Túlio escreveu: 
A constatação da impossibilidade de tornar invulneráveis os CCs me parece que condenaria também outros meios à extinção, como os caças.
Volto a dizer: Não estou pregando a extinção do tanque, assim como também não a dos caças. Mas o emprego e consequentemente as características de ambos talvez tenham que ser repensadas. Por exemplo, aviões de ataque aproximado dedicados como o SU-25 e o A-10 não são mais desenvolvidos e fabricados. Talvez os tanques super-protegidos, pesadíssimos e muito caros também não devam ser mais.
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O simples disparo de um míssil não é garantia de impacto e muito menos de sua letalidade. Vários fatores podem induzi-lo ao erro, como o jamming de seu sistema de guiagem, decoys que atrapalhem a escolha do alvo correto, ocultamento pelas dobras do terreno, apenas para citar alguns exemplos.
O simples disparo de um canhão também não é garantia de acerto ou de letalidade, principalmente nas distâncias maiores, devido ao movimento do alvo, o balanço do própria torre, o tiro não pegar em cheio e etc... . Nem por isso se critica o uso do canhão. Lembrando que se o míssil tiver alcance suficiente haverá tempo de disparar até mais de um antes que o inimigo possa tentar usar o seu canhão.
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A velocidade de um projétil disparado por um CC é muito mais alta que qualquer míssil (em sua maioria subsônicos, que eu saiba só o enorme Hellfire alcança velocidades - marginalmente - acima do som), ou seja, mesmo após este ter sido disparado, a equipe pode ser atacada e, se o ataque for bem sucedido, o míssil perde o "lock". Associando-se isso à cada vez maior sofisticação dos sistemas de detecção e travamento em alvos e adicionando um apropriado apoio de Infantaria Blindada e suas VBCIs (para não falar em Artilharia e Aviação), não é essa moleza toda abater um CC de última geração. Aquela hecatombe de blindados na Chechênia foi causado pela ausência dos citados meios de apoio.
Isso supondo que o míssil tem alcance equivalente ao do canhão. Se o alcance for maior, o operador do míssil fica invulnerável, pelo menos ao contra-ataque do próprio tanque. Sem falar que sistemas autônomos de guiagem já estão em uso em mísseis como o Spike e o Brimstone. É por estes motivos que eu insisto o tempo todo em dizer que os mísseis a que me refiro seriam grandes (a ponto de não poderem ser disparados pelo canhão do tanque), e não os pequenos ATGW's utilizados pela infantaria, que tem o peso limitado ao que um infante pode carregar. E se ler meus posts com cuidado verá que eu também menciono que deveria ser pensado no aumento da velocidade destes mísseis. É claro que isso implicaria, no caso brasileiro, no desenvolviemnto de um míssil novo, mas isso é algo que devíamos fazer de qualquer jeito, temos que perder esta mania de cada vez que alguém fala em um novo desenvolvimento todo mundo entra em pânico.
Com relação à combinação de armas, ela vale para ambos os lados. Se invertermos a equação e colocarmos os tanques pesados sozinhos e os mais leves equipados com mísseis sim apoiados por infantaria blindada, apoio aéreo e etc..., qual será o resultado? A questão verdadeira é, em um ambiente onde ambos os lados podem usar tudo o que tiverem, os tanques pesados farão a diferença ou tanques mais leves com mísseis modernos terão o mesmo efeito (ou um efeito até melhor)?
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Aliás, desconheço a "Kill-Rate" de qualquer míssil AC em condições reais de combate. Alguém aí sabe? Quão perto chega de 100%?
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Também desconheço a quantidade de equipes com os ditos mísseis que foram atacadas e destruídas ainda antes de disparar, muito menos após o fazer. Alguém pode compartilhar esta valiosa informação?
Boas perguntas, também não tenho dados compilados de forma detalhada, só impressões. Quando tiver tempo vou pesquisar.
Mas tudo tri, examinemos um CC mais leve, como tem sido proposto. Primeiramente, levar mísseis externamente em casulos os torna um bocado vulneráveis, não? Para reduzir isto, se precisaria blindar os ditos casulos em alto nível, ou seja, pelo menos o 5 da norma STANAG 4569, sob pena de o CC poder ser posto fora de ação por uma simples VBCI ou mesmo VBTP como o Guarani com peça superior a .50. Peso e custo indo para as alturas, pois o carro, mesmo ainda mais leve, continuaria a precisar de eletrônica embarcada e esta acrescentaria, pela necessidade de sistemas de guiagem para os mísseis, ainda mais custos. Lembrar que um único míssil AC de última geração (como o TOW-2B, biogival que ataca pelo alto) custa muito mais do que vários cartuchos de munição de tubo. E é mais lento no deslocamento até o alvo e vulnerável a sistemas ativos como o ARENA & similares, além de jammers e manobras de mascaramento (dobras do terreno, fumaça "cega" a IR/IIR/Laser/visual, meios eletrônicos, etc). TUDO o que pode ser guiado pode ser jammeado (mesmo um "fire and forget"). Um projétil balístico (como APFSDS) não.
Em princípio a explosão de um míssil fora da blindagem por fogo inimigo não deveria afetar muito o tanque portador se este tivesse uma blindagem mínima (para o padrão de um tanque), pois todos os mísseis hoje usam ogivas direcionais de carga oca que não estarão apontando para o tanque. E se os casulos não forem concentrados mas distribuídos é bem provável que mesmo a explosão eventual de um dos mísseis não afete os outros, pelo menos não todos eles.
Além disso, ninguém falou em abandonar totalmente os canhões mas em adotar os de menor calibre. O que é melhor para enfrentar VBCI's armadas com canhões de tiro rápido, um pesado canhão de 120 mm ou um canhão de 76 ou 90mm com velocidade de rotação e eleveção mais rápida e cadência de fogo maior (supondo ambos com sistemas de tiro igualmente eficientes)?
