Túlio escreveu:Pelo bem menor custo unitário, creio que dá para ter mais mísseis em condições de lançar, sensores para apontar e canais para guiar. De mais a mais até parece que se mandam uns cem ou mais mísseis antinavio para afundar uma única fragata e algo que ela esteja escoltando; ataque de saturação não é isso e sim no máximo (NO MÁXIMO) uma meia dúzia de vetores (e olhe lá) vindo de pontos bem diversos, com a finalidade de saturar a capacidade defensiva. Tendo-se um sistema capaz de encarar isso tem-se uma bela probabilidade de sobrevivência...
Imagine o seguinte cenário:
-Uma fragata AS defendendo um comboio de cargueiros ou um trem de esquadra, equipada somente com defesa de ponto por canhões ou mísseis (cenário da MB hoje e no futuro previsível).
- Uma esquadrilha de ataque com quatro aviões, dois deles com 3 bombas de baixo arrasto “burras" e uma com guiagem IIR, e outros dois com duas bombas "burras" mais duas com IIR.
- Os aviões se aproximam baixo e em alta velocidade (800 km/h) do comboio, em duas formações padrão vindas de direções diferentes (um avião afastado do outro na diagonal, a uma distãncia de 2 ou 3 kilômetros) a segunda 30 a 60 segundos atrasada com relação à primeira, e são detectados a 40 km de distância. Mas a defesa só possui mísseis com alcance útil até 12 km, então tem que esperar os aviões se aproximarem mais.
- A 20 Km dos navios os dois primeiros aviões sobem para posição de ataque, no alcance máximo dos mísseis AAe, e lançam duas bombas cada um com pequenos intervalos, em modo CCIP mas apontando para um ponto 500m à frente dos navios, que se deslocam a 20 nós. Os aviões manobram e se afastam, saindo logo do alcance.
- Das 4 bombas lançadas 3 são burras, mas foram lançadas de forma a cair na área dos navios menos de um minuto após o lançamento (se eles não mudarem de direção). Os navios podem tentar manobrar e esperar para ver se as bombas acompanham a manobra, mas se elas fizerem isso o tempo de interceptação cairá muito e o risco deles serem atingidos é muito grande. Então independentemente da manobra que fizerem a fragata dispara os mísseis AAe. O padrão é dois mísseis por alvo, então deveriam ser disparados 8 mísseis (supondo que o navio possua canais o suficiente para controlá-los). Mas por questão de economia é decidido disparar apenas 6 mísseis (será que algum comandante faria isso?).
- Logo em seguida os segundo grupo de aviões chega e repete o ataque de outra direção, ainda usando 3 bombas burras e apenas uma guiada. Os navios não tem mais como manobrar para evitar os dois grupos de bombas, e é forçado a disparar mais mísseis. Digamos que novamente mais 6 contra 4 bombas (êita comandante econômico!).
- Os mísseis interceptam cinco das oito bombas, e os canhões de tiro rápido mais duas que passaram pelos mísseis. Por sorte a que passou é burra e cai no mar. Neste ínterim, os aviões já fizeram a volta, e estão vindo para repetir o ataque. O pessoal dos navios já sabe que algumas das primeira bombas não possuíam guiagem, mas também sabe que algumas possuíam e não tem como distinguir umas das outras.
- Os primeiros aviões avançam novamente e lançam suas últimas 4 bombas também no limite do alcance, como fizeram antes, só que de outra direção. Todas as bombas são burras, só que o navio de escolta não tem como saber disso e lança 4 mísseis para interceptá-las, não porque pretende economizar mais mísseis mas porque os mísseis de pronto emprego se esgotaram (6+6+4 = 16, dotação máxima de mísseis prontos para lançamento de uma Type-22
por exemplo). As bombas são novamente interceptadas pelos mísseis e canhões, ou caem no mar (são só bombas burras mesmo desta vez), mas a defesa do navio está comprometida pelos próximos minutos.
- Aí o segundo grupo de aviões volta e ataca com as 4 bombas guiadas que tinham. O comandante do navio bem que queria responder ao ataque, mas seus lançadores são recarregáveis manualmente e só estarão disponíveis em mais alguns minutos. Os canhões abatem duas das bombas (muita sorte, principalmente se for um canhão só), mas as últimas acertam a fragata e a deixam inoperante.
A próxima leva de 4 aviões afunda a fragata e acaba com o comboio.
O número de navios de escolta no comboio pode aumentar, mas o de aviões também, então o cenário é mais ou menos por aí mesmo. Os 16 mísseis de curto alcance de uma Type-22 ou os 8 de uma Niterói não são suficientes para a proteção contra um ataque de 4 aviões medianamente modernos e armados apenas de forma regular. A falta de mísseis de longo alcance para tentar atingir os aviões também se revelou um sério problema.
Os velhos dias de aviões sobrevoando os navios para lançar suas bombas como nas Malvinas já se foram, e agora quantidade faz a diferença.
Leandro G. Card