Enviado: Dom Abr 04, 2004 8:08 pm
por Clermont
SEM FIM PARA A GUERRA, A receita de Frum-Perle pode enredar a América num conflito interminável.
Por Patrick J. Buchanan, 1o de março de 2004.
Na capa de seu livro, Richard Perle acrescenta uma descrição de si mesmo, do Washington Post, como o "guru intelectual da linha-dura do movimento neo-conservador em política externa."
A reputação de guru, no entanto, não sobrevive a leitura. De fato, ao fechar o novo livro de Perle, um pensamento ocorre: o momento neo-conservador pode estar acabado. Pois, não só eles estão perdendo seu controle sobre o poder, como também estão perdendo o contato com a realidade.
"Um Fim para o Mal: Como Vencer a Guerra ao Terror" abre com uma nota de histeria. Na Guerra ao Terror, escreve Perle, "Não há meio termo para os americanos: é vitória ou holocausto." O que há de novo, após o 11 de Setembro é a sombria conclusão de que a ameaça terrorista, que imaginávamos estar contida" agora ameaça "nossa sobrevivência como nação."
Mas como nossa sobrevivência como nação está ameaçada quando nem um só americano morreu em ataque terrorista em solo dos EUA, desde 11 de Setembro? Estamos, realmente, em perigo iminente de um holocausto como o que ocorreu com os judeus da Polônia?
"[Uma] tendência radical dentro do Islã," diz Perle, "...procura derrubar nossa civilização e remodelar as nações do Ocidente como sociedades islâmicas, impondo sobre o mundo inteiro, sua religião e leis."
Oh, sim. O Islã militante tem pregado isso desde o século VII. Mas quais são as chances que a rapaziada de Tora Bora tem de "derrubar nossa civilização" e nos coagir a todos, a começar a empinar o bumbum para cima, e rezar cinco vezes por dia, na direção de Meca?
Em sua própria resenha de "An End to Evil", Joshua Micah Marshal sente esse mesmo cheiro de quase-histeria relativa a ameaça islâmica:
"O livro transmite uma sensação geral de que a América está em guerra com o próprio Islã, em todo e qualquer lugar: o mundo muçulmano contemporâneo...é descrito como um grande caldeirão de ódio, matança, obscurantismo e fraude. Se nossos adversários muçulmanos não estiverem tentando destruir a civilização ocidental, nós teremos pedido por mais batalhas."
Sugerir que Frum e Perle estão fora da realidade não quer dizer que não devamos levar à sério a ameaça de ataques terroristas contra aviões ou lojas, usando bombas ou, Deus não permita, um rude artefato atômico, contrabandeado por uma caminhonete ou um navio porta-container. E mesmo assim, isso nunca iria "derrubar nossa civilização."
No pior dos ataques terroristas, perdemos 3 mil pessoas. Horrível. Mas no riacho Antietam, perdemos 7 mil num só dia de batalha, numa nação que tinha um nono da população atual. Três mil homens e rapazes, pereciam toda semana, durante as duzentas semanas da Guerra Civil. Nós, os americanos, não desaparecemos. Não chegamos aos dias de hoje por sermos feitos de açucar.
A Alemanha e o Japão sofreram 3 mil mortes por dia, nos últimos dois anos da Segunda Guerra Mundial, com cada cidade arrasada até os alicerces e duas, destruídas por bombas atômicas. Ambas se recuperaram em uma década. Seria a al-Qaeda capaz de conseguir esse tipo de devastação quando eles estão recrutando insignificantes como José Padilla e o homem do sapato-bomba?
Na guerra em que estamos, nossos inimigos são fracos. Por isso recorrem a arma do fraco - terror. E, como na Guerra Fria, o tempo está do lado da América. Perseverança, e paciência é do que se precisa, não esse pânico.
Em vinte e cinco anos, o Islã militante capturou três países: Irã, Sudão e Afeganistão. Nós derrubamos o Talibã, quase sem perder um homem. Sudão é um estado falhado. No Irã, já cresceu uma geração que nada sabe sobre a Savak ou o Grande Satã, mas sabe o bastante sobre os mullahs para rejeitá-los. A Revolução iraniana alcançou seu Termidor. Onde o Islamismo assume o poder, ele fracassa. Como o Marxismo, ele não funciona.
Ainda assim, vamos pressupor que ele faça um retorno. E então? Todas juntas, as vinte e duas nações árabes não tem o PNB da Espanha. Sem o petróleo, suas exportações se igualam às da Finlândia. Nenhuma nação árabe pode resistir à Israel, que dirá aos Estados Unidos. A ameaça islâmica não é estratégica, mas demográfica. Se a morte vier para o Ocidente, será por termos abraçado uma cultura de morte - controle da natalidade, aborto, esterilização, eutanásia. O homem ocidental está morrendo enquanto o homem islâmico migra para o norte, para aguardar a extinção daquele e herdar o espólio.
Disse o jovem Lincoln no seu discurso do Liceu, "se a destruição for nosso destino, nós devemos ser autor e sofredor. Como uma nação de homens livres, nós devemos viver dessa forma todo o tempo, ou morrer por suicídio."
Em seu primeiro discurso de posse, FDR (Franklin Delano Roosevelt), admoestou, "[A] única coisa que devemos temer é o temor em si mesmo, terror irracional, injustificado que paralisa os esforços necessários para converter retirada em avanço."
