RIO - Uma obra suave, rica de observações sensíveis’, definiu o júri do Festival de Roterdã, no início de fevereiro, para justificar a entrega de um de seus três troféus Tigres, os principais da mostra holandesa, para "De jueves a domingo", o longa-metragem de estreia da chilena Dominga Sotomayor. Tratava-se de um prêmio importante para uma jovem cineasta de 26 anos, mas também de uma confirmação: vem do Chile o cinema mais interessante feito na América Latina hoje.
Roterdã repetiu os indícios que vêm sendo dados por festivais como Sundance, Cannes, Berlim ou Veneza, cujas seleções vêm abrindo cada vez mais espaço para a produção de uma nova geração chilena. É uma situação semelhante ao que ocorreu há uma década com os filmes pós-crise financeira do cinema argentino ou com os favela movies do cinema brasileiro. A maior diferença é que, no Chile atual, os filmes não surgem de problemas econômicos ou sociais. São originados de um cinema suave, rico de observações sensíveis.
— Eu acho que o cinema chileno é formado por um grupo de perspectivas pessoais — explica Dominga Sotomayor. — Quando a realidade de nosso país parou de ser tão politicamente controversa, os cineastas pararam de sair às ruas e passaram a fazer filmes menores, sobre elementos próximos a eles. Tenho a sensação de que há uma introversão, que o bom do cinema chileno vem de dentro, não de fora. Vem da emoção, da história diária de seus autores.
Além de Dominga, entre os expoentes do novo cinema chileno estão Pablo Larraín ("Tony Manero" e "Post mortem"), Cristián Jiménez ("Ilusões óticas" e "Bonsái") e Matías Bize ("Na cama" e "A vida dos peixes"). Todos têm sido selecionados e premiados para festivais importantes. "Bonsái" foi exibido na mostra Un Certain Regard do último Festival de Cannes. "Post mortem" esteve na seleção oficial do Festival de Veneza de 2010 e foi eleito o melhor filme da edição de 2011 de Cartagena. E "A vida dos peixes", que deve ser lançado no Brasil em abril, recebeu o prêmio espanhol Goya no ano passado como melhor filme estrangeiro hispano-americano.
— Eu vejo dois elementos principais para entender este momento que vive o cinema chileno. O primeiro é o surgimento, há alguns poucos anos, de escolas de cinema no país. Hoje temos muitos jovens que deixam as universidades prontos para fazer cinema e sem os preconceitos do passado — afirma Matías Bize, de 32 anos. — O outro é o apoio dos fundos do Estado, ainda com valores baixos, mas importantes. Com isso, temos esta nova cinematografia de temas diversos, mas onde se reconhece claramente a autoria de cada trabalho. São filmes pessoais.
A situação do Chile é curiosa porque seus filmes fazem sucesso no exterior, mas ainda têm um resultado discreto no mercado interno. Em 2011, 24 longas-metragens chilenos chegaram aos cinemas comerciais do país, atraindo cerca de 915 mil espectadores. Frente às 17 milhões de pessoas que assistiram a um filme nos cinemas chilenos em 2011, o percentual da participação nacional foi de 5,4%. O número foi comemorado como uma vitória depois de um 2010 ruim para as bilheterias dos filmes chilenos, mas, na mesma comparação entre desempenho nacional e público total, o percentual brasileiro, de 12,6%, foi bem superior.
Porém, também diferentemente do Brasil, não há cota de tela no Chile que obrigue os exibidores a manter um mínimo de filmes nacionais em cartaz. Tampouco há leis de incentivo via renúncia fiscal. O governo atua através de fundos para a produção e ajuda na viagem dos filmes aos festivais internacionais. Um dos responsáveis por cuidar dessas políticas é Alberto Chaigneau, secretário-executivo do Conselho de Arte e da Indústria Audiovisual, um órgão que integra o Conselho de Cultura e Artes. Este último é o equivalente ao Ministério da Cultura do Brasil.
