a exigência americana de se adotar a doutrina de combate do Exército americano pela FEB, apesar de os manuais de instrução terem chegado em inglês. Os resultados futuros, no entanto, seriam positivos. “Para os soldados incorporados às forças aliadas, na Itália, a interação com combatentes americanos trouxe uma mudança drástica de atitude. Pela primeira vez soldados brasileiros estavam recebendo o mesmo tratamento de seus superiores, ao contrário da rígida disciplina das casernas nacionais. Não há veterano da FEB que não tenha ficado impressionado com a atenção que os americanos dispensavam aos convocados”, afirma César. Na guerra, a enorme variedade de equipamento disponível para a FEB incomodou muitos oficiais brasileiros que não podiam conceber a distribuição de artigos de qualidade superior para praças. Isso explicaria a demora, muitas vezes fatal, na distribuição para os pracinhas dos uniformes de inverno, que ficaram guardados nos armazéns militares quando eram fundamentais para suportar as temperaturas de 25 graus negativos. Depois a história oficial decidiu propagar a versão do “jogo de cintura” brasileiro: ao contrário dos americanos, os expedicionários não seriam soldados dependentes de bugigangas tecnológicas para derrotar o inverno, bastando-lhes a “criatividade intrínseca aos brasileiros”, nota César.
Autocrático - “O contato com os cidadãos-soldados de outros países e as necessidades da guerra mostraram aos expedicionários um novo modelo de exército, menos autocrático, uma cultura militar diferente da vivenciada no ‘Exército de Caxias’, no qual a superioridade hierárquica e suas emanações resultavam da tiranização dos praças às vontades e ordens nem sempre confiáveis dos oficiais”, nota Ferraz. Surgia o “Exército da FEB”. Uma de suas marcas era não segregar racialmente seus soldados, o que não significava a ausência de racismo individual. “A irrestrita camaradagem entre brasileiros de diversas etnias chamou a atenção de correspondentes dos jornais americanos que eram ligados aos movimentos dos direitos civis. Havia nos EUA a chamada campanha do double V, a vitória no front da guerra e no dos direitos civis em casa. Já que soldados negros estavam arriscando suas vidas em combates, a campanha pregava ser inadmissível que eles não desfrutassem de direitos de cidadania em seu país”, observa César. Um jornalista americano, fascinado ao avistar brasileiros, brancos e negros, juntos num café, pediu a um grupo de pracinhas que definisse o seu Exército. “Só existe um Exército brasileiro e ele é composto de brasileiros”, foi a resposta. Num encontro entre soldados brasileiros e americanos, os últimos perguntaram aos febianos se os “negri brasiliani sono buoni”. O brasileiro respondeu que eram todos excelentes companheiros, ao que os americanos retrucaram: “Negri americani non buoni”. “Nada chocou mais os soldados brasileiros do que essas mostras de racismo. É certo que as notícias sobre a FEB revigoraram o questionamento do sistema de segregação da sociedade americana e deram um impulso adicional ao movimento negro dos EUA”, diz César. Antes de um desfile de tropas, Zenóbio da Costa teria emitido uma determinação de isolar ou retirar os expedicionários negros das colunas, ordem que foi amplamente ignorada pelos oficiais da FEB.
O “Exército da FEB”, por todas essas razões, não agradava aos líderes do “Exército de Caxias”, que fizeram procedimentos de desmobilização apressados no retorno ao Brasil com o término da guerra. A imprensa propagava a FEB como símbolo das “tropas de democracia”, criando assim grande expectativa para o retorno dos expedicionários. “Durante muito tempo acreditou-se que Vargas temia a volta dos soldados, que poderiam apressar o fim do seu regime. Mas as maiores desconfianças partiram das principais autoridades militares brasileiras, os generais Dutra e Goes Monteiro, e de setores políticos que teriam a perder com a livre expressão política dos febianos”, fala Ferraz. Foi estabelecido um prazo limite de oito dias para o uso de uniformes da FEB e os pracinhas foram proibidos, ainda na Itália, de emitir comentários sobre a guerra sem autorização do Ministério da Guerra.
Liberal - “Havia temores políticos: a ameaça que representava para o ‘Exército de Caxias’ esse novo tipo de força militar, mais profissional, liberal e democrático; o medo de que os oficiais febianos pudessem se tornar o fiel da balança político-eleitoral e fossem cooptados pelos comunistas; acima de tudo, temia-se que os expedicionários, entre os quais Vargas tinha grande popularidade, pudessem apoiá-lo e empolgar a população para soluções diferentes daquelas do pacto conservador das elites políticas para a sucessão de Vargas”, explica Ferraz. Um exemplo desse medo foi o veto à distribuição de medalhas para todos os soldados pelos americanos. Afinal, poderia ser “fonte de vexação” para os militares de carreira que haviam ficado no Brasil e teriam que medir forças políticas e profissionais com militares moldados em combate. “Havia uma flagrante má vontade para com a FEB por autoridade do governo e muitos militares temiam ser preteridos nas futuras promoções da carreira pelos oficiais e praças expedicionários que podiam exibir experiência de guerra”, diz Ferraz.
Muitos febianos viram, com amargura, que essa experiência, única na América do Sul, não iria ser aproveitada para moldar um novo Exército, sendo, em vez disso, destacados para guarnições distantes. O grosso do contingente ainda deparou com o desemprego, pois muitos patrões, obrigados a readmitir seus empregados mobilizados, logo os demitiam alegando desajuste, neuroses ou incompetência profissional. “As dificuldades de conseguir um emprego foram potencializadas pelo fato de a maior parte dos expedicionários ter sido recrutada na idade de aprendizagem de uma profissão”, lembra Ferraz. Os veteranos não conseguiam tampouco entender por que eram proibidos de falar sobre suas experiências de combate para civis e para a imprensa. “Era preciso passar a impressão de que fora a sua formação, não o duro aprendizado dos combates, que possibilitou aos brasileiros vencer um inimigo forte, uma questão de prestígio numa sociedade em que o Exército era o principal ator político. Os militares não podiam admitir limitações e falhas”, observa Ferraz. Sem poder de barganha com autoridades do governo, muitas das quais eram oficiais graduados durante a ditadura militar e haviam fugido à convocação à guerra, os veteranos se calaram para poder sobreviver. Por uma confusão ideológica, ironia do destino, a imagem dos ex-combatentes foi associada aos militares golpistas, o que questionou ainda mais a memória da FEB. “Apenas em 1988, com a nova Constituição, os veteranos conquistaram o direito de uma pensão especial. Mas, dos 25 mil, pouco menos de 10 mil estavam vivos quando o reconhecimento foi aprovado”, diz Ferraz. A pergunta “você sabe de onde eu venho?”, da Canção do expedicionário, teima em ficar sem resposta.
