Bolovo escreveu:Pois bem, Luís, nisso eu concordo com você. Mas que países tem condição de levar uma guerra até o seu fim hoje em dia? Os EUA, a UE inteira e provavelmente a URSS nos tempos de Guerra Fria (a Rússia hoje não). Nossos conflitos aqui na América do Sul seriam aqueles fronteiriços que em duas semanas ninguém teria nem mais bala de canhão para atirar, daí iriam para um cessar-fogo pela falta de recursos. Foi assim na Guerra do Cenepa, em 1995. Luís, o que eu quero dizer é o seguinte, não adianta NADA ter uma Mectron se hoje não temos nem 50 MAA-1 operacionais, não adianta NADA ter uma Avibrás, se não temos nenhum blindado de lá, não adianta NADA ter uma Embraer se o avião mais poderoso dela é um pacato AMX que tem 20% de disponibilidade. O equipamento que os EUA usaram na Invasão de 2001 ao Afeganistão eles já tinham ou produziram toda na hora? Entendeu meu ponto de vista? :wink:
Olá Bolovo,
Minha opinião é que este deveria ser justamente o diferencial do Brasil com relação pelo menos aos nossos vizinhos da América do Sul. Praticamente todos eles realmente não teriam condições de manter uma guerra por muito tempo, e aconteceria exatamente o que você disse.
Mas com o Brasil não precisaria ser assim. Nós tempos os recursos materiais (incluindo populacional) e financeiros, bem como a infra-estrutura industrial, que nos permitiriam caso tivéssemos uma doutrina militar bem delineada a manutensão de uma guerra por tempo ilimitado, e esta deveria ser a base de nossa capacidade dissuasória no continente.
Não digo que podemos (nem mesmo que devemos) produzir absolutamente todos os ítems do arsenal bélico moderno, mas deveríamos sim possuir um estoque adequado dos ítens mais difíceis (por serem sofisticados ou caros), e a capacidade de produzir os que necessitássemos para levar a guerra indefinidamente se desejássemos.
Por exemplo, não podemos construir localmente e com total independência um caça de última geração (quarta ou mesmo quinta) no estado da arte, como o SU-35 ou o EFA, e portanto precisamos comprá-los no mercado. Mas deveríamos atrelar a compra ao desenvolvimento local de um projeto menor e mais simples, utilizando componentes comuns que poderiam ser fabricados sob licença aqui (por exemplo os motores e a aviônica da cabine). Este avião nacional complementaria o mais sofisticado (cujos exemplares seriam reservados para as missões mais importantes), e em caso de necessidade poderia ser produzido em quantidades que desequilibrariam qualquer guerra em nosso continente.
Da mesma forma a defesa anti-aérea de área tanto de pontos estratégicos quanto da frota deveria contar com baterias de mísseis de longo alcance que poderiam ser importados (e um estoque razoável deveria ser sempre mantido em reserva), mas a defesa de curto e médio alcance poderia ser baseada em um míssil menor, produzido aqui (por exemplo uma versão do A-darter).
Como seria muito difícil, demorado e caro desenvolver do zero todos os ítens necessários, muita coisa poderia ser simplesmente produzida sob licenças, mas com projetos adaptados visando a produção local sem restrições (por exemplo viaturas blindadas de projeto importado, adaptadas para o uso de motores fabricados pela indústria brasileira e com armamento produzido sob licença).
Com o PIB e a carga de impostos de nosso país, é até absurdo argumentar que faltaria dinheiro para manter quantidades razoáveis do material mais moderno possível (em quantidade similar ao que é mantido pelo Chile, o Peru ou a Venezuela por exemplo), e ainda produzir aqui mais a quantidade necessária de ítens mais viáveis, de forma a manter a capacidade industrial. Desta forma teríamos os dois lados contemplados, tanto o equipamento disponível para uso imediato no caso de guerras curtas quanto a capacidade de continuar a guerra pelo tempo que for necessário para esgotar qualquer rival em nossa região.
Agora se nosso governo e nossas FA's não se organizam de forma a permitir que isto aconteça, aí já é um outro debate.
Abraços,
Leandro G. Card