Temor é o que Perle e seu co-autor, David Frum estão vendendo para precipitar a América em guerras em série. Tal aterrorização nos meteu no Iraque, embora já tenhamos descoberto que o Iraque não tinha nenhuma participação no 11 de Setembro, nenhum laço com a al-Qaeda, nenhuma arma de destruição em massa, nenhum programa nuclear, e nenhum plano para nos atacar. O Iraque nunca foi "o perigo claro e presente" que os autores insistiam que era. Chamando seu livro de "manual para a vitória", eles proclamam:
"Para nós, o terrorismo permanece o grande mal do nosso tempo, e a guerra contra esse mal, a grande causa de nossa geração. Não acreditamos que os americanos estão enfrentando esse mal, para minimizá-lo ou administrá-lo. Nós acreditamos que eles o estão enfrentando para vencer e acabar com este mal, antes que ele mate novamente e em escala genocida. Não há meio-termo para os americanos: é vitória ou holocausto."
Mas nenhuma nação pode "acabar com o mal". O mal existe desde que Caim se levantou contra seu irmão Abel e o matou. Uma propensão para o mal pode ser encontrada no coração de qualquer ser humano. E se Deus aceita a existência do mal, como Frum e Perle podem propor "acabar com o mal"? Nem qualquer nação pode "vencer a guerra ao terror". Terrorismo é simplesmente um termo para a matança de não-combatentes com fins políticos. O terror revolucionário tem existido há tanto tempo quanto esta República. Ele foi usado pelo Comitê de Salvação Pública de Robespierre e pela "Vontade do Povo", na Rússia Romanov. O Terror tem sido a arma de escolha de anarquistas, do IRA, Irgun, a Gangue Stern, a FLN da Argélia, os Mau-Mau, MPLA, a OLP, Setembro Negro, a ETA basca, Hezbollah, a Jihad Islâmica, Hamas, Brigada dos Mártires de Al Aksa, SWAPO, ZANU, ZAPU, os Tupamaros, Sendero Luminoso, FARC, ANC, Viet-Cong, os Huks, rebeldes chechenos, Tigres Tamis, e as FALN que tentaram assassinar Harry Truman e alvejaram o teto da Casa dos Representantes, em 1954, para nomear apenas uns poucos.
Acusados de terrorismo já ganharam o Prêmio Nobel da Paz: Begin, Arafat, Mandela. Três jazem em mausoléus nas capitais das nações que criaram: Lenin, Mao, Ho. Outros são os pais de seus países como Ben Bella e Jomo Kenyatta. Um terrorista da Mão Negra, fez inflamar a Grande Guerra de 1914, ao assassinar o Arquiduque Ferdinando. E mesmo assim, Gavrilo Princep tem uma ponte com seu nome, em Sarajevo.
A matança de inocentes com fins políticos é um mal, mas achar que podemos "acabar" com ela é um absurdo. Homens cruéis e amorais, avaros de poder e "imortalidade", sempre recorrerão a ela. Pois, com muita freqüencia, ela dá certo.
Mas o que a América deve fazer para obter a vitória em sua guerra ao terror? Dizem os autores: "Nós devemos caçar os terroristas individuais, antes que eles matem nosso povo ou outro... Devemos deter todos os regimes que usem o terror com arma de estado contra qualquer um, americano ou não (ênfase adicionadas pelo autor).
Espantoso. Os autores dizem que a América é responsável por defender do terror, todo mundo, em todos os lugares e deter todos e quaisquer regimes que possam usar o terror, contra todos e quaisquer pessoas, na Terra.
Mas existem 192 nações. Uma porção de regimes da Libéria ao Congo até Cuba, do Zimbabwe à Síria, até o Usbequistão, e do Irã ao Sudão até os senhores da guerra afegãos da Aliança do Norte que lutaram do nosso lado, acostumados a usar tortura e terror para punir inimigos. Vamos lutar com todos eles? Bem, realmente, não. Exceto a Coréia do Norte, a lista de nações dos autores que precisam ser atacadas parece ter sido redigida no Ministério da Defesa israelense. No segundo parágrafo, Perle e Frum nos dão uma curta lista de alvos prioritários: "A guerra ao terror não está terminada ainda, ela mal começou. Al Qaeda, Hezbollah e Hamas ainda planejam assassinatos."
Realmente, al-Qaeda foi responsável pelo 11 de Setembro. Mas quando foi que o Hamas nos atacou? E se Israel pode coexistir e negociar com o Hezbollah, por quê seria dever da América procurar e destruir o Hezbollah? Irã e Coréia do Norte, avisam os autores, "representam ameaças intoleráveis para a segurança americana. Precisamos nos mover, audaciosamente, contra ambos e contra todos os outros patrocinadores do terrorismo também: Síria, Líbia e Arábia Saudita. E não temos muito tempo."
"Por quê temos suportado [a Síria] tanto tempo?" os autores indagam. Eles pedem um corte de todo o fornecimento de petróleo para a Síria e um ultimato para Assad: Tire todas as tropas sírias do Líbano, entregue todos os suspeitos de terrorismo, termine com todo o apoio ao Hezbollah, pare a agitação contra Israel, e adote uma "orientação ocidental" - ou você, também, receberá o tratamento de Saddam.
