VENEZUELA
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Re: VENEZUELA
Futuro da Venezuela depende da China
08/04/2013 - 04h04
"A melhor homenagem que vamos fazer a nosso comandante Chávez é aprofundar as relações estratégicas com nossa amada China", disse na TV o presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, ao lado de uma delegação chinesa, horas depois do funeral do presidente esquerdista, em março.
O destino da Venezuela, independentemente de quem vença as eleições presidenciais do próximo domingo, está contratualmente amarrado à China, sua maior credora, pelo menos até 2020, pela assinatura de empréstimos em troca de petróleo.
Isso injetou na economia venezuelana ao menos US$ 36 bilhões (R$ 71 bilhões) entre 2008 e 2012, segundo o governo.
"É uma relação especial, com risco para os dois", diz Kevin Gallagher, da Universidade de Boston (EUA).
Ele liderou um estudo que mostra que, nos últimos sete anos, a Venezuela recebeu mais empréstimos da China que todos os demais países latinos somados --US$ 46,5 bilhões de um total de US$ 86 bilhões para a região inteira.
"É o país onde os chineses mais decidiram investir dinheiro no mundo", diz o consultor da área de petróleo Tom O'Donnell. "Mas agora eles estão mais realistas sobre como é fazer negócios na Venezuela. Se Maduro ganhar, vai ter que tomar medidas concretas para retomar a confiança dos chineses."
DIFICULDADES
Semanas antes da morte de Chávez, reportagens repetiam que os chineses estariam exigindo condições mais duras para renovar parcelas dos empréstimos, o que poderia ter impacto central sobre o caixa do governo.
Um executivo do Banco de Desenvolvimento da China, a maior entidade credora, disse à Bloomberg que os chineses estavam avaliando riscos após a morte de Chávez.
Dias antes, a Reuters noticiou dificuldades do governo venezuelano para receber US$ 4 bilhões de um repasse pré-acordado.
A Venezuela negou problemas, mas a combinação de promessas de maior envio de petróleo à China com números estagnados de produção petroleira no país adicionam contradições ao panorama.
Em pouco mais de cinco anos, a Venezuela multiplicou os envios de petróleo à China, ainda que haja divergência sobre os números.
Pelo dados de 2012 da PDVSA, foram 359 mil barris por dia (12% da produção). O governo promete elevar essa quantia a um milhão em 2015.
Há dois problemas: quanto mais petróleo envia à China como parte do pagamento de empréstimos, menos a PDVSA recebe em dinheiro vivo, complicando o fluxo de caixa da empresa, que aumentou em 35% a dívida com fornecedores em 2012.
O segundo é que a PDVSA não cumpriu nenhuma meta de produção desde 2006. O crescimento em barris retirados entre 2011 e 2012 foi de apenas 1,4%, alcançando 3,03 milhões de barris/dia.
A China está diretamente envolvida neste ponto, com a exploração em conjunto com a PDVSA do petróleo ultrapesado da faixa do Orinoco, a maior reserva de petróleo comprovada do mundo.
Num outro sinal da interdependência de longo prazo, os países constroem na costa sul chinesa uma refinaria com investimento avaliado em US$ 9,8 bilhões.
"A Venezuela não está mandando 'petróleo novo' para a China. Está desviando do mercado americano para lá. Por isso Pequim está preocupada. Se a produção não decolar, vão ter perdido investimento não só na Venezuela como na preparação do setor doméstico chinês para receber o petróleo pesado venezuelano", diz O'Donnell.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1258 ... hina.shtml
08/04/2013 - 04h04
"A melhor homenagem que vamos fazer a nosso comandante Chávez é aprofundar as relações estratégicas com nossa amada China", disse na TV o presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, ao lado de uma delegação chinesa, horas depois do funeral do presidente esquerdista, em março.
O destino da Venezuela, independentemente de quem vença as eleições presidenciais do próximo domingo, está contratualmente amarrado à China, sua maior credora, pelo menos até 2020, pela assinatura de empréstimos em troca de petróleo.
Isso injetou na economia venezuelana ao menos US$ 36 bilhões (R$ 71 bilhões) entre 2008 e 2012, segundo o governo.
"É uma relação especial, com risco para os dois", diz Kevin Gallagher, da Universidade de Boston (EUA).
Ele liderou um estudo que mostra que, nos últimos sete anos, a Venezuela recebeu mais empréstimos da China que todos os demais países latinos somados --US$ 46,5 bilhões de um total de US$ 86 bilhões para a região inteira.
"É o país onde os chineses mais decidiram investir dinheiro no mundo", diz o consultor da área de petróleo Tom O'Donnell. "Mas agora eles estão mais realistas sobre como é fazer negócios na Venezuela. Se Maduro ganhar, vai ter que tomar medidas concretas para retomar a confiança dos chineses."
DIFICULDADES
Semanas antes da morte de Chávez, reportagens repetiam que os chineses estariam exigindo condições mais duras para renovar parcelas dos empréstimos, o que poderia ter impacto central sobre o caixa do governo.
Um executivo do Banco de Desenvolvimento da China, a maior entidade credora, disse à Bloomberg que os chineses estavam avaliando riscos após a morte de Chávez.
Dias antes, a Reuters noticiou dificuldades do governo venezuelano para receber US$ 4 bilhões de um repasse pré-acordado.
A Venezuela negou problemas, mas a combinação de promessas de maior envio de petróleo à China com números estagnados de produção petroleira no país adicionam contradições ao panorama.
Em pouco mais de cinco anos, a Venezuela multiplicou os envios de petróleo à China, ainda que haja divergência sobre os números.
Pelo dados de 2012 da PDVSA, foram 359 mil barris por dia (12% da produção). O governo promete elevar essa quantia a um milhão em 2015.
Há dois problemas: quanto mais petróleo envia à China como parte do pagamento de empréstimos, menos a PDVSA recebe em dinheiro vivo, complicando o fluxo de caixa da empresa, que aumentou em 35% a dívida com fornecedores em 2012.
O segundo é que a PDVSA não cumpriu nenhuma meta de produção desde 2006. O crescimento em barris retirados entre 2011 e 2012 foi de apenas 1,4%, alcançando 3,03 milhões de barris/dia.
A China está diretamente envolvida neste ponto, com a exploração em conjunto com a PDVSA do petróleo ultrapesado da faixa do Orinoco, a maior reserva de petróleo comprovada do mundo.
