Brasil e EUA: Uma estranha hostilidade nas Américas
Dois vastos países no mesmo hemisfério, com o mesmo apetite otimista pelo futuro, povoados por imigrantes distantes que mitigaram suas diferenças no mesmo sentido poderoso de nacionalidade, com a mesma dedicação ao governo democrático e à livre empresa, atraídos um pelo outro pelo mesmo apreço mútuo entre seus povos, encontram suas relações em um dos períodos mais baixos.
Talvez haja relações internacionais mais estranhas no mundo que a difícil relação entre EUA e Brasil, mas não há muitas. Uma amizade natural que rachou sob uma tensão inatural. Prevalece um estranhamento perverso.
O Brasil, uma espécie de EUA do trópico, acha difícil se conectar com Washington e vice-versa. O país que poderia ter sido o mais próximo aliado dos EUA (mesmo sem uma aliança formal) entre as potências em ascensão hoje é qualquer coisa menos isso. A China, um interlocutor mais confiável, tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, com as relações EUA-Brasil consignadas a um vácuo enquanto o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo deste ano e as Olimpíadas em 2016.
A causa imediata das dificuldades foi a revelação de que a Agência de Segurança Nacional americana havia espionado a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e o subsequente cancelamento por ela de uma visita de
Estado a Washington, marcada para outubro passado. Desde então, as relações entre o presidente Obama e a líder brasileira congelaram.
O Brasil quer um pedido de desculpas, que não receberá, ou pelo menos um gesto significativo dos EUA, do qual não há sinal. Infeliz com a direção política do Brasil, o governo Obama não está a caminho de um ato de contrição.
Conduzida pelo Partido dos Trabalhadores (de centro-esquerda) da presidente Rousseff, a política externa brasileira ultimamente tem aberto os braços para a Venezuela e Cuba, enquanto esfriava com Washington. Depois da entrada da Venezuela no Mercosul, em 2012, o bloco comercial sul-americano dominado pelo Brasil se transformou em uma espécie de grupo anti-EUA (em comparação com a Aliança do Pacífico, outro novo bloco comercial de economias mais pujantes, cujos membros, que incluem o Chile e o Peru, são pró-americanos).
O 50º aniversário este ano do golpe que levou o regime militar ao Brasil e causou a prisão de Rousseff, uma guerrilheira de esquerda na época de estudante, forneceu a ocasião para mais críticas aos EUA, que apoiaram a intervenção armada. O escândalo de espionagem promoveu a ideia fácil de que nada mudou, quando na verdade praticamente tudo é diferente.
A ascensão do Brasil, por ora interrompida com sua economia no quarto ano de crescimento lento, poderia naturalmente ter levado ao fim dos complexos que perturbaram suas relações com Washington, enquanto a sombra da Guerra Fria recuava. Mas as dificuldades se intensificaram.
O Brasil decidiu recentemente comprar jatos de caça suecos, esnobando os F/A-18 da Boeing. Planos ambiciosos para cooperação em defesa, energia renovável e tecnologias nuclear e espacial estão de modo geral suspensos.
Uma reunião de alto nível aqui do Grupo Estratégico Aspen e do Centro de Liderança Pública do Brasil foi marcada por um amplo acordo sobre a acuidade dos problemas, mas pouca sensação de que haverá um progresso iminente. Rousseff, cuja popularidade está em queda, disputará a reeleição em outubro. Os brasileiros querem mudanças, como mostram as pesquisas de opinião, mas nenhum dos dois maiores candidatos de oposição adquiriu um impulso significativo até agora.
Nessa atmosfera política, Rousseff não está prestes a desmentir sua recusa a Obama no ano passado; ela tampouco recuará em sua exigência de um pedido de desculpas. Ambos os passos continham uma grande medida de cálculo político, para começar. Eles foram aprovados pela população, sejam quais forem suas consequências em longo prazo.
Com a economia quase estagnada, a moeda em queda, a inflação subindo, vastos projetos de infraestrutura e planos ambiciosos para o desenvolvimento de enormes depósitos de petróleo em alto-mar retardados e acima do orçamento, o Brasil certamente se beneficiaria de uma maior cooperação com os EUA. Caracas e Havana não vão construir o futuro de uma grande nação.
O Brasil deveria reverter sua virada anti-Washington. Os EUA, por sua vez, deveriam atar laços firmes com o Brasil, seu parceiro natural no hemisfério sul, uma prioridade estratégica. Em algum momento, um gesto como uma declaração de apoio dos EUA a que o Brasil se torne um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU (uma ambição brasileira) poderia ser útil e justificável.
O problema é que a atual crise nas relações brasileiro-americanas nunca chega ao topo da agenda estratégica. Nenhum presidente tem assessores próximos promovendo a questão ou em busca de soluções criativas. Isto é compreensível, mas lamentável. Essas soluções são necessárias. Elas não serão encontradas sem um esforço decidido.
Enquanto isso, os milhões de brasileiros que viajam para comprar apartamentos em Miami ou fazer compras em Nova York, e os muitos americanos atraídos pelos esplendores do Brasil e encontrando nele uma versão tropical de seu país de imigração e promessa, promoverão a proximidade entre os povos contra um pano de fundo de alienação oficial. Com sorte, eles vencerão no final.
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