Mas o que a Síria terá feito contra nós? E se Assad se recusasse, nós bombardearíamos Damasco? A invadiríamos? Onde arranjaríamos tropas? E se os sírios, também, recorrerem a guerra de guerrilha?
O pai de Bush fez de Hafez al-Assad um aliado na Guerra do Kuwait. Ehud Barak ofereceu a Assad, 99,5 % das Colinas de Golan. Por quê, então, o regime de Bashir Assad tem de ser destruído por nós?
"Não temos muito tempo," dizem Frum e Perle. Mas o que Assad está fazendo que exige um ataque imediato? Ele, também, estará comprando "yellowcake" (urânio) da Nigéria? O Coronel Khadaffi, agora está pagando bilhões em indenizações pelo PanNam 103, desistindo de suas armas de destruição em massa, e convidando inspetores americanos para verificar seu desarmamento. Por quê é um imperativo para nós, derrubá-lo?
Embora os sauditas tenham sido aliados hesitantes na Guerra ao Terror, eles não são inimigos da América. Eles bombearam óleo para manter os preços baixos na Guerra do Kuwait. Eles olharam para o outro lado, enquanto caças-bombardeiros dos EUA decolavam da Base Aérea Príncipe Sultan, na Operação "Iraqi Freedom". Ainda assim, os sauditas são instados a fornecer "a mais profunda cooperação na guerra ao terror," ou nós iremos invadir, separar e ocupar a província oriental deles, rica em petróleo. Mas por quê? E se a monarquia cair e os acólitos de bin Laden a substituirem, como isso nos terá deixado mais seguros em nosso próprio país?
O que o Irã fez para justificar uma guerra contra ele? De acordo com Perle e Frum,
O Irã desafiou a Doutrina Monroe e patrocinou assassinato em nosso próprio hemisfério, matando oitenta e seis pessoas,e ferindo cerca de trezentas no centro comunitário judaico, em Buenos Aires - e nosso governo fez pior do que nada: ele abriu negociações com os assassinos.
Mas essa atrocidade ocorreu a mais de doze anos atrás, muito antes do governo reformista do Presidente Mohammada Khatami ser eleito. E se o Irã estava por trás do ataque contra o centro comunitário judaico em Buenos Aires, por quê os argentinos e israelenses não invadem o Irã? Por quê a vingança seria nossa responsabilidade? Não foram americanos as vítimas, e o ataque ocorreu à 10 mil quilômetros dos Estados Unidos.
A invocação por Frum-Perle da Doutrina Monroe é tanto cínica quanto cômica. Se eles estivessem, genuinamente, preocupados com a Doutrina Monroe, por quê eles não incluíram Cuba na sua lista de alvos, um "estado patrocinador do terror" há duzentos quilômetros de nossas costas que hospedou mísseis soviéticos e, de acordo com o Subsecretário de Estado John Bolton, está desenvolvendo armas químicas e biológicas? Por quê a Arábia Saudita se enquadra no modelo e não Cuba? Teria algo a ver com a proximidade?
Quanto ao Irã, não pode haver perdão. "O regime tem de cair", dizem nossos autores, pois o Ayatollah Khamenei não tem
"mais direito de controlar ... o Irã, do que teria outro criminoso de assumir o controle das pessoas e propriedades dos outros. Não está sempre no nosso poder fazer algo sobre tais criminosos, nem seria sempre de nosso interesse, mas quando está ao alcance de nosso poder e nosso interesse, devemos jogar ditadores para o lado, sem mais compaixão do que um atirador de precisão da polícia sente quando abate um seqüestrador."
Mas onde, na Constituição, está o presidente autorizado a "jogar ditadores para o lado"? E se foi preciso 150 mil soldados dos EUA para jogar Saddam para o lado, quantos soldados, Frum e Perle acham que seriam necessários para ocupara a capital de uma nação três vezes maior e mais populosa, e atirar os ayatollahs para o lado? Quantos mortos e feridos os nossos "falcões da guerra" considerariam um preço aceitável para se verem livres dos mullahs?
Enquanto a Coréia do Sul favorece apaziguamento, eles escrevem, que nós devemos tomar a liderança, exigir que a Coréia do Norte entregue todos os materiais nucleares, e desativem todos sítios de mísseis. Se Kim Jong II, recusar-se, devemos recuar as tropas dos EUA para a segurança, além do alcance da artilharia e dos foguetes, na zona desmilitarizada, e lançar ataques preemptivos sobre os sítios nucleares norte-coreanos conhecidos, e impor um bloqueio naval e aéreo. Quanto aos sul-coreanos, provavelmente, eles iriam se juntar por si mesmos. "Não temos dúvidas sobre como tal guerra iria terminar," dizem os autores. Eles também não tinham dúvidas sobre como a Guerra do Iraque iria terminar.
Perle-Frum teriam uma visão, para o povo sofredor da Coréia do Norte, de um futuro de liberdade e democracia? Não exatamente:
"Pode ser que o único caminho após a crise de uma década na península coreana seja a derrubada de Kim Jong II e sua substituição por algum comunista norte-coreano, que seja mais subserviente à China. Se assim for, devemos aceitar tal resultado.