Num outro sinal da interdependência de longo prazo, os países constroem na costa sul chinesa uma refinaria com investimento avaliado em US$ 9,8 bilhões.
"A Venezuela não está mandando 'petróleo novo' para a China. Está desviando do mercado americano para lá. Por isso Pequim está preocupada. Se a produção não decolar, vão ter perdido investimento não só na Venezuela como na preparação do setor doméstico chinês para receber o petróleo pesado venezuelano", diz O'Donnell.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1258 ... hina.shtml
"Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo."
Liev Tolstói
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Re: VENEZUELA
Lula é o nosso pai, diz 'herdeiro' de Hugo Chávez na Venezuela
07/04/2013 - 02h30
Herdeiro de Hugo Chávez diz que "direção coletiva" do chavismo está unida, defende Forças Armadas na política e afirma que TVs públicas têm que educar para a revolução.
Em campanha para a Presidência da Venezuela, ele diz que o país enfrenta uma 'guerra econômica' e que se inspira na 'ética' e na liderança de Lula.
Folha - Como será o chavismo sem Chávez, que era formulador, estrategista e porta-voz do governo?
Nicolás Maduro - O presidente Chávez fundou um movimento revolucionário e de massas na Venezuela. Deu a ele uma ideologia e uma Constituição. Nosso processo revolucionário está constitucionalizado. Ele nos dotou de um corpo de doutrinas e de princípios. Nos deixou um testamento político, o programa da pátria, com objetivos de curto, médio e longo prazos. E promoveu um nível de participação e de protagonismo das amplas maiorias como nunca se viu na história da Venezuela. Estamos preparados para seguir fazendo a revolução. Ele formou um povo. Nos formou para um projeto.
Mas 44% dos venezuelanos, que votaram na oposição nas eleições presidenciais de 2012, não estão de acordo com esse projeto. E se, agora ou no médio prazo, vocês perderem uma eleição?
Nós aceitamos todas as eleições que perdemos. A Venezuela tem governadores e prefeitos de oposição. Tem deputados, 40% do Parlamento. Se algum dia ganharem, coisa que eu duvido que se passe no século 21, bem, ganhariam e assumiriam a Presidência. E teriam que ver o que fazer com o país. A Venezuela tem um povo consciente e bases sólidas de país independente em vias do socialismo.
Vocês falam muito de unidade. Mas há vários grupos no chavismo. Não pode ocorrer um racha, como houve com o peronismo na Argentina?
O movimento revolucionário nacional está unido ao redor da imagem, da espiritualidade e da ideologia de Chávez. De um projeto de pátria. Pátria grande. Está unido ao redor de uma direção coletiva que ele construiu. E ao redor da designação do comandante Chávez da minha pessoa como condutor da revolução para essa etapa. Estamos unidos.
Sem a liderança incontrastável de Chávez, haverá alternância na liderança do chavismo?
Nem um "pitoniso", um bruxo, um vidente, ninguém pode saber o que nos reserva o destino. O que te digo é que neste momento histórico estamos solidamente unidos. E o mundo deve saber que essa direção coletiva já passou por várias provas de fogo. Estamos prontos para a vitória em 14 de abril e para governar muito bem o nosso país.
Na Venezuela, canais privados de televisão fazem campanha para o candidato de oposição à Presidência, Henrique Capriles. E canais estatais fazem campanha para o senhor. Os canais públicos são de todos. Não deveriam ser neutros?
Os canais públicos, em uma revolução como a que estamos vivendo na Venezuela, têm que formar o povo, educar o povo, prepará-lo para essa revolução. Têm que sair defendendo a verdade frente a uma ditadura midiática que promoveu um golpe de Estado [em 2002, as emissoras privadas apoiaram a tentativa frustrada de depor Chávez]. Foi o primeiro golpe de Estado dado por canais de televisão. É preciso buscar uma leitura mais próxima do que se passa na Venezuela. Os canais públicos têm sido o contrapeso necessário e são o sustentáculo para estabilizar a sociedade. Se tivessem desaparecido nos últimos seis anos, haveria uma guerra civil. Os canais privados nos teriam levado a uma guerra de todos contra todos.
A Globovisión, emissora privada de oposição, está sendo vendida a um empresário amigo do governo. E assim é possível que quase todos os meios sejam favoráveis ao governo.
Nós soubemos pela imprensa que a Globovisión estava sendo vendida. Em todo caso, é uma negociação entre empresários amigos. É problema deles, realmente. É preciso ver como termina. Quem sabe a mensagem mais poderosa da venda da Globovisión é a de que sabem que estão perdidos.
Eles dizem que fizeram de tudo para eleger a oposição a Chávez, o que os levou a uma situação precária.
A Globovisión simplesmente jogou para derrubar o governo e fracassou. E o fracasso político e de comunicação os levou a um fracasso econômico. Estão quebrados, dizem eles. E simplesmente estão separados da sociedade. Sabem que vamos governar este país por muitos anos, a revolução continua. E eu creio que estão cansados já. Se cansaram, se renderam.
O candidato Capriles diz que não tem acesso às rádios porque as que dão abertura à oposição são perseguidas. Não é importante que as vozes divergentes tenham espaço?
Bem, mas elas têm 80% dos meios de comunicação. Se você vai agora mesmo a qualquer lugar de Barinas e compra os jornais, verá que são privados e contra o governo. As televisões regionais, as rádios, 80% a 90% delas são contra o governo. Fazem seu negócio, vendem seu produto.
Eles [oposição] têm todos os meios, nós temos um só: a consciência popular, que os derrota todos os dias. Quanto mais veneno jogam, mais as pessoas reagem. Você pode andar por qualquer lugar em Caracas. Encontrará um povo com consciência. Como se criou isso? Com a liderança do presidente Chávez, que era pedagógico, saía à rua, falava, formava as pessoas.
Não há um culto à personalidade de Chávez na Venezuela?
Não houve em vida e agora o que há é amor. Culto ao amor, ao agradecimento do povo a um líder que já é chamado na América de Cristo Redentor dos Pobres. Um homem que transcendeu as nossas fronteiras.
A chamada "união cívico-militar" é um dos pilares do chavismo. Em um continente como a América Latina, com histórico de golpes militares, não seria melhor que as Forças Armadas estivessem afastadas do processo político?
