LAGER, o horror do nazismo.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
É a mesma razão pelo qual os militares dos Carros de Combate na Alemanha e em Portugal também usavam uniformes negros.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
ALEKSEY BRIS E OS SONHOS DESTROÇADOS DOS UCRANIANOS.
Laurence Rees.
Parte da dificuldade em compreender a História é que os eventos jazem inertes no passado, certos, imutáveis, como se feitos de concreto. O Exército Vermelho venceu em Stalingrado; Churchill tornou-se um herói nacional; Hitler perdeu a guerra: estes enunciados factuais parecem tão autênticos quanto o ar que respiramos. Mas, de modo a tentar penetrar as mentes das pessoas daquela época, temos de divisar um momento quando os fatos não eram tão certos - quando indivíduos foram confrontados com decisões que poderiam ter saído de outra forma. Portanto, precisamos imaginar que o Exército Vermelho podia ter sido derrotado em Stalingrado; que a carreira de Churchill podia ter acabado na ignomínia; que Hitler não precisava ter perdido a guerra. E percebo, ao escutar um velho ucraniano grisalho, chamado de Aleksey Bris, que sua particularmente dramática história demanda tal abordagem. Pois, como um estudante de dezoito anos, no verão de 1941, ele inicialmente pensara que a invasão alemã poderia trazer resultados benéficos para a Ucrânia, acreditando - errôneamente como se verá - que "qualquer guerra contra a União Soviética era uma boa guerra".
A Ucrânia tinha sofrido massivamente sob Stalin. Durante os anos 1930 e a era da coletivização forçada, por volta de sete milhões de ucranianos tinham morrido em meio a cenas de horror que ainda perturbam a consciência coletiva da nação. "Estas repressões deixaram o povo enfurecido," disse Bris, "os deixaran temeroso, e esta sensação de terror - aqueles que não a sentiram, nem podem imaginá-la. Eis porquê, quando a guerra irrompeu entre a Alemanha e a União Soviética, a população pensou que as coisas mudariam para melhor."
Aliada a esta crença de que os alemães tinham de ser uma melhoria em relação aos soviéticos, estava a convicção de que Stalin e seus homens não voltariam: "Todo mundo pensava bem no começo que a guerra resultaria na completa derrota da União Soviética," disse Aleksey. "Havia a sensação de que a União Soviética poderia entrar em colapso - o colapso que aconteceria nos anos 1990, poderia ter acontecido naquela época."
Ele revelou que durante os primeiros dias da ocupação nazista "os ucranianos podiam ver um modo de vida diferente. Eles viam que podiam ir aos bailes e usar roupas diferentes e que havia livre comunicação entre as pessoas."
Quando ouvi Aleksey Bris dizer estas palavras, sentado em sua pequena casa, pouco afastada de sua aldeia natal de Horokhiv, ele escancarou uma visão inteira do que poderia ter acontecido. Talvez ele estivesse certo; talvez a totalidade do edifício da União Soviética pudesse ter tombado cinqüenta anos antes do que aconteceu. Afinal, tinha sido o mais importante conselheiro militar de Hitler, Alfred Jodl, quem dissera, justamente antes da invasão, "O colosso russo provará ser uma bexiga de porco - fure-a e ela estoura." Jodl estava errado, é claro - "o colosso russo" não "estourou" como uma "bexiga de porco". E uma razão crucial para isso não ter ocorrido foi que os nazistas não capitalizaram o ódio que as várias nacionalidades dentro da União Soviética tinham por Stalin - porque o nazismo era uma das mais inerentemente exclusivistas ideologias que já existiram.
Desde o próprio início, nos dias imediatamente posteriores à Grande Guerra, os nazistas, primordialmente, definiam a si próprios em relação àqueles que excluíam - notavelmente, os judeus.
Adolf Hitler, que tornou-se líder do incipiente Partido Nazista em 1921, compreendia que era muito mais fácil criar uma política partidária coerente por meio de uma série de negações - ódio aos judeus, ódio aos comunistas, ódio ao Tratado de Versalhes, ódio aos socialistas - do que definindo, exatamente, quais posições os nazistas defendiam. Isto mostrou ser uma estratégia eficaz por algum tempo, pois sempre que os nazistas se encontravam para tratar dos detalhes precisos de suas políticas econômicas ou socials, eles brigavam como crianças. Não, percebeu Hitler, de longe era melhor manter as políticas "positivas" tão vagas quanto possível - um apelo para uma Alemanha "forte, unida e racialmente pura", por exemplo - e para concentrar seus esforços em elencar, detalhadamente, apenas as negativas.
Hitler tornou-se popular durante os anos 1930, em parte porque fez muitos alemães sentirem-se bem consigo próprios, depois de anos de percebida humilhação, enquanto ele pregava que os alemães "arianos" eram um povo superior (excluidos, é claro, os judeus alemães - que constituíam menos do que um porcento da população). Como os japoneses tinham descoberto centenas de anos antes, enquanto não houvesse expansão além das fronteiras do estado existente, e enquanto a vasta maioria da população fosse de um único grupo étnico ou nacional, esta política de exclusão podia ser eficaz. Mas a estratégia de definir quem era um "verdadeiro" alemão de quem não era, começou a tornar-se um problema para os nazistas, uma vez que tentaram criar um império.
Hitler acreditava no mais profundo de seu ser, em excluir os habitantes eslavos dos países do leste da cidadania do novo Reich: ele via os eslavos como "escravos", que "procriavam como vermes". Olhando para o Leste, e as valiosas terras agrícolas da Ucrânia, ele disse, "É inconcebível que um povo superior [isto é, os alemães] deva existir dolorosamente sobre um solo que é escasso demais para ele, enquanto massas amorfas, que em nada contribuem para a civilização, ocupem tratos infinitos de solo que é um dos mais ricos no mundo." Erich Koch, um dos mais antigos e mais leais seguidores de Hitler, foi nomeado comissário do Reich para a Ucrânia e ansiosamente colocou o sonho de seu Führer em prática. Ele declarou sua política para a administração da cidade, em Kiev, a capital da Ucrânia: "Nós somos uma raça-mestre que precisa lembrar que o mais baixo trabalhador alemão é racialmente e biologicamente, mil vezes mais valioso do que a população daqui." Em termos práticos, isso queria dizer que Koch imporia numerosos medidas draconianas, incluindo a retirada da educação. "Crianças ucranianas não precisam de escolas," anunciou ele. "O que elas terão de aprender, aprenderão com seus mestres alemães."
Tudo isto teve um impacto dramático sobre a vida de Aleksey Bris que tinha aceito trabalhar para os nazistas como tradutor. Ele até mesmo começou um relacionamento com uma das mulheres alemãs que trabalhavam na administração partidária local. Mas, logo percebeu "uma brecha" crescendo entre ele próprio e seus novos empregadores. Seu relacionamento com a secretária alemã fracassou quando tornou-se claro que qualquer tipo de relacionamento íntimo entre alemães e ucranianos - mesmo ucranianos que estavam servindo lealmente ao estado nazista - era perigoso. Mas foi uma conversa que Aleksey teve com seu chefe, Ernst Erich Haerter, o comissário para Horokhiv, que foi decisiva. Ele perguntou se seria possível para ele continuar seus estudos e tornar-se médico, antevendo que os alemães aprovariam sua ambição - afinal de contas, raciocinava, ele estaria mais bem preparado para servir aos nazistas como um médico do que um tradutor.
"Nós não precisamos de vocês, ucranianos, como médicos ou engenheiros," respondeu Haerter. "Nós precisamos de vocês como gente que cuide de vacas."
Aleksey ficou chocado com as palavras de Haerter. Ele era um jovem brilhante e ambicioso, e cuidar de vacas não era para ele. Mas, já que os alemães estavam no poder, o que podia ele fazer?
Sua fúria para com as injustiças ao povo ucraniano, incluindo seus próprios sonhos e esperanças esmagados, repentiname irrompeu de forma dramática num dia do outono de 1942, em Horokhiv. Um grupo de locais estava fazendo fila para comprar potes e panelas. De repente, o policial alemão que supervisionava a fila, começou a agredir um deles com seu bastão. Enquanto Aleksey observava o espancamento, isso detonou algo dentro dele: "Pouco a pouco, meus sentimentos de raiva foram crescendo e eu sentia que estava à beira de um colapso mental... as emoções vêm primeiro e você não pensa nas conseqüências... uma sensação surgiu em mim, de que eu apenas odiava que nossa nação fosse levada à escravidão. Quando você sente que a nação inteira está sendo humilhada, você tem de fazer alguma coisa, quer goste ou não, portanto eu estava pronto para atacá-los." Consumido pela ira, ele correu à frente e agarrou o braço do policial, impedindo-o de continuar o espancamento. Outros alemães próximos, sacaram suas armas e o perseguiram, mas Aleksey era rápido demais para eles e correu para as florestas. Uma vez lá, ele juntou-se aos Partisans Ucranianos Nacionalistas - o Ukrainska Povsanska Armiia.
Pelos próximos dois anos, Aleksey participou numa brutal guerra partisan. O Ukrainska Povsanska Armiia enfrentava não só os alemães, mas os próprios partisans de Stalin, também. Prisioneiros não eram tomados, de nenhum lado. Estórias de como os partisans do Exército Vermelho tratavam os ucranianos quando os capturavam - línguas e orelhas cortadas fora - eram legião. Por comparação, Aleksey lembra que os alemães eram relativamente suaves - eles "apenas" enforcavam gente e não se entregavam à tortura de antemão.
A jornada que Aleksey Bris seguiu - da esperança de que os alemães trariam a independência, à angústia com sua política de transformar a Ucrânia num estado escravo - foi replicada em muitos outros ucranianos. E sem dúvida, a política dos nazistas obstruiu, diretamente, sua luta contra a União Soviética. Seu racismo primeiro excluiu a possibilidade do auxílio ucraniano e, então, eventualmente, converteu os ucranianos, como Aleksey Bris, em inimigos adicionais. Então, por quê Hitler não fez a coisa "sensata" e deu ordens para uma ocupação mais leniente dos territórios como a Ucrânia? Nesta matéria, como em muitas outras, o Führer era incapaz de agir "sensatamente". Tão profundamente enraizada era sua convicção de que os alemães eram uma raça-mestre, destinada a transformar os povos eslavos em escravos, que para ele mudar esta única crença teria sido como pedir-lhe que parasse de respirar.
Nós temos sorte de que os nazistas não aprendessem com a história. Quase dois mil anos antes da ocupação de Hitler da Ucrânia, outro exército europeu estava lutando sua própria guerra de conquista. Mas, ao contrário dos nazistas, os romanos criariam um dos mais bem sucedidos impérios na história. E eles o construíram precisamente sobre o princípio oposto daquele que os nazistas empregaram. Ao invés de excluir os povos das terras que invadiam, eles buscaram trazê-los para o seu lado. Alianças com chefes locais eram fundamentais para a estabilidade e crescimento do império. Era até mesmo possível para os estrangeiros tornarem-se cidadãos romanos plenos. O imperador Caracala, que reinou entre 211 e 217 d.C, conferiu cidadania romana a todos os habitantes do império que não fossem escravos. E as conseqüências da decisão de Hitler em perseguir uma política muito diferente e excluir grupos étnicos inteiros da cidadania no Reich alemão pode ser expressa numa gritante estatística: o Império romano durou mais de quinhentos anos, o Terceiro Reich, somente doze.
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extraído de "Their Darkest Hour_People Tested to the Extreme in WWII (2007 - Laurence Rees)
Laurence Rees.
Parte da dificuldade em compreender a História é que os eventos jazem inertes no passado, certos, imutáveis, como se feitos de concreto. O Exército Vermelho venceu em Stalingrado; Churchill tornou-se um herói nacional; Hitler perdeu a guerra: estes enunciados factuais parecem tão autênticos quanto o ar que respiramos. Mas, de modo a tentar penetrar as mentes das pessoas daquela época, temos de divisar um momento quando os fatos não eram tão certos - quando indivíduos foram confrontados com decisões que poderiam ter saído de outra forma. Portanto, precisamos imaginar que o Exército Vermelho podia ter sido derrotado em Stalingrado; que a carreira de Churchill podia ter acabado na ignomínia; que Hitler não precisava ter perdido a guerra. E percebo, ao escutar um velho ucraniano grisalho, chamado de Aleksey Bris, que sua particularmente dramática história demanda tal abordagem. Pois, como um estudante de dezoito anos, no verão de 1941, ele inicialmente pensara que a invasão alemã poderia trazer resultados benéficos para a Ucrânia, acreditando - errôneamente como se verá - que "qualquer guerra contra a União Soviética era uma boa guerra".
A Ucrânia tinha sofrido massivamente sob Stalin. Durante os anos 1930 e a era da coletivização forçada, por volta de sete milhões de ucranianos tinham morrido em meio a cenas de horror que ainda perturbam a consciência coletiva da nação. "Estas repressões deixaram o povo enfurecido," disse Bris, "os deixaran temeroso, e esta sensação de terror - aqueles que não a sentiram, nem podem imaginá-la. Eis porquê, quando a guerra irrompeu entre a Alemanha e a União Soviética, a população pensou que as coisas mudariam para melhor."
Aliada a esta crença de que os alemães tinham de ser uma melhoria em relação aos soviéticos, estava a convicção de que Stalin e seus homens não voltariam: "Todo mundo pensava bem no começo que a guerra resultaria na completa derrota da União Soviética," disse Aleksey. "Havia a sensação de que a União Soviética poderia entrar em colapso - o colapso que aconteceria nos anos 1990, poderia ter acontecido naquela época."
Ele revelou que durante os primeiros dias da ocupação nazista "os ucranianos podiam ver um modo de vida diferente. Eles viam que podiam ir aos bailes e usar roupas diferentes e que havia livre comunicação entre as pessoas."
