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Mensagem
por FCarvalho » Sáb Mai 18, 2024 7:56 pm
O projeto HX-BR já devia estar terminado há anos atrás. Um HX-BR2, e até o HX-BR3 3 deveriam, também, já ter sido encaminhados, ainda que a contra gosto de muitos aqui e nas ffaa's. Mas, fato é que o projeto ficou a deriva ao longo dos últimos 16 anos e acabamos metendo os pés pelas mãos. Como era de se esperar, um projeto feito a troco de caixa e com nuances políticas evidentes e nenhum tipo de planejamento estratégico ou visão de longo prazo foi pensado na assinatura da compra dos H225M.
Contudo, bem ou mal eles estão aí, contam com mais de 10 mil horas voadas sem maiores problemas, e angariando a simpatia de muitos dentro e fora das ffaa's; e mesmo custando o olho da cara para o minguado orçamento da Defesa no Brasil, ele tem se provado continuamente com uma decisão acertada em termos de investimento na renovação da frota de helos militares no Brasil.
Só para lembrar, a MB foi a única das três forças que chegou a emitir ordinariamente a quantidade de helos pretendidos ao longo dos anos no PEAMB, que era de 66 unidades. FAB e EB jamais fizeram isso, ficando apenas nas discussões internas de conveniência, que no caso da FAB, se traduziu na compra por oportunidade dos BH modelo L, e na Avex pela compra, mais que atrasada, dos BH modelo M em substituição aos BH modelo A e Cougar francês. A MB, embora no planejamento também deseje comprar mais Sea Hawks, esta questão nunca foi um impeditivo para novas aquisições dos helos franceses, ao contrário, eram e ainda são complementares.
A estrutura hoje que abriga a frota de helos militares ainda é um resquício de como ela foi gerada ao longo da segunda metade do século XX, tendo como princípio básico suportar o apoio às atividades de GU e comandos de área e, principalmente, apoiar as (muitas) atividades subsidiárias, sempre recorrentes em suas áreas de responsabilidade. Fato é que esta estrutura hoje tem se provado incapaz não apenas de dar cabo de todas as demandas militares que lhes chegam, como as crescentes e inegáveis solicitações de apoio a atividades de governo que absolutamente não tem nada a ver com sua função primária, de modo que as OM de helos no Brasil, assim como outras organizações militares, passa por uma situação hoje em que o dito popular que diz sobre uma "escolha de Sofia", mais do que nunca faz mais que sentido.
A falta de planejamento de Estado é característica - diria cultural - da natureza das ações governamentais em relação à Defesa no Brasil. Isto é inegável. Porém, a nossa omissão e falta de vontade está gerando um preço muito alto a pagar ao país e à sociedade, ainda que esta seja incapaz de cobrar das autoridades públicas investimentos que, na sua visão, passam ao largo dos seus interesses imediatos e da labuta cotidiana. Porém, uma das funções primárias do Estado é ser capaz de ir além dos limites que a sociedade se impõe ou lhes é imposto pela falta de capacidade e\ou competência para pensar além do próprio interesses pequenos do dia a dia. E se não faz isso, então está irremediavelmente condenado a se desfazer em algum momento da sua história. E os exemplos não são poucos deste tipo de auto aniquilação social, política e econômica.
Urge que se faça uma revisão muito séria das capacidades\competências das forças de helos militares no Brasil. A sofreguidão com que o poder público e político levam as questões de Defesa ao longo dos anos, e décadas, tornam as respostas para sua resolução cada vez mais inviáveis sobre todos os aspectos. E improvisar, em uma guerra, é dos últimos recursos. Na verdade, é a resposta dos Estados irresponsáveis e omissos, e que prevê sua derrota em não pouco tempo, dado sua leniência consigo mesmo e com seu povo.
As alagações no RS, a seca no nordeste e no norte, as chuvas no sudeste, e muito mais situações recorrentes todos os anos em todo o país só provam o quão irresponsáveis nós somos, e a iniquidade da poder público e político em lidar com os reais interesses da sociedade, que corrupta, passional e passiva, olha apenas para seu próprio umbigo na hora do voto, e espera sentado que as coisas se resolvam por si mesmas, como se delas não tivesse participação ou responsabilidade.
Jogar tudo nas costas dos políticos, dos governos e do Estado é das práticas mais naturais que o brasileiro tem. E acha tudo muito natural, desde que obtenha alguma vantagem com isso. Esse tipo de mesquinharia é típico da ética de Macunaíma que temos por aqui. E é graças a ela, também, que a Defesa do país, e de seus interesses, está sendo gestada hoje, e como sempre, a troco de pinga e ao bel prazer dos pequenos interesses pessoais de militares, políticos e quem mais entender tirar vantagem desta relação, ou da não relação entre estes dois campos do Estado brasileiro.
Triste sina a nossa de vermos tudo isso que vemos no sul do país sabendo que nada ou pouquíssima coisa será feita no sentido de mitigar ou resolver as questões fulcrais de contenção das chuvas torrenciais naquele estado. E pior, que defesa civil continuará sendo um assunto genérico e sem maior importância, agregada à já gigantesca falta de qualquer importância da defesa militar do país. Viva-se com isso. E bola pra frente que amanhã é dia de jogo no brasileirão...
Carpe Diem