Nós temos Forças Armadas que resgataram os valores do libertador Simón Bolívar, que têm uma doutrina anti-imperialista e anticolonialista, latino-americana, própria. Você sabe que os EUA estão funcionando como um vampiro sedento, buscando as riquezas petroleiras e os recursos naturais do mundo com guerras, invasões. E as nossas Forças Armadas têm agora uma doutrina de defesa integral do país, das maiores reservas petroleiras do mundo. Defendem o nosso sonho, a nossa terra.
Têm uma doutrina nacionalista, revolucionária, assumiram o socialismo como causa da humanidade para construir uma nova moral. Aqui se formavam oficiais com os manuais da Escola das Américas [financiada pelos EUA], que formou as Forças Armadas latino-americanas por cem anos. Ensinavam os nossos oficiais em inglês, quase sem tradução. É uma vergonha que não ocorre mais.
No Brasil é considerado uma grande conquista o fato de as Forças Armadas não interferirem mais na política interna. Por princípio, não seria melhor que na Venezuela elas também estivessem nos quartéis e a disputa política ocorresse somente entre civis?
Não, é um erro. As Forças Armadas não podem estar nos quartéis. Têm que estar nas ruas, na fábrica, nos bairros, com o povo, para poder defender a pátria. Não podem ser uma elite alijada. Não. Têm que fazer parte do mesmo povo.
E com forte participação política?
Bom, depende do que você entende por política. O que as nossas Forças Armadas não têm é formação partidária. Você não vai ver nenhum oficial mandando votar por nenhum partido político, nem fazendo campanha por um partido.
Não, presidente? Quando o ministro da Defesa, Diego Molero, diz que as Forças Armadas tudo farão para atender aos desejos de Chávez, isso é interpretado como um pedido de voto para o senhor.
Bem, o que as pessoas têm que saber, e oxalá se saiba no Brasil, é que o nosso almirante-em-chefe Molero deu essa entrevista um dia depois da morte do nosso presidente. E o candidato da oposição havia ofendido fortemente a família do presidente. Duvidou da morte do presidente. Colocou em questionamento a possibilidade de eu assumir a Presidência [Maduro era vice]. Nossos oficiais estavam indignados. E ele [Molero] então disse "respeitamos o nosso novo comandante-em-chefe Nicolás Maduro, presidente da República". Foi um gesto constitucional e também moral. Não eleitoral.
O governo do ex-presidente Lula diminuiu a pobreza mas nunca falou em mudar as estruturas capitalistas da sociedade brasileira, como pregava Hugo Chávez na Venezuela. O que o senhor acha de quando colocam o "lulismo" em contraponto ao "chavismo"?
Cada país tem o seu ritmo. Eu fui testemunha de pelo menos 14 reuniões do presidente Lula com o presidente Chávez. E posso te dizer que eram dois irmãos. Os dois se entendiam perfeitamente. E os dois sabiam que tanto o que Lula fazia, como grande líder do Brasil, quanto o que Chávez fazia aqui era parte de um só processo, de libertação da América Latina.
Não tem a esquerda boa, com Lula, e a esquerda má?
Tentou-se por muito tempo [dizer isso]. Em 2007, havia toda essa campanha brutal contra o presidente Chávez. E Lula propôs, para que eles não brigassem... ele dizia assim: [imitando Lula] "'Chávess', vamos fazer uma coisa. Vamos nos reunir a cada três meses para acabar com a intriga". E assim se fez. Foram mais de 14 reuniões a partir daí. Agora, sim, o que posso te dizer: Lula para nós também é um pai. Porque Lula é fundador das correntes de esquerda de novo tipo que surgiram nos anos 80 adiante. Nós nos inspiramos na ética de Lula, na energia dele, em sua liderança trabalhadora.
Mas Lula, como eu disse, não fala em mudar o capitalismo.
Cada um lidou com a circunstância histórica do seu país. E Lula empurrou o Brasil até uma grande onda progressista, de prosperidade, de desenvolvimento.
O candidato Capriles diz que o modelo dele é Lula.
Para a direita pega muito mal... para uma direita que nunca trabalhou pega muito mal colocar-se "barba a barba" com Lula. Lula ganhou trabalhando nos fornos da luta, da história.
Ele elogia Lula por combater a pobreza sem mexer no setor privado.
Se há algo a dizer de Lula, Néstor Kirchner, Cristina [Kirchner] e outros líderes é que são, na essência, antineoliberais. Libertaram nossos países do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. E essa direita que trata de se colocar disfarçada de Lula é, em sua essência, privatizadora, dependente da forma neoliberal e do FMI. Não têm nada que ver com o legado nem com o patrimônio político e cultural dos valores que Lula representa.
No governo Chávez, a presença do Estado avançou. Mas o setor privado ainda representa 58% da economia. Se vitoriosos, vocês vão estatizar mais empresas, mais setores? Até onde vai o que chamam de "socialismo do século 21"?
O socialismo do século 21 é diverso. Tem as particularidades e está enraizado na dinâmica verdadeira de cada país. Cada um tem a sua realidade. E não podemos achar que há menos ou mais socialismo porque o nosso, o boliviano, o equatoriano, o nicaraguense ou o cubano não se parecem com as experiências da antiga União Soviética ou da Romênia.
Há lugar então para um setor privado forte?
A história está por ser escrita. Há espaço para investimentos que venham a desenvolver um modelo produtivo e inclusivo. Lamentavelmente na Venezuela os cem anos de modelo de rentismo petroleiro não permitiram que surgisse um capital forte. No fundamental, o capital se articulou à renda petroleira sem gerar capacidade produtiva e desenvolvimento tecnológico. Esse capital não tem visão de país, nacionalista.
É diferente do que se passou no Brasil ou na Argentina, por exemplo, que tiveram burguesias nacionais. Na Venezuela não há burguesia nacional. Nossas dificuldades são então maiores. Os setores que se dedicaram à atividade econômica privada têm laços de dependência muito forte com o capital estadunidense.
É por isso que estão em todos os processos de sabotagem da economia e da política. Quem sabe agora comece a surgir, e vem surgindo, um setor misto de capital venezuelano e de investimentos de outras partes do mundo. Capital brasileiro, argentino, uruguaio, em aliança com um novo capital privado na Venezuela.
Uma burguesia vinculada fortemente ao Estado?
Todo esse modelo está em elaboração. Nesse momento estamos fazendo um chamado e buscando instrumentos para financiar e construir setores privados que sejam nacionalistas e que nos permitam diversificar a economia.
Privado integralmente?