Quando ouvi Aleksey Bris dizer estas palavras, sentado em sua pequena casa, pouco afastada de sua aldeia natal de Horokhiv, ele escancarou uma visão inteira do que poderia ter acontecido. Talvez ele estivesse certo; talvez a totalidade do edifício da União Soviética pudesse ter tombado cinqüenta anos antes do que aconteceu. Afinal, tinha sido o mais importante conselheiro militar de Hitler, Alfred Jodl, quem dissera, justamente antes da invasão, "O colosso russo provará ser uma bexiga de porco - fure-a e ela estoura." Jodl estava errado, é claro - "o colosso russo" não "estourou" como uma "bexiga de porco". E uma razão crucial para isso não ter ocorrido foi que os nazistas não capitalizaram o ódio que as várias nacionalidades dentro da União Soviética tinham por Stalin - porque o nazismo era uma das mais inerentemente exclusivistas ideologias que já existiram.
Desde o próprio início, nos dias imediatamente posteriores à Grande Guerra, os nazistas, primordialmente, definiam a si próprios em relação àqueles que excluíam - notavelmente, os judeus.
Adolf Hitler, que tornou-se líder do incipiente Partido Nazista em 1921, compreendia que era muito mais fácil criar uma política partidária coerente por meio de uma série de negações - ódio aos judeus, ódio aos comunistas, ódio ao Tratado de Versalhes, ódio aos socialistas - do que definindo, exatamente, quais posições os nazistas defendiam. Isto mostrou ser uma estratégia eficaz por algum tempo, pois sempre que os nazistas se encontravam para tratar dos detalhes precisos de suas políticas econômicas ou socials, eles brigavam como crianças. Não, percebeu Hitler, de longe era melhor manter as políticas "positivas" tão vagas quanto possível - um apelo para uma Alemanha "forte, unida e racialmente pura", por exemplo - e para concentrar seus esforços em elencar, detalhadamente, apenas as negativas.
Hitler tornou-se popular durante os anos 1930, em parte porque fez muitos alemães sentirem-se bem consigo próprios, depois de anos de percebida humilhação, enquanto ele pregava que os alemães "arianos" eram um povo superior (excluidos, é claro, os judeus alemães - que constituíam menos do que um porcento da população). Como os japoneses tinham descoberto centenas de anos antes, enquanto não houvesse expansão além das fronteiras do estado existente, e enquanto a vasta maioria da população fosse de um único grupo étnico ou nacional, esta política de exclusão podia ser eficaz. Mas a estratégia de definir quem era um "verdadeiro" alemão de quem não era, começou a tornar-se um problema para os nazistas, uma vez que tentaram criar um império.
Hitler acreditava no mais profundo de seu ser, em excluir os habitantes eslavos dos países do leste da cidadania do novo Reich: ele via os eslavos como "escravos", que "procriavam como vermes". Olhando para o Leste, e as valiosas terras agrícolas da Ucrânia, ele disse, "É inconcebível que um povo superior [isto é, os alemães] deva existir dolorosamente sobre um solo que é escasso demais para ele, enquanto massas amorfas, que em nada contribuem para a civilização, ocupem tratos infinitos de solo que é um dos mais ricos no mundo." Erich Koch, um dos mais antigos e mais leais seguidores de Hitler, foi nomeado comissário do Reich para a Ucrânia e ansiosamente colocou o sonho de seu Führer em prática. Ele declarou sua política para a administração da cidade, em Kiev, a capital da Ucrânia: "Nós somos uma raça-mestre que precisa lembrar que o mais baixo trabalhador alemão é racialmente e biologicamente, mil vezes mais valioso do que a população daqui." Em termos práticos, isso queria dizer que Koch imporia numerosos medidas draconianas, incluindo a retirada da educação. "Crianças ucranianas não precisam de escolas," anunciou ele. "O que elas terão de aprender, aprenderão com seus mestres alemães."
Tudo isto teve um impacto dramático sobre a vida de Aleksey Bris que tinha aceito trabalhar para os nazistas como tradutor. Ele até mesmo começou um relacionamento com uma das mulheres alemãs que trabalhavam na administração partidária local. Mas, logo percebeu "uma brecha" crescendo entre ele próprio e seus novos empregadores. Seu relacionamento com a secretária alemã fracassou quando tornou-se claro que qualquer tipo de relacionamento íntimo entre alemães e ucranianos - mesmo ucranianos que estavam servindo lealmente ao estado nazista - era perigoso. Mas foi uma conversa que Aleksey teve com seu chefe, Ernst Erich Haerter, o comissário para Horokhiv, que foi decisiva. Ele perguntou se seria possível para ele continuar seus estudos e tornar-se médico, antevendo que os alemães aprovariam sua ambição - afinal de contas, raciocinava, ele estaria mais bem preparado para servir aos nazistas como um médico do que um tradutor.
"Nós não precisamos de vocês, ucranianos, como médicos ou engenheiros," respondeu Haerter. "Nós precisamos de vocês como gente que cuide de vacas."
Aleksey ficou chocado com as palavras de Haerter. Ele era um jovem brilhante e ambicioso, e cuidar de vacas não era para ele. Mas, já que os alemães estavam no poder, o que podia ele fazer?
Sua fúria para com as injustiças ao povo ucraniano, incluindo seus próprios sonhos e esperanças esmagados, repentiname irrompeu de forma dramática num dia do outono de 1942, em Horokhiv. Um grupo de locais estava fazendo fila para comprar potes e panelas. De repente, o policial alemão que supervisionava a fila, começou a agredir um deles com seu bastão. Enquanto Aleksey observava o espancamento, isso detonou algo dentro dele: "Pouco a pouco, meus sentimentos de raiva foram crescendo e eu sentia que estava à beira de um colapso mental... as emoções vêm primeiro e você não pensa nas conseqüências... uma sensação surgiu em mim, de que eu apenas odiava que nossa nação fosse levada à escravidão. Quando você sente que a nação inteira está sendo humilhada, você tem de fazer alguma coisa, quer goste ou não, portanto eu estava pronto para atacá-los." Consumido pela ira, ele correu à frente e agarrou o braço do policial, impedindo-o de continuar o espancamento. Outros alemães próximos, sacaram suas armas e o perseguiram, mas Aleksey era rápido demais para eles e correu para as florestas. Uma vez lá, ele juntou-se aos Partisans Ucranianos Nacionalistas - o Ukrainska Povsanska Armiia.
Pelos próximos dois anos, Aleksey participou numa brutal guerra partisan. O Ukrainska Povsanska Armiia enfrentava não só os alemães, mas os próprios partisans de Stalin, também. Prisioneiros não eram tomados, de nenhum lado. Estórias de como os partisans do Exército Vermelho tratavam os ucranianos quando os capturavam - línguas e orelhas cortadas fora - eram legião. Por comparação, Aleksey lembra que os alemães eram relativamente suaves - eles "apenas" enforcavam gente e não se entregavam à tortura de antemão.
A jornada que Aleksey Bris seguiu - da esperança de que os alemães trariam a independência, à angústia com sua política de transformar a Ucrânia num estado escravo - foi replicada em muitos outros ucranianos. E sem dúvida, a política dos nazistas obstruiu, diretamente, sua luta contra a União Soviética. Seu racismo primeiro excluiu a possibilidade do auxílio ucraniano e, então, eventualmente, converteu os ucranianos, como Aleksey Bris, em inimigos adicionais. Então, por quê Hitler não fez a coisa "sensata" e deu ordens para uma ocupação mais leniente dos territórios como a Ucrânia? Nesta matéria, como em muitas outras, o Führer era incapaz de agir "sensatamente". Tão profundamente enraizada era sua convicção de que os alemães eram uma raça-mestre, destinada a transformar os povos eslavos em escravos, que para ele mudar esta única crença teria sido como pedir-lhe que parasse de respirar.
Nós temos sorte de que os nazistas não aprendessem com a história. Quase dois mil anos antes da ocupação de Hitler da Ucrânia, outro exército europeu estava lutando sua própria guerra de conquista. Mas, ao contrário dos nazistas, os romanos criariam um dos mais bem sucedidos impérios na história. E eles o construíram precisamente sobre o princípio oposto daquele que os nazistas empregaram. Ao invés de excluir os povos das terras que invadiam, eles buscaram trazê-los para o seu lado. Alianças com chefes locais eram fundamentais para a estabilidade e crescimento do império. Era até mesmo possível para os estrangeiros tornarem-se cidadãos romanos plenos. O imperador Caracala, que reinou entre 211 e 217 d.C, conferiu cidadania romana a todos os habitantes do império que não fossem escravos. E as conseqüências da decisão de Hitler em perseguir uma política muito diferente e excluir grupos étnicos inteiros da cidadania no Reich alemão pode ser expressa numa gritante estatística: o Império romano durou mais de quinhentos anos, o Terceiro Reich, somente doze.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Depois de ler isso, penso que os ucranianos tem expertise em conspirar contra a mãe Rússia!
Sobre o tópico em si, o autor recebeu quanto do povo eleito?
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Sobre o tópico em si, o autor recebeu quanto do povo eleito?
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Nada.FOXTROT escreveu:Sobre o tópico em si, o autor recebeu quanto do povo eleito?
O governo israelense nunca me pagou nada pelos textos.
Eu posto porque gosto. De livre e espontânea vontade.
Se alguém não gosta, não precisa sequer abrir o tópico. Ou então, pode ir reclamar com a moderação se acredita que há algo errado.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Quando a Alemanha invadiu a União Soviética, Um General Ucraniano colocou 1,5 milhões de ucranianos para lutar ao lado da Alemanha...
Ao invés de aceitar a ajuda generosa Adolphi Hitler preferiu tratar os ucranianos como inferiores e perder a guerra no final....
FONTE: http://www.skoob.com.br/livro/resenhas/311504
Ao invés de aceitar a ajuda generosa Adolphi Hitler preferiu tratar os ucranianos como inferiores e perder a guerra no final....
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Clermont escreveu:Nada.FOXTROT escreveu:Sobre o tópico em si, o autor recebeu quanto do povo eleito?
O governo israelense nunca me pagou nada pelos textos.
Eu posto porque gosto. De livre e espontânea vontade.
Se alguém não gosta, não precisa sequer abrir o tópico. Ou então, pode ir reclamar com a moderação se acredita que há algo errado.
Clermont, peço desculpas, cometi um erro. Falo do texto que originou o tópico, não de quem criou o tópico.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Ocorre que o texto que originou o tópico é de minha autoria.FOXTROT escreveu:Clermont, peço desculpas, cometi um erro. Falo do texto que originou o tópico, não de quem criou o tópico.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
A argumentação do texto em causa faz referências à verdade histórica.
Quando as tropas alemãs do grupo de exércitos sul invadiram a Ucrânia a 22 de Junho de 1941, depararam-se perante o grupo mais poderoso de todos quantos os soviéticos dispunham. Não fosse a oposição e a intervenção de grupos de guerrilheiros anti-comunistas, provavelmente o avanço do grupo norte teria tido muito mais problemas que os que encontrou.
O grupo de exércitos que os russos mantinham na Ucrânia foi vencido quando tropas blindadas do grupo de exércitos do centro avançaram desde norte, mas a destruição dos exércitos russos cercados teve a colaboração dos ucrânianos.
Qualquer analista da II guerra mundial conclui depois de analisar a verdade dos factos, que os alemães cometeram um erro estratégico de dimensões colossais ao não aproveitar as divisões entre as várias Russias.
Havia um poderoso movimento anti-comunista na Ucrânia em 1941 e em grande medida, é esse movimento que leva Estaline a enviar tanta tropa do exército vermelho para a Ucrânia.
No entanto, curiosamente, essa realidade sempre foi manipulada pela História da Grande Guerra Patriótica.
A História oficial, criou a ideia de um grande povo russo que se levantou para vencer o invasor alemão, quando na realidade existiam todas as condições para que os ucrânianos facilitassem o trabalho dos alemães.
A vitória sobre a Russia deve-se por isso, muito mais à inepcia de Hitler e à sua certeza na sua própria infalibilidade, que na resistência dos russos, que existiu, é claro, mas foi condicionada por um lado pela brutalidade dos alemães e por outro pela brutalidade dos próprios russos.
Quando as tropas alemãs do grupo de exércitos sul invadiram a Ucrânia a 22 de Junho de 1941, depararam-se perante o grupo mais poderoso de todos quantos os soviéticos dispunham. Não fosse a oposição e a intervenção de grupos de guerrilheiros anti-comunistas, provavelmente o avanço do grupo norte teria tido muito mais problemas que os que encontrou.
O grupo de exércitos que os russos mantinham na Ucrânia foi vencido quando tropas blindadas do grupo de exércitos do centro avançaram desde norte, mas a destruição dos exércitos russos cercados teve a colaboração dos ucrânianos.
Qualquer analista da II guerra mundial conclui depois de analisar a verdade dos factos, que os alemães cometeram um erro estratégico de dimensões colossais ao não aproveitar as divisões entre as várias Russias.
Havia um poderoso movimento anti-comunista na Ucrânia em 1941 e em grande medida, é esse movimento que leva Estaline a enviar tanta tropa do exército vermelho para a Ucrânia.
No entanto, curiosamente, essa realidade sempre foi manipulada pela História da Grande Guerra Patriótica.
A História oficial, criou a ideia de um grande povo russo que se levantou para vencer o invasor alemão, quando na realidade existiam todas as condições para que os ucrânianos facilitassem o trabalho dos alemães.
A vitória sobre a Russia deve-se por isso, muito mais à inepcia de Hitler e à sua certeza na sua própria infalibilidade, que na resistência dos russos, que existiu, é claro, mas foi condicionada por um lado pela brutalidade dos alemães e por outro pela brutalidade dos próprios russos.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Clermont escreveu:Ocorre que o texto que originou o tópico é de minha autoria.FOXTROT escreveu:Clermont, peço desculpas, cometi um erro. Falo do texto que originou o tópico, não de quem criou o tópico.
Nesse caso, não lhe devo desculpas, considero um dos tantos textos apocaliptísticos sobre o tema, o vencedor conta o que lhe interessa, e foi isso que foi dito, lido, escrito, ensaiado e filmado deste então.
Todas as outras guerras, são revistas, novas versões surgem, números de vítimas diminuem significativamente, mas sobre o o holocausto, nada, questioná-lo de qualquer forma é antissemitismo, fascismo, nazismo e outras coisas.
Parece-me interessante que, tamanha estrutura mortífera, tenha passada desapercebida pelos aliados, suponho que, se os alemães tivessem colocados as suas fabricas militares nos campos de concentração, a guerra poderia ainda prosseguir....