Muito bom. A América deve travar uma segunda Guerra da Coréia que poderia acarretar um ataque nuclear contra nossas tropas, mas, quando tivermos vencido, devemos aceitar uma Coréia do Norte comunista vassala de Pequim. Quantos mortos e feridos nossos senhores da guerra neo-conservadores iriam aceitar para transformar Pyongyang em fantoche de Pequim? Mas a lista de inimigos de Frum-Perl não está completa. A França, se não se adequar, também deve ser tratada como inimiga.
De cada página de seu livro, escorre um sentido de urgência, que bordeja ao desespero por ação, hoje mesmo: "Nós podemos sentir que a vontade de vencer está se desfazendo em Washington, sentimos a reversão aos velhos maus hábitos de complacência e negação."
Os "neocons" (de neo-conservadores) não estão errados aqui. Com o custo da guerra em 200 bilhões de dólares e crescendo, com as mortes se amontoando, e com a possibilidade crescente de que o Iraque acabe desabando no caos e na guerra civil, o Presidente Bush parece estar experimentando o remorso do sujeito que comprou gato por lebre, que lhe foi vendido por Perle e seus amigos.
Eles prometeram-lhe "um passeio", que nós seríamos saudados como "libertadores", que a democracia iria criar raízes no Iraque e florescer no Oriente Médio, que os palestinos e israelenses iriam dar-se as mãos e fazer a paz. Como Lorde Melbourne, Bush deve estar murmurando, "O que todos os sábios me prometeram não aconteceu, e o que todos os idiotas disseram que ia acontecer, está ocorrendo."
O que Perle e Frum acham de nosso decisivo fracasso no Iraque?
"Mas, de todos os nossos erros, provavelmente o mais sério foi nossa relutância em permitir que o Congresso Nacional Iraquiano, o movimento principal de resistência anti-Saddam, formasse um governo provisório, após a queda de Bagdá. Em 1944, nós tomamos o cuidado de deixar que as tropas francesas entrassem em Paris, antes das forças americanas ou britânicas. Deveríamos ter demonstrado igual tato em 2003.
Portanto, agora estamos encrencados porque Ahmad Chalabi não teve permissão para imitar De Gaulle, liderando seus Iraquianos Livres, testados em batalha, e exauridos por uma longa guerra, para dentro de Bagdá. E por quê, o protegido de Perle foi ultrapassado? Por que "o CNI apavorava os sauditas e portanto, apavorava aqueles em nosso governo que desejavam aplacar os sauditas." Os danados dos arabistas nos Estados Unidos fizeram das suas de novo.
Escrito às pressas, repleto de erros, sem índice, "An End to Evil" é uma breve defesa dos neo-conservadores contra sua indiciação próxima, nas acusações de terem mentido para nós, nos levando a uma guerra que pode acabar se mostrando nosso maior desastre desde o Vietnam. E a acusação de fraude deliberada não é sem mérito.
Em meados de dezembro de 2001, numa coluna distribuída pela Copley News, Perle assegurou que Saddam "está ocupado em trabalhar numa arma nuclear... é só questão de tempo antes que ele possua armas nucleares."
Nomeando Khidir Hamza, "uma das pessoas que administravam o programa de armas nucleares para Saddam," como sua fonte, Perle deu crédito à história de Hamza de 400 instalações para enriquecimento de urânio espalhadas por todo o Iraque. "Algumas delas parecem com fazendas, algumas parecem com escolas, algumas parcem com depósitos. Você nunca poderá achá-las." Apenas "ação preemptiva" poderá nos salvar, disse Perle.
Mas, no fim de 2001, de acordo com Perle, a ameaça de um Saddam com armas nucleares era iminente:
"Com o passar dos dias, ele chega mais perto de seu sonho de uma arma nuclear. Nós sabemos que ele mantém um programa clandestino, espalhado por muitos lugares escondidos, para enriquecimento de urânio para armamentos... E fontes de informações sabem que ele está no mercado, cheio de dinheiro, atrás de armas, material e componentes tanto quanto de armas nucleares prontas. O quão próximo ele está? Não sabemos. Dois, três anos, amanhã talvez?
Quando escreveu isso, Perle, enquanto presidente do Comitê de Políticas de Defesa, tinha acesso à informações secretas. Portanto, não se pode fugir à questão: Hamza, deliberadamente, enganou Perle, ou Perle, deliberadamente, nos enganou?
Para estes não-persuadidos de que Saddam era uma ameaça estratégica, haviam suas ligações com o massacre do 11 de Setembro. A colaboração de Saddam "com o terrorismo é bem documentada," escreveu Perle, "Evidências de um encontro em Praga entre um agente importante da inteligência iraquiana com Mohamed Atta, o chefe do 11 de Setembro, são convincentes."
Portanto, os "neocons" tiveram a guerra que tanto queriam. E após a América ter travado essa guerra pela qual eles rufaram os tambores, como Perle e companhia, explicam por quê ela não saiu como eles nos asseguraram que ia sair?
Resposta: qualquer desastre no Iraque, sustentam os autores, se deverá a venalidade e covardia do Departamento de Estado, CIA, FBI, generais reformados e ex-embaixadores, vendidos aos sauditas. "Nós oferecemos recomendações concretas, iguais a seriedade da ameaça, e os "linhas-moles" não, pois nós queríamos lutar e eles não."