Claro. Totalmente. Com financiamento, incentivo. De todos os tamanhos, pequeno, médio, grande, vinculado à tecnologia, à indústria, ao comércio. Vinculado ao capital de outras partes do mundo, Brasil, Argentina, Rússia, China. Capital estadunidense.
Então Cuba é inspiração para o chavismo, mas não o modelo a seguir.
Cada um tem suas particularidades. A Cuba coube viver uma história dos anos 60, 70, muito marcada pela chamada Guerra Fria. Bem, Cuba foi contra nossos antigos modelos políticos, sociais, econômicos.
E está se abrindo.
Cuba tem seu próprio processo de aperfeiçoamento do socialismo. Precisamente o bonito da Alba [Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, integrada por países como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua] é que nós todos temos formas diversas de economia. E diversos conceitos do que é o socialismo neste momento em cada país. E podemos andar juntos, e vamos aprendendo uns com os outros.
Acredita que é possível o socialismo pela via democrática, como Salvador Allende [ex-presidente do Chile que sofreu um golpe militar em 1973] tentou, sem sucesso?
Até agora, sim, creio que é possível. Creio inclusive que, salvo se o império estadunidense ficar louco e pretender nos derrotar pela via da força, ou invadir esse país, o caminho da Venezuela seguirá sendo a democracia ampla, profunda, de amplas liberdades e transformações pacíficas, que são as que de verdade deixam raízes. Toda transformação que se dá pela via do debate democrático e da decisão popular são decisões verdadeiras que têm solidez na soberania e na consciência dos povos.
Se a Venezuela continuará a ter um setor privado forte, como se chegará então ao socialismo?
O socialismo tem várias dimensões. A principal delas é a espiritual, a moral, a ideológica, de transformação do ser humano. E quando o ser humano dessa sociedade, por todo processo de educação, de nova cultura, de nova prática política, de participação, de novas relações econômicas, de produção, começa a funcionar de outra forma, então existem as condições para a sociedade socialista, que supere o individualismo, o desejo de riqueza individual. E, cavalgando junto, vão as transformações para um novo modelo econômico, que supere, no caso da Venezuela, o capitalismo rentístico, especulador. E que faça as bases de uma economia produtiva, diversificada, que crie riqueza para ser distribuída através da saúde, educação, alimentação, seguridade social, para que o povo tenha níveis de vida dignos, para que se supere a pobreza definitivamente.
Quando Chávez morreu, a presidente Dilma Rousseff fez elogios, mas disse que em muitas ocasiões o governo brasileiro não concordou com o da Venezuela.
Nós integramos a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], o Mercosul, comunidades democráticas onde se debatem ideias. E quando se debatem ideias normalmente surgem opções.
O Banco do Sul, por exemplo, do qual fariam parte os países da América do Sul, não foi aprovado ainda no Congresso brasileiro. Está lento.
Você sabe que os temas que têm que ver com o parlamento sempre são lentos. Nós temos uma comissão já de caráter presidencial que reúne os delegados de cada presidente do Banco do Sul. Tudo está pronto. Só esperamos que o Congresso brasileiro o aprove para que entre em vigência de maneira rápida, automática.
O Brasil também não integrou a TeleSur [emissora financiada por vários países latino-americanos], o projeto do gasoduto do sul [que ligaria Venezuela, Brasil e Argentina] não andou.
Bem, são projetos sobre os quais têm havido debates. A TeleSur é uma linda realidade de comunicação alternativa que venceu a ditadura midiática das grandes cadeias de televisão. Quem sabe mais adiante [o governo brasileiro se integre ao projeto]. Seguramente as portas da TeleSur estão abertas para o governo da presidenta Dilma e de qualquer iniciativa que venha a fortalecê-la.
E a refinaria Abreu e Lima [parceria da Petrobras com a petroleira venezuelana PDVSA que até agora, por divergências em relação ao financiamento, conta com recursos apenas do Brasil], como está?
Não tenho os detalhes atualizados, mas sei que marcha agora melhor. E que vai ter um final feliz.
A economia é considerada uma má herança de Chávez. A inflação é alta. Há um certo nível de desabastecimento, de 20%. E uma dependência muito grande do petróleo. Haverá ajustes no governo?
No dia 22 de fevereiro, conversamos por cinco horas com o presidente Chávez sobre temas econômicos. E ele disse: "Veja, Nicolás, estamos em uma guerra econômica". Porque, com a enfermidade do presidente, os interesses econômicos nacionais e internacionais se lançaram a desabastecer [o país] de produtos, a especular com os preços e com o valor do dólar. Eles acreditavam numa hecatombe econômica que chegaria a uma explosão social e a uma desestabilização política. Nós estamos enfrentando. Vamos torcer o braço do dólar paralelo, vamos torcer até lá embaixo.
E a inflação?
É um problema do funcionamento especulativo do capital. A inflação nos 14 anos antes do presidente Chávez foi de 34%. Nestes 14 anos com ele, baixou para 22%. Planejamos levá-la à metade nos próximos dez anos. Oxalá possamos chegar a um dígito.
Haverá corte de gastos?
O mais importante é que os gastos se convertam em investimento social para proteger o povo e econômico para girar riqueza no país. E isso é uma dinâmica bendita que vai gerando mudanças na estrutura econômica e vacinando o país da especulação como sistema de fixação de preços e de movimentos da economia.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissi ... uela.shtml
07/04/2013 - 02h30
Herdeiro de Hugo Chávez diz que "direção coletiva" do chavismo está unida, defende Forças Armadas na política e afirma que TVs públicas têm que educar para a revolução.
Em campanha para a Presidência da Venezuela, ele diz que o país enfrenta uma 'guerra econômica' e que se inspira na 'ética' e na liderança de Lula.
Folha - Como será o chavismo sem Chávez, que era formulador, estrategista e porta-voz do governo?
Nicolás Maduro - O presidente Chávez fundou um movimento revolucionário e de massas na Venezuela. Deu a ele uma ideologia e uma Constituição. Nosso processo revolucionário está constitucionalizado. Ele nos dotou de um corpo de doutrinas e de princípios. Nos deixou um testamento político, o programa da pátria, com objetivos de curto, médio e longo prazos. E promoveu um nível de participação e de protagonismo das amplas maiorias como nunca se viu na história da Venezuela. Estamos preparados para seguir fazendo a revolução. Ele formou um povo. Nos formou para um projeto.
Mas 44% dos venezuelanos, que votaram na oposição nas eleições presidenciais de 2012, não estão de acordo com esse projeto. E se, agora ou no médio prazo, vocês perderem uma eleição?