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Seg Dez 19, 2011 10:26 am
por FIGHTERCOM
Clermont escreveu:Por quem a cobra fumou?
Estudos mostram importância da participação de tropas brasileiras na Segunda Guerra.
Uma piada corrente no país, pouco antes de o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial, era que Hitler teria dito ser mais fácil ver uma cobra fumando do que os brasileiros conseguirem enviar tropas para a batalha. Quando, por não ter sido possível encontrar o número ideal de soldados necessários para compor um corpo expedicionário, o governo rebatizou o grupo para Força Expedicionária Brasileira (FEB) dizia-se que o Brasil não iria mais para a guerra porque havia “tirado o corpo fora”. Segundo novas pesquisas, indesejada pelas forças aliadas e pelos militares brasileiros, produto de uma negociação pragmática do Estado Novo, em busca de maior projeção global, a FEB foi à guerra e, ao retornar, ainda amargou o desprezo nacional e a censura militar sobre sua história. “Carecemos de conhecimento sobre o papel dos expedicionários na guerra, o que resulta nas ideias simplórias e absolutas sobre o seu desempenho: heróis ou trapalhões. Para as novas gerações, a participação brasileira na guerra parece tão distante quanto a Independência”, afirma o historiador César Campiani Maximiano, da PUC-SP, autor de Barbudos, sujos e fatigados (Grua Livros, 448 páginas, R$ 59). O estudo revela como os pracinhas incomodaram os militares do chamado “Exército de Caxias”, a ponto de terem suas memórias reprimidas, e forneceram munição para os movimentos dos direitos civis dos negros americanos, por ser a única tropa de combate que não promoveu a segregação racial em suas fileiras.
A FEB foi composta por 25 mil jovens brasileiros, transformados em soldados-cidadãos para combater as forças do Eixo na campanha da Itália, entre 1944 e 1945, a única força combatente da América Latina na Europa. “Com a convocação para a FEB, mais de 20 mil famílias foram diretamente afetadas pela guerra”, diz o pesquisador. A proposta de sua criação surgiu em meados de 1943 como um grandioso projeto governamental, que pretendia colher resultados estratégicos, modernizar o Exército brasileiro e adquirir experiência necessária para lutar contra inimigos internos e externos, imaginários ou não, segundo os militares.
“A FEB foi o núcleo de um projeto político que deveria fortalecer as Forças Armadas e dar ao Brasil uma posição de importância global como aliado dos Estados Unidos. O problema foi fazer os americanos pensarem o mesmo”, explica Letícia Pinheiro, professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. “No auge de seu esforço de guerra, os Aliados não queriam um parceiro que precisava ser vestido, alimentado, treinado e municiado, como o Brasil, e tentou-se desestimular as pretensões brasileiras. Mas o governo de Vargas insistiu no envio de uma força expedicionária para melhorar sua posição internacional na mesa de negociações do pós-guerra”, afirma o historiador Francisco César Ferraz, professor da Universidade Estadual de Londrina. As Forças Armadas, porém, não estavam preparadas para organizar uma expedição e os poucos oficiais com experiência de combate tinham lutado pela última vez em 1932. “A instrução do Exército era baseada na doutrina militar francesa de 1914, já ultrapassada, uma abordagem científica da guerra que, na Itália, se chocaria com uma realidade de incertezas, de necessidade de improvisação e de rápida tomada de decisões pelos oficiais”, diz Campiani.
“Tinha-se a percepção de que a fanfarronice encenada em campanhas nas coxilhas ou nos tiroteios contra estudantes paulistas destreinados seria suficiente para enfrentar o Exército alemão.” No ataque a Monte Castelo, por exemplo, o comandante brasileiro, general Zenóbio da Costa, dispensou o ataque prévio da artilharia sobre posições alemães dizendo: “Não precisa! Os meus meninos tomam aquela m. no grito!” (Como citado por César em seu livro, Barbudos, sujos e fatigados). “Quando os jovens foram convocados para a guerra, inaugurou-se uma nova organização para o Exército: a de cidadãos que eram convertidos em soldados para lutar pela pátria”, observa Ferraz. Mas não foi fácil. Os convocados depararam com a tradição francesa dos militares brasileiros. “Os oficiais eram muito ríspidos com seus subordinados e os praças recebiam prisões disciplinares pelos motivos mais insignificantes. A alimentação era de péssima qualidade e os uniformes vistosos dos oficiais contrastavam com o fardamento dos soldados, feitos de tecido barato que se rasgava com facilidade”, afirma Ferraz. Além disso, legiões de conscritos das classes mais altas logo trataram de arrumar “pistolões” que lhes garantissem a exclusão da FEB. O mesmo valeu para uma quantidade considerável de oficiais do Exército regular, que arrumaram meios escusos de fugir da obrigação. Para piorar, o exame de saúde seletivo era precário e, em muitos casos, deixou no Brasil convocados em condições de saúde satisfatórias para levar outros com problemas graves, que precisaram ser revolvidos da Itália em meio ao combate. Há mesmo o caso de um tenente que foi à guerra com olho de vidro. O principal motivo de exclusão, no entanto, era “dentadura insuficiente”.
