Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Sáb Abr 10, 2010 10:21 am
Barack, Teerã, Hitler, Guerra Fria, Praga, China, escala mundial, rota de colisão, ditadura, terroristas, persona non grata: a vida em 1,5 página de Word.Santiago escreveu:EDITORIAL
Brasil à deriva no apoio ao Irã
O presidente Barack Obama recepcionará líderes de 47 países na próxima semana, em
Washington, para uma reunião sobre segurança nuclear, com três trunfos na mão: a revisão da política
nuclear americana, há pouco anunciada, pela qual os Estados Unidos se comprometem a não usar
armas atômicas contra países que não as possuam, exceto estados sem lei, como Irã e Coreia do Norte;
a assinatura com a Rússia ontem, em Praga, de um pacto para redução em um terço dos arsenais
nucleares, apontando para uma nova era de cooperação entre os grandes ex-inimigos da Guerra Fria (a
Rússia é a sucessora legal da União Soviética); e, finalmente, a concordância da China em conversar
sobre as novas sanções que os EUA e o Ocidente desejam aplicar ao Irã, pela falta de transparência de
seu programa nuclear, considerado uma ameaça em escala mundial.
A revisão da política americana feita pelo governo Obama reflete preocupação, não com outras
potências nucleares, como Rússia e China, mas com a proliferação: se estados sem lei, no sentido de
não confiáveis, como Irã e Coreia do Norte, obtiverem armas atômicas, ainda que rudimentares, muito
mais provável se torna a hipótese de que elas caiam em poder de redes terroristas, como a al-Qaeda.
Estaria criado o pesadelo do terror nuclear.
Daí a busca de consenso para a imposição de sanções destinadas a interromper o
desenvolvimento do programa nuclear iraniano, uma vez que Teerã rejeita submetê-lo à Agência
Internacional de Energia Atômica (em relação à Coreia do Norte, há um trabalho permanente que
envolve os EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).
Nesse contexto, quanto mais cresce a compreensão de que é preciso evitar que o Irã -
governado por uma ditadura militar e teocrática com objetivos expansionistas - desenvolva armas
nucleares, mais delicada se torna a posição do Brasil. O governo Lula adota uma política externa de
protagonismo terceiro-mundista que, para seus artífices, o "Itamaraty do B", é a melhor forma de
defender os interesses do país. Ela se pauta, estranhamente, pelo apoio a ditaduras - como as de Cuba,
Venezuela e Irã - colocando o Brasil em rota de colisão com os EUA e o mundo. O argumento do
presidente Lula é que "o Brasil conversa com todos". O do chanceler Celso Amorim é que não se deve
pressionar o Irã porque isso poderá levar a maior radicalização de sua liderança. Imagine-se este
argumento aplicado a Hitler.
Os EUA aceleram as gestões para que o Conselho de Segurança da ONU aprove o quanto antes
novas sanções ao Irã. A China, o maior aliado iraniano, aceita conversar sobre a hipótese, embora não
se possa dizer que vá concordar com ela. Sobra o Brasil, que, claro, também aceita conversar, mas
insiste em dar o benefício da dúvida ao Irã. Se não houver uma evolução da posição brasileira, o
presidente Lula chegará a Teerã em maio, retribuindo visita de Ahmadinejad a Brasília, em novembro,
num um dilema infernal: se o Brasil votar na ONU a favor das sanções, desembarcará como persona non
grata. Se recorrer à abstenção, desagradará tanto a Ahmadinejad quanto ao Primeiro Mundo. E se, num
ato delirante, votar contra as sanções, a diplomacia brasileira terá ficado refém de Teerã.