— O Estado chileno não apenas financia a maior parte da produção nacional, como funciona como uma plataforma que sustenta a presença estrangeira desses filmes — explica Chaigneau. — Mas ainda estamos trabalhando para incrementar o percentual do interesse do público nos filmes chilenos. É um número que podemos melhorar substancialmente, considerando a qualidade e o reconhecimento de nossos filmes pelo mundo.
O carioca Sandro Fiorin é um dos sócios da Figa Films, distribuidora e agência de vendas baseada em Los Angeles, cujo foco é justamente a produção latino-americana. Com 18 anos de experiência no mercado, ele vem acompanhando a projeção internacional do cinema chileno com atenção.
— O Chile passa por um bom momento econômico e político. Além disso, eles são isolados geograficamente. Quando eu vou para lá, me sinto mais estrangeiro do que em outro país — diz Fiorin. — O que aconteceu em outros tempos com Brasil, México e Argentina, agora está acontecendo com o Chile. Minha agência comprou os direitos do "De jueves a domingo" assim que vimos um corte, e ele já está garantido em mais de 50 festivais. Agora, estamos começando a trabalhar um filme novo, o "Zoológico", do Rodrigo Marín, que tem no elenco a grande atriz do Chile no momento, a Alicia Rodríguez. Ele passou no Festival de Miami e depois vai para Toulouse.
Alicia Rodríguez é mesmo o rosto deste novo cinema chileno. Quando "Navidad", de Sebastián Lelio, foi exibido na Quinzena dos Realizadores de Cannes em 2009, Alicia tinha 17 anos (ela fez aniversário exatamente no dia da gala do filme). Agora com 20, a moça ainda tem no currículo "Zoológico", "La vida de los peces", "Bonsái" e "Joven y alocada", este último dirigido por Marialy Rivas, selecionado para o Festival de Berlim e vencedor do prêmio de melhor roteiro da mostra World Cinema de Sundance, em janeiro. Nele, Alicia interpretou uma adolescente descobrindo sua sexualidade entre meninos e meninas. Foi um papel ousado e sensível, como tem sido o cinema chileno.
Sundance, aliás, foi o festival que melhor percebeu o bom momento dos cineastas do país. Além do prêmio de roteiro para "Joven y alocada", o grande vencedor da mostra World Cinema de 2012 foi o chileno "Violeta foi para o céu", de Andrés Wood. Famoso pelo sucesso de seu longa-metragem "Machuca" (2004), Wood está com 46 anos e é de uma geração intermediária entre esses novos cineastas que vêm despontando nos últimos tempos e de diretores mais antigos e ainda atuantes como Patrício Guzmán ("A batalha do Chile" e "Nostalgia da luz") e Miguel Littín ("Los náufragos" e "Dawson Isla 10").
Com uma trama focada na vida da cantora chilena Violeta Parra, "Violeta foi para o céu" foi o campeão de bilheteria entre os filmes nacionais de 2011, com 390 mil espectadores nos cinemas do país. Sua realização foi possível graças a um acordo de coprodução entre Chile (60% do financiamento), Argentina (20%) e Brasil (20%). Nesse caso, a responsável foi a empresa paulistana Bossa Nova FIlms, com produção-executiva de Denise Gomes, que promete lançá-lo por aqui até maio.
— De concreto, o cinema chileno vai, lentamente, consolidando-se com uma ampla camada de realizadores de distintas gerações. São cineastas que unem uma sociedade com interesse em ter voz própria e que sonham com nossos idiomas e paisagens — afirma Andrés Wood. — Talvez sejamos divididos entre dois grandes grupos de realizadores: aqueles que querem contar ao mundo quem são os chilenos e outros que querem contar aos chilenos quem nós próprios somos.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/chile-f ... z2C11CptBM
Por sinal, alguma alma caridosa podia mudar o título do tópico só para Chile.