Subnutrido - Mas não se sustenta o mito do “pracinha subnutrido”. “A FEB tinha mais a feição das colônias de imigrantes do Sul, dos bairros cariocas e paulistas e das cidades mineiras do que as alegorias cantadas pelos correspondentes que criaram a ideia de que ‘caboclinhos franzinos e cheios de ginga’ seriam, por natureza, superiores aos obtusos Übermenschen tedescos”, observa César. “Poucos soldados, porém, faziam ideia dos motivos que os haviam levado a combater alemães, o que preocupava os comandos pela ausência de motivação adequada de luta”, diz o pesquisador. A favor dos pracinhas foi a exigência americana de se adotar a doutrina de combate do Exército americano pela FEB, apesar de os manuais de instrução terem chegado em inglês. Os resultados futuros, no entanto, seriam positivos. “Para os soldados incorporados às forças aliadas, na Itália, a interação com combatentes americanos trouxe uma mudança drástica de atitude. Pela primeira vez soldados brasileiros estavam recebendo o mesmo tratamento de seus superiores, ao contrário da rígida disciplina das casernas nacionais. Não há veterano da FEB que não tenha ficado impressionado com a atenção que os americanos dispensavam aos convocados”, afirma César. Na guerra, a enorme variedade de equipamento disponível para a FEB incomodou muitos oficiais brasileiros que não podiam conceber a distribuição de artigos de qualidade superior para praças. Isso explicaria a demora, muitas vezes fatal, na distribuição para os pracinhas dos uniformes de inverno, que ficaram guardados nos armazéns militares quando eram fundamentais para suportar as temperaturas de 25 graus negativos. Depois a história oficial decidiu propagar a versão do “jogo de cintura” brasileiro: ao contrário dos americanos, os expedicionários não seriam soldados dependentes de bugigangas tecnológicas para derrotar o inverno, bastando-lhes a “criatividade intrínseca aos brasileiros”, nota César.
Autocrático - “O contato com os cidadãos-soldados de outros países e as necessidades da guerra mostraram aos expedicionários um novo modelo de exército, menos autocrático, uma cultura militar diferente da vivenciada no ‘Exército de Caxias’, no qual a superioridade hierárquica e suas emanações resultavam da tiranização dos praças às vontades e ordens nem sempre confiáveis dos oficiais”, nota Ferraz. Surgia o “Exército da FEB”. Uma de suas marcas era não segregar racialmente seus soldados, o que não significava a ausência de racismo individual. “A irrestrita camaradagem entre brasileiros de diversas etnias chamou a atenção de correspondentes dos jornais americanos que eram ligados aos movimentos dos direitos civis. Havia nos EUA a chamada campanha do double V, a vitória no front da guerra e no dos direitos civis em casa. Já que soldados negros estavam arriscando suas vidas em combates, a campanha pregava ser inadmissível que eles não desfrutassem de direitos de cidadania em seu país”, observa César. Um jornalista americano, fascinado ao avistar brasileiros, brancos e negros, juntos num café, pediu a um grupo de pracinhas que definisse o seu Exército. “Só existe um Exército brasileiro e ele é composto de brasileiros”, foi a resposta. Num encontro entre soldados brasileiros e americanos, os últimos perguntaram aos febianos se os “negri brasiliani sono buoni”. O brasileiro respondeu que eram todos excelentes companheiros, ao que os americanos retrucaram: “Negri americani non buoni”. “Nada chocou mais os soldados brasileiros do que essas mostras de racismo. É certo que as notícias sobre a FEB revigoraram o questionamento do sistema de segregação da sociedade americana e deram um impulso adicional ao movimento negro dos EUA”, diz César. Antes de um desfile de tropas, Zenóbio da Costa teria emitido uma determinação de isolar ou retirar os expedicionários negros das colunas, ordem que foi amplamente ignorada pelos oficiais da FEB.
O “Exército da FEB”, por todas essas razões, não agradava aos líderes do “Exército de Caxias”, que fizeram procedimentos de desmobilização apressados no retorno ao Brasil com o término da guerra. A imprensa propagava a FEB como símbolo das “tropas de democracia”, criando assim grande expectativa para o retorno dos expedicionários. “Durante muito tempo acreditou-se que Vargas temia a volta dos soldados, que poderiam apressar o fim do seu regime. Mas as maiores desconfianças partiram das principais autoridades militares brasileiras, os generais Dutra e Goes Monteiro, e de setores políticos que teriam a perder com a livre expressão política dos febianos”, fala Ferraz. Foi estabelecido um prazo limite de oito dias para o uso de uniformes da FEB e os pracinhas foram proibidos, ainda na Itália, de emitir comentários sobre a guerra sem autorização do Ministério da Guerra.
Liberal - “Havia temores políticos: a ameaça que representava para o ‘Exército de Caxias’ esse novo tipo de força militar, mais profissional, liberal e democrático; o medo de que os oficiais febianos pudessem se tornar o fiel da balança político-eleitoral e fossem cooptados pelos comunistas; acima de tudo, temia-se que os expedicionários, entre os quais Vargas tinha grande popularidade, pudessem apoiá-lo e empolgar a população para soluções diferentes daquelas do pacto conservador das elites políticas para a sucessão de Vargas”, explica Ferraz. Um exemplo desse medo foi o veto à distribuição de medalhas para todos os soldados pelos americanos. Afinal, poderia ser “fonte de vexação” para os militares de carreira que haviam ficado no Brasil e teriam que medir forças políticas e profissionais com militares moldados em combate. “Havia uma flagrante má vontade para com a FEB por autoridade do governo e muitos militares temiam ser preteridos nas futuras promoções da carreira pelos oficiais e praças expedicionários que podiam exibir experiência de guerra”, diz Ferraz.
Muitos febianos viram, com amargura, que essa experiência, única na América do Sul, não iria ser aproveitada para moldar um novo Exército, sendo, em vez disso, destacados para guarnições distantes. O grosso do contingente ainda deparou com o desemprego, pois muitos patrões, obrigados a readmitir seus empregados mobilizados, logo os demitiam alegando desajuste, neuroses ou incompetência profissional. “As dificuldades de conseguir um emprego foram potencializadas pelo fato de a maior parte dos expedicionários ter sido recrutada na idade de aprendizagem de uma profissão”, lembra Ferraz. Os veteranos não conseguiam tampouco entender por que eram proibidos de falar sobre suas experiências de combate para civis e para a imprensa. “Era preciso passar a impressão de que fora a sua formação, não o duro aprendizado dos combates, que possibilitou aos brasileiros vencer um inimigo forte, uma questão de prestígio numa sociedade em que o Exército era o principal ator político. Os militares não podiam admitir limitações e falhas”, observa Ferraz. Sem poder de barganha com autoridades do governo, muitas das quais eram oficiais graduados durante a ditadura militar e haviam fugido à convocação à guerra, os veteranos se calaram para poder sobreviver. Por uma confusão ideológica, ironia do destino, a imagem dos ex-combatentes foi associada aos militares golpistas, o que questionou ainda mais a memória da FEB. “Apenas em 1988, com a nova Constituição, os veteranos conquistaram o direito de uma pensão especial. Mas, dos 25 mil, pouco menos de 10 mil estavam vivos quando o reconhecimento foi aprovado”, diz Ferraz. A pergunta “você sabe de onde eu venho?”, da Canção do expedicionário, teima em ficar sem resposta.