E com relação ao sistema de guiagem dos mísseis, já mencionei que muito provavelmente logo logo a guiagem múltipla será padrão, como já acontece no Brimstone usado no Afeganistão. Enganar os mísseis será bem mais difícil do que é hoje (embora evidentemente não impossível, mas aí a disputa parte para a parte eletrônica e de sistemas, e deixa de ser entre calibre e blindagem).
Notar que o proposto CC ainda necessitaria de peça principal, mesmo que de baixo calibre (por que não 76?). Isto acrescenta volume (peça, mecanismo de recuo e munição), peso (idem) e custo (ibidem).
Sim, é exatamente isso. Na verdade a peça principal de calibre menor (eu imagino 90mm, ou no máximo 105 embora aí já não haja muita vantagem) ainda seria o armamento básico do tanque, os mísseis seriam usados apenas contra outros tanques e eventualmente algum alvo de maior valor ou mais perigoso em grandes distâncias. A grande vantagem estaria no menor peso e na menor necessidade de proteção, já que não haveria mais a tentação de resistir ao impacto de disparos dos canhões dos tanques adversários, que deveriam ser enfrentados a maiores distâncias com os mísseis.
Ademais, ter CAPACIDADE de atacar um CC a vários km de distância não significa que se possa fazê-lo sempre ou mesmo na maioria das vezes. Quando mais de longe se disparar, mais tempo terá a guarnição do carro para acionar suas contramedidas (acima descritas). E não são tantos assim os terrenos em que se pode detectar um CC ou mesmo uma coluna de tão longe...
Quando ele não puder fazer, o inimigo em princípio também não poderá, pelos mesmos motivos. Mas a adoção de mísseis pode introduzir algumas outras possibilidades interessantes, por exemplo, a de mísseis com sistema de guiagem ótica (câmeras à bordo), que permitam tiro indireto...
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. Ou o uso de pequenos drones patrulhando logo à frente da coluna blindada pode ser tornar fundamental.
De qualquer forma, a idéia é que com custos menores os tanques menores sejam mais móveis e estejam presentes no campo de batalha em maior número, e estes dois fatores já tendem a permitir que eles consigam melhores condições táticas de engajamento, seja para seus mísseis ou para seus canhões (um ou outro, dependendo do alvo).
Ainda sobre peso (mais precisamente, massa), e as minas? Muito metal e composites ficam na parte de baixo. De quantas toneladas disso se precisa para encarar uma mina AC de 8 ou 10 kg? Ou mais? A meu ver, está ficando cada vez mais caro e pesado o bichim...
A proteção da parte inferior teria que ser a mesma dos tanques maiores se fosse o caso de resistir à minas e IED's, mas em uma área menor já que o tanque em si seria menor. De qualquer forma também não se pode cair na tentação de resistir a qualquer coisa, vide as cenas disponíveis por aí de Merkavas com mais de 60 ton subindo dezenas de metros pelos ares após passar sobre IED's no Líbano.
Finalizando, quero lembrar aos colegas que um CC não chega a ser um SISTEMA em si em um TO, ele é apenas mais um COMPONENTE SISTÊMICO. Talvez a idéia proposta fizesse maior sentido se tratássemos de um par de carros, operando em duplas: o primeiro com um tubo de alma lisa e suficientemente largo (diria 152 mm, no mínimo) para poder disparar apenas mísseis com longo alcance e alta letalidade (como o citado TOW-2B) e o segundo para ações mais "normais", além de prover proteção ao carro lança-mísseis, equipado com uma peça principal de 76 a 105 mm. Os custos seriam estratosféricos, fora o longo período para uma radical reforma doutrinária, mas me parece mais sustentável em um debate do que a solução híbrida proposta.
É o que penso.
![Cool 8-]](./images/smilies/icon_cool.gif)
Na verdade eu também imagino o uso destes tanques dentro de um sistema completo de armas, e não sozinhos. E neste sistema poderia (na minha opinião, deveria) estar incluída uma artilharia inteligente (mísseis guiados de médio alcance, na faixa entre os 10 e os 30 km) que faria o serviço do tal carro com o canhão maior lançador de mísseis mas que atuaria de posições recuadas evitando o engajamento direto com pontos fortes e CC's inimigos (e assim sem necessidade de blindagem poderosa, poderia ser usado um chassi de VBCI). E a missão de ponta-de-lança seria dos CC's mais leves, passando por cima de casamatas, ninhos de metralhadora e posições de snipers usando sua blindagem razoável, seu canhão médio e suas metralhadoras (ou canhões leves) coaxiais, enfrentaria eventuais CC's e posições de ATGW inimigas com seus mísseis AT pesados. Estes carros teriam características próximas às de um LEO 1-A5 do EB ou mesmo de um TAM, ou talvez pudessem ser até mais leves (o canhão sem dúvidas poderia ser menor e provavelmente a blindagem pudesse ser menos pesada), equipado com mísseis desenvolvidos para complementar o seu canhão e não deixá-los em desvantagem perante os carros mais pesados, que seriam a única coisa superior a eles no campo de batalha.
A idéia seria evitar a necessidade de MBT's de 60 ou mais toneladas portando canhões enormes e custando US$ 12, 15 ou mais milhões, e substituí-los por CC's de 30 ou 35 ton com preço na faixa dos US$ 5 a 7 milhões equipados com mísseis para não ficarem em desvantagem perante os gigantes e os ATGW's de infantaria. Isso permitiria inclusive que todos os veículos do sistemas de armas da cavalaria fossem desenvolvidos sobre o mesmo chassi, com todas as vantagens que esta padronização traria.
Leandro G. Card