Nós aceitamos todas as eleições que perdemos. A Venezuela tem governadores e prefeitos de oposição. Tem deputados, 40% do Parlamento. Se algum dia ganharem, coisa que eu duvido que se passe no século 21, bem, ganhariam e assumiriam a Presidência. E teriam que ver o que fazer com o país. A Venezuela tem um povo consciente e bases sólidas de país independente em vias do socialismo.
Vocês falam muito de unidade. Mas há vários grupos no chavismo. Não pode ocorrer um racha, como houve com o peronismo na Argentina?
O movimento revolucionário nacional está unido ao redor da imagem, da espiritualidade e da ideologia de Chávez. De um projeto de pátria. Pátria grande. Está unido ao redor de uma direção coletiva que ele construiu. E ao redor da designação do comandante Chávez da minha pessoa como condutor da revolução para essa etapa. Estamos unidos.
Sem a liderança incontrastável de Chávez, haverá alternância na liderança do chavismo?
Nem um "pitoniso", um bruxo, um vidente, ninguém pode saber o que nos reserva o destino. O que te digo é que neste momento histórico estamos solidamente unidos. E o mundo deve saber que essa direção coletiva já passou por várias provas de fogo. Estamos prontos para a vitória em 14 de abril e para governar muito bem o nosso país.
Na Venezuela, canais privados de televisão fazem campanha para o candidato de oposição à Presidência, Henrique Capriles. E canais estatais fazem campanha para o senhor. Os canais públicos são de todos. Não deveriam ser neutros?
Os canais públicos, em uma revolução como a que estamos vivendo na Venezuela, têm que formar o povo, educar o povo, prepará-lo para essa revolução. Têm que sair defendendo a verdade frente a uma ditadura midiática que promoveu um golpe de Estado [em 2002, as emissoras privadas apoiaram a tentativa frustrada de depor Chávez]. Foi o primeiro golpe de Estado dado por canais de televisão. É preciso buscar uma leitura mais próxima do que se passa na Venezuela. Os canais públicos têm sido o contrapeso necessário e são o sustentáculo para estabilizar a sociedade. Se tivessem desaparecido nos últimos seis anos, haveria uma guerra civil. Os canais privados nos teriam levado a uma guerra de todos contra todos.
A Globovisión, emissora privada de oposição, está sendo vendida a um empresário amigo do governo. E assim é possível que quase todos os meios sejam favoráveis ao governo.
Nós soubemos pela imprensa que a Globovisión estava sendo vendida. Em todo caso, é uma negociação entre empresários amigos. É problema deles, realmente. É preciso ver como termina. Quem sabe a mensagem mais poderosa da venda da Globovisión é a de que sabem que estão perdidos.
Eles dizem que fizeram de tudo para eleger a oposição a Chávez, o que os levou a uma situação precária.
A Globovisión simplesmente jogou para derrubar o governo e fracassou. E o fracasso político e de comunicação os levou a um fracasso econômico. Estão quebrados, dizem eles. E simplesmente estão separados da sociedade. Sabem que vamos governar este país por muitos anos, a revolução continua. E eu creio que estão cansados já. Se cansaram, se renderam.
O candidato Capriles diz que não tem acesso às rádios porque as que dão abertura à oposição são perseguidas. Não é importante que as vozes divergentes tenham espaço?
Bem, mas elas têm 80% dos meios de comunicação. Se você vai agora mesmo a qualquer lugar de Barinas e compra os jornais, verá que são privados e contra o governo. As televisões regionais, as rádios, 80% a 90% delas são contra o governo. Fazem seu negócio, vendem seu produto.
Eles [oposição] têm todos os meios, nós temos um só: a consciência popular, que os derrota todos os dias. Quanto mais veneno jogam, mais as pessoas reagem. Você pode andar por qualquer lugar em Caracas. Encontrará um povo com consciência. Como se criou isso? Com a liderança do presidente Chávez, que era pedagógico, saía à rua, falava, formava as pessoas.
Não há um culto à personalidade de Chávez na Venezuela?
Não houve em vida e agora o que há é amor. Culto ao amor, ao agradecimento do povo a um líder que já é chamado na América de Cristo Redentor dos Pobres. Um homem que transcendeu as nossas fronteiras.
A chamada "união cívico-militar" é um dos pilares do chavismo. Em um continente como a América Latina, com histórico de golpes militares, não seria melhor que as Forças Armadas estivessem afastadas do processo político?
Nós temos Forças Armadas que resgataram os valores do libertador Simón Bolívar, que têm uma doutrina anti-imperialista e anticolonialista, latino-americana, própria. Você sabe que os EUA estão funcionando como um vampiro sedento, buscando as riquezas petroleiras e os recursos naturais do mundo com guerras, invasões. E as nossas Forças Armadas têm agora uma doutrina de defesa integral do país, das maiores reservas petroleiras do mundo. Defendem o nosso sonho, a nossa terra.
Têm uma doutrina nacionalista, revolucionária, assumiram o socialismo como causa da humanidade para construir uma nova moral. Aqui se formavam oficiais com os manuais da Escola das Américas [financiada pelos EUA], que formou as Forças Armadas latino-americanas por cem anos. Ensinavam os nossos oficiais em inglês, quase sem tradução. É uma vergonha que não ocorre mais.
No Brasil é considerado uma grande conquista o fato de as Forças Armadas não interferirem mais na política interna. Por princípio, não seria melhor que na Venezuela elas também estivessem nos quartéis e a disputa política ocorresse somente entre civis?
Não, é um erro. As Forças Armadas não podem estar nos quartéis. Têm que estar nas ruas, na fábrica, nos bairros, com o povo, para poder defender a pátria. Não podem ser uma elite alijada. Não. Têm que fazer parte do mesmo povo.
E com forte participação política?
Bom, depende do que você entende por política. O que as nossas Forças Armadas não têm é formação partidária. Você não vai ver nenhum oficial mandando votar por nenhum partido político, nem fazendo campanha por um partido.
Não, presidente? Quando o ministro da Defesa, Diego Molero, diz que as Forças Armadas tudo farão para atender aos desejos de Chávez, isso é interpretado como um pedido de voto para o senhor.