E isso nos traz de volta ao ponto levantado no início: o momento neo-conservador pode estar passando, pois eles parecem estar perdendo seu contato com a realidade, tanto como sua influência na política. Em vez de procurar novas guerras para nos envolver mais fundo no Oriente Médio, Bush e Rumsfield parecem estar olhando para a rampa de saída para fora do pântano da Mesopotâmia. "Sem guerras em 2004", parece ser a senha de Karl Rove.
Além do mais, os americanos estão começando a perceber que, apesar de toda essa conversa bombástica sobre "momentos unipolares", e "império americano", há limites para o poder dos EUA, e nós estamos nos aproximando deles. As forças terrestres dos Estados Unidos, de 480 mil homens, estão se distendendo de forma cada vez mais tênue. Há murmúrios no Exército, nas Reservas e nas unidades da Guarda Nacional sobre temporadas demais longe de casa. Afastando-se da sua retórica do "eixo do mal", Bush disse no discurso do Estado da União, "Nós não temos o desejo de dominar, nenhuma ambição de império."
A longa retirada do império americano começou.
Em Washington, há rumores sobre o retorno de James Baker e a iminente partida de Paul Wolfowitz. Como disse Frederico, O Grande, cansado das bizarrices e peculato do seu convidado Voltaire, "Todo mundo espreme a laranja e joga fora a casca."
Além disso, o radicalismo de seus esquemas para duas, três, muitas guerras, parece, dado nosso atolamento no Iraque, não apenas imprudente, como baseado na irrealidade. Antes que Bush possa nos levar à guerra com qualquer um desses regimes, ele teria de convencer o país da necessidade da guerra e persuadir o Congresso para lhe conceder o poder para travá-la. Estando ausente uma nova atrocidade da magnitude do 11 de Setembro, diretamente vinculada a algum desses regimes na lista de Perle-Frum, o presidente não poderá ganhar essa autoridade. Nem parece que ele irá tentar.
E se os Estados Unidos atacassem a Líbia, a Síria ou a Arábia Saudita, nós alienaríamos todos os aliados no mundo islâmico e na Europa - incluindo a Grã-Bretanha de Tony Blair. Travar essas guerras e ocupar essas nações iria sangrar nossas forças armadas e exigir um retorno ao recrutamento obrigatório. Mas como qualquer uma dessas guerras nos tornaria mais seguros do terrorismo, aqui em casa?
E mais, é por que os americanos não podem ver a correlação entre as guerras que esses autores exigem e a segurança em casa, que Frum e Perle precisam recorrer ao medo de holocaustos, o fim da civilização, e nossa destruição como nação.
Se é a América que defendemos, "An End to Evil" não faz nenhum sentido. As prescrições Perle-Frum para permanentes guerras fazem sentido apenas se a missão das Forças Armadas dos Estados Unidos for tornar o Oriente Médio seguro para Sharon e aqui chegamos ao coração da querela entre nós.
Em 11 de Setembro, a al-Qaeda nos atacou. A al-Qaeda é nossa inimiga, não a Síria, Líbia ou Arábia Saudita. E o modo de destruir a Al-Qaeda é isolando-a de todas as nações árabes e islâmicas e centros de poder incluíndo Síria, Líbia, Arábia Saudita e Irã.
Nenhuma dessas nações tem participação no 11 de Setembro. Todas tem interesses vitais em não serem vinculadas à al-Qaeda que está sofrendo uma caçada mortal de uma superpotência enfurecida. Assim, não importa o caráter desses regimes, nós temos interesses em comum. E se Bush puder usar cenouras para atrair Bashir Hassad para nos ajudar a encontrar e destruir a al-Qaeda - como seu pai levou o pai de Assad a nos ajudar a expelir o Iraque do Kuwait - façamos da Síria um aliado de preferência a outro inimigo dos Estados Unidos.
Mas aqui está o obstáculo: os "neocons" não querem que estreitemos nossa lista de inimigos. Eles não querem confinar a guerra da América àqueles que nos atacaram. Eles querem expandir nossa lista de inimigos para incluir os inimigos de Israel. Eles querem escalar e alargar o que Chris Matthews chama "a Guerra dos Bombeiros" em uma guerra pela hegemonia do Oriente Médio. Eles esperaram explorar o 11 de Setembro para erigir um império, e enquanto eles vêem a visão desaparecer, seu desespero não conhece limites.
Essa grande mente militar americana, Coronel John Boyd uma vez descreveu estratégia como ligar-se a tantos centros de poder quanto for possível e isolar o seu inimigo de tantos centros de poder quanto for possível.
Essa foi a estratégia usada por Bush I na Guerra do Kuwait. Ele persuadiu Rússia e China a apoiá-la por escrito no Conselho de Segurança; Alemanha e Japão a financiar sua guerra; Síria e Egito a enviar soldados. Grã-Bretanha e França a nos ajudar a combater. Dando a todo mundo um naco da vitória americana - chame isso de suborno imperial, se quiser - Bush I alinhou o mundo contra o Iraque. Como fez George W. Bush, brilhantemente, no Afeganistão.
