Disputas internas ameaçam a rebelião síria
Por muito tempo, Abu Bassir al-Jeblawi foi o líder rebelde mais temido do djebel turcomeno, uma região acidentada do noroeste da Síria que se projeta sobre a costa mediterrânea e a cidade de Lataquia, ainda nas mãos do governo. Abu Bassir, nome de guerra de Kamal Hamami, fundou o primeiro grupo armado da montanha turcomena com o dinheiro da família. Filho de uma família de ricos comerciantes sunitas de Lataquia, ele recebia hóspedes e jornalistas de passagem em sua mansão de Rabie, a "capital" do djebel. Seus homens participaram das mais duras batalhas.
Mas, na quinta-feira (11), Abu Bassir circulava em comboio pela montanha quando se deparou com uma barreira erguida pelos homens do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), uma emanação da Al-Qaeda no Iraque cada vez mais presente na Síria. Furioso com a nova presença desse grupo extremista em sua região, o líder rebelde exigiu a retirada da barreira. O tom se elevou, um combatente estrangeiro do EIIL atirou, matando Abu Bassir e ferindo dois de seus homens. "Você vem ao nosso país para nos ajudar ou para nos criar problemas?", teria dito o líder insurgente antes de ser morto, segundo testemunho de um de seus homens. "Vocês não têm nada a ver com o islamismo".
Proibição de fumar
Esse incidente entre os grupos da rebelião síria afiliados ao Exército Livre Sírio (ELS) e fundamentalistas islamitas não foi o primeiro, mas certamente foi o mais grave. Tanto que a Frente Al-Nosra, considerada o braço sírio da Al-Qaeda, mas resistente a qualquer fusão com o ramo iraquiano, prometeu entregar o culpado pelo assassinato de Abu Bassir.
Desde quarta-feira é grande a tensão entre o grupo jihadista, basicamente formado por combatentes estrangeiros, e o resto da rebelião. Desde o início do ano os conflitos vêm se multiplicando entre os estrangeiros da Al-Qaeda e os habitantes das "zonas libertadas" onde eles estão se instalando: às vezes a proibição de fumar dá início aos incidentes, outras vezes é a vontade de impor a bandeira negra com a profissão de fé [shahada] no lugar da bandeira da revolução.
Abu Bassir já havia se desentendido com os combatentes estrangeiros do EIIL após a tomada de um vilarejo cristão, durante a qual os jihadistas estrangeiros atacaram a igreja local. "Vê-se muito pouco o Estado Islâmico do Iraque nas operações armadas", observa Thomas Pierret, especialista em Síria e professor na Universidade de Edimburgo. "Em compensação, sua propaganda é muito presente nas redes sociais, e ele trabalha sobretudo para instalar um Estado islâmico perfeito, da maneira como ele entende".
Adolescente executado em público
Aos poucos, o braço iraquiano da Al-Qaeda, que passou dez anos combatendo em seu país de origem, vai se instalando no leste e no norte da Síria, vizinhos do Iraque. As províncias de Deir ez-Zor, Rakka, Aleppo e agora Lataquia foram alcançadas. Uma dezena de cidades passaram para seu controle, entre elas Rakka, geridas em conjunto com os rebeldes salafistas sírios de Ahrar al-Cham, mas também os vilarejos de Daret Ezza, Jarablous ou Dana. Este último, por exemplo, a menos de dez quilômetros da fronteira turca, é um lugar de passagem quase obrigatório para grande parte do auxílio humanitário destinado às províncias de Idlib e de Hama. No sábado, o Estado Islâmico atacou um entreposto de armas do ELS em Ras al-Hosn, ao norte da província de Idlib.
Em Aleppo, o EIIL executou em público um adolescente de 16 anos que havia ironizado o nome do profeta Maomé, o que provocou comoção. Em Rakka, homens encapuzados de preto são suspeitos de terem sequestrado o presidente do conselho municipal, Abdallah Khalil, um militante de direitos humanos local que queria organizar eleições após a "libertação" da cidade das forças do regime. Eles organizaram ali execuções públicas de oficiais alauítas prisioneiros, que chocaram até os revolucionários.
No sábado, em Aleppo, os moradores do bairro de Bustan al-Qasr protestaram para que os combatentes estrangeiros da Al-Qaeda, que controlam o ponto de passagem que leva às zonas governamentais, retirassem o bloqueio que atinge seus vizinhos. Conseguiram. Seria esse o sinal de um início de recuo do Estado Islâmico?
Por enquanto, o ELS, que tem dado vários alertas, parece preocupado em evitar o desencadeamento de uma guerra interna dentro da rebelião, que seria desastrosa, uma vez que o regime se encontra em plena contra-ofensiva. É difícil saber se o assassinato de Abu Bassir foi um incidente isolado ou se seria um prelúdio para uma ofensiva da Al-Qaeda para assumir o comando da rebelião, o que levaria a um processo autodestrutivo similar ao vivido pela Argélia quando o Grupo Islâmico Armado suplantou a Frente Islâmica de Salvação.
Por fim, segundo Thomas Pierret, o incidente poderia estimular os países que apoiam os moderados dentro da insurreição --a começar pela Arábia Saudita, o Reino Unido e a França-- a acelerar suas entregas de armas para evitar que seus protegidos sejam dominados pelos extremistas.
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