Lamentável.
Abraços,
Wesley
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Seg Dez 19, 2011 11:59 am
por suntsé
FIGHTERCOM escreveu:
Lamentável.
Abraços,
Wesley
Aqueles que deveriam colocar os interesses da pátria acima dos interesses pessoais, jogaram no lixo a oportunidade de modernizar as forças armadas do Brasil. Talves por causa disso estejamos pagando o preço até hoje.
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Sáb Dez 24, 2011 12:41 am
por Carlos Lima
Comprei e estou lendo direto o livro
Barbudos, sujos e fatigados - Soldados Brasileiros na Segunda Guerra Mundial.
O livro e SHOW DE BOLA e vale a pena ler para qualquer entusiasta!!!
Comprei por 50 Reais e nao paro de ler
[]s
CB_Lima
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Seg Ago 06, 2012 6:28 pm
por rodrigo
Monumento dos Pracinhas no Rio de Janeiro ganha nova escultura
Rio de Janeiro, 06/08/2012 – O ministro da Defesa, Celso Amorim, inaugurou na manhã do último domingo (05), no Monumento dos Pracinhas no Parque do Flamengo, uma Estrela de David estilizada, alusiva aos 70 anos da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
A instalação da escultura com o símbolo do judaísmo representou também uma homenagem aos seis milhões de judeus que pereceram no episódio.
“Eu me recordo, quando era adolescente, da minha perplexidade em entender aquele momento da história”, disse Amorim, ao referir-se ao Holocausto. Ele caracterizou o episódio como uma “barbárie e violência que até hoje desafiam a compreensão humana”.
A escultura foi instalada no mausoléu do subsolo onde estão os 450 túmulos dos soldados que tombaram na Itália em 1944/45. A peça, que passa a integrar permanentemente o monumento, é obra da artista plástica Ruth Kae.
Segundo o ministro da Defesa, as Forças Armadas brasileiras sentiam-se honradas pelo convite para a inauguração da escultura, no mesmo dia em que o Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial, o Monumento dos Pracinhas, completava 52 anos.
Presente também ao evento, o secretário-geral da Confederação Israelita do Brasil, Fernando Kasinski Lottenberg, afirmou que a Estrela de Davi usada para identificar os judeus e “promover o extermínio”, durante a Segunda Guerra Mundial, era a mesma que, a partir de agora, “irradiará suas bênçãos aos nossos heroicos combatentes que aqui repousam”.
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)
Ministério da Defesa
61 3312-4070
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Ter Ago 07, 2012 10:19 am
por Wingate
FIGHTERCOM escreveu:
Clermont escreveu:Por quem a cobra fumou?
Estudos mostram importância da participação de tropas brasileiras na Segunda Guerra.
Uma piada corrente no país, pouco antes de o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial, era que Hitler teria dito ser mais fácil ver uma cobra fumando do que os brasileiros conseguirem enviar tropas para a batalha. Quando, por não ter sido possível encontrar o número ideal de soldados necessários para compor um corpo expedicionário, o governo rebatizou o grupo para Força Expedicionária Brasileira (FEB) dizia-se que o Brasil não iria mais para a guerra porque havia “tirado o corpo fora”. Segundo novas pesquisas, indesejada pelas forças aliadas e pelos militares brasileiros, produto de uma negociação pragmática do Estado Novo, em busca de maior projeção global, a FEB foi à guerra e, ao retornar, ainda amargou o desprezo nacional e a censura militar sobre sua história. “Carecemos de conhecimento sobre o papel dos expedicionários na guerra, o que resulta nas ideias simplórias e absolutas sobre o seu desempenho: heróis ou trapalhões. Para as novas gerações, a participação brasileira na guerra parece tão distante quanto a Independência”, afirma o historiador César Campiani Maximiano, da PUC-SP, autor de Barbudos, sujos e fatigados (Grua Livros, 448 páginas, R$ 59). O estudo revela como os pracinhas incomodaram os militares do chamado “Exército de Caxias”, a ponto de terem suas memórias reprimidas, e forneceram munição para os movimentos dos direitos civis dos negros americanos, por ser a única tropa de combate que não promoveu a segregação racial em suas fileiras.
A FEB foi composta por 25 mil jovens brasileiros, transformados em soldados-cidadãos para combater as forças do Eixo na campanha da Itália, entre 1944 e 1945, a única força combatente da América Latina na Europa. “Com a convocação para a FEB, mais de 20 mil famílias foram diretamente afetadas pela guerra”, diz o pesquisador. A proposta de sua criação surgiu em meados de 1943 como um grandioso projeto governamental, que pretendia colher resultados estratégicos, modernizar o Exército brasileiro e adquirir experiência necessária para lutar contra inimigos internos e externos, imaginários ou não, segundo os militares.
“A FEB foi o núcleo de um projeto político que deveria fortalecer as Forças Armadas e dar ao Brasil uma posição de importância global como aliado dos Estados Unidos. O problema foi fazer os americanos pensarem o mesmo”, explica Letícia Pinheiro, professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. “No auge de seu esforço de guerra, os Aliados não queriam um parceiro que precisava ser vestido, alimentado, treinado e municiado, como o Brasil, e tentou-se desestimular as pretensões brasileiras. Mas o governo de Vargas insistiu no envio de uma força expedicionária para melhorar sua posição internacional na mesa de negociações do pós-guerra”, afirma o historiador Francisco César Ferraz, professor da Universidade Estadual de Londrina. As Forças Armadas, porém, não estavam preparadas para organizar uma expedição e os poucos oficiais com experiência de combate tinham lutado pela última vez em 1932. “A instrução do Exército era baseada na doutrina militar francesa de 1914, já ultrapassada, uma abordagem científica da guerra que, na Itália, se chocaria com uma realidade de incertezas, de necessidade de improvisação e de rápida tomada de decisões pelos oficiais”, diz Campiani.