Mas o que Frum e Perle estão tentando impor a ele é uma estratégia completamente oposta. Eles querem que Bush expanda a guerra, alargue o teatro de operações, multiplique nossos inimigos e ignore nossos aliados. Se Bush adotar tal estratégia, será então América e Israel contra o mundo árabe e islâmico, com a Europa neutra e quase toda a Ásia torcendo por nossa humilhação. Que isso seja dito: é fundamental para a vitória sobre a al-Qaeda; para a segurança de nosso país, a segurança de nosso povo e nossos interesses mais amplos no mundo árabe e islâmico de 57 nações que se estendem do Marrocos à Malásia, que não permitamos aos neo-conservadores mesclar nossa guerra ao terror com a guerra deles pela hegemonia.
Os "neocons" acreditam que a Autoridade Palestina deve ser esmagada, Arafat eliminado, e as Colinas de Golan, a Margem Ocidental e Jerusalém Oriental mantidas por Israel, para todo o sempre. Eles querem o Hezbollah erradicado, Síria desmoralizada, a monarquia saudita derrubada. Que eles continuem querendo. Mas a agenda deles não é a da América, e a luta deles não é a luta da América.
Não há nenhum interesse vital dos Estados Unidos em quais bandeiras irão tremular sobre Golan ou Jerusalém Oriental, quando Barak estava desejoso de entregar ambas. Mas se permitirmos aos neo-conservadores metamorfosear nossa guerra contra a al-Qaeda em uma guerra de Israel pela Palestina, nossa guerra nunca terá fim. E é essa a agenda oculta dos neo-conservadores: guerra permanente para seu permanente poder. Como Frum e Perle admitem, essa é "a grande causa de nossa geração."
"Quem são esses caras?" Butch e Sundance perguntaram. Realmente, quem são esses homens que mergulhariam nosso país numa série de guerras de preempção e de vingança ao longo do arco de crise que vai da Líbia à Coréia?
Frum nem mesmo é americano. Ele é um canadense que não se tornou um cidadão até que recebesse uma oferta de emprego na loja de produção de discursos de Bush. Ele foi demitido depois de um ano, quando sua esposa se vangloriou na internet de que foi Davi o inventor da frase "eixo-do-mal". Expelido da Casa Branca, Frum procurou seus velhos amigos e acabou contratado pela National Review, onde ele produziu uma história de capa sobre os "doze condenados" "Conservadores Anti-patriotas", que odiariam "neocons", odiariam Bush, odiariam o Partido Republicano, odiariam a América, e "desejariam ver os Estados Unidos derrotados na Guerra ao Terror."
Frum ordenou que todos os doze fossem expurgados do movimento conservador. (E, devemos, por questão de justiça, registrar que todos os três editores dessa revista e quatro escritores regulares, estavam entre os 12 que foram para a fogueira.)
Quem é Perle? Ao contrário de Frum, um zero à esquerda em política externa, Perle tem sido um sério jogador desde a era Nixon. Mas através de todos esses anos, ele tem sido traído por uma ligação apaixonada à uma potência estrangeira. Em 1996, Perle foi co-autor de "A Clean Break", um documento, agora famoso, que instava Benjamin Netanyahu a descartar os Acordos de Oslo, tomar a Margem Ocidental, e confrontar a Síria. A estrada para Damasco, passava através de Bagdá, Perle disse ao receptivo Primeiro-Ministro israelense.
Então, conselheiro para o candidato republicano Robert Dole, Perle estava, portanto, secretamente instando um governo estrangeiro a abrogar um acordo de paz apoiado por seu próprio governo. Em 1998, ele e outros neo-conservadores assinaram uma carta para o então Presidente Clinton, instando os Estados Unidos a iniciarem uma guerra total ao Iraque e oferecendo o apoio dos neo-conservadores se Clinton a deslanchasse. Pergunta: por quê Perle é mantido no seu posto no Departamento de Defesa enquanto agita por guerras contra quatro ou cinco países, incluindo Arábia Saudita, um amigo dos Estados Unidos? Por quê o Presidente Bush não acaba com isso? Seu pai nunca teria tolerado algo assim.
Os "neocons" também tem começado a ferir suas reputações e se isolarem com a crueza e irracionalidade de seus ataques. Os canhões franceses, antigamente, ostentavam a inscrição ultima ratio regis, o último argumento dos reis. A tóxica acusação "anti-semita!" tem se tornado o último argumento dos "neocons". Mas eles tem usado esse canhão em demasia. As pessoas estão menos intimidadas agora. Elas tem visto pessoas olharem na boca desse canhão e saírem andando. O General Anthony Zinni, antigo chefe do Centcom (Comando Central das Forças Armadas), é um herói do Vietnam. Ele se opôs à guerra contra o Iraque, argumentando que as forças armadas dos Estados Unidos já estava por demais distendidas e que nós iríamos liberar forças que não poderíamos controlar. Numa entrevista, Zinni relatou seu espanto com a insipidez do grupo Wolfowitz com o qual ele tinha de lidar no Departamento de Defesa:
"Quanto mais eu via, mais eu pensava que essa [guerra] era produto dos "neocons" que não compreendiam a região e iriam criar devastação lá. Esses eram diletantes dos centros de pensamento de Washington que nunca tiveram uma idéia que funcionasse no chão... eu não sei de onde vieram os "neocons" - essa não era a plataforma [que Bush e Cheney] apresentaram... De algum modo, os "neocons" capturaram o presidente. Eles também capturaram o vice-presidente."
