Pessoal, como temos falado sobre preferências da FAB, vou colocar uma matéria do jornal Valor Ecnômico com declaracães de memboras da indústria, para buscar enriquecer a discussão :
Fornecedores dizem que Gripen vai gerar mais negócios no país
Virgínia Silveira
A gerência do programa F-X2, de renovação dos caças da Força Aérea Brasileira (FAB), solicitou às empresas do setor aeroespacial uma nova avaliação das últimas propostas, que foram encaminhadas pelas três fabricantes que disputam o contrato estimado entre US$ 4 e 7 US$ bilhões – Boeing, Dassault e Gripen. Segundo informações de duas empresas consultadas pela FAB, foi feito um pedido adicional de esclarecimento sobre a expectativa de geração de emprego nas empresas do setor com os possíveis programas de transferência de tecnologia do F-X2.
O pedido, de acordo com especialistas que acompanham o processo de compra dos caças, foi enviado para a Embraer, Aeroeletrônica, Mectron, Atech, Friuli, Winnstal, Akaer, Imbra Aerospace, Focal , Graúna, entre outras. As últimas respostas foram encaminhadas à FAB na quarta-feira da semana passada. A Aeronáutica está finalizando o relatório técnico de avaliação das três concorrentes e a previsão é que ainda este mês o documento seja encaminhado ao ministro da Defesa, Nelson Jobim.
A reportagem solicitou ao Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer) informações sobre o novo pedido de esclarecimento encaminhado pela FAB às empresas, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Ao contrário do programa de aquisição dos helicópteros franceses, em que a FAB optou por reforçar as contrapartidas industriais, com maior envolvimento das empresas brasileiras na produção de peças e na prestação de serviços, o programa dos caças tem como foco estratégico a capacitação tecnológica da indústria nacional para a construção futura de um caça supersônico. Entre as empresas que atuam mais na área de desenvolvimento de engenharia a preferência se dá pelo sueco Gripen, pela proposta de desenvolvimento conjunto da aeronave.
“A proposta da Saab é a que melhor atende aos interesses da indústria do setor, porque prevê um trabalho conjunto de desenvolvimento do avião. Num prazo de 10 a 15 anos teremos competência de fazer um caça supersônico com engenharia brasileira”, comenta o diretor presidente da Imbra Aerospace, Jairo Cândido. O executivo, que também é diretor do Departamento de Defesa da Fiesp, coordenou as rodadas de negociação das três concorrentes do F-X2. Segundo ele, a maior parte das 150 empresas que participaram desses encontros também revelaram uma preferência pela oferta sueca, no que diz respeito a transferência de tecnologia.
“Este é o sentimento da indústria e o governo brasileiro também tem dito que não compra mais produtos de prateleira na área de defesa”. A opinião do empresário também é compartilhada pelo diretor do Ciesp de São José dos Campos, Almir Fernandes. Segundo ele, pelo menos 30 das cerca de 50 empresas da cadeia Aeronáutica brasileira acreditam que a Saab oferece melhores oportunidades de participação dessas empresas no desenvolvimento de tecnologias estratégicas, desde a fase de projeto até o nível de produção.
Lideradas pela Akaer, as empresas Friuli, Winnstal, Minoica e Friuli já estão trabalhando no desenvolvimento do novo caça sueco Gripen NG, projeto que foi ofertado pela fabricante Saab ao programa F-X2. A T1, holding que reúne as cinco empresas brasileiras, será a responsável pelo projeto e produção da fuselagem central, fuselagem traseira e asas do Gripen NG.
“Fabricar peças não agrega nenhum valor. O que nós queremos é dominar a tecnologia de desenvolvimento dos caças para, em poucos anos, sermos exportadores desse tipo de aeronave e de tecnologias que consolidarão a expansão da nossa indústria Aeronáutica, hoje bastante dependente de apenas um fornecedor, que é a Embraer”, ressalta o diretor executivo da Akaer, César Augusto da Silva.