O julgamento de Nuremberg foi realizado com base nesss provas do holocausto, no entanto, seguidamente tal julgamento é chamado de circo sem contestação.....
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
PETRAS ZELIONKA E OS CAMPOS DA MORTE LITUANOS DO HOLOCAUSTO.
Laurence Rees.
No verão e outono de 1941, quando era um jovem de vinte e quatro anos, Petras Zelionka participou de um dos piores crimes na história: o fuzilamento de homens, mulheres e crianças judeus nos assassinatos que ocorreram na onda da invasão nazista da União Soviética.
Eu filmei uma entrevista com ele, em meados dos 1990, no local de um dos massacres - o Sétimo Forte em Kaunas, Lituânia. Ele poderia ceder uma hora ou mais de seu tempo, disse, enquanto sua esposa ia às compras e ele aguardava seu retorno, antes de viajarem de volta para sua casa, no interior. Fomos afortunados - e sabíamos disso - que ele tivesse sido persuadido a nos dar uma entrevista, afinal de contas.
O que eu queria era saber até que ponto era possível compreender por quê ele havia tomado parte no crime. E era claro que uma compreensão do pano de fundo das matanças era crucial em qualquer tentativa de penetrar sua mentalidade.
Existia um antisemitismo "tradicional" na Lituânia, baseado em parte nos ciúmes da (com freqüência imaginária) riqueza da população judia, e os eventos do ano anterior da invasão nazista reforçaram fortemente este preconceito. Em 1940, a Lituânia, juntamente com outros estados bálticos, tinha sido ocupada pelo Exército Vermelho e surgiu uma ampla (embora falsa) crença entre os lituanos que as piores atrocidades, posteriormente cometidas pelos homens de Stalin, tinham sido perpetradas pelos judeus. "Em geral" disse Zelionka, "houve a maior das indignações quando os russos chegaram. Muitos judeus lituanos tornaram-se líderes políticos, ingressaram na polícia... e todo mundo dizia que as pessoas no departamento de sgurança eram torturadas principalmente pelos judeus. Eles costumavam colocar tornos na cabeça, para torturar professores."
Agora, depois de sua invasão dos Estados Bálticos e do restante da União Soviética, em junho de 1941, os nazistas queriam assassinar primeiramente os judeus homens adultos e então, logo depois, as mulheres e crianças, também. Os nazistas eram impulsionados em sua tarefa primordialmente por fervor ideológico - como o "Jardim do Éden" que seu Führer Adolf Hitler, desejava para os alemães no Leste, seria criado se quaisquer judeus ainda vivessem nele?
Os judeus foram expulsos de suas casas pelos alemães e colaboracionistas lituanos como Petras Zelionka, para o interior próximo, onde grandes poços tinham sido preparados. Com freqüência, muitos aldeãos curiosos seguiam esta triste procissão. Os judeus sabiam que estavam para morrer e rasgavam o papel-moeda em seus bolsos e os jogavam no chão, de forma que seus matadores não saíssem lucrando. Ao lado dos poços, os judeus então recebiam ordens para despir suas roupas. Pouco antes de serem fuzilados, eles, algumas vezes tentavam jogar um casaco ou jaqueta caros, para um dos espectadores não-judeus da aldeia, num último ato de generosidade.
Zelionka admitiu que ele e seus camaradas levavam os judeus para fora das aldeias ou dos guetos das cidades, para os recém-cavados poços, os despiam de suas roupas e puxavam o gatilho: "Tudo rápido e claro. Sem quaisquer cerimônias - nada. Algumas vezes, relembra, logo antes de serem fuzilados, "Na beira da sepultura, alguns deles costumavam dizer, 'Vida longa à Stalin!' Somente este tipo de 'prece'.... Algumas vezes quando eu penso sobre a história da minha vida - você poderia escrever um livro e tanto. Você leria sem parar... Talvez [as pessoas] entendessem, mas talvez fosse pior [e elas não entendessem]."
Zelionka também revelou que ele e seus camaradas, freqüentemente, estavam bêbados quando fuzilavam os judeus - o álcool desempenhou um grande papel no processo de matança. "Depois de beber," ele disse, "todo mundo fica mais valente."
No fim de um dia de fuzilamento, ele e seus camaradas voltavam para a sua base do Exército lituano: "Quando você voltava para o quartel, ninguém costumava prestar qualquer atenção. Eles costumavam nos trazer vodka; nós podíamos beber tanto quanto quiséssemos... Se eles me davam, eu bebia." Zelionka bebia depois da matança, em parte dizia, para "tirar fora" da sua cabeça as "desagradáveis" imagens dos eventos do dia.
Mas permanece o fato de que Petras Zelionka escolheu tomar pare nas matanças - ele foi um voluntário. E embora ele fosse muito cuidadoso em expressar um virulento antisemitismo, mais de cinqüenta anos depois dos assassinatos, ele admitiu que entre seus colegas matadores, "Algumas pessoas diziam que eles [os judeus] mereciam aquilo, que eles torturavam outras pessoas ou ajudavam a torturar... havia muitos homens que ficaram indignados com os judeus. Nos diziam o que eles tinham feito, como costumavam matar até mesmo as mulheres... outros fizeram isto por causa de sua indignação. Os judeus eram muito egoístas."
E, mesmo embora tentasse, acredito eu, esconder seu ódio pessoal para com os judeus durante nossa entrevista e distanciar-se das visões daquelas "outras" pessoas que tomavam parte na matança, houve momentos quando surgiu aquilo que eu considerei como suas genuínas emoções. Ele descreveu-se como um "lituano de verdade" e foi rápido em apontar que não havia fuzilado outros lituanos, "somente judeus" (mesmo embora, é claro, os judeus que ele fuzilou eram de nacionalidade lituana). E quando perguntado se ele estava preparado para atirar em lituanos não-judeus, ele respondeu, instântaneamente, "Eu não atiraria." Ele também confessou que ele se preocupava com a possibilidade de ser ordenado a atirar em alguém que fosse "inocente" (querendo dizer, não-judeu: portanto, ele não considerava mulheres e crianças judias, mesmo bebês judeus, "inocentes").
Alimentados por sua "indignação" contra os "egoístas" judeus, estes matadores seguiram com seu trabalho, impulsionados, principalmente, pelo seu ódio aos judeus. Mas, outra motivação era a cobiça: "Eles [os alemães] costumavam revistá-los [os judeus] tirar coisas de ouro deles, relógios etc, tudo feito de ouro... Nosso antigo suboficial também tinha uma valise onde costumava botar estas coisas." E, embora Zelionka negasse que ele, pessoalmente, se beneficiara destes roubos, está claro que os matadores tinham a oportunidade para compartlhar alguns dos pertences dos judeus mortos - apesar do fato de que, de acordo com Heinrich Himmler, comandante das SS, todo o "lucro" das matanças devia ir para o estado nazista.
Enquanto nossa entrevista se aproximava do fim - e ele estava preocupado que sua esposa ficasse esperando depois de voltar das compras - Zelionka entregou dois indícios finais de sua própria motivação para os assassinatos. Primeiro, ele revelou que fôra possuído por uma espécie de "curiosidade" sobre o que veria depois de puxar o gatilho. Curiosidade é, à primeira vista, uma palavra fraca demais para descrever a motivação de um assassino para atirar numa criança à curto-alcance. Mas curiosidade é, claramente, uma força poderosa em nossas vidas. Ela é a base, certamente, de muito do desenvolvimento humano. Crianças querem engatinhar porque estão curiosas sobre o que há do outro lado do quarto, justamente como Colombo saiu em sua viagem de descoberta através do Atlântico porque estava curioso sobre o que existia no outro lado do oceano. E a curiosidade pode ser, na verdade, uma força muito sombria. Por milhares de anos mitos e estórias de fadas focalizaram sobre o poder da curiosidade para suplantar o bom senso . Na lenda da Grécia antiga, por exemplo, foi o desejo de Pandora ver dentro da caixa que ganhara dos deuses e que havia sido proibida de abrir, que trouxe o sofrimento para o mundo.
O segundo indício adicional que Zelionka deu de sua motivação foi uma observação, quase aleatória, de que a "juventude é tola" e "quando se é jovem, você faz um monte de coisas estúpidas." Foi um importante lembrete de que estas matanças foram cometidas quando este avô grisalho era um jovem vigoroso nos seus vinte anos. Na verdade, a realidade é que a maioria dos crimes violentos é cometida por jovens entre as idades de dezoito e vinte e cinco anos - precisamente a faixa etária que Petras Zelionka e muitos dos seus camaradas assassinos estavam.
Depois de acabada a entrevista, Zelionka foi saudado como um tipo de herói, por um dos oficiais do Exército lituano que nos auxiliaram na obtenção da filmagem, no Sétimo Forte. "Você é um jornalista," este homem, com uns vinte e cinco anos, disse-me, "e você está perdendo a história mais ampla. A história não é o que nós fizemos aos judeus. É sobre o que os judeus fizeram conosco." Então ele olhou para Petras Zelionka, agora felizmente reunido com sua esposa, e sorriu.
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extraído de "Their Darkest Hour_People Tested to the Extreme in WWII (2007 - Laurence Rees)
Laurence Rees.
No verão e outono de 1941, quando era um jovem de vinte e quatro anos, Petras Zelionka participou de um dos piores crimes na história: o fuzilamento de homens, mulheres e crianças judeus nos assassinatos que ocorreram na onda da invasão nazista da União Soviética.
Eu filmei uma entrevista com ele, em meados dos 1990, no local de um dos massacres - o Sétimo Forte em Kaunas, Lituânia. Ele poderia ceder uma hora ou mais de seu tempo, disse, enquanto sua esposa ia às compras e ele aguardava seu retorno, antes de viajarem de volta para sua casa, no interior. Fomos afortunados - e sabíamos disso - que ele tivesse sido persuadido a nos dar uma entrevista, afinal de contas.
O que eu queria era saber até que ponto era possível compreender por quê ele havia tomado parte no crime. E era claro que uma compreensão do pano de fundo das matanças era crucial em qualquer tentativa de penetrar sua mentalidade.
Existia um antisemitismo "tradicional" na Lituânia, baseado em parte nos ciúmes da (com freqüência imaginária) riqueza da população judia, e os eventos do ano anterior da invasão nazista reforçaram fortemente este preconceito. Em 1940, a Lituânia, juntamente com outros estados bálticos, tinha sido ocupada pelo Exército Vermelho e surgiu uma ampla (embora falsa) crença entre os lituanos que as piores atrocidades, posteriormente cometidas pelos homens de Stalin, tinham sido perpetradas pelos judeus. "Em geral" disse Zelionka, "houve a maior das indignações quando os russos chegaram. Muitos judeus lituanos tornaram-se líderes políticos, ingressaram na polícia... e todo mundo dizia que as pessoas no departamento de sgurança eram torturadas principalmente pelos judeus. Eles costumavam colocar tornos na cabeça, para torturar professores."
Agora, depois de sua invasão dos Estados Bálticos e do restante da União Soviética, em junho de 1941, os nazistas queriam assassinar primeiramente os judeus homens adultos e então, logo depois, as mulheres e crianças, também. Os nazistas eram impulsionados em sua tarefa primordialmente por fervor ideológico - como o "Jardim do Éden" que seu Führer Adolf Hitler, desejava para os alemães no Leste, seria criado se quaisquer judeus ainda vivessem nele?
Os judeus foram expulsos de suas casas pelos alemães e colaboracionistas lituanos como Petras Zelionka, para o interior próximo, onde grandes poços tinham sido preparados. Com freqüência, muitos aldeãos curiosos seguiam esta triste procissão. Os judeus sabiam que estavam para morrer e rasgavam o papel-moeda em seus bolsos e os jogavam no chão, de forma que seus matadores não saíssem lucrando. Ao lado dos poços, os judeus então recebiam ordens para despir suas roupas. Pouco antes de serem fuzilados, eles, algumas vezes tentavam jogar um casaco ou jaqueta caros, para um dos espectadores não-judeus da aldeia, num último ato de generosidade.
Zelionka admitiu que ele e seus camaradas levavam os judeus para fora das aldeias ou dos guetos das cidades, para os recém-cavados poços, os despiam de suas roupas e puxavam o gatilho: "Tudo rápido e claro. Sem quaisquer cerimônias - nada. Algumas vezes, relembra, logo antes de serem fuzilados, "Na beira da sepultura, alguns deles costumavam dizer, 'Vida longa à Stalin!' Somente este tipo de 'prece'.... Algumas vezes quando eu penso sobre a história da minha vida - você poderia escrever um livro e tanto. Você leria sem parar... Talvez [as pessoas] entendessem, mas talvez fosse pior [e elas não entendessem]."
Zelionka também revelou que ele e seus camaradas, freqüentemente, estavam bêbados quando fuzilavam os judeus - o álcool desempenhou um grande papel no processo de matança. "Depois de beber," ele disse, "todo mundo fica mais valente."
No fim de um dia de fuzilamento, ele e seus camaradas voltavam para a sua base do Exército lituano: "Quando você voltava para o quartel, ninguém costumava prestar qualquer atenção. Eles costumavam nos trazer vodka; nós podíamos beber tanto quanto quiséssemos... Se eles me davam, eu bebia." Zelionka bebia depois da matança, em parte dizia, para "tirar fora" da sua cabeça as "desagradáveis" imagens dos eventos do dia.
Mas permanece o fato de que Petras Zelionka escolheu tomar pare nas matanças - ele foi um voluntário. E embora ele fosse muito cuidadoso em expressar um virulento antisemitismo, mais de cinqüenta anos depois dos assassinatos, ele admitiu que entre seus colegas matadores, "Algumas pessoas diziam que eles [os judeus] mereciam aquilo, que eles torturavam outras pessoas ou ajudavam a torturar... havia muitos homens que ficaram indignados com os judeus. Nos diziam o que eles tinham feito, como costumavam matar até mesmo as mulheres... outros fizeram isto por causa de sua indignação. Os judeus eram muito egoístas."
