Não sei se já foi postado...
Acordo nuclear para o Irã: comentário em destaque
18 de maio de 2010, em Análise, Opinião, Política, Relações Internacionais, Tecnologia, Tecnologias Sensíveis, por Nunão
http://www.forte.jor.br/2010/05/18/acor ... -destaque/
Reproduzimos aqui o comentário da leitora Elizabeth, enviado em 18/05/2010, às 2:30, na matéria “Israel diz que Irã enganou Brasil e Turquia“. Uma análise que coloca em perspectiva aspectos técnicos, políticos e estratégicos muito interessantes a respeito do acordo de troca de material nuclear para o Irã, costurado pela diplomacia brasileira e turca.
“Deixa-me rapidamente explicar a questão da “bomba iraniana”, um assunto complexo altamente resumido.
Para você ter uma bomba atômica é necessário dois tipos de combustível. Urânio acima de 90% ou Plutônio.
Enriquecer Urânio a 90% é caríssimo e demora, foi utilizado no projeto Manhattan como pulverização de risco, não se sabia ao certo se uma bomba de plutônio com a tecnológica da época seria possível nem se urânio a 90% seria viável, então se tentou as duas coisas e ambas deram certo, gerando duas bombas tecnicamente distintas, Fat Man (plutônio) e Litlle Boy (Urânio).
Desde os anos 50, o caminho pelo qual quase todas as bombas atômicas são feitas é pelo uso de plutônio. Para obter este combustível você coloca urânio e um reator e dentro de algum tempo ele produz plutônio.
A questão é que tipo de Urânio você precisa colocar em função do modelo de reator.
Reatores água leve pressurizada: Coloca-se urânio enriquecido.
Reatores água pesada ou grafite: Coloca-se urânio natural (sem enriquecimento).
Os engenheiros iranianos assim como seus colegas do projeto Manhattan sabem que tem muitos desafios técnicos proporcionais a sua tecnologia disponível, então decidiram partir por dois caminhos diferentes.
Caminho 1. O urânio é retirado de três minas na região central do país e levado a uma localidade chamada Ardacam, lá é purificado e gerado o Yellow Cake, depois em Fasa é feita a conversão para hexafluoreto de urânio que é enriquecido em Ramandeh. Este urânio volta para Fasa onde são montados os conjuntos de combustível e estes irão abastecer a usina de Bushehr. Esta usina esta em operação inicial desde o ano passado.
Este é um caminho muito análogo ao Brasileiro deste a mineração a usina o processo é eminentemente civil. O único jeito de construir uma bomba por este caminho é retirar plutônio da usina de Bushehr que é fiscalizada pelos russos e nem mesmo os EUA tem desconfianças quando a honestidade russa neste processo.
Caminho 2. Este é o caminho da bomba iraniana. O caminho do urânio é o mesmo desde as minas na região central até a conversão em Yellow Cake em Ardacam. Porem em Arak, próximo a Teerã há a um reator de água pesada sendo construído, este tipo de reator utiliza urânio natural (que não passa por enriquecimento e portando por controle de nenhum país externo), utiliza água pesada que é fabricada em Kondabh (também próximo a Teerã), ao fabricar água pesada o Ira não precisa de negociar com exportadores deste tipo de insumo da industria nuclear como Argentina e Canadá.
O reator presente em Arak tem algumas características digamos “suspeitas”,
O primeiro é a sua pequena potencia. Ele tem 40MW de potencia térmica o que dá menos de 5MW de potencia útil, se fosse utilizado para gerar eletricidade forneceria o suficiente para uma cidade de apenas 40.000 habitantes.
O segundo é a utilização de urânio natural, por ser moderado a água pesada (livre portando dos percalços políticos e tecnológicos associados ao enriquecimento de urânio).
O terceiro é a sua proximidade com Teerã, um local com pouca estabilidade sísmica (onde normalmente não se constrói reatores por motivos óbvios), mas que é mais facilmente defendido de um ataque aéreo pela proximidade com a capital. O reator de Bushehr por exemplo, esta a 1300Km de Teerã, as margens do golfo não é um lugar fácil de ser atingido por um inimigo, mas é construído em um dos únicos lugares sismicamente estáveis do Irã, por ser um reator comercial não é um algo militar legítimo.
O atual acordo de troca de urânio enriquecido em solo turco muda algo no “caminho da bomba”, na pratica não porque ele esta associado ao “caminho 1” onde os fins são a usina de Bushehr que tem a Rússia como fiadora e utilizações médicas e cientificas de material nuclear enriquecido.
Já o caminho 2, aquele que passa pelo reator de Arak este em nada é afetado, porque como vimos este tipo de reator opera com urânio natural.
EUA e Rússia sabem disto, que esta ofensiva diplomática brasileira dá ao Irã um credito político junto a comunidade internacional, porque afinal de contas o “Irã cedeu” em alguma coisa.
Cedeu porem em um aspecto que nada influencia seu “caminho da bomba”. E tenham certeza esta pirotecnia diplomática brasileira em muito irritou aos países que defendem sanções ao Irã, porque em nada impede o Irã de seguir o caminho da bomba.
Em muito ajuda ganhar tempo ao governo de Teerã.
Porque EUA e Rússia não criticam o Brasil abertamente? Em um primeiro momento para não parecer que estão com dor de cotovelo diplomático, até porque não estão; o que Lula fez foi ajudar Mahmoud Ahmadinejad a parecer mais “flexivel” perante o mundo enquanto seu plano da bomba continua inalterado.
O reator de Arak fica pronto daqui a 12 meses bem como a fabricação de água pesada em Kondabh. Estes são os alvos mais estratégicos para um ataque contra o Irã.
Até 2015 haverá plutônio suficiente para a produção das primeiras ogivas. A bomba atômica do Irã esta com seu make-up de engenharia pronto, falta o combustível e o iniciador de nêutrons.
Informações da Casa Branca, tendenciosas como aquelas produzidas contra o Iraque em 2003?
Não, isto são dados da inteligência russa, país que mais coopera com o Irã hoje em programas nucleares civis, mas que tem colocado mais energia política e diplomática nos últimos 5 anos para evitar um Irã nuclear.
Sabedoria política que sobra em Moscou, mas que falta em Brasília.”
Elizabeth
IMAGEM (complexos em Arak, no Irã, e Kushab, no Paquistão): Global Security
Obs – a imagem foi escolhida pela editoria do Blog, não pela autora do comentário.