“Tinha-se a percepção de que a fanfarronice encenada em campanhas nas coxilhas ou nos tiroteios contra estudantes paulistas destreinados seria suficiente para enfrentar o Exército alemão.” No ataque a Monte Castelo, por exemplo, o comandante brasileiro, general Zenóbio da Costa, dispensou o ataque prévio da artilharia sobre posições alemães dizendo: “Não precisa! Os meus meninos tomam aquela m. no grito!” (Como citado por César em seu livro, Barbudos, sujos e fatigados). “Quando os jovens foram convocados para a guerra, inaugurou-se uma nova organização para o Exército: a de cidadãos que eram convertidos em soldados para lutar pela pátria”, observa Ferraz. Mas não foi fácil. Os convocados depararam com a tradição francesa dos militares brasileiros. “Os oficiais eram muito ríspidos com seus subordinados e os praças recebiam prisões disciplinares pelos motivos mais insignificantes. A alimentação era de péssima qualidade e os uniformes vistosos dos oficiais contrastavam com o fardamento dos soldados, feitos de tecido barato que se rasgava com facilidade”, afirma Ferraz. Além disso, legiões de conscritos das classes mais altas logo trataram de arrumar “pistolões” que lhes garantissem a exclusão da FEB. O mesmo valeu para uma quantidade considerável de oficiais do Exército regular, que arrumaram meios escusos de fugir da obrigação. Para piorar, o exame de saúde seletivo era precário e, em muitos casos, deixou no Brasil convocados em condições de saúde satisfatórias para levar outros com problemas graves, que precisaram ser revolvidos da Itália em meio ao combate. Há mesmo o caso de um tenente que foi à guerra com olho de vidro. O principal motivo de exclusão, no entanto, era “dentadura insuficiente”.
Subnutrido - Mas não se sustenta o mito do “pracinha subnutrido”. “A FEB tinha mais a feição das colônias de imigrantes do Sul, dos bairros cariocas e paulistas e das cidades mineiras do que as alegorias cantadas pelos correspondentes que criaram a ideia de que ‘caboclinhos franzinos e cheios de ginga’ seriam, por natureza, superiores aos obtusos Übermenschen tedescos”, observa César. “Poucos soldados, porém, faziam ideia dos motivos que os haviam levado a combater alemães, o que preocupava os comandos pela ausência de motivação adequada de luta”, diz o pesquisador. A favor dos pracinhas foi a exigência americana de se adotar a doutrina de combate do Exército americano pela FEB, apesar de os manuais de instrução terem chegado em inglês. Os resultados futuros, no entanto, seriam positivos. “Para os soldados incorporados às forças aliadas, na Itália, a interação com combatentes americanos trouxe uma mudança drástica de atitude. Pela primeira vez soldados brasileiros estavam recebendo o mesmo tratamento de seus superiores, ao contrário da rígida disciplina das casernas nacionais. Não há veterano da FEB que não tenha ficado impressionado com a atenção que os americanos dispensavam aos convocados”, afirma César. Na guerra, a enorme variedade de equipamento disponível para a FEB incomodou muitos oficiais brasileiros que não podiam conceber a distribuição de artigos de qualidade superior para praças. Isso explicaria a demora, muitas vezes fatal, na distribuição para os pracinhas dos uniformes de inverno, que ficaram guardados nos armazéns militares quando eram fundamentais para suportar as temperaturas de 25 graus negativos. Depois a história oficial decidiu propagar a versão do “jogo de cintura” brasileiro: ao contrário dos americanos, os expedicionários não seriam soldados dependentes de bugigangas tecnológicas para derrotar o inverno, bastando-lhes a “criatividade intrínseca aos brasileiros”, nota César.
Autocrático - “O contato com os cidadãos-soldados de outros países e as necessidades da guerra mostraram aos expedicionários um novo modelo de exército, menos autocrático, uma cultura militar diferente da vivenciada no ‘Exército de Caxias’, no qual a superioridade hierárquica e suas emanações resultavam da tiranização dos praças às vontades e ordens nem sempre confiáveis dos oficiais”, nota Ferraz. Surgia o “Exército da FEB”. Uma de suas marcas era não segregar racialmente seus soldados, o que não significava a ausência de racismo individual. “A irrestrita camaradagem entre brasileiros de diversas etnias chamou a atenção de correspondentes dos jornais americanos que eram ligados aos movimentos dos direitos civis. Havia nos EUA a chamada campanha do double V, a vitória no front da guerra e no dos direitos civis em casa. Já que soldados negros estavam arriscando suas vidas em combates, a campanha pregava ser inadmissível que eles não desfrutassem de direitos de cidadania em seu país”, observa César. Um jornalista americano, fascinado ao avistar brasileiros, brancos e negros, juntos num café, pediu a um grupo de pracinhas que definisse o seu Exército. “Só existe um Exército brasileiro e ele é composto de brasileiros”, foi a resposta. Num encontro entre soldados brasileiros e americanos, os últimos perguntaram aos febianos se os “negri brasiliani sono buoni”. O brasileiro respondeu que eram todos excelentes companheiros, ao que os americanos retrucaram: “Negri americani non buoni”. “Nada chocou mais os soldados brasileiros do que essas mostras de racismo. É certo que as notícias sobre a FEB revigoraram o questionamento do sistema de segregação da sociedade americana e deram um impulso adicional ao movimento negro dos EUA”, diz César. Antes de um desfile de tropas, Zenóbio da Costa teria emitido uma determinação de isolar ou retirar os expedicionários negros das colunas, ordem que foi amplamente ignorada pelos oficiais da FEB.
O “Exército da FEB”, por todas essas razões, não agradava aos líderes do “Exército de Caxias”, que fizeram procedimentos de desmobilização apressados no retorno ao Brasil com o término da guerra. A imprensa propagava a FEB como símbolo das “tropas de democracia”, criando assim grande expectativa para o retorno dos expedicionários. “Durante muito tempo acreditou-se que Vargas temia a volta dos soldados, que poderiam apressar o fim do seu regime. Mas as maiores desconfianças partiram das principais autoridades militares brasileiras, os generais Dutra e Goes Monteiro, e de setores políticos que teriam a perder com a livre expressão política dos febianos”, fala Ferraz. Foi estabelecido um prazo limite de oito dias para o uso de uniformes da FEB e os pracinhas foram proibidos, ainda na Itália, de emitir comentários sobre a guerra sem autorização do Ministério da Guerra.