E, mesmo embora tentasse, acredito eu, esconder seu ódio pessoal para com os judeus durante nossa entrevista e distanciar-se das visões daquelas "outras" pessoas que tomavam parte na matança, houve momentos quando surgiu aquilo que eu considerei como suas genuínas emoções. Ele descreveu-se como um "lituano de verdade" e foi rápido em apontar que não havia fuzilado outros lituanos, "somente judeus" (mesmo embora, é claro, os judeus que ele fuzilou eram de nacionalidade lituana). E quando perguntado se ele estava preparado para atirar em lituanos não-judeus, ele respondeu, instântaneamente, "Eu não atiraria." Ele também confessou que ele se preocupava com a possibilidade de ser ordenado a atirar em alguém que fosse "inocente" (querendo dizer, não-judeu: portanto, ele não considerava mulheres e crianças judias, mesmo bebês judeus, "inocentes").
Alimentados por sua "indignação" contra os "egoístas" judeus, estes matadores seguiram com seu trabalho, impulsionados, principalmente, pelo seu ódio aos judeus. Mas, outra motivação era a cobiça: "Eles [os alemães] costumavam revistá-los [os judeus] tirar coisas de ouro deles, relógios etc, tudo feito de ouro... Nosso antigo suboficial também tinha uma valise onde costumava botar estas coisas." E, embora Zelionka negasse que ele, pessoalmente, se beneficiara destes roubos, está claro que os matadores tinham a oportunidade para compartlhar alguns dos pertences dos judeus mortos - apesar do fato de que, de acordo com Heinrich Himmler, comandante das SS, todo o "lucro" das matanças devia ir para o estado nazista.
Enquanto nossa entrevista se aproximava do fim - e ele estava preocupado que sua esposa ficasse esperando depois de voltar das compras - Zelionka entregou dois indícios finais de sua própria motivação para os assassinatos. Primeiro, ele revelou que fôra possuído por uma espécie de "curiosidade" sobre o que veria depois de puxar o gatilho. Curiosidade é, à primeira vista, uma palavra fraca demais para descrever a motivação de um assassino para atirar numa criança à curto-alcance. Mas curiosidade é, claramente, uma força poderosa em nossas vidas. Ela é a base, certamente, de muito do desenvolvimento humano. Crianças querem engatinhar porque estão curiosas sobre o que há do outro lado do quarto, justamente como Colombo saiu em sua viagem de descoberta através do Atlântico porque estava curioso sobre o que existia no outro lado do oceano. E a curiosidade pode ser, na verdade, uma força muito sombria. Por milhares de anos mitos e estórias de fadas focalizaram sobre o poder da curiosidade para suplantar o bom senso . Na lenda da Grécia antiga, por exemplo, foi o desejo de Pandora ver dentro da caixa que ganhara dos deuses e que havia sido proibida de abrir, que trouxe o sofrimento para o mundo.
O segundo indício adicional que Zelionka deu de sua motivação foi uma observação, quase aleatória, de que a "juventude é tola" e "quando se é jovem, você faz um monte de coisas estúpidas." Foi um importante lembrete de que estas matanças foram cometidas quando este avô grisalho era um jovem vigoroso nos seus vinte anos. Na verdade, a realidade é que a maioria dos crimes violentos é cometida por jovens entre as idades de dezoito e vinte e cinco anos - precisamente a faixa etária que Petras Zelionka e muitos dos seus camaradas assassinos estavam.
Depois de acabada a entrevista, Zelionka foi saudado como um tipo de herói, por um dos oficiais do Exército lituano que nos auxiliaram na obtenção da filmagem, no Sétimo Forte. "Você é um jornalista," este homem, com uns vinte e cinco anos, disse-me, "e você está perdendo a história mais ampla. A história não é o que nós fizemos aos judeus. É sobre o que os judeus fizeram conosco." Então ele olhou para Petras Zelionka, agora felizmente reunido com sua esposa, e sorriu.
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extraído de "Their Darkest Hour_People Tested to the Extreme in WWII (2007 - Laurence Rees)
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
TOIVI BLATT E A FILOSOFIA DE SOBIBOR.
Laurence Rees.
Ele nasceu no vilarejo de Izbica na Polônia oriental em 1927. Antes da guerra, cerca de 3.600 judeus viviam na vila, juntos com a maioria da população católica sem muitas dificuldades. Toivi, em particular, escapou de sofrer diretamente muito do antisemitismo: "Eu estava em situação privilegiada porque meu pai fôra um legionnaire [ex-combatente do Exército polonês]... Ele tinha sido ferido, ficando inválido, e por causa disso, era muito bem conhecido como patriota polonês. Portanto, eu estava protegido."
Tudo isso mudou com a vinda dos nazistas. E embora o antisemitismo deles fosse óbvio, o que supreendeu Tovi foi a mudança súbita na atitude de muitos católicos poloneses: "A população [católica] percebeu que os judeus eram [agora] de segunda-classe. Você podia fazer o que quisesse com eles, sem problemas... um monte deles [os judeus] passou a ser espancado... No fim, eu tinha mais medo de meus vizinhos, gente cristã, católicos, do que dos alemães, porque os alemães não me conheciam - meus vizinhos, sim."
Em abril de 1943, os alemães decidiram limpar Izbica de todos os judeus. Ocorreram incursões periódicas no ano anterior, mas certo número de judeus ainda permanecia - particularmente, os habilidosos trabalhadores em couro no curtume local. Muitos destes judeus pensavam que eram de mais valia para os nazistas vivos do que mortos. Estavam errados.
"Cerca das 4:00 h da manhã, um tiro de fuzil acordou-me," disse Toivi Blatt. "Eu corri para a janela e vi o curtume inteiro cercado pelos nazistas... Eu fui apreendido, levado para fora por um nazista e empurrado para um grupo de pessoas... cercado por guarddas... Eu compreendi que isso era o fim. Que poderia eu fazer?"
Então, de repente, Toivi viu uma oportunidade de escapar. Um dos guardas afastou-se um pouco para acender um cigarro: "Vendo isso, eu agarrei a chance e pensei que precisava correr agora, se queria ficar vivo. Eu eu simplesmente sai de lá."
Mas, enquanto ele se misturava com o restante dos aldeãos que tinham vindo assistir as deportações, ele sentiu-se imensamente vulnerável: "Eu percebi que não ficaria livre por muito tempo. Nesse instante você sabe que seu melhor amigo seria a pessoa que finge que não conhece você. De qualquer modo, olhando ao meu redor, vi meu amigo Janek. Éramos muito amigos. Ele era um cara que dormia algumas vezes em minha casa."
Ele aproximou-se de Janek, dizendo, "Por favor, ajude-me!" Janek respondeu, "É claro!" e disse a Toivi para correr até um celeiro na aldeia, perto da própria casa de Janek, e que ele o encontraria lá, em poucos minutos. Toivi fez o que lhe foi dito, mas quando chegou no celeiro, o encontrou trancado com cadeado.
Enquanto esperava por Janek, uma mulher católica polonesa o viu e gritou: "Toivi, corra! Toivi, corra!"
"O que está acontecendo?" perguntou Toivi.
"Janek está chegando! Janek está chegando!"
Toivi ficou abismado. Por quê deveria correr se Janek estava chegando? Então, ele voltou-se para ver Janek aproximando-se com um soldado alemão, de fuzil em riste.
"Janek!" exclamou Toivi. "Diga-me que está brincando!"
"Ele é judeu!" disse Janek para o soldado.
E, enquanto o alemão arrastava Toivi embora, Janek disse-lhe adeus, de uma forma que assombra Toivi até hoje.
"Adeus, Toivi," disse Janek. "Vejo você na prateleira da loja de sabão." (Existiam rumores de que os nazistas estavam matando judeus e transformando a gordura de seus corpos em sabão.)
Embora Toivi ache "difícil, mesmo agora", falar sobre este incidente, ele não ficou totalmente supreso com o ato de Janek, já que "não era a primeira vez" que ele tinha visto uma tal 'traição".
Toivi foi levado de volta para a praça do mercado onde ele descobriu que sua mãe, pai e irmão tinham todos sido capturados e estavam esperando deportação: "Eu estava assustado. Nem mesmo me lembro como me sentia. Eu estava com medo de que aquele fosse o último dia da minha vida, e quando você é jovem e tem quinze anos... você vê as árvores, você vê as flores - você quer viver."
Os judeus de Izbica foram então amontoados em vagões de carga. As pessoas à bordo não queriam acreditar que os nazistas planejavam assassiná-las: "Couro é muito importante para o Exército alemão," Toivi ouvia o povo dizer. "Eles não vão nos matar. Vão nos levar para um campo de concentração."
Mas, depois de várias horas, o trem chegou em Sobibor, um campo da morte que funcionava de forma similar à Treblinka. O que chamou a atenção de Toivi era como "agradável" o campo parecia. Ele estava esperando uma "espécie de inferno", mas ao contrário, viu flores e uma cerca recém-pintada. A estação tinha sido decorada para parecer uma parada ferroviária comum, com horários e sinais. Toivi estava certo de que era um truque, com a intenção de iludir os judeus chegando de fora da Polônia - gente que não ouvira os rumores sobre o que se passava ali. Porém, mesmo embora agora a maioria dos outros judeus de Izbica compreendesse que os rumores eram verdadeiros, e que eles estavam para ser assassinados, eles não resistiram, enquanto eram ordenados a dividirem-se em dois grupos - mulheres e crianças de um lado, homens do outro - então movidos para o interior do campo.
Muitas pessoas, hoje, ficam supresas que os prisioneiros chegando nos transportes para os campos da morte sabendo, ou fortemente suspeitando de que estavam para morrer, não reagissem de alguma forma. Em sua maior parte os judeus foram para a morte sem causar muitas dificuldades para os nazistas. É uma coisa da qual alguns judeus dos dias atuais - em particular em Israel, de acordo com minha experiência - quase se envergonham. "Eu não sou um desses judeus poloneses, tipo submisso," lembro-me de um israelense contando-me, quando soube o assunto do filme que eu estava fazendo, "Eu sou um judeu do Velho Testamento, carne de pescoço! Eu não iria assim tão calmamente!"
Tendo encontrado muitos sobreviventes dos campos, e também certo número dos perpetradores envolvidos no processo de matança, eu acho esta acusação de "covardia" implícita, no melhor dos casos desinformada e no pior um insulto à memória daqueles que foram assassinados. Pois era virtualmente impossível resistir. Em primeiro lugar, os recém-chegados eram assediados por guardas duros e ferozes armados com chicotes e bastões, desde o momento em que desciam dos vagões ferroviários. E mais, eles desembarcavam apenas quando estavam já no campo, por trás das cercas de arame, acima das quais estavam as torres de vigia, contendo guardas com metralhadoras.
Mesmo se os judeus que chegavam pudessem ter superado estas defesas, outro problema ainda os confrontaria. Para onde eles iriam fugir? Eles sabiam que muitos dos habitantes locais não-judeus estavam desejosos de ajudar os nazistas a perseguir judeus. Mesmo o Sonderkommando (comando especial) judeu que trabalhava há semanas em Sobibor, sabia das dificuldades que estavam do lado de lá da cerca de arame: "Onde você iria quando escapasse para a floresta?" disse Toivi Blatt. "Eu vi, praticamente todo dia [uma vez que se tornou um membro do Sonderkommando] agricultores que viviam nas proximidades, chegarem com judeus que eles pegaram escondidos em algum lugar no campo. E [eles] diziam que os jogariam do outro lado da cerca em troca de alguns quilos de açucar e uma garrafa de vodka. Assim, para onde escaparíamos?"
E havia mais outra dificuldade. Muitos dos judeus eram velhos, ou doentes, ou mães com crianças pequenas. Este era um problema que foi-me apresentado graficamente, pelo testemunho de uma mulher que encontrei na Lituânia, que foi um dos casos raros de um judeu tendo sucesso em escapar dos nazistas. Quando era uma moça nos fins da adolescência em 1941, ela foi expulsa de sua aldeia, juntamente com o restante da população judia, e forçada a marchar rumo à floresta onde todos sabiam que seriam fuzilados. Mas, já que eram poucos os guardas em volta deles, ela resolveu tentar escapar pelos campos. Ela pediu a uma mulher próxima que viesse com ela. "Mas como posso? esta respondeu, apontando para seus dois filhos pequenos. "Como posso deixá-los?"
A presença de crianças era, claramente, um fator decisivo para muitas mães pegas no turbilhão do Holocausto. Mesmo em Auschwitz, onde um processo completo de seleção era mantido para dividir aqueles que podiam trabalhar dos que deviam ser mortos imediatamente, o comandante, Rudolf Höss, observou que virtualmente nenhuma mãe escolheu prolongar sua própria vida optando pelo trabalho quando isso significaria que seus filhos enfrentariam a câmara de gás por sua própria conta.
Então, é claro, não há dúvida de que alguns judeus de chegada ainda queriam, desesperadamente, acreditar que os rumores sobre Sobibor eram inverídicos. Talvez ele fosse, como insistiam os nazistas, meramente uma parada para higiene e talvez eles estivessem, genuinamente, sendo levados para um chuveiro?
Mas Toivi Blatt não acreditava que Sobibor era tão inocente quanto proclamavam os nazistas. E quando os guardas perguntaram se alguém entre os recém-chegados era carpinteiro, ele foi um dos que levantaram a mão. Ele não era carpinteiro - simplesmente "queria viver". E enquanto esperava, ele "rezou para aquele alemão, por favor, leve-me! E eu creio que minha força de vontade de algum modo o tocou... porque eu creio que há alguma comunicação além da vocal, entre pessoas. Portanto, eu penso que minha força de vontade tocou aquele alemão enquanto ele dava passos para trás e para frente, diante do grupo, e eu sinto que ele olhou-me e eu disse para mim mesmo, 'Deus, ajude-me!' e o alemão disse, 'Venha, baixinho.' "
E assim Toivi foi incluído entre o pequenino grupo de pessoas que eram enviadas para ingressar no Sonderkommando sendo, portanto, poupadas da morte imediata. Mas ele observou sua mãe, pai e o irmão caçula serem levados para as câmaras de gás. E ele ficou surpreso com sua própria reação a essa visão trágica: "Para ser honesto, eu não senti coisa alguma... Veja você, se um dos meus pais tivesse morrido dois dias antes, isso teria sido uma tragédia terrível. Eu choraria de dia e de noite. E agora, na mesma hora e mesmo minuto, eu perdia meu pai, meu irmão, minha mãe... e eu não chorei - eu nem mesmo pensei sobre isso... e depois da guerra, quando encontrei sobreviventes e perguntei-lhes se choraram, 'Não, eu não' [disseram eles]. É como a natureza nos protegendo... Se eu mostrasse qualquer sinal de que chorava, seria morto."
