cabeça de martelo escreveu: Sex Jul 07, 2023 7:48 am
Quantos ST se compram com 206 milhões de euros?
DEFESA COM EUR206 MILHÕES PARA AVIÕES BRASILEIROS
Expresso
2023-07-07 06:00:14
Exigências encaixam nos Tucanos, da Embraer, coproduzidos em Portugal
Portugal prevê EUR206 milhões para aviões brasileiros. Tudo aponta para os Super Tucano da brasileira Embraer, que assim encaixa mil milhões desde 2019. Mas há dúvidas.
O Ministério da Defesa já tinha a decisão tomada quando, no passado dia 24 de abril, em Alverca, nas instalações da OGMA, António Costa e o Presidente brasileiro Lula da Silva assinaram um memorando de entendimento para “o desenvolvimento de tecnologias relacionadas com o avião A-29 Super Tucano, na sua recém--lançada versão A-29N voltada para responder às necessidades dos países da NATO”, segundo a descrição oficial no site do Governo. Nesse momento, a proposta de Lei de Programação Militar (LPM), ainda em elaboração, já previa a compra de uma “aeronave de apoio aéreo próximo”, de asa fixa (como os Super Tucano) para suporte de forças terrestres, como os comandos e os paraquedistas na missão da ONU na República Centro-Africana.
Segundo um documento anexo à proposta de revisão da LPM, da autoria do gabinete de Helena Carreiras, ministra da Defesa, a proposta de revisão da lei prevê EUR206,04 milhões para estas aeronaves “aptas a operar em ambientes instáveis, mas também em muitas regiões de África”, pois “proporcionam uma proteção armada ao movimento de forças terrestres, que efetuem ações de reconhecimento e de vigilância, com rapidez e em profundidade, em ambientes permissivos e semipermissivos”. A soma deste programa com o dos cinco aviões de transporte KC-390 comprados por EUR872 milhões, para a Força Aérea substituir os velhos Hércules C-130, representará uma faturação para a empresa brasileira superior a mil milhões de euros, desde 2019, com a venda de armamento a Portugal (onde a Embraer detém 65% da OGMA).
A Defesa, no entanto, não admite que o projeto (e futuro concurso) esteja feito à medida dos Super Tucano, apesar de a cooperação industrial, à imagem do que aconteceu com os KC-390 ser um passaporte para os brasileiros entrarem no mercado da NATO: “Quando chegar o momento serão definidos os requisitos técnicos e serão seguidos os procedimentos aplicáveis à aquisição de meios militares”, respondeu fonte oficial do gabinete da ministra. Este projeto, que consiste no único programa novo de aquisições da LPM, “foi uma lacuna identificada no sistema de forças para apoio armado às Forças Nacionais Destacadas” no exterior, explica o mesmo documento, a que o Expresso teve acesso, e que justifica assim a opção: “Numa avaliação sobre as necessidades de capacidade operacional, é mais adequada uma aeronave ligeira de asa fixa, capaz de operar a partir de pistas semipreparadas, pelas suas características de autonomia, alcance, capacidade e precisão de fogo (armamento guiado e não guiado) e rapidez de resposta, assente numa componente logística e de manutenção de apoio reduzida.”
Tucanos compatíveis com os KC-390
Embora esta descrição encaixe nos Super Tucano, o documento ainda fala na compatibilidade destes aviões com os KC-390, que a Embraer está a fornecer à Força Aérea, tendo já sido entregue uma unidade. “Uma aeronave ligeira de asa fixa”, refere o texto, “permitirá satisfazer os requisitos expedicionários, tanto pela possibilidade de projeção através do KC-390, que comporta duas aeronaves, assim como pela possibilidade de efetuar voos de longa distância, com recurso a depósitos de combustível suplementares”. Segundo o gabinete da ministra, a proposta de LPM, que será aprovada agora na Assembleia, contempla outros “projetos estruturantes” e não anula o programa do Helicóptero de Apoio, Proteção e Evacuação. “São capacidades distintas, mas complementares no contexto da amplitude de missões realizadas pelas Forças Armadas”. De acordo com o ministério, estes helicópteros também se destinam a “operações de apoio, de proteção e de evacuação de forças terrestres, permitirá a projeção, sustentação e posicionamento tático de pessoal e de equipamento, proporcionando acesso rápido a serviços médicos de emergência ou a retirada de feridos, pelo que será determinante em missões internacionais”. A Defesa não revela se estas aeronaves serão operadas pela Força Aérea ou pelo Exército.
Esta opção, porém, não é consensual. O tenente-general Alfredo Cruz (na reforma), antigo comandante operacional da Força Aérea e ex-comandante do Centro de Operações Conjunto da NATO, diz ao Expresso que o “avião Super Tucano é bom”, mas ressalva que, “no estado calamitoso em que estão as Forças Armadas, há que definir prioridade, que não podem ser esta”. Na mesma semana em que o general Cartaxo Alves, chefe do Estado-Maior da Força Aérea disse que lhe faltavam 1400 militares e que estavam em risco as missões no curto prazo, o general aponta outra emergência: “A prioridade devia ser o mar, e termos navios e aviões de patrulhamento, não há volta a dar.”
Vítor Matos