A resposta da National Review foi estigmatizar Zinni como um anti-semita. Numa coluna separada, o membro da NR, Joel Mowbray não só acusou o general de ter "culpado os judeus," como insistiu que o termo neo-conservador, em uso comum há uns 25 anos, é agora uma palavra código para judeus:
"Nem o Presidente Bush nem o Vice-Presidente Cheney... devem ser culpados. Foram os judeus. Eles capturaram a ambos, Bush e Cheney... Tecnicamente, o antigo chefe do Comando Central no Oriente Médio não disse 'judeus'. Em vez disso, ele usou o termo que se tornou um novo favorito dos anti-semitas: 'neo-conservadores'.
Mowbray e a National Review assim, difamaram um bravo e brilhante soldado que sangrou por seu país. Tais difamações não fazem nenhum bem aos "neocons", mas apenas aumentaram seu isolamento e a crescente repulsa por suas táticas. O colunista do New York Times David Brooks também tem começado a enodoar os críticos dos "neocons" como anti-semitas. Na palavra "neocon", ele escreve, o "con" significa conservador e o "neo" significa judeu.
Mas o problemas para os "neocons" não é que tantos sejam judeus, mas que tão poucos sejam conservadores. Lawrence Kaplan, um colega de Perle que foi co-autor de um livro com William Kristol, após ler "An End to Evil", declarou: "Isso não é conservadorismo. É liberalismo, com dentes muito afiados."
Se o propósito dos "neocons" é ver ódio étnico nos motivos de todo mundo, seria injusto explorar uma afinidade étnica neles próprios? Por quê cada grande estratégia que os "neocons" propõem, do "império americano"; da "benevolente hegemonia global"; de uma "Pax Americana até a "revolução democrática mundial" tem como elemento central, a solidariedade com Sharon e um vigoroso uso do poder americano contra todos os inimigos de Israel?
Por quê todo plano de paz proposto ou endossado por um presidente que dê aos palestinos um lar autônomo - o Plano Rogers, os Acordos de Oslo, Camp David, o Plano Taba, o Plano Saudita, Plano Mitchell, o Mapa do Caminho - é uma "rendição de Munique"? Por quê todo patriota americano, que exige de Ariel Sharon parar de construir assentamentos em terra palestina e muralhar Jerusalém, é um arabista do Departamento de Estado, um fantoche do lobby do petróleo texano, um anti-semita, ou um bajulador comprado pelos sauditas?
Os Estados Unidos permanecem, moral e politicamente, comprometidos com a segurança e sobrevivência de Israel e em fornecer-lhe todo o armamento para garantir isso. Nenhum presidente irá recuar desse comprometimento. Mas só porque Israel é um amigo não quer dizer que os Sharonitas devam ter o direito absoluto de assentar e tomar terras árabes ou negar, permanentemente, aos povos árabes os direitos que nós pregamos ao mundo. Em nosso próprio interesse nacional, temos de dizer isso claramente.
É tempo da verdade. Sem a presença de um hostil e poderoso império soviético, militarmente presente no Maghreb e Oriente Médio, os interesses estratégicos dos Estados Unidos e de Israel deixaram de coincidir. E com as imagens de palestinos sofrendo, toda noite na Al Jazeera, eles começaram a colidir.
Assim, entre os tradicionais conservadores e neo-conservadores uma brecha se abriu e um conflito irreconciliável surgiu. Nós, da Velha Direita, temos somente uma pátria. Nós acreditamos que a politica externa dos Estados Unidos deve ser determinada pelo que for melhor para a América. E o que é melhor para a América é o que nossos patriarcas ensinaram: se vocês querem preservar essa República, fiquem fora de guerras estrangeiras, evitem "alianças permanentes", cuidem-se de "ligações passionais" com nações que não são as suas.
Em 1778, Washington rejubilou-se com a aliança com a França. Mas quando a vitória foi conquistada, essa aliança tornou-se um estorvo que poderia arrastar a República para as guerras da Europa. Os estadistas americanos que celebraram a aliança francesa, agora buscavam rompê-la, e sob Adams, conseguiram.
Com o fim da Guerra Fria, uma aliança com Israel cessou de ser central para os interesses dos Estados Unidos. E mais, nossa reputação como armeiros e aliados de Israel apenas nos prejudica enquanto Sharon troveja através da Margem Ocidental e de Gaza muralhando terras árabes e negando aos palestinos esses mesmos direitos de auto-determinação que, nós, os americanos, esposamos. Sharon nos está fazendo de hipócritas, e nós somos covardes por permitir isso.
Para os "neocons", entretanto, sionismo é uma segunda natureza. Eles não podem conceber uma política externa que seja boa para a América que não incorpore absoluta solidariedade com Israel. Eles estão perigosamente próximos de ingerir o cálice envenenado que levou Jonathan Pollard à traição: se é bom para Israel, não pode ser ruim para a América.
Para se evadir da admissão de tal verdade transparente, os "neocons" começaram a racionalizar sua ligação apaixonada, a sublimá-la. "A querela árabe-israelense não é a causa do extremismo islâmico," protestam Frum e Perle. Mas quando cada jornalista e diplomata que retorna e cada pesquisa de opinião dizem que é o apoio sem críticas da América à repressão israelense contra os palestinos que nos torna odiados na região, como podem, homens honestos, escreverem isso? Teriam eles fechado seus olhos para a verdade porque ela é dolorosa demais?