Bem, o que as pessoas têm que saber, e oxalá se saiba no Brasil, é que o nosso almirante-em-chefe Molero deu essa entrevista um dia depois da morte do nosso presidente. E o candidato da oposição havia ofendido fortemente a família do presidente. Duvidou da morte do presidente. Colocou em questionamento a possibilidade de eu assumir a Presidência [Maduro era vice]. Nossos oficiais estavam indignados. E ele [Molero] então disse "respeitamos o nosso novo comandante-em-chefe Nicolás Maduro, presidente da República". Foi um gesto constitucional e também moral. Não eleitoral.
O governo do ex-presidente Lula diminuiu a pobreza mas nunca falou em mudar as estruturas capitalistas da sociedade brasileira, como pregava Hugo Chávez na Venezuela. O que o senhor acha de quando colocam o "lulismo" em contraponto ao "chavismo"?
Cada país tem o seu ritmo. Eu fui testemunha de pelo menos 14 reuniões do presidente Lula com o presidente Chávez. E posso te dizer que eram dois irmãos. Os dois se entendiam perfeitamente. E os dois sabiam que tanto o que Lula fazia, como grande líder do Brasil, quanto o que Chávez fazia aqui era parte de um só processo, de libertação da América Latina.
Não tem a esquerda boa, com Lula, e a esquerda má?
Tentou-se por muito tempo [dizer isso]. Em 2007, havia toda essa campanha brutal contra o presidente Chávez. E Lula propôs, para que eles não brigassem... ele dizia assim: [imitando Lula] "'Chávess', vamos fazer uma coisa. Vamos nos reunir a cada três meses para acabar com a intriga". E assim se fez. Foram mais de 14 reuniões a partir daí. Agora, sim, o que posso te dizer: Lula para nós também é um pai. Porque Lula é fundador das correntes de esquerda de novo tipo que surgiram nos anos 80 adiante. Nós nos inspiramos na ética de Lula, na energia dele, em sua liderança trabalhadora.
Mas Lula, como eu disse, não fala em mudar o capitalismo.
Cada um lidou com a circunstância histórica do seu país. E Lula empurrou o Brasil até uma grande onda progressista, de prosperidade, de desenvolvimento.
O candidato Capriles diz que o modelo dele é Lula.
Para a direita pega muito mal... para uma direita que nunca trabalhou pega muito mal colocar-se "barba a barba" com Lula. Lula ganhou trabalhando nos fornos da luta, da história.
Ele elogia Lula por combater a pobreza sem mexer no setor privado.
Se há algo a dizer de Lula, Néstor Kirchner, Cristina [Kirchner] e outros líderes é que são, na essência, antineoliberais. Libertaram nossos países do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. E essa direita que trata de se colocar disfarçada de Lula é, em sua essência, privatizadora, dependente da forma neoliberal e do FMI. Não têm nada que ver com o legado nem com o patrimônio político e cultural dos valores que Lula representa.
No governo Chávez, a presença do Estado avançou. Mas o setor privado ainda representa 58% da economia. Se vitoriosos, vocês vão estatizar mais empresas, mais setores? Até onde vai o que chamam de "socialismo do século 21"?
O socialismo do século 21 é diverso. Tem as particularidades e está enraizado na dinâmica verdadeira de cada país. Cada um tem a sua realidade. E não podemos achar que há menos ou mais socialismo porque o nosso, o boliviano, o equatoriano, o nicaraguense ou o cubano não se parecem com as experiências da antiga União Soviética ou da Romênia.
Há lugar então para um setor privado forte?
A história está por ser escrita. Há espaço para investimentos que venham a desenvolver um modelo produtivo e inclusivo. Lamentavelmente na Venezuela os cem anos de modelo de rentismo petroleiro não permitiram que surgisse um capital forte. No fundamental, o capital se articulou à renda petroleira sem gerar capacidade produtiva e desenvolvimento tecnológico. Esse capital não tem visão de país, nacionalista.
É diferente do que se passou no Brasil ou na Argentina, por exemplo, que tiveram burguesias nacionais. Na Venezuela não há burguesia nacional. Nossas dificuldades são então maiores. Os setores que se dedicaram à atividade econômica privada têm laços de dependência muito forte com o capital estadunidense.
É por isso que estão em todos os processos de sabotagem da economia e da política. Quem sabe agora comece a surgir, e vem surgindo, um setor misto de capital venezuelano e de investimentos de outras partes do mundo. Capital brasileiro, argentino, uruguaio, em aliança com um novo capital privado na Venezuela.
Uma burguesia vinculada fortemente ao Estado?
Todo esse modelo está em elaboração. Nesse momento estamos fazendo um chamado e buscando instrumentos para financiar e construir setores privados que sejam nacionalistas e que nos permitam diversificar a economia.
Privado integralmente?
Claro. Totalmente. Com financiamento, incentivo. De todos os tamanhos, pequeno, médio, grande, vinculado à tecnologia, à indústria, ao comércio. Vinculado ao capital de outras partes do mundo, Brasil, Argentina, Rússia, China. Capital estadunidense.
Então Cuba é inspiração para o chavismo, mas não o modelo a seguir.
Cada um tem suas particularidades. A Cuba coube viver uma história dos anos 60, 70, muito marcada pela chamada Guerra Fria. Bem, Cuba foi contra nossos antigos modelos políticos, sociais, econômicos.
E está se abrindo.
Cuba tem seu próprio processo de aperfeiçoamento do socialismo. Precisamente o bonito da Alba [Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, integrada por países como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua] é que nós todos temos formas diversas de economia. E diversos conceitos do que é o socialismo neste momento em cada país. E podemos andar juntos, e vamos aprendendo uns com os outros.
Acredita que é possível o socialismo pela via democrática, como Salvador Allende [ex-presidente do Chile que sofreu um golpe militar em 1973] tentou, sem sucesso?
Até agora, sim, creio que é possível. Creio inclusive que, salvo se o império estadunidense ficar louco e pretender nos derrotar pela via da força, ou invadir esse país, o caminho da Venezuela seguirá sendo a democracia ampla, profunda, de amplas liberdades e transformações pacíficas, que são as que de verdade deixam raízes. Toda transformação que se dá pela via do debate democrático e da decisão popular são decisões verdadeiras que têm solidez na soberania e na consciência dos povos.
Se a Venezuela continuará a ter um setor privado forte, como se chegará então ao socialismo?