Liberal - “Havia temores políticos: a ameaça que representava para o ‘Exército de Caxias’ esse novo tipo de força militar, mais profissional, liberal e democrático; o medo de que os oficiais febianos pudessem se tornar o fiel da balança político-eleitoral e fossem cooptados pelos comunistas; acima de tudo, temia-se que os expedicionários, entre os quais Vargas tinha grande popularidade, pudessem apoiá-lo e empolgar a população para soluções diferentes daquelas do pacto conservador das elites políticas para a sucessão de Vargas”, explica Ferraz. Um exemplo desse medo foi o veto à distribuição de medalhas para todos os soldados pelos americanos. Afinal, poderia ser “fonte de vexação” para os militares de carreira que haviam ficado no Brasil e teriam que medir forças políticas e profissionais com militares moldados em combate. “Havia uma flagrante má vontade para com a FEB por autoridade do governo e muitos militares temiam ser preteridos nas futuras promoções da carreira pelos oficiais e praças expedicionários que podiam exibir experiência de guerra”, diz Ferraz.
Muitos febianos viram, com amargura, que essa experiência, única na América do Sul, não iria ser aproveitada para moldar um novo Exército, sendo, em vez disso, destacados para guarnições distantes. O grosso do contingente ainda deparou com o desemprego, pois muitos patrões, obrigados a readmitir seus empregados mobilizados, logo os demitiam alegando desajuste, neuroses ou incompetência profissional. “As dificuldades de conseguir um emprego foram potencializadas pelo fato de a maior parte dos expedicionários ter sido recrutada na idade de aprendizagem de uma profissão”, lembra Ferraz. Os veteranos não conseguiam tampouco entender por que eram proibidos de falar sobre suas experiências de combate para civis e para a imprensa. “Era preciso passar a impressão de que fora a sua formação, não o duro aprendizado dos combates, que possibilitou aos brasileiros vencer um inimigo forte, uma questão de prestígio numa sociedade em que o Exército era o principal ator político. Os militares não podiam admitir limitações e falhas”, observa Ferraz. Sem poder de barganha com autoridades do governo, muitas das quais eram oficiais graduados durante a ditadura militar e haviam fugido à convocação à guerra, os veteranos se calaram para poder sobreviver. Por uma confusão ideológica, ironia do destino, a imagem dos ex-combatentes foi associada aos militares golpistas, o que questionou ainda mais a memória da FEB. “Apenas em 1988, com a nova Constituição, os veteranos conquistaram o direito de uma pensão especial. Mas, dos 25 mil, pouco menos de 10 mil estavam vivos quando o reconhecimento foi aprovado”, diz Ferraz. A pergunta “você sabe de onde eu venho?”, da Canção do expedicionário, teima em ficar sem resposta.
Lamentável.
Abraços,
Wesley
As três principais pragas que até hoje imperam neste país (entre outras...): canalhice, inveja e medo da competência...
Wingate
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Qui Ago 09, 2012 1:03 pm
por Wingate
Cinejornal norte-americano de 1943 exaltando a entrada do Brasil, do lado aliado, na Segunda Guerra Mundial:
Wingate
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Qui Ago 09, 2012 1:46 pm
por WalterGaudério
UM velho gaudério lá de Cruzeiro do Sul-RS, meu avô, até o fim dos seus dias a poucos anos atrás, contava revoltado a história dos abrigos de inverno...
Saudades de ti Waldmar "waldi" Suddensk!!! meu herói eterno.
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Qua Ago 29, 2012 6:41 pm
por rodrigo
Especial 70 anos, do Estado de SP, muita informação:
Fazendo caixa: governo do RJ quer vender prédio que abriga Casa da FEB.
A guerra da memória.
Tiago Rogero - Coluna do Ancelmo Gois - O Globo, 05 de maio de 2015.
O ex-combatente Israel Rosenthal.
Enquanto o mundo se enfeita para comemorar os 70 anos do fim da Segunda Guerra, no Brasil, a memória dos nossos pracinhas está sendo relegada. Inaugurada em 1976 na Rua das Marrecas, 35, no Centro, a Casa da FEB (Força Expedicionária Brasileira), entidade de assistência aos ex-combatentes, vive um impasse. Lá dentro, no museu gratuito, está parte da memória de 25 mil brasileiros que, entre 1943 e o fim da Guerra, em 1945, lutaram na Itália contra o exército alemão.
Para fazer caixa, o governo do Rio quer vender o prédio. Há duas semanas, enviou a conta dos “aluguéis não pagos”: R$ 1,6 milhão. A entidade, hoje, se sustenta só com a cobrança de mensalidade, a R$ 26, de seus 400 associados. Já foram 10 mil. “O prédio nos foi cedido pelo então governador Carlos Lacerda”, lembra o tenente Israel Rosenthal, 94 anos, um dos cerca de 100 associados iniciais ainda vivos.
A Casa da FEB tenta agora, na Justiça, manter sua sede.
A coluna conversou com Patrícia Ribeiro, professora de História e autora da tese de doutorado “Em luto e luta: construindo a memória da FEB", pela FGV.
Apesar de vitoriosos, por que os pracinhas foram postos de lado?
Embora tenham sido recebidos com desfile, no Brasil, logo depois eles foram rejeitados pelo governo e até pelo Exército. Getúlio Vargas temia novos líderes militares e o Exército não tinha o que fazer com essa quantidade de pessoas. Então, eles foram desmobilizados de forma traumática. Só os oficiais continuaram nos quadros. E, com isso, os que mais sofreram foram justamente os que mais precisavam — os praças —, pela condição social não muito privilegiada.
Por que foi “traumático”?
Recebidos como heróis, eles foram depois esquecidos pela sociedade. Alguns viraram alcoólatras, outros tiveram traumas sérios com o que viram. Desamparados pelo poder público, eles criaram a Casa da FEB. A Itália valoriza muito mais a FEB que o Brasil. Lá, há até pontos turísticos por onde passaram os brasileiros, cantam seus hinos nas escolas. Agora, com a morte da maioria deles, quem vai cuidar dessa memória? Quem vai manter isso vivo?
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Ter Mai 05, 2015 9:56 am
por Wingate
Clermont escreveu:Fazendo caixa: governo do RJ quer vender prédio que abriga Casa da FEB.
A guerra da memória.
Tiago Rogero - Coluna do Ancelmo Gois - O Globo, 05 de maio de 2015.
O ex-combatente Israel Rosenthal.