Uma vez feito membro do Sonderkommando, Toivi descobriu que seu desejo por autopreservação era tão forte que ele era capaz de desempenhar as tarefas potencialmente mais pungentes sem aparente prejuízo emocional para si próprio. Ele cortava o cabelo de mulheres e meninas que estavam para serem assassinadas e assistia enquanto eram enviadas, nuas, para as câmaras de gás. Ainda assim, ele não chorou.
Uma vez recebeu ordens de um dos oficiais da administração alemã para tirar duas garotas nuas de um caminhão que havia acabado de chegar no campo. As garotas estavam escondidas no interior e tinham sido capturadas pelos agricultores locais. Toivi foi mandado escoltar as garotas na direção das câmaras de gás, enquanto o oficial alemão observava à distância. Uma das garotas, que tinha cerca de dezessete ou dezoito anos, começou a apelar à Toivi, implorando para salvá-la. Toivi, é claro, nada podia fazer e as deixou com os guardas na entrada da câmara de gás. Momentos mais tarde, ele ouviu tiros de fuzil - os nazistas não iriam se incomodar em dar partida numa câmara de gás para assassinar apenas dois indivíduos.
Toivi acreditava que o homem das SS lhe tinha ordenado levar as garotas até as câmaras de gás para que ele próprio fosse poupado de seus inevitáveis apelos. Era para isso, afinal de contas, que o Sonderkommando estava lá, no que concernia aos alemães - aliviar tanto quanto possível a tensão emocional dos perpetradores.
Foi preciso a chegada de um grupo de prisioneiros judeus do Exército Vermelho em setembro de 1943 para agir como catalisador para a mudança de atitude de muitos no Sonderkommando. Estes soldados soviéticos tinham sido treinados como combatentes e tinham mantido sua disciplina interna sob a carismática liderança de um tenente do Exército Vermelho chamado Alexander Pechersky. Durante as próximas poucas semanas eles planejaram uma revolta. E, em 14 de outubro, tendo atraído certo número de guardas para as oficinas de Sobibor, matando-os, muitos do Sonderkommando correram e romperam aas cercas de arame farpado. Entre eles estava Toivi Blatt: "Eu corri para a floresta. Eu caí duas ou três vezes - cada vez eu pensei que tinha sido atingido, mas levantei, nada havia acontecido comigo, e eu corri para a floresta, uns cem metros, cinqüenta metros, e finalmente a floresta.
Cerca de trezentos dos seiscentos Sonderkommando de Sobibor conseguiram escapar neste dia. Mas, significativamente, a maioria destes não sobreviveu à guerra. Muitos foram devolvidos para os alemães por poloneses não-judeus. Toivi, no entanto, foi um da minoria que conseguiu - e embora ele descobrisse que alguns poloneses não-judeus tentaram traí-lo durante a guerra, um número igual o ajudou a sobreviver.
Após esta marcante experiência de vida, Toivi é claro sobre qual lição podemos tirar de sua história pessoal. "As pessoas perguntam-me," diz ele, "O que você aprendeu?" E eu penso que estou certo de apenas uma coisa - ninguém conhece ninguém. A pessoa gentil, a quem você pergunta, "Onde é a rua tal?" e ela vai com você, metade de um quarteirão, para mostrar-lhe, gentil e boazinha. Essa mesma pessoa numa situação diferente poderá ser a pior sádica. Ninguém conhece ninguém. Todos nós podemos ser pessoas boas ou pessoas más nestas situações diferentes. Algumas vezes, quando alguém é realmente gentil comigo, eu me pego pensando comigo mesmo, "Como ele seria em Sobibor?"
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extraído de "Their Darkest Hour_People Tested to the Extreme in WWII (2007 - Laurence Rees)
Laurence Rees.
Aprendi uma enormidade com Toivi Blatt; não apenas, como esperava, de suas experiências pessoas específicas - primeiro como prisioneiro judeu sob ocupação nazista, e então de seu tormento no campo da morte de Sobibor - mas também em geral sobre o comportamento dos seres humanos sob as mais extremas condições imagináveis. Mais do que qualquer outro que encontrei, suas opiniões devem, creio eu, influenciar como pensamos sobre a mentalidade das pessoas nas crises.Hans Wilhelm Münch (1911 – 2001) escreveu:"Quando alguém diz que Auschwitz é uma mentira, uma fraude, eu hesito em falar muita coisa com ele. Quero dizer, os fatos estão determinados de maneira tão firme que ninguém pode ter qualquer dúvida, afinal de contas. Então eu paro de falar com esta pessoa, porque não haveria utilidade nenhuma. Qualquer um que se agarre com essas coisas, que são publicadas por aí, é uma pessoa malévola que tem algum interesse pessoal para querer enterrar no silêncio coisas que não podem ser enterradas no silêncio."
O SS-Untersturmführer Münch, membro do Partido Nazista, foi um médico das SS que trabalhou em Auschwitz, juntamente com o doutor Josef Mengele. Mas, ao contrário deste último, recusou-se a fazer parte da junta médica que selecionava prisioneiros para morte imediata ou para trabalho forçado temporário. Além disso, salvou as vidas de vários prisioneiros. Foi o único médico das SS que se manteve fiel ao Juramento de Hipócrates. Depois da guerra foi capturado pelos americanos, extraditado para a Polônia e submetido à julgamento junto com outros membros da equipe SS de Auschwitz. Com o testemunho de vários prisioneiros judeus sobreviventes, ele foi O ÚNICO a ser inocentado no julgamento, onde vários de seus colegas foram sentenciados à morte e à prisão perpétua. Ele foi chamado "O Homem Bom de Auschwitz."
Ele nasceu no vilarejo de Izbica na Polônia oriental em 1927. Antes da guerra, cerca de 3.600 judeus viviam na vila, juntos com a maioria da população católica sem muitas dificuldades. Toivi, em particular, escapou de sofrer diretamente muito do antisemitismo: "Eu estava em situação privilegiada porque meu pai fôra um legionnaire [ex-combatente do Exército polonês]... Ele tinha sido ferido, ficando inválido, e por causa disso, era muito bem conhecido como patriota polonês. Portanto, eu estava protegido."
Tudo isso mudou com a vinda dos nazistas. E embora o antisemitismo deles fosse óbvio, o que supreendeu Tovi foi a mudança súbita na atitude de muitos católicos poloneses: "A população [católica] percebeu que os judeus eram [agora] de segunda-classe. Você podia fazer o que quisesse com eles, sem problemas... um monte deles [os judeus] passou a ser espancado... No fim, eu tinha mais medo de meus vizinhos, gente cristã, católicos, do que dos alemães, porque os alemães não me conheciam - meus vizinhos, sim."
Em abril de 1943, os alemães decidiram limpar Izbica de todos os judeus. Ocorreram incursões periódicas no ano anterior, mas certo número de judeus ainda permanecia - particularmente, os habilidosos trabalhadores em couro no curtume local. Muitos destes judeus pensavam que eram de mais valia para os nazistas vivos do que mortos. Estavam errados.
"Cerca das 4:00 h da manhã, um tiro de fuzil acordou-me," disse Toivi Blatt. "Eu corri para a janela e vi o curtume inteiro cercado pelos nazistas... Eu fui apreendido, levado para fora por um nazista e empurrado para um grupo de pessoas... cercado por guarddas... Eu compreendi que isso era o fim. Que poderia eu fazer?"
Então, de repente, Toivi viu uma oportunidade de escapar. Um dos guardas afastou-se um pouco para acender um cigarro: "Vendo isso, eu agarrei a chance e pensei que precisava correr agora, se queria ficar vivo. Eu eu simplesmente sai de lá."
Mas, enquanto ele se misturava com o restante dos aldeãos que tinham vindo assistir as deportações, ele sentiu-se imensamente vulnerável: "Eu percebi que não ficaria livre por muito tempo. Nesse instante você sabe que seu melhor amigo seria a pessoa que finge que não conhece você. De qualquer modo, olhando ao meu redor, vi meu amigo Janek. Éramos muito amigos. Ele era um cara que dormia algumas vezes em minha casa."
Ele aproximou-se de Janek, dizendo, "Por favor, ajude-me!" Janek respondeu, "É claro!" e disse a Toivi para correr até um celeiro na aldeia, perto da própria casa de Janek, e que ele o encontraria lá, em poucos minutos. Toivi fez o que lhe foi dito, mas quando chegou no celeiro, o encontrou trancado com cadeado.
Enquanto esperava por Janek, uma mulher católica polonesa o viu e gritou: "Toivi, corra! Toivi, corra!"
"O que está acontecendo?" perguntou Toivi.
"Janek está chegando! Janek está chegando!"
Toivi ficou abismado. Por quê deveria correr se Janek estava chegando? Então, ele voltou-se para ver Janek aproximando-se com um soldado alemão, de fuzil em riste.
"Janek!" exclamou Toivi. "Diga-me que está brincando!"
"Ele é judeu!" disse Janek para o soldado.
E, enquanto o alemão arrastava Toivi embora, Janek disse-lhe adeus, de uma forma que assombra Toivi até hoje.
"Adeus, Toivi," disse Janek. "Vejo você na prateleira da loja de sabão." (Existiam rumores de que os nazistas estavam matando judeus e transformando a gordura de seus corpos em sabão.)
Embora Toivi ache "difícil, mesmo agora", falar sobre este incidente, ele não ficou totalmente supreso com o ato de Janek, já que "não era a primeira vez" que ele tinha visto uma tal 'traição".
Toivi foi levado de volta para a praça do mercado onde ele descobriu que sua mãe, pai e irmão tinham todos sido capturados e estavam esperando deportação: "Eu estava assustado. Nem mesmo me lembro como me sentia. Eu estava com medo de que aquele fosse o último dia da minha vida, e quando você é jovem e tem quinze anos... você vê as árvores, você vê as flores - você quer viver."
Os judeus de Izbica foram então amontoados em vagões de carga. As pessoas à bordo não queriam acreditar que os nazistas planejavam assassiná-las: "Couro é muito importante para o Exército alemão," Toivi ouvia o povo dizer. "Eles não vão nos matar. Vão nos levar para um campo de concentração."
Mas, depois de várias horas, o trem chegou em Sobibor, um campo da morte que funcionava de forma similar à Treblinka. O que chamou a atenção de Toivi era como "agradável" o campo parecia. Ele estava esperando uma "espécie de inferno", mas ao contrário, viu flores e uma cerca recém-pintada. A estação tinha sido decorada para parecer uma parada ferroviária comum, com horários e sinais. Toivi estava certo de que era um truque, com a intenção de iludir os judeus chegando de fora da Polônia - gente que não ouvira os rumores sobre o que se passava ali. Porém, mesmo embora agora a maioria dos outros judeus de Izbica compreendesse que os rumores eram verdadeiros, e que eles estavam para ser assassinados, eles não resistiram, enquanto eram ordenados a dividirem-se em dois grupos - mulheres e crianças de um lado, homens do outro - então movidos para o interior do campo.
Muitas pessoas, hoje, ficam supresas que os prisioneiros chegando nos transportes para os campos da morte sabendo, ou fortemente suspeitando de que estavam para morrer, não reagissem de alguma forma. Em sua maior parte os judeus foram para a morte sem causar muitas dificuldades para os nazistas. É uma coisa da qual alguns judeus dos dias atuais - em particular em Israel, de acordo com minha experiência - quase se envergonham. "Eu não sou um desses judeus poloneses, tipo submisso," lembro-me de um israelense contando-me, quando soube o assunto do filme que eu estava fazendo, "Eu sou um judeu do Velho Testamento, carne de pescoço! Eu não iria assim tão calmamente!"
Tendo encontrado muitos sobreviventes dos campos, e também certo número dos perpetradores envolvidos no processo de matança, eu acho esta acusação de "covardia" implícita, no melhor dos casos desinformada e no pior um insulto à memória daqueles que foram assassinados. Pois era virtualmente impossível resistir. Em primeiro lugar, os recém-chegados eram assediados por guardas duros e ferozes armados com chicotes e bastões, desde o momento em que desciam dos vagões ferroviários. E mais, eles desembarcavam apenas quando estavam já no campo, por trás das cercas de arame, acima das quais estavam as torres de vigia, contendo guardas com metralhadoras.
Mesmo se os judeus que chegavam pudessem ter superado estas defesas, outro problema ainda os confrontaria. Para onde eles iriam fugir? Eles sabiam que muitos dos habitantes locais não-judeus estavam desejosos de ajudar os nazistas a perseguir judeus. Mesmo o Sonderkommando (comando especial) judeu que trabalhava há semanas em Sobibor, sabia das dificuldades que estavam do lado de lá da cerca de arame: "Onde você iria quando escapasse para a floresta?" disse Toivi Blatt. "Eu vi, praticamente todo dia [uma vez que se tornou um membro do Sonderkommando] agricultores que viviam nas proximidades, chegarem com judeus que eles pegaram escondidos em algum lugar no campo. E [eles] diziam que os jogariam do outro lado da cerca em troca de alguns quilos de açucar e uma garrafa de vodka. Assim, para onde escaparíamos?"
E havia mais outra dificuldade. Muitos dos judeus eram velhos, ou doentes, ou mães com crianças pequenas. Este era um problema que foi-me apresentado graficamente, pelo testemunho de uma mulher que encontrei na Lituânia, que foi um dos casos raros de um judeu tendo sucesso em escapar dos nazistas. Quando era uma moça nos fins da adolescência em 1941, ela foi expulsa de sua aldeia, juntamente com o restante da população judia, e forçada a marchar rumo à floresta onde todos sabiam que seriam fuzilados. Mas, já que eram poucos os guardas em volta deles, ela resolveu tentar escapar pelos campos. Ela pediu a uma mulher próxima que viesse com ela. "Mas como posso? esta respondeu, apontando para seus dois filhos pequenos. "Como posso deixá-los?"
A presença de crianças era, claramente, um fator decisivo para muitas mães pegas no turbilhão do Holocausto. Mesmo em Auschwitz, onde um processo completo de seleção era mantido para dividir aqueles que podiam trabalhar dos que deviam ser mortos imediatamente, o comandante, Rudolf Höss, observou que virtualmente nenhuma mãe escolheu prolongar sua própria vida optando pelo trabalho quando isso significaria que seus filhos enfrentariam a câmara de gás por sua própria conta.