O socialismo tem várias dimensões. A principal delas é a espiritual, a moral, a ideológica, de transformação do ser humano. E quando o ser humano dessa sociedade, por todo processo de educação, de nova cultura, de nova prática política, de participação, de novas relações econômicas, de produção, começa a funcionar de outra forma, então existem as condições para a sociedade socialista, que supere o individualismo, o desejo de riqueza individual. E, cavalgando junto, vão as transformações para um novo modelo econômico, que supere, no caso da Venezuela, o capitalismo rentístico, especulador. E que faça as bases de uma economia produtiva, diversificada, que crie riqueza para ser distribuída através da saúde, educação, alimentação, seguridade social, para que o povo tenha níveis de vida dignos, para que se supere a pobreza definitivamente.
Quando Chávez morreu, a presidente Dilma Rousseff fez elogios, mas disse que em muitas ocasiões o governo brasileiro não concordou com o da Venezuela.
Nós integramos a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], o Mercosul, comunidades democráticas onde se debatem ideias. E quando se debatem ideias normalmente surgem opções.
O Banco do Sul, por exemplo, do qual fariam parte os países da América do Sul, não foi aprovado ainda no Congresso brasileiro. Está lento.
Você sabe que os temas que têm que ver com o parlamento sempre são lentos. Nós temos uma comissão já de caráter presidencial que reúne os delegados de cada presidente do Banco do Sul. Tudo está pronto. Só esperamos que o Congresso brasileiro o aprove para que entre em vigência de maneira rápida, automática.
O Brasil também não integrou a TeleSur [emissora financiada por vários países latino-americanos], o projeto do gasoduto do sul [que ligaria Venezuela, Brasil e Argentina] não andou.
Bem, são projetos sobre os quais têm havido debates. A TeleSur é uma linda realidade de comunicação alternativa que venceu a ditadura midiática das grandes cadeias de televisão. Quem sabe mais adiante [o governo brasileiro se integre ao projeto]. Seguramente as portas da TeleSur estão abertas para o governo da presidenta Dilma e de qualquer iniciativa que venha a fortalecê-la.
E a refinaria Abreu e Lima [parceria da Petrobras com a petroleira venezuelana PDVSA que até agora, por divergências em relação ao financiamento, conta com recursos apenas do Brasil], como está?
Não tenho os detalhes atualizados, mas sei que marcha agora melhor. E que vai ter um final feliz.
A economia é considerada uma má herança de Chávez. A inflação é alta. Há um certo nível de desabastecimento, de 20%. E uma dependência muito grande do petróleo. Haverá ajustes no governo?
No dia 22 de fevereiro, conversamos por cinco horas com o presidente Chávez sobre temas econômicos. E ele disse: "Veja, Nicolás, estamos em uma guerra econômica". Porque, com a enfermidade do presidente, os interesses econômicos nacionais e internacionais se lançaram a desabastecer [o país] de produtos, a especular com os preços e com o valor do dólar. Eles acreditavam numa hecatombe econômica que chegaria a uma explosão social e a uma desestabilização política. Nós estamos enfrentando. Vamos torcer o braço do dólar paralelo, vamos torcer até lá embaixo.
E a inflação?
É um problema do funcionamento especulativo do capital. A inflação nos 14 anos antes do presidente Chávez foi de 34%. Nestes 14 anos com ele, baixou para 22%. Planejamos levá-la à metade nos próximos dez anos. Oxalá possamos chegar a um dígito.
Haverá corte de gastos?
O mais importante é que os gastos se convertam em investimento social para proteger o povo e econômico para girar riqueza no país. E isso é uma dinâmica bendita que vai gerando mudanças na estrutura econômica e vacinando o país da especulação como sistema de fixação de preços e de movimentos da economia.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissi ... uela.shtml
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Re: VENEZUELA
Pois é... bem longe dos 150% de aprovação do Lula.wagnerm25 escreveu:Revolução bolivariana é 50%.
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Vitória apertada do herdeiro de Chávez acirra polarização na Venezuela
Atualizado: 15/04/2013 06:25
CARACAS, 15 Abr (Reuters) - Nicolás Maduro, o herdeiro político de Hugo Chávez, venceu a eleição presidencial de domingo por uma vantagem surpreendentemente pequena, que a oposição não reconheceu, avivando as tensões políticas na Venezuela.
Maduro, ex-sindicalista de 50 anos que ascendeu ao topo do chavismo por sua lealdade, teve 50,66 por cento dos votos, contra 49,07 por cento do oposicionista Henrique Capriles. O atual presidente interino terá assim mandato até 2019.
As autoridades eleitorais disseram que o resultado eleitoral mais acirrado em quase meio século é "irreversível", mas o comando da campanha oposicionista afirmou que 3.000 irregularidades registradas durante o dia da votação, somadas aos votos dados no exterior, podem alterar as cifras.
"Eu ganhei, ganhei por quase 300 mil votos", disse Maduro diante de milhares de seguidores no palácio presidencial de Miraflores.
"Saberemos o que fazer se alguém levantar sua insolente voz contra o povo", acrescentou ele em tom desafiador, assegurando que seus adversários buscam desestabilizar a "revolução socialista" iniciada por Chávez, que passou 14 anos como presidente e morreu em 5 de março, vítima de câncer.
Capriles afirmou que irá ignorar o resultado até que haja uma recontagem "voto a voto". No entanto, não convocou seus partidários para que saiam às ruas.
"Esse resultado não reflete a realidade", disse o governador do Estado de Miranda, de 40 anos. "É um sistema que está se derrubando, parece um castelo de arena, que se encostarem nele cai", acrescentou.
O resultado desafiou todas as pesquisas, que apontavam uma clara vitória governista.
O novo líder venceu por uma margem de 230 mil votos, uma sombra dos mais de 1,5 milhão de votos que foram a vantagem de Chávez sobre o mesmo Capriles na eleição presidencial de outubro, quando o líder socialista conquistou um quarto mandato, que não chegou a assumir.
Após o anúncio dos resultados, chavistas festejaram com danças e rojões, e a oposição bateu panelas e reclamou de fraudes, numa tensa apoteose de uma campanha breve, dominada por insultos pessoais ao invés de propostas concretas.
"Capriles deve se queixar ao mundo, é preciso revisar urna por urna", disse o pedreiro Fernando Cabrera, 48 anos, que votou no candidato oposicionista.
Entre os chavistas, o sentimento foi de uma vitória agridoce. "Por um lado estamos felizes, mas o resultado não é exatamente o que se esperava", disse o técnico de informática Gregory Belfort, de 32 anos, que participava da festa no centro de Caracas.
