Jornal da Câmara
:
OPINIÃO
Soberania nacional, educação, aviões e submarinos
De que adiantam bilhões de investimentos em equipamentos bélicos se forças estrangeiras
adentram o país pelos voos comerciais, instalam-se e adquirem nossas empresas em segmentos
estratégicos
Wilson Picler - deputado federal pelo PDT do Paraná e presidente da Frente Parlamentar em
Defesa da Soberania Nacional
A Soberania Nacional é uma condição primordial no Estado brasileiro. Fica evidenciada sua
importância ao ser o primeiro artigo na Constituição de 1988. Ela consiste na manifestação de um poder
legítimo e de um poder de direito acompanhados da capacidade de fazer valer tais condições.
Para assegurar um Estado soberano, nos tempos atuais, é necessário ir além de garantir a
defesa de nossas riquezas materiais, tais como o território e seus recursos naturais. É necessário
também proteger e assegurar a vitalidade de nossa economia, de seu inerente setor produtivo e de
nossa riqueza cultural.
A soberania já esteve em risco quando uma política cambial artificial esvaiu do país nossas
divisas monetárias a ponto de termos de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse passou,
então, a ditar regras e condutas para o governo brasileiro, aniquilando, naquele tempo, qualquer
sentimento de soberania.
O governo atual fez questão de saldar a dívida com aquela instituição, não porque era viável
monetariamente, mas porque era necessário para o resgate de nosso espírito de país soberano.
Reaparelhamento - Neste momento, o governo está investindo na Defesa com projetos de
reaparelhamento das Forças Armadas, em especial Marinha e Aeronáutica, com a compra de
submarinos convencionais, o desenvolvimento do submarino nuclear e a compra de novos aviões de
combate com forte apelo pela transferência de tecnologia às empresas brasileiras.
Mas de que adiantam bilhões de investimentos em equipamentos bélicos se forças estrangeiras
adentram o país pelos voos comerciais, desembarcam em nossos aeroportos, instalam-se e adquirem
nossas empresas em segmentos estratégicos, inclusive na área de educação, interferem em nossa
política utilizando-se de brasileiros prepostos de seus interesses?
Ensino privado - Atualmente, grupos internacionais, em especial os norte-americanos, estão
comprando nossas universidades privadas, com mais de 100 aquisições já concluídas. Nessas
aquisições, pagam em torno de R$ 5 mil por aluno. Cerca de 70% do ensino superior brasileiro é privado
com aproximadamente 3 milhões de estudantes.
Pode-se daí estimar que com R$ 15 bilhões, ou seja, algo em torno de 10 bilhões de dólares, o
capital estrangeiro poderia comprar todo o ensino superior privado do País, com valores hoje disponíveis
em muitos fundos internacionais de investimento.
Muitos acreditam que esses investimentos viriam para a educação, o que é mais um equívoco.
Eles vêm, na verdade, para adquirir o controle acionário do que já está implantado e em funcionamento,
consistindo apenas em valores para se transferir a responsabilidade de brasileiros para grupos
internacionais. E será, portanto, apenas esse montante o valor de nossa soberania na educação dos
filhos da Pátria caso não sejam tomadas providências legislativas para preservá-la também na área de
educação.
O mesmo poderá ocorrer com os submarinos e com os aviões se não forem adotadas medidas
restritivas e compensatórias para assegurar que as empresas que receberão a transferência de
tecnologia não sejam, no futuro, adquiridas e assimiladas pelo interesse estrangeiro, o que lançaria por
terra toda a estratégia de Defesa fundada nessa transferência, cuja discussão se arrasta por mais de
uma década.
Diante desse quadro, a Frente Parlamentar em Defesa da Soberania Nacional se propõe a
debater estes temas com o intuito de aprimorar nossa legislação para fortalecer a soberania do Brasil.