Então, é claro, não há dúvida de que alguns judeus de chegada ainda queriam, desesperadamente, acreditar que os rumores sobre Sobibor eram inverídicos. Talvez ele fosse, como insistiam os nazistas, meramente uma parada para higiene e talvez eles estivessem, genuinamente, sendo levados para um chuveiro?
Mas Toivi Blatt não acreditava que Sobibor era tão inocente quanto proclamavam os nazistas. E quando os guardas perguntaram se alguém entre os recém-chegados era carpinteiro, ele foi um dos que levantaram a mão. Ele não era carpinteiro - simplesmente "queria viver". E enquanto esperava, ele "rezou para aquele alemão, por favor, leve-me! E eu creio que minha força de vontade de algum modo o tocou... porque eu creio que há alguma comunicação além da vocal, entre pessoas. Portanto, eu penso que minha força de vontade tocou aquele alemão enquanto ele dava passos para trás e para frente, diante do grupo, e eu sinto que ele olhou-me e eu disse para mim mesmo, 'Deus, ajude-me!' e o alemão disse, 'Venha, baixinho.' "
E assim Toivi foi incluído entre o pequenino grupo de pessoas que eram enviadas para ingressar no Sonderkommando sendo, portanto, poupadas da morte imediata. Mas ele observou sua mãe, pai e o irmão caçula serem levados para as câmaras de gás. E ele ficou surpreso com sua própria reação a essa visão trágica: "Para ser honesto, eu não senti coisa alguma... Veja você, se um dos meus pais tivesse morrido dois dias antes, isso teria sido uma tragédia terrível. Eu choraria de dia e de noite. E agora, na mesma hora e mesmo minuto, eu perdia meu pai, meu irmão, minha mãe... e eu não chorei - eu nem mesmo pensei sobre isso... e depois da guerra, quando encontrei sobreviventes e perguntei-lhes se choraram, 'Não, eu não' [disseram eles]. É como a natureza nos protegendo... Se eu mostrasse qualquer sinal de que chorava, seria morto."
Uma vez feito membro do Sonderkommando, Toivi descobriu que seu desejo por autopreservação era tão forte que ele era capaz de desempenhar as tarefas potencialmente mais pungentes sem aparente prejuízo emocional para si próprio. Ele cortava o cabelo de mulheres e meninas que estavam para serem assassinadas e assistia enquanto eram enviadas, nuas, para as câmaras de gás. Ainda assim, ele não chorou.
Uma vez recebeu ordens de um dos oficiais da administração alemã para tirar duas garotas nuas de um caminhão que havia acabado de chegar no campo. As garotas estavam escondidas no interior e tinham sido capturadas pelos agricultores locais. Toivi foi mandado escoltar as garotas na direção das câmaras de gás, enquanto o oficial alemão observava à distância. Uma das garotas, que tinha cerca de dezessete ou dezoito anos, começou a apelar à Toivi, implorando para salvá-la. Toivi, é claro, nada podia fazer e as deixou com os guardas na entrada da câmara de gás. Momentos mais tarde, ele ouviu tiros de fuzil - os nazistas não iriam se incomodar em dar partida numa câmara de gás para assassinar apenas dois indivíduos.
Toivi acreditava que o homem das SS lhe tinha ordenado levar as garotas até as câmaras de gás para que ele próprio fosse poupado de seus inevitáveis apelos. Era para isso, afinal de contas, que o Sonderkommando estava lá, no que concernia aos alemães - aliviar tanto quanto possível a tensão emocional dos perpetradores.
Foi preciso a chegada de um grupo de prisioneiros judeus do Exército Vermelho em setembro de 1943 para agir como catalisador para a mudança de atitude de muitos no Sonderkommando. Estes soldados soviéticos tinham sido treinados como combatentes e tinham mantido sua disciplina interna sob a carismática liderança de um tenente do Exército Vermelho chamado Alexander Pechersky. Durante as próximas poucas semanas eles planejaram uma revolta. E, em 14 de outubro, tendo atraído certo número de guardas para as oficinas de Sobibor, matando-os, muitos do Sonderkommando correram e romperam aas cercas de arame farpado. Entre eles estava Toivi Blatt: "Eu corri para a floresta. Eu caí duas ou três vezes - cada vez eu pensei que tinha sido atingido, mas levantei, nada havia acontecido comigo, e eu corri para a floresta, uns cem metros, cinqüenta metros, e finalmente a floresta.
Cerca de trezentos dos seiscentos Sonderkommando de Sobibor conseguiram escapar neste dia. Mas, significativamente, a maioria destes não sobreviveu à guerra. Muitos foram devolvidos para os alemães por poloneses não-judeus. Toivi, no entanto, foi um da minoria que conseguiu - e embora ele descobrisse que alguns poloneses não-judeus tentaram traí-lo durante a guerra, um número igual o ajudou a sobreviver.
Após esta marcante experiência de vida, Toivi é claro sobre qual lição podemos tirar de sua história pessoal. "As pessoas perguntam-me," diz ele, "O que você aprendeu?" E eu penso que estou certo de apenas uma coisa - ninguém conhece ninguém. A pessoa gentil, a quem você pergunta, "Onde é a rua tal?" e ela vai com você, metade de um quarteirão, para mostrar-lhe, gentil e boazinha. Essa mesma pessoa numa situação diferente poderá ser a pior sádica. Ninguém conhece ninguém. Todos nós podemos ser pessoas boas ou pessoas más nestas situações diferentes. Algumas vezes, quando alguém é realmente gentil comigo, eu me pego pensando comigo mesmo, "Como ele seria em Sobibor?"
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extraído de "Their Darkest Hour_People Tested to the Extreme in WWII (2007 - Laurence Rees)
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
OSKAR GRÖNING E SUA VIDA DUPLA EM AUSCHWITZ.
Laurence Rees.
Uma das poucas conclusões permanentes que tirei como resultado de meu trabalho é que as pessoas raramente conformam-se a suas idéias preconcebidas sobre elas. Pegue o exemplo de uma pessoa que possa ter trabalhado em Auschwitz, por exemplo. Tente imaginar alguém que foi um apoiador empenhado dos nazistas, enquanto crescia nos anos 1930, foi voluntário para as SS durante a guerra, e então participou de um processo de matança que fez de Auschwitz o local do maior assassinato em massa na história do mundo. O que você vê? Bem, o que for que seja, duvido que sua criação corresponda a Oskar Gröning.
Ele foi uma das pessoas mais tranqüilas que já encontrei. Ele usava óculos e tinha modos suaves. Depois da guerra ele tornou-se gerente de pessoal de uma fábrica de vidros. E ele parece não ter perdido um instante de sono como conseqüência de seu tempo em Auschwitz. Quando o encontrei em Hamburgo, uns dois anos atrás, eu achei que ele parecia um de meus tios escoceses que passara a vida num banco. Igual ao meu tio, Oskar Gröning era empertigado, bem apresentado e aparentemente, inatacavelmente respeitável. E logo descobri que isso não era de surpreender que ele lembrasse de meu parte, já que Gröning revelou ter trabalhado num banco antes da guerra. Ele nunca foi um homem de ação - ele nunca quis mais para si do que ser considerado um membro útil da sociedade. Mas, é claro, a sociedade na qual viveu durante seus anos formativos foi aquela criada pelos nazistas, e ele, sem questionar, aceitou os valores dela como seus próprios.
Quando a guerra eclodiu ele estava com dezoito anos e, muito influenciado pelas histórias de seu avô que havia sido um corneteiro num regimento de cavalaria, ansiou por ser um membro de uma unidade de "elite" das forças armadas alemãs. Desta forma, apesar de sua visão deficiente, ele solicitou ingresso nas SS. Ele obteve sucesso, e foi designado para funções administrativas no sul da Alemanha. Então, em 1942, ele foi notificado de uma designação diferente, para um campo de concentração no leste, chamado Auschwitz. Ele nunca tinha ouvido este nome antes, mas sabia, naturalmente, que existiam campos de concentração no estado nazista para controlar e punir os "inimigos internos do país."
Quando ele chegou no campo principal de Auschwitz, margeando o rio Sola no sul da Polônia, ele achou que entrava num campo de concentração "normal". Ele foi designado para o "departamento econômico" do campo e começou a selecionar o dinheiro que havia sido tomado dos internos na chegada e que ele pensava seria devolvido a eles, em sua eventual libertação. Foi só então, quando lhe foi dito que o dinheiro tirado dos grandes números de judeus chegando no campo "não seria devolvido a eles", que ele compreendeu que Auschwitz não era um campo de concentração "comum", afinal de contas. Foi explicado a Gröning que os judeus que não fossem capazes de trabalhar no campo deveriam "ser diminuídos" e "descartados". Quando ele perguntou o que realmente queria dizer "descartados" e lhe foi dito a verdade - extermínio - ele nem "podia imaginar isso". Foi só quando testemunhou a chegada de um transporte de judeus ao campo e viu, em primeira mão, o processo de seleção pelo qual alguns eram mandados para trabalhar e outros eram escolhidos para morrer nas câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau que Gröning apreendeu, totalmente, o que estava se passando.
Descobrir a verdadeira função "foi um choque", disse Gröning: "Mas você não pode esquecer que não só de 1933 em diante, mas antes disso, na propaganda que eu recebi como menino na mídia, éramos conscientizados de que a judeidade - especialmente na Alemanha - foi a causa da Grande Guerra e da legenda da "facada nas costas" [pela qual os judeus alemães, por trás das linhas, foram falsamente culpados por traírem os soldados no front]. Os judeus garantiram que os comunistas fizessem a revolução em 1918-19, e na sua difusão. Os judeus foram, realmente, a causa da miséria da Alemanha... e nós estávamos convencido por nossa visão de mundo que havia uma grande conspiração da judeidade contra nós. E isso foi expresso em Auschwitz na idéia que dizia, 'Aqui os judeus estão sendo exterminados... o que aconteceu na Grande Guerra - quando os judeus nos jogaram na miséria - precisa ser evitado. Os judeus são nossos inimigos.' Portanto, nós não exterminamos ninguém, além de inimigos."
Mas, embora ele possa ter concordado de uma maneira teórica com a coletânea de mentiras que constituía a propaganda nazista contra os judeus, era uma coisa bem diferente estar envolvido no assassinato em massa deles. E, crucial para a forma como Gröning ajustou-se à Auschwitz foi sua imediata decisão de separar método de teoria. Quando ele viu "sádicos das SS limpando brutalmente a rampa de chegada de crianças perdidas, doentes e idosos, ele foi imediatamente reclamar com seus superiores e pediu transferência (que lhe foi negada). Mas ele não pensou em reclamar sobre o fato do assassinato em massa estar ocorrendo - ao invés, ele reclamou apenas da maneira que ele estava acontecendo. Ele disse a seu chefe que "se é necessário exterminar os judeus, pelo menos que isso seja feito dentro de um certo esquema."
Gröning aceitou a decisão da liderança nazista de que os judeus eram uma ameaça e tinham de ser "diminuidos"; eu suspeito que ele, até mesmo, concordava com a política. Portanto ele concentrou seus esforços em assegurar que, nas raras ocasiões que presenciou isso, o processo fosse completado da forma mais ordeira possível. E neste aspecto, Auschwitz era o local perfeito para ele trabalhar.
Apenas um punhado de membros das SS em Auschwitz era diretamente confrontado com o assassinato dos judeus. Cada uma das quatro combinações de crematório/câmara de gás de Auschwitz-Birkenau, capazes de matar quatro mil e setecentas (4.700) pessoas por dia, entre elas, era guarnecida por menos de meia dúzia de alemães. O trabalho de limpar as câmaras de gás dos corpos e excrementos humanos, de queimar os cadáveres e de vasculhar os pertences das vítimas assassinadas, tudo isso era carreado por outros prisioneiros, forçados a participar no processo de matança ou enfrentar, eles próprios, a morte imediata. (Estes Sonderkommando estavam, naturalmente, apenas adiando com suas ações, o momento de suas próprias execuções.) Isso signficava que um membro do departamento econômico de Auschwitz, como Oskar Gröning, só raramente tinha de encarar a realidade da matança. Na maior parte do tempo ele poderia sentar em seu escritório, contando dinheiro, ou descansando em seu aquartelamento, bebendo licor roubado do último transporte de judeus para o campo.
O campo principal de Auschwitz, onde Gröning trabalhava a maior parte do tempo, estava a cerca de 2,5 quilômetros da fábrica de matança de Auschwitz-Birkenau, portanto, ele sentia-se removido do processo de assassinato tanto fisicamente, quanto emocionalmente. Como resultado, ele chegou a sentir que o campo principal era igual "a uma pequena vila. Ela tinha suas fofocas... Havia um cinema e um teatro com interpretações regulares." Havia até mesmo um "Clube de Esportes" de Auschwitz, do qual Gröning era um membro ativo - ele revelou, durante sua entrevista que era "especialista em salto em altura." E não foram apenas as estruturas sociais que permitiram Gröning formar a opinião de que, de sua perspectiva, Auschwitz era um ambiente "maravilhoso" para se estar; esta visão se estendia às pessoas que trabalhavam junto com ele. "À parte o fato de que haviam porcos que davam vazão a seus impulsos - haviam tais pessoas - a situação especial [em Auschwitz] levou a amizades das quais ainda hoje, eu lembro com prazer."
E foi esta combinação de sua própria personalidade e a estrutura de Auschwitz que permitiu a Gröning "distanciar-se" da realidade da matança. "É uma qualidade dos seres humanos," disse ele, "até mesmo uma boa qualidade, que eles separem as coisas agradáveis das coisas desagradáveis, de uma forma tal que eles não passem a sofrer numa tal situação." Gröning transferiu o conhecimento dos detalhes do processo de matança para uma parte distante de sua mente e trancou a porta. Mas esta técnica de "separação" apenas funcionava enquanto ele pudesse voltar as costas para o sofrimento. Gröning sentia que se tivesse testemunhado a matança com seus próprios olhos, em bases regulares, então, provavelmente teria ficado "louco." E, portanto, ele chegou à conclusão de que "era mais fácil jogar uma granada de mão por detrás de um muro, do que matar um homem que está na frente de um muro."