Nós apoiamos Israel, escreve Irving Kristol, porque a América é uma nação "ideológica, como era a União Soviética do passado." Nós e Israel somos democracias, os países árabes não, e é isso que conta..
"E é por isso que foi de nosso interesse nacional ir em defesa da França e da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial. E é por isso que sentimos ser necessário defender Israel hoje em dia, quando sua sobrevivência é ameaçada. Nenhum complicado cálculo geopolítico sobre interesse nacional se torna necessário."
Mas isso não faz sentido, e Kristol sabe disso. Quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerra contra Hitler, em 3 de setembro de 1939, FDR não "foi em defesa da França e Grã-Bretanha." Ele proferiu um dos seus "discursos ao pé da lareira" nessa noite, prometendo à nação que a América ficaria de fora. Não haveria "nenhum blecaute da paz" aqui, FDR nos prometeu. Quando a França caiu em maio-junho de 1940, implorando por aviões, FDR mandou palavras de encorajamento. Não foi antes de 18 meses da queda da França, que nós declaramos guerra contra Hitler e não antes que Hitler declarasse guerra contra nós. Portanto, nós não entramos em guerra para defender a democracia na Grã-Bretanha ou França. Nós fomos à guerra para esmagar o Império japonês que havia nos atacado em Pearl Harbor. Kristol está papagueando mitos liberais.
Na Guerra Fria, os Estados Unidos deram boas-vindas à aliados como Chiang Kai-shek, Salazar, Franco, Somoza, o Xá, Suharto, Syngman Rhee, Park Chung Hee e os generais coreanos, coronéis gregos, regimes militares no Brasil, Argentina e Turquia, Marcos, e Pinochet porque esses autocratas se provaram mais confiáveis do que democratas como Nehru, Olaf Palme, Willy Brandt, e Pierre Trudeau. Quando se trata de guerras que nos ameaçam, quentes ou frias, nós americanos, somos como disse Nietzche, "Um estado, é o mais frio de todos os monstros de sangue frio."
A Índia é democrática e tem 200 vezes o tamanho de Israel. Ainda assim, nas guerras da Índia com o Paquistão, nós nos inclinamos para o Paquistão. Por quê? Porque os paquistaneses eram aliados, e a Índia estava ao lado de Moscou. Que a Índia fosse democrática e o Paquistão autocrático não fazia defirença para nós.
Quanto à Israel, terá a América lhe dado 100 bilhões de dólares e ficado ao seu lado em qualquer briga com os árabes, porque ele é democrático?
Diga isso à Tony Judt. Quando esse historiador britânico propôs - dada a impossibilidade de separar árabes e judeus na Margem Ocidental - que Israel anexasse a Margem Ocidental, se transformasse num estado bi-nacional, e desse aos palestinos direitos iguais, os "neocons" ficaram desvairados.
Frum chamou a idéia de Judt de "liberalismo genocida" que exporia os judeus à carnificina. John Podhoretz declarou-a "impensável" e "a definição da corrupção intelectual." "Arrogante e repulsiva", disse o New Republic, que lançou Judt da prancha.
Mas se a solução justa para o problema sul-africano foi abolir os banstustões e criar uma democracia de um homem, um voto, por quê essa não é uma solução, ao menos discutível, para o problema palestino?
Em temperamento, também, os neo-conservadores tem se mostrado a antítese dos conservadores. Na descrição do acadêmico Claes Ryn, eles são os "neo-jacobinos" da modernidade, cujo traço dominante é a presunção.
"Apenas uma grande presunção poderia inspirar um sonho de hegemonia armada mundial. A ideologia de um império americano benevolente e democracia global apenas reveste um apetite voraz pelo poder. Isso significa a ascenção ao poder de um novo tipo de americano, que está, profundamente, em desacordo com o velho tipo que aspirava à modéstia e auto-contenção."
A obra de Perle-Frum está imersa em presunção, que pode se mostrar a falha fatal dos "neocons". Na preparação da invasão, quando os críticos estavam expondo o plano deles para a guerra, muito antes do 11 de Setembro, os "neocons" nem se importaram em negar. Eles revelaram isso. Eles se vangloriaram sobre quem eram, de onde vieram, em que acreditavam, como eram diferentes e como haviam se tornado a nova elite. Com Rumsfeld, Cheney e Bush marchando ao som dos tambores de guerra, um deles rugiu: "Somos todos neo-conservadores agora!"
Mas sempre é imprudente para os cortesãos se vangloriarem de sua influência com o príncipe. E agora, os "neocons" se revelaram. Sabemos quem eles são. Temos todas as coordenadas. Temos todos eles enquadrados.
Com os agitados dias da queda de Bagdá para trás e nosso país enredado em nosso próprio Líbano, os neo-conservadores parecem temerosos de que acabarão sendo forçados a assumir a responsabilidade, se tudo acabar dando errado no Iraque, da mesma forma como McNamara e seus "meninos-prodígios" acabaram forçados a assumir a responsabilidade pelo Vietnam.
E nisso, eles estão certos.