Enquanto o mundo se enfeita para comemorar os 70 anos do fim da Segunda Guerra, no Brasil, a memória dos nossos pracinhas está sendo relegada. Inaugurada em 1976 na Rua das Marrecas, 35, no Centro, a Casa da FEB (Força Expedicionária Brasileira), entidade de assistência aos ex-combatentes, vive um impasse. Lá dentro, no museu gratuito, está parte da memória de 25 mil brasileiros que, entre 1943 e o fim da Guerra, em 1945, lutaram na Itália contra o exército alemão.
Para fazer caixa, o governo do Rio quer vender o prédio. Há duas semanas, enviou a conta dos “aluguéis não pagos”: R$ 1,6 milhão. A entidade, hoje, se sustenta só com a cobrança de mensalidade, a R$ 26, de seus 400 associados. Já foram 10 mil. “O prédio nos foi cedido pelo então governador Carlos Lacerda”, lembra o tenente Israel Rosenthal, 94 anos, um dos cerca de 100 associados iniciais ainda vivos.
A Casa da FEB tenta agora, na Justiça, manter sua sede.
A coluna conversou com Patrícia Ribeiro, professora de História e autora da tese de doutorado “Em luto e luta: construindo a memória da FEB", pela FGV.
Apesar de vitoriosos, por que os pracinhas foram postos de lado?
Embora tenham sido recebidos com desfile, no Brasil, logo depois eles foram rejeitados pelo governo e até pelo Exército. Getúlio Vargas temia novos líderes militares e o Exército não tinha o que fazer com essa quantidade de pessoas. Então, eles foram desmobilizados de forma traumática. Só os oficiais continuaram nos quadros. E, com isso, os que mais sofreram foram justamente os que mais precisavam — os praças —, pela condição social não muito privilegiada.
Por que foi “traumático”?
Recebidos como heróis, eles foram depois esquecidos pela sociedade. Alguns viraram alcoólatras, outros tiveram traumas sérios com o que viram. Desamparados pelo poder público, eles criaram a Casa da FEB. A Itália valoriza muito mais a FEB que o Brasil. Lá, há até pontos turísticos por onde passaram os brasileiros, cantam seus hinos nas escolas. Agora, com a morte da maioria deles, quem vai cuidar dessa memória? Quem vai manter isso vivo?
Pouco a pouco, vão sendo apagados da memória...só falta erradicar os livros e filmes sobre a FEB para eliminá-la definitivamente da história brasileira.
O pior é que merecemos tudo isso pelas nossas escolhas...
Wingate
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Qua Mai 13, 2015 3:00 pm
por Paisano
A música abaixo fala sobre esses três pracinhas da FEB:
Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira
Enviado: Sex Jul 03, 2015 9:15 am
por Clermont
Livro Revela Descaso do Brasil com Militares Feridos na Segunda Guerra.
Marina Lemle - Blog de HCS-Manguinhos/Blog do Montedo.com, 03.07.15.
Episódio obscuro da história, a internação de cerca de 250 pacientes brasileiros em hospitais dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial vem à tona por meio do historiador Dennison de Oliveira, que acaba de lançar pela editora Juruá o livro Aliança Brasil-EUA – Nova História do Brasil na Segunda Guerra Mundial. O capítulo “Pacientes brasileiros internados nos EUA” trata do que o autor considera uma das faces mais trágicas da documentação a que teve acesso nos Arquivos Nacionais dos EUA em Maryland. Negligenciados pelo governo do Brasil, os feridos de guerra brasileiros recebiam daquele país resgate e atenção médica.
“Sabe-se que começa nesse momento uma das etapas mais importantes do processo de reintegração social do ex-combatente, que é sua recuperação e reabilitação motora e/ou sensorial. É lamentável que essa etapa tenha sido conduzida de forma tão inadequada e mesmo desrespeitosa para com aqueles que sacrificaram em prol da pátria sua saúde e felicidade no exercício do serviço militar em tempo de guerra”, afirma Oliveira. Em entrevista ao blog de HCS-Manguinhos, ele conta como foi o trabalho de pesquisa e o que descobriu.
- Sabe-se quantos brasileiros foram levados para tratamento nos EUA na Segunda Guerra?
O que dispomos, ainda hoje, são estimativas. Numa anotação rascunhada, anexa à História da Força Expedicionária Brasileira que o comando do Exército dos EUA no Brasil redigiu ao final da guerra, lê-se que teriam sido 776 os pacientes brasileiros evacuados da Itália para o Brasil, dos quais “pequeno número” teria antes passado por hospitais militares dos Estados Unidos. Com base nas pesquisas que realizei nos Arquivos Nacionais estadunidenses em setembro de 2014, estimo que cerca de 250 pacientes brasileiros foram internados em diferentes hospitais mantidos pelas forças armadas dos EUA naquele país durante a Segunda Guerra Mundial.
- Onde eles foram resgatados?
Uma vez removidos dos hospitais militares por toda frente de batalha da Campanha da Itália, seguiam para o porto de Nápoles. De lá eram embarcados em navios-hospitais até os EUA, onde eram internados em três diferentes hospitais militares, especializados respectivamente em doenças psiquiátricas, fraturas e amputações.
- Por que foram levados para os EUA e não para o Brasil?
Os pacientes removidos para os EUA eram os casos mais sérios que demandavam tratamento especializado, àquela época não disponível no Brasil. Os termos e condições que deveriam presidir a escolha dos pacientes a serem removidos para os EUA, a maneira pela qual seriam tratados, quando e de que forma deveriam ser repatriados jamais foram formalmente acordadas entre as autoridades do Brasil e dos EUA. Estas questões de importância fundamental para a saúde, o futuro e a felicidade dos veteranos de guerra brasileiros deveriam ter sido formalizadas numa resolução a ser emitida pela Comissão Conjunta de Defesa Brasil-EUA, com sede em Washington. Esta comissão e sua congênere no Brasil, a Comissão Militar Conjunta Brasil-EUA, com sede no Rio de Janeiro, foram tema de meu projeto de pesquisa de pós-doutorado, que motivou viagem de estudos aos EUA. No decorrer da pesquisa ficou claro que jamais foi assinado tal acordo, dando, na prática, carta branca às autoridades militares dos EUA para decidirem a respeito do destino dos pacientes brasileiros, incluindo se deveriam ou não seguir para tratamento naquele país. Em contraste, já em 1942 as autoridades militares dos EUA formalizaram, através de uma resolução baixada pela comissão em Washington, a forma pela qual funcionariam as enfermarias e hospitais de campanha que haviam instalado em cidades brasileiras como Natal, Belém e Recife. Esses estabelecimentos médicos destinavam-se a atender feridos e doentes estadunidenses, tanto oriundos do pessoal militar que trabalhava nas bases aéreas e navais mantidas pelos EUA no Brasil, quanto das tripulações de aeronaves que faziam a ponte aérea com a África, uma ligação de importância vital para a logística dos países Aliados então em luta contra as potências do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial.