Como muitas das pessoas que eu filmei através dos anos - não apenas antigos nazistas, mas ex-combatentes de todos os lados - Gröning era um crente fiel da escola de filosofia de que "a vida se trata de cuidar do Número Um". "Todo mundo se coloca em primeiro lugar," disse ele. "Tanta gente morreu na guerra - não só os judeus. Tanta coisa aconteceu. Tantos foram fuzilados. Tantos foram queimados. Se eu pensasse nisso, eu não seria capaz de viver um minuto."
Gröning até mesmo gostaria que acreditássemos que há uma comparação legítima a ser feita entre a campanha de bombardeio Aliada durante a guerra e o extermínio dos judeus. Ele coloca desta forma: "Nós vimos como as bombas eram lançadas na Alemanha, e mulheres e crianças morriam nas tempestades de fogo. Nós vimos isso e dissemos, 'Esta é uma guerra que está sendo conduzida desta forma por ambos os lados.' " Outros nazistas assumiram o mesmo ponto de vista. Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz, diretamente comparou-se com um piloto de bombardeiro que recebia ordens para lançar bombas sobre uma cidade que ele sabia conter mulheres e crianças. Semelhante aos SS em Auschwitz, prossegue o argumento apresentado pelos nazistas e seus puxa-sacos, as tripulações de bombardeiros participaram na matança em massa de não-combatentes. E está correto que os Aliados, de forma deliberada, visaram civis inimigos. Próximo ao fim da guerra, um critério utilizado na seleção de alvos era a "combustibilidade" das cidades alemãs - algo que levou à destruição de cidades ancestrais como Würzburg.
Mas, embora tudo isso seja verdadeiro, há importantes diferenças conceituais entre o bombardeio em massa das cidades alemãs e japonesas e o extermínio nazista dos judeus. A campanha de bombardeio foi autorizada por governos democráticos na perseguição de um único e simples objetivo - derrotar regimes antidemocráticos que haviam começado a guerra por um desejo implacável de conquista. Nem tampouco a campanha de bombardeio Aliada visava um grupo específico da população alemã ou japonesa. A matança de judeus, por outro lado, foi eventualmente parte de um plano maior de aniquilação que não teria parado se a Alemanha tivesse vencido a guerra. Planos nazistas para a União Soviética visavam a inanição em massa e eliminação de dezenas de milhões de pessoas. O extermínio não era um método para tentar acabar com a guerra; ele era em parte o sentido da guerra no leste, pelo menos da perspectiva ideológica nazista. E, ao contrário das lideranças alemãs ou japonesas, que poderiam ter impedido o bombardeio num instante, ao renderem-se, não havia nada que os judeus pudessem ter feito para pararem seu próprio extermínio. Nenhuma discussão, nenhuma negociação, nenhuma rendição era possível.
Não obstante, muita gente ainda se sente legitimamente incomodada pela campanha de bombardeio em massa montada pelos Aliados. E o fato de que existiram diferenças conceituais entre a campanha de bombardeio e o extermínio dos judeus, serviria de pouco conforto para as mulheres e crianças alemãs que morreram nos bombardeios de Dresden e Hamburgo, ou as mulheres e crianças japonesas que foram incineradas nas tempestades de fogo de Tóquio e Osaka. Mas nós sempre precisamos nos lembrar que no momento em que a guerra acabou, o bombardeio parou; enquanto que, se os alemães tivessem vencido a guerra, a destruição dos judeus certamente teria continuado.
A idéia de que não estavam fazendo mais certo ou errado do que um piloto de bombardeiro Aliado era claramente reconfortante para numerosos SS em Auschwitz. E, em acréscimo a este pensamento tranqüilizador, Gröning cultivava sua falta de conexão emocional com a matança. Na verdade, a totalidade de seu antisemitismo era "não-emocional". Embora os nazistas "reconhecessem" que os judeus eram um "problema", ele sustentava que "isto não levava ninguém a se envolver de uma tal maneira que se eu visse um judeu andando na rua, bateria nele."
Mas, de um modo estranho, a falta de conexão - frieza, com efeito - de sua abordagem à matança dos judeus, tornava Oskar Gröning uma figura particularmente perturbadora de se encontrar. Ele era um perpetrador "razoável'. E isso significava que ele era capaz de oferecer esta explicação tranqüila quando indagado por quê os nazistas consideraram legítimo assassinar mais de 200 mil crianças em Auschwitz: "As crianças não eram o inimigo no momento," disse ele. "O inimigo era o sangue dentro delas - a [capacidade] de crescerem para serem judeus que tornariam-se perigosos. E por causa disso as crianças também foram afetadas."
Enquanto nossa entrevista caminhava para o fim, Gröning friamente revelou que não se sentia "envergonhado" de ter sido parte de Auschwitz. Antes, ele confessou sentir-se "envergonhado" apenas de ter caído na propaganda nazista sobre os judeus, e assim levado à cabo o seu trabalho no campo, durante tanto tempo: "Eu achei terrível o que aconteceu, e o fato de ter estado lá, revoltante. Mas, culpa? Não."
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extraído de "Their Darkest Hour_People Tested to the Extreme in WWII (2007 - Laurence Rees)
Vista aérea de Auschwitz-Birkenau em agosto de 1944. A imagem foi obtida por um avião de reconhecimento sul-africano. Porém, o significado dela passou despercebido para os analistas de informações Aliados que estavam visando fábricas de material bélico nas imediações do campo.
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GUARDA DE AUSCHWITZ VAI À JULGAMENTO NA ALEMANHA.
Alemanha pode iniciar o julgamento do antigo sargento das SS, Oskar Gröning, fazendo dele o primeiro ex-guarda de um campo da morte a comparecer perante uma corte alemã em décadas.
Tony Paterson, Berlim - The Telegraph, 13 de março de 2014. [http://www.telegraph.co.uk/news/worldne ... rmany.html]
Promotores alemães declararam que um antigo guarda de Auschwitz, com 92 anos, está apto a sofrer um julgamento por ter assessorado o assassinato de dezenas de milhares de judeus enviados para a morte no infame campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial
Oskar Gröning, um antigo sargento nazista, admite ter servido em Auschwitz durante dois anos e meio, mas afirma ter simplesmente guardado as posses dos prisioneiros condenados no campo e insiste que não cometeu crimes de guerra lá.
No entanto, promotores do estado em Hannover anunciaram, na quinta-feira, que eles completaram a investigação inicial contra Gröning e declaram que ele está apto a passar por um julgamento. Ele, provavelmente, será o primeiro guarda de um campo da morte a comparecer perante uma corte alemã em décadas.
Dois outros idosos ex-guardas de Auschwitz, também sob investigação pelos promotores de Hannover, foram considerados como frágeis demais para passar por um julgamento, relatou o jornal Bild da Alemanha.
Um tribunal Aliado isentou Gröning, que trabalhou como gerente de uma fábrica de vidros e agora vive próximo a Lüneburg, de crimes de guerra em 1948. No entanto, ele afirma que permanece assombrado pelos horrores de Auschwitz até hoje.
"Uma noite em janeiro de 1943, eu vi pela primeira vez como os judeus eram realmente gaseados," ele relembrou numa entrevista. "Havia mais de uma centena de prisioneiros e logo havia gritos carregados de pânico, enquanto eles eram amontoados na câmara e a porta era fechada.
Através dos anos eu ouço os gritos dos mortos em meus sonhos. Eu nunca ficarei livre deles.
A culpa nunca me deixará. Eu posso apenas implorar por perdão e rezar por expiação."
Gröning é um dos poucos ex-guardas de Auschwitz rastreados pela unidade de investigação de crimes de guerra nazistas sediada em Stuttgart. Kurt Schrimm, seu diretor, disse que os primeiros processos podem começar no final deste ano.
Os casos são parte do esforço final da Alemanha para levar os últimos suspeitos de crimes de guerra nazistas à justiça. Promotores tem sido capazes de apresentar acusações devido a um precedente legal estabelecido em 2011, com a condenação do antigo guarda do campo da morte de Sobibor, John Demjanjuk, por uma corte de Munique.
Não havia nenhuma testemunha no julgamento de Demjanjuk, mas os juízes aceitaram o argumento da promotoria de que ele assessorou o assassinato em massa simplesmente por ter servido como guarda no campo. Demjanjuk foi sentenciado a cinco anos de prisão, mas morreu em 2012, enquanto apelava contra sua sentença.
Laurence Rees.
Uma das poucas conclusões permanentes que tirei como resultado de meu trabalho é que as pessoas raramente conformam-se a suas idéias preconcebidas sobre elas. Pegue o exemplo de uma pessoa que possa ter trabalhado em Auschwitz, por exemplo. Tente imaginar alguém que foi um apoiador empenhado dos nazistas, enquanto crescia nos anos 1930, foi voluntário para as SS durante a guerra, e então participou de um processo de matança que fez de Auschwitz o local do maior assassinato em massa na história do mundo. O que você vê? Bem, o que for que seja, duvido que sua criação corresponda a Oskar Gröning.
Ele foi uma das pessoas mais tranqüilas que já encontrei. Ele usava óculos e tinha modos suaves. Depois da guerra ele tornou-se gerente de pessoal de uma fábrica de vidros. E ele parece não ter perdido um instante de sono como conseqüência de seu tempo em Auschwitz. Quando o encontrei em Hamburgo, uns dois anos atrás, eu achei que ele parecia um de meus tios escoceses que passara a vida num banco. Igual ao meu tio, Oskar Gröning era empertigado, bem apresentado e aparentemente, inatacavelmente respeitável. E logo descobri que isso não era de surpreender que ele lembrasse de meu parte, já que Gröning revelou ter trabalhado num banco antes da guerra. Ele nunca foi um homem de ação - ele nunca quis mais para si do que ser considerado um membro útil da sociedade. Mas, é claro, a sociedade na qual viveu durante seus anos formativos foi aquela criada pelos nazistas, e ele, sem questionar, aceitou os valores dela como seus próprios.
Quando a guerra eclodiu ele estava com dezoito anos e, muito influenciado pelas histórias de seu avô que havia sido um corneteiro num regimento de cavalaria, ansiou por ser um membro de uma unidade de "elite" das forças armadas alemãs. Desta forma, apesar de sua visão deficiente, ele solicitou ingresso nas SS. Ele obteve sucesso, e foi designado para funções administrativas no sul da Alemanha. Então, em 1942, ele foi notificado de uma designação diferente, para um campo de concentração no leste, chamado Auschwitz. Ele nunca tinha ouvido este nome antes, mas sabia, naturalmente, que existiam campos de concentração no estado nazista para controlar e punir os "inimigos internos do país."
Quando ele chegou no campo principal de Auschwitz, margeando o rio Sola no sul da Polônia, ele achou que entrava num campo de concentração "normal". Ele foi designado para o "departamento econômico" do campo e começou a selecionar o dinheiro que havia sido tomado dos internos na chegada e que ele pensava seria devolvido a eles, em sua eventual libertação. Foi só então, quando lhe foi dito que o dinheiro tirado dos grandes números de judeus chegando no campo "não seria devolvido a eles", que ele compreendeu que Auschwitz não era um campo de concentração "comum", afinal de contas. Foi explicado a Gröning que os judeus que não fossem capazes de trabalhar no campo deveriam "ser diminuídos" e "descartados". Quando ele perguntou o que realmente queria dizer "descartados" e lhe foi dito a verdade - extermínio - ele nem "podia imaginar isso". Foi só quando testemunhou a chegada de um transporte de judeus ao campo e viu, em primeira mão, o processo de seleção pelo qual alguns eram mandados para trabalhar e outros eram escolhidos para morrer nas câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau que Gröning apreendeu, totalmente, o que estava se passando.
Descobrir a verdadeira função "foi um choque", disse Gröning: "Mas você não pode esquecer que não só de 1933 em diante, mas antes disso, na propaganda que eu recebi como menino na mídia, éramos conscientizados de que a judeidade - especialmente na Alemanha - foi a causa da Grande Guerra e da legenda da "facada nas costas" [pela qual os judeus alemães, por trás das linhas, foram falsamente culpados por traírem os soldados no front]. Os judeus garantiram que os comunistas fizessem a revolução em 1918-19, e na sua difusão. Os judeus foram, realmente, a causa da miséria da Alemanha... e nós estávamos convencido por nossa visão de mundo que havia uma grande conspiração da judeidade contra nós. E isso foi expresso em Auschwitz na idéia que dizia, 'Aqui os judeus estão sendo exterminados... o que aconteceu na Grande Guerra - quando os judeus nos jogaram na miséria - precisa ser evitado. Os judeus são nossos inimigos.' Portanto, nós não exterminamos ninguém, além de inimigos."
Mas, embora ele possa ter concordado de uma maneira teórica com a coletânea de mentiras que constituía a propaganda nazista contra os judeus, era uma coisa bem diferente estar envolvido no assassinato em massa deles. E, crucial para a forma como Gröning ajustou-se à Auschwitz foi sua imediata decisão de separar método de teoria. Quando ele viu "sádicos das SS limpando brutalmente a rampa de chegada de crianças perdidas, doentes e idosos, ele foi imediatamente reclamar com seus superiores e pediu transferência (que lhe foi negada). Mas ele não pensou em reclamar sobre o fato do assassinato em massa estar ocorrendo - ao invés, ele reclamou apenas da maneira que ele estava acontecendo. Ele disse a seu chefe que "se é necessário exterminar os judeus, pelo menos que isso seja feito dentro de um certo esquema."
Gröning aceitou a decisão da liderança nazista de que os judeus eram uma ameaça e tinham de ser "diminuidos"; eu suspeito que ele, até mesmo, concordava com a política. Portanto ele concentrou seus esforços em assegurar que, nas raras ocasiões que presenciou isso, o processo fosse completado da forma mais ordeira possível. E neste aspecto, Auschwitz era o local perfeito para ele trabalhar.
