Bom, vou comentar abaixo a carta
Vejam trechos da carta do Prof. João Steiner, representante da SBPC na Comissão Especial de Astronomia, enviada ao Ministro do MCT e publicada no fórum da SAB, que mostra sua revolta quando soube da notícia da entrada do Brasil no ESO:
é injusto querer comentar apenas um trecho da carta. Mas se a carta foi endereçada à 3 pessoas, e chegou ao nosso conhecimento, é obvio que a intenção era desestabilizar a decisão tomada.
No dia 26 de fevereiro, fomos surpreendidos por uma carta publicada no site do MCT encaminhada ao Diretor do ESO e assinada por V.S. na qual está explicito que:
"my country is deeply interested in becoming some how involved with ESO projects and we would be ready to explore and discuss the most appropriate way to accommodate Brazilian participation in ESO”.
É desnecessário descrever o quanto eu e diversos membros na nossa comunidade ficamos chocados com essa notícia. Mesmo que não haja nenhuma decisão formal a respeito de nenhum desses assuntos, a sinalização dada de que o Brasil iniciará negociação para se tornar membro do ESO, o que acarretaria a saída do Gemini e o abandono do SOAR, causa imediatamente profundos prejuízos ao futuro da astronomia brasileira.
Pessoalmente, considero a proposta de o Brasil se tornar membro do ESO totalmente irresponsável. Permito-me dizer-lhe porque:
Se voces repararem na frase em ingles do ministério, não me parece estar definido os termos que o Brasil iria assinar, dando margem à negociações
1 - O ESO é um acordo internacional entre os países europeus que explicita que a participação financeira de cada país é proporcional ao seu PIB (Produto Interno Bruto). Isso implica que para o Brasil entrar como membro do ESO, teria que pagar uma taxa de entrada de 132 milhões de euros. Isso não é negociável; o que pode ser negociado é um parcelamento disso, desde que com correção monetária. Além disso, nas contabilidades atuais, o Brasil teria que pagar uma anuidade de 12 milhões de euros, para a operação dos seus observatórios. A proposta é que o Brasil pague 50% disso nos primeiros 10 anos e 100% disso daí em diante (a isso está sendo chamado de “ramp-up”). Esses custos atuais de operação deverão subir de, forma apreciável, na medida em que o ALMA e o E-ELT entrarem em operação. De qualquer forma o Brasil terá que pagar pelo menos 10% dos custos operacionais do ESO, tendo menos de 3% dos usuários, em média em condições inferiores de maturidade em termos de competição, que é o único critério utilizado para a alocação de tempo de suas instalações. Há, portanto uma enorme incompatibilidade entre o PIB e a comunidade de usuários competitivos.
Parece-me inconcebível concordar que um país ainda em desenvolvimento pague essa quantia de dinheiro para países desenvolvidos fazerem boa ciência. É claro que todos queremos que o Brasil se desenvolva econômica e cientificamente; todos trabalhamos para isso. Precisamos lembrar, no entanto, que quando a renda per capita do brasileiro for igual a 42% da renda per capita do alemão, o Brasil se tornará o maior financiador do ESO, uma vez que terá um PIB maior do que qualquer país europeu. E isso por força do acordo ESO, o que é inegociável - e sabido de todos. Fica fácil entender o interesse dos europeus na associação com o Brasil. Certamente não é por amor à nossa ciência, nem por uma estratégia para nosso desenvolvimento, coisa que eles sequer sabem o que é.
132 milhoes de euro não é nada expressivo considerando qualquer projeto na area. Na missão que eu trabalhei na DLR (Rosetta) houve um gasto bem maior por conta dos contribuintes (chegando a 1,4bi no total), e todos os outros projetos que estive envolvido, a cifra pra cada pais sempre foi maior do que esse valor. O Brasil tem que decidir se quer ou não entrar nesse tipo de iniciativa cientifica. Ao meu ver, temos um problema de valores investidos e por isso entramos nessa condição de priorizar a lista de projetos. 30 milhões gastos nos outros telescopios é dinheiro de amendoim pra um pais no porte do Brasil, nao deveriamos abdicar deles pra seguir com um projeto maior. Quanto ao lance do PIB, qualquer projeto da ESA é dividido desse modo, mas o pais que investe mais tem mais prioridade e disponibilidade de uso. Cabe ao Brasl saber negociar e expandir sua participação e efetivo no projeto.
