Atualizado em 21 de fevereiro, 2011 - 15:30 (Brasília) 18:30 GMT
Diplomatas líbios na ONU pedem intervenção internacional no país
Em um ato de rompimento com o regime de Muamar Khadafi, membros da delegação de diplomatas da Líbia na ONU pediram, nesta segunda-feira, uma intervenção internacional contra a onda de violência no país.
O vice-embaixador da Líbia no órgão, Omar Al-Dabbashi, fez um apelo por proteção aos cidadãos contra o que definiu como "genocídio" patrocinado pelo governo líbio contra manifestantes que há dias estão saindo às ruas para protestar contra o regime e pedir a renúncia de Khadafi.
Dabbashi também pediu que as Nações Unidas interditassem o espaço aéreo sobre a capital líbia, Trípoli, onde relatos não confirmados dizem que pelo menos um avião de combate disparou contra manifestantes.
Também nesta segunda-feira, o embaixador líbio na Índia, Ali Al-Issawi, disse à BBC que decidiu deixar o cargo em protesto contra o uso de violência por parte do governo e afirmou que mercenários estrangeiros foram mobilizados para atuar contra cidadãos líbios.
O embaixador na Liga Árabe, Abdel Moneim Al-Honi, disse a jornalistas, no Cairo, que está se unindo à revolução, enquanto o embaixador líbio na China também renunciou.
De acordo com o jornal Quryna, o ministro da Justiça, Mustafa Abdal Khalil, também renunciou em protesto contra a violência no país.
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Paradeiro de Khadafi
Também nesta segunda-feira, o chanceler britânico, William Hague, citou supostas informações sobre uma possível ida de Khadafi à Venezuela.
Um alto funcionário do governo venezuelano, no entanto, negou que líder líbio será recebido no país, ao afirmar que não houve comunicação com Trípoli.
“Não recebemos nenhum pedido de asilo”, disse o funcionário do governo venezuelano à BBC Brasil.
Repórteres da BBC apuraram que Khadafi estava em território líbio quando conversou com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na tarde desta segunda-feira.
Na conversa, Ban disse ter pedido o fim imediato da violência contra os manifestantes e proteção para a população civil.
A correspondente da BBC em Argel Chloe Arnold citou relatos de um repórter confiável que foi à casa de Khadafi em Trípoli nesta segunda-feira.
Ele disse que havia poucos seguranças nos portões e que, aparentemente, não havia ninguém na casa.
Uma fonte informou ao correspondente da BBC no Cairo Jon Leyne que há indícios de que, por causa dos protestos, Khadafi possa ter saído da capital, Trípoli, em direção ao sul da Líbia.
Os indícios são comboios de veículos vistos deixando a capital e uma movimentação acima do comum no aeroporto de Trípoli.
Para Leyne, esses são sinais de que Khadafi não pretende abandonar seu país, mas retirar-se da capital, para onde os protestos migraram na noite de domingo e na manhã desta segunda-feira.
Também há dúvidas quanto a se algum país receberia o líder líbio caso ele decidisse se exilar.
Diálogo
Também nesta segunda-feira, a chanceler da União Europeia, Catherine Ashton, voltou a condenar a violência no Bahrein e na Líbia.
Após um encontro de ministros de Relações Exteriores europeus, Ashton disse que a Líbia deveria respeitar os direitos dos cidadãos de protestar pacificamente e pediu diálogo.
“Condenamos a repressão contra os manifestantes e lamentamos a violência e a morte de civis. Pedimos o fim imediato do uso da força contra os manifestantes e pedimos a todas as partes que se contenham", disse.
Ashton disse ainda que viajaria ao Egito nos próximos dias para encorajar as autoridades locais a serem mais transparentes sobre o avanço em direção à democracia.
Ao mesmo tempo, o filho de Khadafi, Saif Al-Islam, ordenou a criação de um comitê de investigação sobre as circunstâncias das mortes ocorridas nas recentes manifestações no país, segundo a TV estatal líbia. O suposto comitê contará com um juiz líbio e com grupos de direitos humanos do país e estrangeiros.
Tensão nas ruas
O regime comandado por Khadafi lançou uma dura campanha de repressão contra os protestos. Testemunhas afirmam que manifestantes que saíram às ruas da capital, Trípoli, na noite de domingo, foram atacados por forças de segurança com armas de fogo e gás lacrimogêneo.
Segundo dados de organizações médicas e de direitos humanos, mais de duzentas pessoas teriam morrido desde o início, na semana passada, das manifestações que pedem que Khadafi renuncie após passar mais de 40 anos no poder.
Nesta segunda, em comunicado na TV estatal líbia, um “comitê de defesa” interino pediu ajuda da população para identificar as “gangues terroristas” responsáveis pelos atos de protestos e supostos danos causados a edifícios governamentais.
“O que está ocorrendo é responsabilidade de um grupo de jovens que estão sendo usados por outros, que seguem instruções do exterior”, disse o comunicado.
Nesta segunda-feira, há relatos de que as ruas da cidade estavam tranquilas, com forças do governo patrulhando a Praça Verde, um local que vem sendo usado pelos manifestantes.
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Houve sons de tiros nas primeiras horas da manhã, e bombeiros tentavam controlar um incêndio em um prédio do governo no centro da cidade, a Assembleia do Povo, que foi incendiada por manifestantes.
Benghazi, a segunda cidade do país, estaria nas mãos de manifestantes. Segundo testemunhas, a polícia fugiu de Zawiyah, a oeste da capital, e a cidade teria caído no caos. Há relatos de que muitos moradores estariam fugindo para a vizinha Tunísia.
*colaborou Claudia Jardim, de Caracas para a BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... u_cc.shtml