Apenas um punhado de membros das SS em Auschwitz era diretamente confrontado com o assassinato dos judeus. Cada uma das quatro combinações de crematório/câmara de gás de Auschwitz-Birkenau, capazes de matar quatro mil e setecentas (4.700) pessoas por dia, entre elas, era guarnecida por menos de meia dúzia de alemães. O trabalho de limpar as câmaras de gás dos corpos e excrementos humanos, de queimar os cadáveres e de vasculhar os pertences das vítimas assassinadas, tudo isso era carreado por outros prisioneiros, forçados a participar no processo de matança ou enfrentar, eles próprios, a morte imediata. (Estes Sonderkommando estavam, naturalmente, apenas adiando com suas ações, o momento de suas próprias execuções.) Isso signficava que um membro do departamento econômico de Auschwitz, como Oskar Gröning, só raramente tinha de encarar a realidade da matança. Na maior parte do tempo ele poderia sentar em seu escritório, contando dinheiro, ou descansando em seu aquartelamento, bebendo licor roubado do último transporte de judeus para o campo.
O campo principal de Auschwitz, onde Gröning trabalhava a maior parte do tempo, estava a cerca de 2,5 quilômetros da fábrica de matança de Auschwitz-Birkenau, portanto, ele sentia-se removido do processo de assassinato tanto fisicamente, quanto emocionalmente. Como resultado, ele chegou a sentir que o campo principal era igual "a uma pequena vila. Ela tinha suas fofocas... Havia um cinema e um teatro com interpretações regulares." Havia até mesmo um "Clube de Esportes" de Auschwitz, do qual Gröning era um membro ativo - ele revelou, durante sua entrevista que era "especialista em salto em altura." E não foram apenas as estruturas sociais que permitiram Gröning formar a opinião de que, de sua perspectiva, Auschwitz era um ambiente "maravilhoso" para se estar; esta visão se estendia às pessoas que trabalhavam junto com ele. "À parte o fato de que haviam porcos que davam vazão a seus impulsos - haviam tais pessoas - a situação especial [em Auschwitz] levou a amizades das quais ainda hoje, eu lembro com prazer."
E foi esta combinação de sua própria personalidade e a estrutura de Auschwitz que permitiu a Gröning "distanciar-se" da realidade da matança. "É uma qualidade dos seres humanos," disse ele, "até mesmo uma boa qualidade, que eles separem as coisas agradáveis das coisas desagradáveis, de uma forma tal que eles não passem a sofrer numa tal situação." Gröning transferiu o conhecimento dos detalhes do processo de matança para uma parte distante de sua mente e trancou a porta. Mas esta técnica de "separação" apenas funcionava enquanto ele pudesse voltar as costas para o sofrimento. Gröning sentia que se tivesse testemunhado a matança com seus próprios olhos, em bases regulares, então, provavelmente teria ficado "louco." E, portanto, ele chegou à conclusão de que "era mais fácil jogar uma granada de mão por detrás de um muro, do que matar um homem que está na frente de um muro."
Como muitas das pessoas que eu filmei através dos anos - não apenas antigos nazistas, mas ex-combatentes de todos os lados - Gröning era um crente fiel da escola de filosofia de que "a vida se trata de cuidar do Número Um". "Todo mundo se coloca em primeiro lugar," disse ele. "Tanta gente morreu na guerra - não só os judeus. Tanta coisa aconteceu. Tantos foram fuzilados. Tantos foram queimados. Se eu pensasse nisso, eu não seria capaz de viver um minuto."
Gröning até mesmo gostaria que acreditássemos que há uma comparação legítima a ser feita entre a campanha de bombardeio Aliada durante a guerra e o extermínio dos judeus. Ele coloca desta forma: "Nós vimos como as bombas eram lançadas na Alemanha, e mulheres e crianças morriam nas tempestades de fogo. Nós vimos isso e dissemos, 'Esta é uma guerra que está sendo conduzida desta forma por ambos os lados.' " Outros nazistas assumiram o mesmo ponto de vista. Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz, diretamente comparou-se com um piloto de bombardeiro que recebia ordens para lançar bombas sobre uma cidade que ele sabia conter mulheres e crianças. Semelhante aos SS em Auschwitz, prossegue o argumento apresentado pelos nazistas e seus puxa-sacos, as tripulações de bombardeiros participaram na matança em massa de não-combatentes. E está correto que os Aliados, de forma deliberada, visaram civis inimigos. Próximo ao fim da guerra, um critério utilizado na seleção de alvos era a "combustibilidade" das cidades alemãs - algo que levou à destruição de cidades ancestrais como Würzburg.
Mas, embora tudo isso seja verdadeiro, há importantes diferenças conceituais entre o bombardeio em massa das cidades alemãs e japonesas e o extermínio nazista dos judeus. A campanha de bombardeio foi autorizada por governos democráticos na perseguição de um único e simples objetivo - derrotar regimes antidemocráticos que haviam começado a guerra por um desejo implacável de conquista. Nem tampouco a campanha de bombardeio Aliada visava um grupo específico da população alemã ou japonesa. A matança de judeus, por outro lado, foi eventualmente parte de um plano maior de aniquilação que não teria parado se a Alemanha tivesse vencido a guerra. Planos nazistas para a União Soviética visavam a inanição em massa e eliminação de dezenas de milhões de pessoas. O extermínio não era um método para tentar acabar com a guerra; ele era em parte o sentido da guerra no leste, pelo menos da perspectiva ideológica nazista. E, ao contrário das lideranças alemãs ou japonesas, que poderiam ter impedido o bombardeio num instante, ao renderem-se, não havia nada que os judeus pudessem ter feito para pararem seu próprio extermínio. Nenhuma discussão, nenhuma negociação, nenhuma rendição era possível.
Não obstante, muita gente ainda se sente legitimamente incomodada pela campanha de bombardeio em massa montada pelos Aliados. E o fato de que existiram diferenças conceituais entre a campanha de bombardeio e o extermínio dos judeus, serviria de pouco conforto para as mulheres e crianças alemãs que morreram nos bombardeios de Dresden e Hamburgo, ou as mulheres e crianças japonesas que foram incineradas nas tempestades de fogo de Tóquio e Osaka. Mas nós sempre precisamos nos lembrar que no momento em que a guerra acabou, o bombardeio parou; enquanto que, se os alemães tivessem vencido a guerra, a destruição dos judeus certamente teria continuado.
A idéia de que não estavam fazendo mais certo ou errado do que um piloto de bombardeiro Aliado era claramente reconfortante para numerosos SS em Auschwitz. E, em acréscimo a este pensamento tranqüilizador, Gröning cultivava sua falta de conexão emocional com a matança. Na verdade, a totalidade de seu antisemitismo era "não-emocional". Embora os nazistas "reconhecessem" que os judeus eram um "problema", ele sustentava que "isto não levava ninguém a se envolver de uma tal maneira que se eu visse um judeu andando na rua, bateria nele."
Mas, de um modo estranho, a falta de conexão - frieza, com efeito - de sua abordagem à matança dos judeus, tornava Oskar Gröning uma figura particularmente perturbadora de se encontrar. Ele era um perpetrador "razoável'. E isso significava que ele era capaz de oferecer esta explicação tranqüila quando indagado por quê os nazistas consideraram legítimo assassinar mais de 200 mil crianças em Auschwitz: "As crianças não eram o inimigo no momento," disse ele. "O inimigo era o sangue dentro delas - a [capacidade] de crescerem para serem judeus que tornariam-se perigosos. E por causa disso as crianças também foram afetadas."
Enquanto nossa entrevista caminhava para o fim, Gröning friamente revelou que não se sentia "envergonhado" de ter sido parte de Auschwitz. Antes, ele confessou sentir-se "envergonhado" apenas de ter caído na propaganda nazista sobre os judeus, e assim levado à cabo o seu trabalho no campo, durante tanto tempo: "Eu achei terrível o que aconteceu, e o fato de ter estado lá, revoltante. Mas, culpa? Não."
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extraído de "Their Darkest Hour_People Tested to the Extreme in WWII (2007 - Laurence Rees)
Vista aérea de Auschwitz-Birkenau em agosto de 1944. A imagem foi obtida por um avião de reconhecimento sul-africano. Porém, o significado dela passou despercebido para os analistas de informações Aliados que estavam visando fábricas de material bélico nas imediações do campo.
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GUARDA DE AUSCHWITZ VAI À JULGAMENTO NA ALEMANHA.
Alemanha pode iniciar o julgamento do antigo sargento das SS, Oskar Gröning, fazendo dele o primeiro ex-guarda de um campo da morte a comparecer perante uma corte alemã em décadas.
Tony Paterson, Berlim - The Telegraph, 13 de março de 2014. [http://www.telegraph.co.uk/news/worldne ... rmany.html]
Promotores alemães declararam que um antigo guarda de Auschwitz, com 92 anos, está apto a sofrer um julgamento por ter assessorado o assassinato de dezenas de milhares de judeus enviados para a morte no infame campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial
Oskar Gröning, um antigo sargento nazista, admite ter servido em Auschwitz durante dois anos e meio, mas afirma ter simplesmente guardado as posses dos prisioneiros condenados no campo e insiste que não cometeu crimes de guerra lá.
No entanto, promotores do estado em Hannover anunciaram, na quinta-feira, que eles completaram a investigação inicial contra Gröning e declaram que ele está apto a passar por um julgamento. Ele, provavelmente, será o primeiro guarda de um campo da morte a comparecer perante uma corte alemã em décadas.
Dois outros idosos ex-guardas de Auschwitz, também sob investigação pelos promotores de Hannover, foram considerados como frágeis demais para passar por um julgamento, relatou o jornal Bild da Alemanha.
Um tribunal Aliado isentou Gröning, que trabalhou como gerente de uma fábrica de vidros e agora vive próximo a Lüneburg, de crimes de guerra em 1948. No entanto, ele afirma que permanece assombrado pelos horrores de Auschwitz até hoje.
"Uma noite em janeiro de 1943, eu vi pela primeira vez como os judeus eram realmente gaseados," ele relembrou numa entrevista. "Havia mais de uma centena de prisioneiros e logo havia gritos carregados de pânico, enquanto eles eram amontoados na câmara e a porta era fechada.
Através dos anos eu ouço os gritos dos mortos em meus sonhos. Eu nunca ficarei livre deles.
A culpa nunca me deixará. Eu posso apenas implorar por perdão e rezar por expiação."
Gröning é um dos poucos ex-guardas de Auschwitz rastreados pela unidade de investigação de crimes de guerra nazistas sediada em Stuttgart. Kurt Schrimm, seu diretor, disse que os primeiros processos podem começar no final deste ano.
Os casos são parte do esforço final da Alemanha para levar os últimos suspeitos de crimes de guerra nazistas à justiça. Promotores tem sido capazes de apresentar acusações devido a um precedente legal estabelecido em 2011, com a condenação do antigo guarda do campo da morte de Sobibor, John Demjanjuk, por uma corte de Munique.
Não havia nenhuma testemunha no julgamento de Demjanjuk, mas os juízes aceitaram o argumento da promotoria de que ele assessorou o assassinato em massa simplesmente por ter servido como guarda no campo. Demjanjuk foi sentenciado a cinco anos de prisão, mas morreu em 2012, enquanto apelava contra sua sentença.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Sobrevivente e o Soldado.
O reencontro entre um sobrevivente do Holocausto e o soldado que o libertou.
Montedo.com.
O senhor à esquerda é um judeu chamado Joshua Kaufman, de 87 anos. Em 1945 ele era um dos internos no campo de concentração nazista de Dachau que, até então, já havia consumido 35 mil vidas. Um dia, o campo ficou quieto, os guardas não vieram e, de repente, Kaufman e seus amigos ouviram vozes. Correram e se esconderam dentro das latrinas, aguardando a morte. Eram vozes americanas.
Kaufman decidiu sair e a primeira pessoa que viu foi o homem da direita, Daniel Gillespie, hoje com 89 anos. Gillespie, que era operador de metralhadora na 42ª Divisão de Infantaria americana, ficou chocado com aquele cadáver ambulante, imundo, ossos à vista, que ia em sua direção. Os dois se abraçaram e choraram.
Após a libertação de Dachau e o fim da guerra, ambos se separaram. Kaufman foi para Israel, onde foi soldado e depois emigrou para os EUA. Os dois nunca se reencontraram, apesar de viverem, sem saber, a apenas uma hora um do outro.
Como parte de um documentário, os dois foram reunidos.
Ao ver seu salvador, Kaufman disse “Eu te amo muito”, fez uma saudação, beijou suas mãos e, apesar da idade avançada, abaixou-se e beijou-lhe os pés.
O reencontro entre um sobrevivente do Holocausto e o soldado que o libertou.
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O senhor à esquerda é um judeu chamado Joshua Kaufman, de 87 anos. Em 1945 ele era um dos internos no campo de concentração nazista de Dachau que, até então, já havia consumido 35 mil vidas. Um dia, o campo ficou quieto, os guardas não vieram e, de repente, Kaufman e seus amigos ouviram vozes. Correram e se esconderam dentro das latrinas, aguardando a morte. Eram vozes americanas.
Kaufman decidiu sair e a primeira pessoa que viu foi o homem da direita, Daniel Gillespie, hoje com 89 anos. Gillespie, que era operador de metralhadora na 42ª Divisão de Infantaria americana, ficou chocado com aquele cadáver ambulante, imundo, ossos à vista, que ia em sua direção. Os dois se abraçaram e choraram.
Após a libertação de Dachau e o fim da guerra, ambos se separaram. Kaufman foi para Israel, onde foi soldado e depois emigrou para os EUA. Os dois nunca se reencontraram, apesar de viverem, sem saber, a apenas uma hora um do outro.
Como parte de um documentário, os dois foram reunidos.
Ao ver seu salvador, Kaufman disse “Eu te amo muito”, fez uma saudação, beijou suas mãos e, apesar da idade avançada, abaixou-se e beijou-lhe os pés.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Quero ver o que o veterano acha de seu governo fornecer armas para grupos nazistas na Ucrania.Clermont escreveu:Sobrevivente e o Soldado.
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O senhor à esquerda é um judeu chamado Joshua Kaufman, de 87 anos. Em 1945 ele era um dos internos no campo de concentração nazista de Dachau que, até então, já havia consumido 35 mil vidas. Um dia, o campo ficou quieto, os guardas não vieram e, de repente, Kaufman e seus amigos ouviram vozes. Correram e se esconderam dentro das latrinas, aguardando a morte. Eram vozes americanas.
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