No fim de outubro, o vice-presidente da Embraer para o Mercado de Defesa, Orlando José Ferreira Neto, declarou ao Valor que, do ponto de vista de transferência de tecnologia, a “oferta da empresa sueca Saab é a que vai assegurar ao Brasil o conhecimento e a agregação de tecnologia dentro da premissa ´on the job doing´, ou seja, aprender fazendo”.
Segundo o executivo, o Gripen é o único que oferece oportunidade para o Brasil começar o desenvolvimento de um caça do zero. “Não estamos interessados em fabricar peças. Buscamos o domínio de conhecimento que ainda não temos e que nos será útil no desenvolvimento de futuras aeronaves.” A capacitação da indústria nacional, segundo Ferreira Neto, é primordial para garantir a autonomia do país no futuro para fazer modificações nos aviões que a FAB vai adquirir e para construir um novo caça.
O presidente da Atech, uma das empresas do setor de defesa, consideradas estratégicas pelo governo brasileiro, Tarcísio Takashi Muta, disse que, a exemplo do que aconteceu com o sistema de tráfego aéreo no país, a escolha dos novos caças deve priorizar o aspecto de domínio dos sistemas da aeronave para sermos capazes de fazer as modificações que a FAB julgar necessárias. A Atech participou do processo de absorção de tecnologia de controle de tráfego aéreo, o que permitiu que o Brasil atingisse autonomia no gerenciamento do seu espaço aéreo.
Transferência de tecnologia é essencial
O presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter Bartels, disse que o processo efetivo de absorção de tecnologia ocorre através da realização da inovação ou do desenvolvimento tecnológico dentro da indústria. “É difícil transferir tecnologia de quem criou para quem vai produzir. Como regra geral, a tecnologia sensível ou para elevação do nível militar, não se transfere, não se adquire, incorpora-se.”
Para o executivo, a compra de caças supersônicos de empresas estrangeiras é necessária neste momento, pelas necessidades de curto prazo da FAB, mas o país necessita possuir, obrigatoriamente, uma capacidade real de dissuasão e isso só será possível se os respectivos meios forem de domínio tecnológico brasileiro, desenvolvidos e produzidos no país. “A indústria aeroespacial brasileira espera que, futuramente, não sejam mais necessárias aquisições no exterior mas, em casos excepcionais, sejam feitas através de um contratante principal brasileiro como ocorre em países desenvolvidos”, afirmou.
Bartels cita o caso do programa AMX, em que o Brasil levou vantagem porque pagou 30% do seu desenvolvimento e dominou 100% do avião. Entre as tecnologias resultantes desse projeto de cooperação, que o presidente da AIAB participou ativamente pela Embraer, Bartels destaca a aerodinâmica transônica, sistema de aviônica de navegação e ataque integrado, usinagem mecânica de peças complexas e comandos de voo “fly by wire”, que depois foram aplicados no desenvolvimento dos jatos comerciais da Embraer.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, o processo de aquisição dos caças do programa F-X2 é um dos melhores dos últimos 30 anos. “O processo de hoje se baseia na experiência dos erros e dos acertos do passado e tem sido um processo de aquisição mais realista e mais adequado ao tipo de aquisição, ou seja, a de um equipamento que tem de gerar no país um efeito multiplicador de absorção de tecnologia pela base industrial de defesa do país.”
Segundo Aguiar, qualquer que venha a ser a decisão, haverá grandes benefícios para a indústria nacional, graças à política de “offset” (contrapartida) que a FAB e o Ministério da Defesa vêm reafirmando desde o início do processo do F-X2. O executivo lembra que a FAB estabeleceu que 80% do offset deverá se constituir em transferência de tecnologia direta no programa. Além disso, segundo ele, os três concorrentes têm se aplicado em oferecer também trocas comerciais significativas, ou seja, compras de equipamentos no Brasil, principalmente aeronaves da Embraer.
O fato de a decisão ser política, na opinião do presidente da ABIMDE, não exclui as demais considerações inerentes ao processo. O executivo disse que os empresários envolvidos no processo estão satisfeitos com os acordos até agora firmados e que muitos já se preparam para a fase de contratação e operacional que virá logo após a decisão final. “De um modo geral percebo um clima de satisfação e de expectativa nas empresas de grande porte como também nas de médio porte”. (VS)