Eleições Presidenciais de 2009, Chile
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Re: Eleições Presidenciais de 2009, Chile
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
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Re: Eleições Presidenciais de 2009, Chile
Novas eleições no Chile. A ex presidente Bachelet está praticamente eleita. A candidatura da direita, patrocinada pelo atual presidente Pinera, teve que trocar de candidato em cima da hora, porque o primeiro teve um grave quadro de depressão.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
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Re: Eleições Presidenciais de 2009, Chile
O Chile é exemplo até na alternância de poder. Aqui as quadrilhas tucana e petista lutam entre si, sem se importar sobre as consequências para o Brasil.
Se vencer, Bachelet fará governo mais à esquerda, diz marqueteiro
Os protestos estudantis iniciados em 2011 deslocaram o eixo político do Chile para a esquerda, o que beneficia a candidatura presidencial de Michelle Bachelet, favorita na eleição de domingo. Essa movimentação deve moldar seu provável novo governo, que deve ser mais estatista sem recair no bolivarianismo.
A análise é do sociólogo e marqueteiro chileno Eugenio Tironi, ligado à Concertação --coalizão de centro-esquerda que governou o Chile da volta à democracia, em 1990, até 2010, quando a mesma Bachelet passou a faixa para o atual presidente, Sebastián Piñera, de centro-direita.
Chefe de comunicação do primeiro governo pós-ditadura, de Patrício Aylwin (1990-1994), Tironi comandou a campanha vitoriosa de Ricardo Lagos, em 1999, e assessorou Eduardo Frei, derrotado por Piñera em 2010.
Antes, ajudou a definir a estratégia da campanha do plebiscito que levou ao fim da ditadura do general Augusto Pinochet. Fez uma participação no filme "No", de 2012, que conta a história da campanha, contracenando com Gael García Bernal.
"Os estudantes mudaram o paradigma político. Todo o espectro político se deslocou para a esquerda, inclusive a direita. Ninguém pede liberalização da economia, desregulação, privatizações, redução de impostos", afirma Tironi, atualmente professor convidado na Universidade Sorbonne-Nouvelle (Paris 3).
Para o marqueteiro, Bachelet deverá promover "alguma quebra com a ordem política e econômica" ante uma população que quer mudanças mais profundas, num Chile que há décadas segue modelo mais liberal e aberto ao mercado externo que os vizinhos sul-americanos.
Estão entre as propostas da candidata aumentar impostos de ricos e ampliar a presença do Estado na educação. Essas mudanças estruturais não aconteceram no primeiro mandato dela, acredita Tironi, porque, num tempo pré-protestos, tais reivindicações ainda não estavam maduras.
Tironi lembra que são grandes as chances de a ex-presidente vencer o pleito no primeiro turno. "O que levará a uma legitimidade e um respaldo extraordinário para fazer o que quiser", diz.
Outra previsão alentadora para a candidata é que, com sua eleição, os protestos se reduzam --muitos de seus principais líderes são agora candidatos ao Parlamento, aliados à ex-presidente.
"Mas [os protestos] não vão desaparecer. Há muita expectativa e vai haver muita pressão para que avance [nas reformas] em tempo breve. Ela logrou incorporar a si o movimento e sua energia, mas não é algo irreversível", diz.
O marqueteiro descarta, porém, que essa guinada à esquerda e ao estatismo faça nascer mais um governo "bolivariano" na região, à semelhança de Venezuela e Argentina. "Ela representa uma mudança moderada, gradual, estável e responsável."
Tironi afirma que, por seu estilo popular, Bachelet é mais fácil de ser eleita que os sisudos Lagos e Frei. Além disso, ele acredita que pese a seu favor a coincidência do ano eleitoral com os 40 anos do golpe que levou Pinochet ao poder, o que ampliou na mídia a memória da ditadura, prejudicando a direita.
PIÑERA
Apesar da proximidade a Bachelet e à Concertação, Tironi faz elogios ao governo Piñera. Diz que o presidente governou respeitando a democracia, o que afastou fantasmas pós-Pinochet de que uma gestão de direita não pudesse fazê-lo. Facilitou a vida das pequenas empresas e manteve as bases parcialmente "social-democratas" dos anos da Concertação.