- Qual foi a postura das autoridades brasileiras em relação aos pacientes internados nos EUA?
A lista de irresponsabilidades, descasos e omissões é tão grande que seria mais fácil falar o que o Brasil fez pelos seus ex-combatentes internados em hospitais dos EUA: quase nada. Veteranos de guerra de ambos os sexos (combatentes e enfermeiras) demandando internamento hospitalar começaram a chegar aos EUA no final de 1944 pegando de surpresa os membros brasileiros da comissão em Washington que, inicialmente, nada podiam fazer por eles. Todos os pacientes careciam de roupas íntimas, uniformes, intérpretes, médicos e enfermeiras brasileiros, próteses e membros artificiais permanentes e soldos para pagarem pequenas despesas.
Com muito custo e depois de um tempo considerável conseguiu-se do Ministério da Guerra no Brasil o atendimento, tardio e parcial, de algumas dessas demandas. A demora em enviar uniformes do Brasil para os internos em hospitais dos EUA significou que eles passariam todo o tempo vestindo pijamas. Isso os impedia de sair do hospital para participar dos passeios e visitas a locais de lazer que lhes eram oferecidos pela Cruz Vermelha estadunidense e certamente os expunha a sentimentos como vexame e tédio, além de ser fonte de ressentimento.
Também jamais foram-lhes enviadas as medalhas por terem se ferido em combate ou se distinguido em ações de guerra, e nem mesmo os distintivos nacionais que teriam sido importantes para elevar seu moral. Os poucos membros brasileiros da comissão conjunta em Washington se esforçavam em visitar seus compatriotas internados, mas parece claro que sua atuação como intérpretes foi claramente insuficiente. Só a muito custo se conseguiu o envio do Brasil de médicos para fazer a triagem de pacientes para os hospitais dos EUA e para acompanhá-los de volta ao Brasil. As enfermeiras jamais foram enviadas, apesar dos repetidos protestos contra a má atuação dos enfermeiros brasileiros no trato com os internados. A situação nesse aspecto era tão ruim que a enfermeira Heloisa Villar, internada num hospital dos EUA para se recuperar de doença adquirida em campanha, resolveu voluntariamente permanecer nos EUA para ajudar a atender os pacientes brasileiros após receber alta.
A questão dos soldos também foi fonte de problemas, sendo pagos tardiamente, impedindo durante muito tempo os pacientes de realizarem pequenas despesas do seu interesse. Nesse aspecto quem mais sofreu foram os subtenentes brasileiros. Deles eram cobradas diárias nos navios hospitais dos EUA com se fossem oficiais, prática adotada na hierarquia militar dos EUA. Contudo, de acordo com a hierarquia brasileira, eles deveriam receber vencimentos correspondentes aos soldos pagos aos praças, o que certamente representou mais uma fonte de conflito para as autoridades militares do Brasil resolverem nos EUA.
Mas nada se compara à angústia pela qual passaram os mutilados de guerra, que dependiam de próteses e membros artificiais para suas atividades diárias. Não havia garantias de que o governo brasileiro iria pagar por isso quando deixassem os hospitais dos EUA de volta ao Brasil. A própria volta ao Brasil não foi garantida pelo governo Vargas. Muitos meses após o fim da Segunda Guerra Mundial ainda haviam dezenas de pacientes brasileiros obrigados a viver como exilados em hospitais dos EUA, face à indiferença do governo para com o seu destino. Foi somente apelando por carta diretamente à filha de Vargas que os últimos sessenta internos brasileiros conseguiram afinal voltar à pátria em fins de 1945.
- Como os EUA lidaram com a situação?
Na ausência de qualquer acordo formal, as autoridades estadunidenses se esforçaram em oferecer aos pacientes brasileiros rigorosamente o mesmo tratamento que dedicavam aos seus próprios internados.
Aliás, se não fosse pela atenção e cuidado que dedicaram aos brasileiros, provavelmente todos eles teriam morrido de frio. É um alívio, mas também um constrangimento, constatar na documentação pesquisada o cuidado que as autoridades dos EUA no Recife dedicaram aos enfermeiros brasileiros em trânsito para hospitais daquele país. Percebendo que os uniformes brasileiros eram claramente insuficientes para suportar o inverno em Nova York, se apressaram em retirar dos seus próprios estoques as roupas e agasalhos que foram fornecidos ao pessoal médico. Como resultado, médicos, enfermeiros e pacientes brasileiros nos EUA ficaram a maior parte do tempo usando fardamentos do exército norte-americano, o que certamente foi mais uma fonte de vexames e conflitos para todos eles.
Autoridades de Washington comunicavam aos seus colegas brasileiros as necessidades dos compatriotas feridos e doentes em diversos hospitais dos EUA. Estes, por sua vez, apelavam ao Ministério da Guerra para verem atendidas pelo menos as necessidades mais essenciais dos internados, obtendo nessa missão sucesso apenas relativo. Não cabe dúvida sobre nossa dívida de gratidão para com as autoridades dos EUA nessa questão. Se tivessem se mostrado indiferentes, nossos doentes e feridos de guerra teriam sofrido ainda mais, de forma cruel e desnecessária.
- Qual a importância desse episódio no contexto do livro?
O que se pode concluir das evidências colhidas pela pesquisa que deu origem a esse livro é que o entendimento da história dos veteranos e veteranas de guerra da FEB em seu processo de reinserção social começa no tratamento que receberam nos hospitais militares estadunidenses durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Do grau de sucesso desse tratamento é que se entende o maior ou menor êxito do processo de reintegração social desses ex-combatentes na vida civil no pós-guerra. Esse episódio tem também muito a nos ensinar sobre a história das relações internacionais militares do Exército Brasileiro. É de se esperar que, no futuro, mais eventos, episódios e personagens envolvidos com o tema se tornem objeto de pesquisa dos historiadores.