MOMENTO DIFÍCIL
Após a apertada vitória, Maduro terá pela frente enormes desafios econômicos de curto prazo, como as pressões sobre as finanças públicas, a inflação em alta e um grave desabastecimento de produtos básicos.
Além disso, ele enfrentará um país agudamente polarizado. O resultado deixa Maduro debilitado, e ele poderá enfrentar pressões de rivais dentro do próprio chavismo, uma heterogênea mistura de socialistas radicais, políticos pragmáticos, militares conservadores e empresários, antes unidos sob a indiscutível liderança de Chávez.
A campanha dele se baseou em divinizar a figura de Chávez, mas aparentemente muitos venezuelanos preferiram levar em conta questões como a criminalidade, os problemas no serviço público e a corrupção.
Sem o carisma do antecessor, Maduro promete ser o garantidor dos enormes programas sociais mantidos pelo rendimento petrolífero, e que garantem subsídios alimentares, atendimento médicos e moradias.
De imediato, seu triunfo permite um suspiro de alívio de aliados como Cuba, Bolívia ou Nicarágua, cujas econômicas dependem da compra de petróleo venezuelano a preços preferenciais.
Mas resta ver como o governo enfrentará as crescentes distorções econômicas geradas pelo controle estatal sobre o câmbio e os preços, o que asfixia o setor privado e pressiona perigosamente a economia.
"Este é o momento mais delicado na história do chavismo desde 2002", disse o analista Javier Corrales, do Amherst College, dos EUA, referindo-se ao breve golpe de Estado de exatos 11 anos atrás.
"A oposição poderá não aceitar facilmente esses resultados, e será difícil para Maduro demonstrar ao alto comando chavista que ele ainda pode ser um bom líder."
Fonte: http://noticias.br.msn.com/mundo/vit%C3 ... enezuela-1
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Re: VENEZUELA
A razão de número 7 é realmente muito forte. Eu votaria no Maduro sem dúvida depois de saber disso.
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Re: VENEZUELA
É muito ruim esses sucessores de Chavez. Quase conseguiram perder a eleição. Na próxima eles caem.
Observem como o discurso foi amenizado indicando uma posição mais conciliadora.
Obs: Por que o tópico não está no passado e atuais? Da Argentina e EUA estão lá.
Observem como o discurso foi amenizado indicando uma posição mais conciliadora.
Obs: Por que o tópico não está no passado e atuais? Da Argentina e EUA estão lá.
- wagnerm25
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Re: VENEZUELA
Pois não faz muito tempo esse tópico estava lá. De uma hora para outra veio para cá. Custei a achar.Bourne escreveu:É muito ruim esses sucessores de Chavez. Quase conseguiram perder a eleição. Na próxima eles caem.
Observem como o discurso foi amenizado indicando uma posição mais conciliadora.
Obs: Por que o tópico não está no passado e atuais? Da Argentina e EUA estão lá.
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Re: VENEZUELA
Vou fazer uma previsão sombria para o Maduro e a Venezuela. O Maduro não vai concluir seu mandato, sai antes dele terminar, as razões são várias. Logo após a morte do Chavez as pesquisas indicavam que ele venceria uma eleição com 30% de vantagem. Ele, no entanto, falou tanta besteira e fez tanta bobagem que, em 40 dias, perdeu milhões de votos e apenas empatou com o Capriles, seu concorrente. Neste momento 50% dos venezuelanos não o apoiam e a tendência é deste número aumentar cada vez mais.
De outra parte os companheiros dele, que tiveram que engolir a indicação de Maduro, como candidato presidencial, irão confronta-lo com a acusação de que falhou na missão que Chavez lhe entregou. Também no congresso de lá ele não terá a obediência cega que os deputados chavistas tinham para com o chefe. Vai enfrentar maior oposição, inclusive de dentro da bancada chavista. Quando o barco ameaça naufragar os ratos pulam fora.
Assim, num momento de crise econômica e politica, com escassez de alimentos e aumento da violência e da corrupção, o Maduro dá a impressão de ser um bunda-mole, sem culhões para tomar medidas enérgicas. A coisa tá longe do fim na Venezuela.
De outra parte os companheiros dele, que tiveram que engolir a indicação de Maduro, como candidato presidencial, irão confronta-lo com a acusação de que falhou na missão que Chavez lhe entregou. Também no congresso de lá ele não terá a obediência cega que os deputados chavistas tinham para com o chefe. Vai enfrentar maior oposição, inclusive de dentro da bancada chavista. Quando o barco ameaça naufragar os ratos pulam fora.
Assim, num momento de crise econômica e politica, com escassez de alimentos e aumento da violência e da corrupção, o Maduro dá a impressão de ser um bunda-mole, sem culhões para tomar medidas enérgicas. A coisa tá longe do fim na Venezuela.
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Re: VENEZUELA
É a esmagadora maioria da população que apóia esse fantoche. Parece o PT por aqui, tem 90% de aprovação, e toda eleição, seja com o picolé Alckmin ou com o nosferatu Serra, vai para o 2º turno!wagnerm25 escreveu:Revolução bolivariana é 50%.
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Re: VENEZUELA
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Re: VENEZUELA
Mas aprovação tem a ver com intenção de voto? O cara pode não ter votado na Dilma mas aprovar o governo (ou vice e versa)rodrigo escreveu:É a esmagadora maioria da população que apóia esse fantoche. Parece o PT por aqui, tem 90% de aprovação, e toda eleição, seja com o picolé Alckmin ou com o nosferatu Serra, vai para o 2º turno!wagnerm25 escreveu:Revolução bolivariana é 50%.
Obrigado Lulinha por melar o Gripen-NG
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Re: VENEZUELA
Você aprova e vota no opositor?Mas aprovação tem a ver com intenção de voto? O cara pode não ter votado na Dilma mas aprovar o governo (ou vice e versa)
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Re: VENEZUELA
Diferente do Brasil chaves nao segurou a maozinha do maduro no palanque, ele nao o fes seu sucessor na frente do eleitorado sem falar que fauta-lhe carisma jogo de cintura.
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Re: VENEZUELA
Sim, por que não?rodrigo escreveu:Você aprova e vota no opositor?Mas aprovação tem a ver com intenção de voto? O cara pode não ter votado na Dilma mas aprovar o governo (ou vice e versa)
Pode ser "aprovado" com nota, 7, 8, 9, 10 e dependo da universidade até em recuperação com acima de 5.
A pessoa pode aprovar o atual governo e mesmo assim achar que a oposição faria melhor.