Camaradas? porque camaradas? Só os esquerdistas fazem badernas?
As badernas foram provocadas por um grupo conhecido de jovens do bairro da Bela Vista em Setubal, Portugal, que por acaso, é exactamente a cidade onde eu vivo.
E eu sei muito bem o que digo.
Os mecanismos de exploração econômica são completamente independentes da dominação política, basta ver como a Inglaterra nos séculos XVI e XVII se beneficiava das riquezas que Portugal trazia de suas colônias ao redor do mundo sem ter o verdadeiro domínio político sobre elas. Ou o enorme enriquecimento dos EUA, entre e após às duas guerras mundiais, mesmo sem possuir colônias oficiais. O importante era o fluxo de riqueza, com os países "explorados" produzindo bens primários por preços baratos, que depois de transformados nos países centrais voltavam a ser redistribuídos pelo mundo a preços muito mais elevados, com altíssimas margens de lucro. Por isso estes mecanismos não desapareceram com a descolonização em si, mas estão terminando apenas agora, com a forte industrialização dos países asiáticos, a razoável industrialização de diversos outros países (Brasil, Turquia, Irã, México, etc...) e a redução da disparidade na proporção dos valores entre os produtos primários e os industrializados.
A argumentação procede parcialmente.
No século XVI e XVII, Portugal não tinha especiais relações com a Inglaterra.
De qualquer forma, o seu raciocinio esqueceu o principal factor que está a causar problemas: A DESLOCALIZAÇÃO.
As industrias europeias continuam a comprar materias baratas dos países do antigo terceiro mundo, mas essencialmente estão na prática a comprar mão de obra barata desses mesmos países.
O reduzido custo da mão de obra dos países em desenvolvimento, levou a um processo de fecho de fábricas na Europa e nos Estados Unidos que levou ao aumento do desemprego na industria e a uma exagerada tercearizaçao da economia.
Sem industrias ou com industrias com margens espalmadas, os capitais passaram-se para a especulação em vez de apoiarem o desenvolvimento industrial.
Os sistemas de protecção social, segurança social e saúde dos países europeus são os mais caros do mundo, mas cada vez há menos impostos para os suportar.
Portugal é um exemplo disso.
Ao contrário dos gregos, os portugueses ainda investiram em sistemas de saúde que funcionam (o Serviço Nacional de Saúde em Portugal, é algo com que nenhum grego se atreve a sonhar).
Mas a verdade é que nós temos um serviço nacional de saúde que com todas as suas deficiências, envergonha muito país dito rico, mas pedimos dinheiro emprestado para o fazer funcionar.
Isto acontece, porque as fábricas onde deveriam estar empregados os portugueses que pagariam impostos para sustentar o sistema, estão neste momento na China.
Temos portanto um problema com a globalização.
Portugal aderiu à União Europeia para vender produtos de tecnologia intermédia mas esses produtos agora são feitos na China. Para resolver o problema mandam-nos converter um país que em 1960 era essencialmente agricola para se transformar numa geração, num país que produza computadores, que se especialize em biotecnologias robótica e informática.
Por muito bons que sejamos não temos tempo para isso.
Esta questão, não tem nada a ver com ciclos imperiais, com colónias ou com conceitos mais ou menos ultrapassados e que já não se aplicam.
O Reino Unido perdeu as colónias nos anos 50 e entrou em crise. Essa crise durou até aos anos 80, altura em que chegou a ser ultrapassado por países como a Itália. Depois disso, o Reino unido recuperou espetacularmente sem colónias e sem mercados reservados.
A Alemanha nunca teve colónias para explorar (não teve tempo) e recuperou da II guerra mundial para se tornar na primeira potência europeia. O Japão, voltou a erguer-se sem ter mercados reservados, colónias para exportar os produtos manufacturados e colonias para fornecerem matérias primas.
A ideia de que o fim do ciclo imperial produziria esses resultados, podia aplicar-se ainda nos anos 70, mas passaram 40 anos desde essa altura de crise. O mundo mudou e a questão hoje é outra completamente diferente.
O problema gira a volta do controlo do mundo pelos asiáticos e a sua expressão máxima é a diferença dos custos de um dos factores de produção: O trabalho.