A desculpa padrão é falta de dinheiro e falta de efetivo. Então ja começo concordando com o Leandro, se é pra brincar, manda fechar tudo.
Outra coisa, porque os europeus deveriam ser altruistas e colocar o Brasil num projeto pela cor dos nossos olhos ? é claro que eles querem nossa grana, alguém tem duvida disso ? Temos que garantir os beneficios do projeto e fazer valer o investimento. Como ja disse anteriormente, beneficios esses que muitas vezes as cifras por si so não nos mostram.
2 – A Europa tem investido pesado no ESO. Associado a esse investimento está uma política industrial e uma política integradora de desenvolvimento tecnológico. Todos os contratos de construção são colocados na indústria européia (não é necessariamente assim em outros consórcios equivalentes), de forma equilibrada entre os diversos países contribuintes. O desenvolvimento de instrumentação, ao qual está associado desenvolvimento tecnológico de ponta, é alocado a institutos e universidades européias. Sem dúvida uma boa estratégia para eles. De que forma se daria nossa inserção? Ficariam nossas indústrias a ter um retorno “equitativo” e poder vender aço e fazer concreto? Que tipo de desenvolvimento instrumental seria destinado para o Brasil? Fundamentalmente, considero que não temos maturidade em termos de comunidade cientifica, nem industrial nem de desenvolvimento de instrumentação para competir em igualdade de condições com os europeus e no campo deles. Isso não é complexo de inferioridade. É apenas conseqüência do grande investimento que eles fizeram ao longo
de muito tempo.
A velha sindrome do vira-lata. Se nao temos maturidade, que busquemos ela então. Nada melhor que um projeto desafiador pra desenvolver uma area no Brasil. Não tivemos maturidade pra entregar as peças da ISS e agora assumimos que não temos maturidade pra desenvolver instrumentação e manufatura pro projeto ? Isso é algo engraçado de brasileiro, quando não temos é porque nao temos capacidade; e quando fazemos, achamos que temos o melhor produto do mundo.
3 - Nós precisamos nos desenvolver com uma estratégia específica e própria; e estratégias de desenvolvimento, Sr Ministro, não podem ser terceirizadas. As experiências do Gemini e do SOAR mostram que uma estratégia própria é possível. Nas últimas décadas, o Brasil investiu muito menos em astronomia do que países como a China, Índia, México ou África do Sul. Mas nenhum desses países tem acesso, como nós temos, a telescópios de 8 metros e, também, a telescópios de 4 metros. Mais do que isso, temos acesso, por troca de tempo com o Gemini com outros telescópios de 8-10 metros como o Keck e o Subaru, ou por troca de tempo com o SOAR a outro telescópio de 4 metros de campo grande, o Blanco; temos, ainda, graças ao apoio do atual Ministro, acesso temporário e modesto ao telescópio de 3.6 metros CFHT. Trata-se de uma situação privilegiada. É claro que tudo isso pode ser melhorado, com cuidadosas avaliações e novos investimentos estratégicos cuidadosamente planejados.
Aqui ele vende o peixe dele e puxa o saco do ministro pra nao mostrar que é pessoal.
A possível entrada no ESO descontinua todas essas parcerias existentes. Não haverá recursos para pagar nem nossos compromissos com o ESO, muito menos para os outros observatórios (como o Gemini e SOAR) que, a rigor, se tornariam dispensáveis. Afinal não teremos gente para usar nem os muitos telescópios do ESO. Dispensar os outros observatórios será, pois, mera conseqüência natural. O anúncio da decisão do Sr Ministro já trará graves prejuízos para a boa participação nas parcerias em curso; em particular, a sugestão explícita da possível descontinuidade na participação brasileira no Gemini terá conseqüências devastadoras para o próprio consórcio.
A FAPESP, que investiu significativos recursos no telescópio SOAR e sua instrumentação, deveria estar a par de que esse investimento poderá ser abandonado a curto prazo, até mesmo antes de esse investimento comece a dar o retorno esperado. Não me parece que ela tenha sido consultada nesse sentido.
Como membro do ESO, perderemos nossa liberdade e nossa capacidade de desenvolver um projeto próprio, com iniciativas e estratégias próprias. As decisões todas serão tomadas na Europa. Eles não irão mudar suas regras nem prioridades por nossa causa. Nós seremos apenas um apêndice-pagador-de-contas.
