Planalto considera reduzidas as chances de Jobim ser demitido
Raymundo Costa e Fernando Exman
Auxiliares da presidente Dilma Rousseff disseram ontem ser improvável a demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, em razão da entrevista em que ele informa ter votado no adversário da presidente, José Serra, na disputa presidencial de 2010. A presidente, segundo essas autoridades, reprovou a fala, classificada no Palácio do Planalto como “infeliz”, bem como não tem gostado de outras manifestações do ministro, mas não pensa em demissão, o que lhe traria fama de antidemocrática.
A eventual demissão do ministro envolve interesses que a presidente Dilma Rousseff ainda avalia e sob os quais está formando opinião. São interesses que vão da tentativa revanchista de transformar a Comissão da Verdade num tribunal de julgamento a negócios bilionários na área de defesa que transcendem a compra dos novos caças da Força Aérea Brasileira (FAB), prevista para 2012.
Entre interlocutores da presidente e do ministro, essa é a única explicação visível para o noticiário recorrente sobre a queda de Jobim. É fato que os dois, ambos de temperamento forte, não tiveram bom início na transição. Hoje, no entanto, têm projetos sensíveis encaminhados.
Jobim, por exemplo, tem uma reunião marcada com o PSDB: quer apoio dos tucanos para aprovar no Congresso a criação da Comissão da Verdade nos termos em que ela foi negociada com as Forças Armadas. Pelo acordo, as famílias dos desaparecidos políticos terão acesso à memória do que ocorreu com seus parentes. Os militares que testemunharem, por seu turno, não poderão ser processados criminalmente, como quer parte da esquerda.
No que se refere aos contratos e acordos militares, o contencioso Brasil-EUA voltou a crescer. No próximo ano, o governo escolherá os caças para reequipar a aeronáutica. As chances do Super Hornet americano continuam pequenas, mas outros conflitos entraram em cena.
Brasil e Colômbia pretendem assinar um acordo militar, no próximo dia 4, para o patrulhamento de 50 quilômetros de cada lado da fronteira. O objetivo é o combate ao tráfico de drogas, de armas e aos crimes ambientes. Algo como já ocorre hoje com a Bolívia, por exemplo, e que posteriormente se pensa em estender à Venezuela. Mas somente as forças dos dois países participariam das ações: além dos militares, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e afins. Ou seja: não participariam forças externas aos países fronteiriços, o que poderia significar a retirada dos EUA da região, que mantêm bases e estreitas relações com a Colômbia. Além disso, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs) seriam avisadas.
O Brasil também decidiu reativar a base de Alcântara, no Maranhão, mas os americanos não estão incluídos no projeto. Recentemente, em Itaguaí, Dilma cortou a primeira chapa de aço do submarino nuclear – parceria brasileira com a França.
Os três comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e aeronáutica, além do chefe do Estado Maior Conjunto) apoiam a permanência de Jobim. Mas todos, inclusive Jobim, hoje consideram que sua declaração foi “desnecessária”, como disse o secretário-geral das Presidência, Gilberto Carvalho, e que esse é um assunto da presidente.
O que é considerado estranho, na Defesa, é que uma declaração feita há uma semana por Jobim continue sendo repercutida nos jornais. Frase, aliás, que ele já havia dito em outra ocasião. “Ninguém desconhece que o Jobim gosta de mandar, que ele é amigo do Serra, foi ministro do Lula e agora é um ministro leal a Dilma, como pode observar quem lê toda sua entrevista”, disse um interlocutor do ministro ao Valor.