Como que ele pode afirmar isso, se o proprio ministério nao afirmou nada ? Se o Brasil é um pais em expansão, pq temos que abdicar de tudo isso ? E como podemos nos chamar de um apendice-pagador-de-contas? Sera que o Brasil nao tem autoridade e soberania pra negociar algo num projeto que ira bancar tanto ?
4 – Como a entrado do Brasil no ESO vai, a meu ver, se mostrar inviável, perderemos um enorme tempo e energia e, também, as janelas de oportunidade de eventualmente participarmos, com contribuições bem mais modestas, porém mais estratégicas para o nosso desenvolvimento, em outros projetos de ELTs. Isso compromete de forma irreparável uma
estratégia adequada de longo prazo.
Novamente ta defendendo o peixe dele, tudo isso é opinião propria dele, onde estao planos estratégicos que demonstram isso tudo que ele fala ?
5– O Brasil tem uma premente necessidade de um desenvolvimento integrado na astronomia, o que deve incluir áreas importantes e também onerosas como a rádio-astronomia, a astronomia espacial além de outras áreas estratégicas; áreas que não tiveram o mesmo desenvolvimento nem o mesmo financiamento que teve a área da astronomia óptica e infravermelha. Vários países emergentes estão incomparavelmente mais avançados nessas áreas do que nós. Esse ponto de vista é explicitamente defendido pelo INCT-A; e estamos empenhados em corrigir essa distorção.
Há, ainda, a necessidade de se ter um desenvolvimento harmônico com todas as áreas da ciência e tecnologia; a decisão de gastar o montante de recursos como os previstos para a entrada do Brasil no ESO impedirá o desenvolvimento de outras áreas da astronomia e, também, sugará preciosos recursos de outras áreas da ciência e da tecnologia; como representante da SBPC na CEA devo discordar frontalmente de qualquer política menos abrangente ou distorcida por parte do MCT.
Essa carta fica cada vez mais claro a intenção dele, que sera demonstrada no proximo paragrafo.
Quando a Comissão Especial de Astronomia foi criada pelo MCT, nos foi assegurado de que nenhuma decisão do MCT seria tomada que não fosse previamente recomendada pela CEA. Com a precipitada decisão de V.S. de iniciar negociações para entrar no ESO antes de qualquer conclusão dos trabalhos da CEA, não precisamos mais discutir o futuro da astronomia brasileira, por uma simples razão: essa astronomia já não tem mais futuro.
Não é possível concordar com o absurdo de se instituir uma comissão de alto nível e desrespeitá-la em todos os sentidos no momento seguinte.
É a completa desmoralização de um processo que começou no próprio ministério.
É inacreditável que duas pessoas possam ter tomado uma decisão, de forma totalmente isolada, que compromete todo o futuro da astronomia brasileira.
É estarrecedor ver que isso possa acontecer numa democracia.
Todo esse blablabla, que ao meu ver, não tras provas substanciais do que ele propaga, não passa de uma disputa de ego como nosso amigo Leandro mesmo levantou. Isso existe em todo lugar; não é exclusividade nossa. Nos projetos que eu trabalhava, voces não imaginam quão grande eram os egos dos Alemães e dos Franceses. O que eu vejo é que duas pessoas passaram por cima da decisão da SBPC (que deve sim ser levada em conta). A unica coisa que essa carta mostra pra mim, é a total falta de organização e sinergia entre a partes.
Se o projeto em si é proveitoso ou não, não consigo afirmar por meio das informações que temos aqui. é algo estratégico para o Brasil e deve ser definido pelo MCT. Como defendo desde o começo, o que nao podemos fazer é darmos sinal verde pra algo e depois pular fora. Posso garantir pra voces, o Brasil é muito mal visto la fora por conta disso. Se temos dinheiro e despertamos novamente o interesse das outras agencias, que saibamos ser responsaveis e organizados.
Com isso, Senhor Ministro, peço minha demissão como representante da SBPC na Comissão Especial de Astronomia – CEA - do MCT.
Atenciosamente,
João Steiner
CC – Dr. Marco Antonio Raupp, Presidente da SBPC
- Prof Carlos Henrique de Brito Cruz, Diretor Científico da FAPESP
- Membros da CEA
Mauri
Dr. Marco Antonio Raupp é nosso novo ministro. Nao vi ninguém comentando isso por aqui, mas acho que é uma noticia boa para a area.
Abs,
Anunnarca