"Ele validou e desmistificou a alternância. Mostrou que trocar governos não produz milagres, mas tampouco produz catástrofes", afirma.
O marqueteiro diz também que Piñera foi importante por ter rompido um pacto de silêncio dentro da direita a respeito da ditadura --no governo, optou por criticar abertamente os anos Pinochet.
Então por que o presidente enfrentou tantos protestos e deixa o cargo com menos de 30% de popularidade? Tironi diz que os chilenos passaram a relacionar o sucesso econômico a outros fatores.
Além disso, Piñera teria exagerado nas promessas e na exploração de fatos positivos, como o resgate dos mineiros soterrados em 2010. Por fim, jogou contra o presidente seu estilo "pouco simpático", avalia o marqueteiro.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013 ... eiro.shtml
Se vencer, Bachelet fará governo mais à esquerda, diz marqueteiro
Os protestos estudantis iniciados em 2011 deslocaram o eixo político do Chile para a esquerda, o que beneficia a candidatura presidencial de Michelle Bachelet, favorita na eleição de domingo. Essa movimentação deve moldar seu provável novo governo, que deve ser mais estatista sem recair no bolivarianismo.
A análise é do sociólogo e marqueteiro chileno Eugenio Tironi, ligado à Concertação --coalizão de centro-esquerda que governou o Chile da volta à democracia, em 1990, até 2010, quando a mesma Bachelet passou a faixa para o atual presidente, Sebastián Piñera, de centro-direita.
Chefe de comunicação do primeiro governo pós-ditadura, de Patrício Aylwin (1990-1994), Tironi comandou a campanha vitoriosa de Ricardo Lagos, em 1999, e assessorou Eduardo Frei, derrotado por Piñera em 2010.
Antes, ajudou a definir a estratégia da campanha do plebiscito que levou ao fim da ditadura do general Augusto Pinochet. Fez uma participação no filme "No", de 2012, que conta a história da campanha, contracenando com Gael García Bernal.
"Os estudantes mudaram o paradigma político. Todo o espectro político se deslocou para a esquerda, inclusive a direita. Ninguém pede liberalização da economia, desregulação, privatizações, redução de impostos", afirma Tironi, atualmente professor convidado na Universidade Sorbonne-Nouvelle (Paris 3).
Para o marqueteiro, Bachelet deverá promover "alguma quebra com a ordem política e econômica" ante uma população que quer mudanças mais profundas, num Chile que há décadas segue modelo mais liberal e aberto ao mercado externo que os vizinhos sul-americanos.
Estão entre as propostas da candidata aumentar impostos de ricos e ampliar a presença do Estado na educação. Essas mudanças estruturais não aconteceram no primeiro mandato dela, acredita Tironi, porque, num tempo pré-protestos, tais reivindicações ainda não estavam maduras.
Tironi lembra que são grandes as chances de a ex-presidente vencer o pleito no primeiro turno. "O que levará a uma legitimidade e um respaldo extraordinário para fazer o que quiser", diz.
Outra previsão alentadora para a candidata é que, com sua eleição, os protestos se reduzam --muitos de seus principais líderes são agora candidatos ao Parlamento, aliados à ex-presidente.
"Mas [os protestos] não vão desaparecer. Há muita expectativa e vai haver muita pressão para que avance [nas reformas] em tempo breve. Ela logrou incorporar a si o movimento e sua energia, mas não é algo irreversível", diz.
O marqueteiro descarta, porém, que essa guinada à esquerda e ao estatismo faça nascer mais um governo "bolivariano" na região, à semelhança de Venezuela e Argentina. "Ela representa uma mudança moderada, gradual, estável e responsável."
Tironi afirma que, por seu estilo popular, Bachelet é mais fácil de ser eleita que os sisudos Lagos e Frei. Além disso, ele acredita que pese a seu favor a coincidência do ano eleitoral com os 40 anos do golpe que levou Pinochet ao poder, o que ampliou na mídia a memória da ditadura, prejudicando a direita.
PIÑERA
Apesar da proximidade a Bachelet e à Concertação, Tironi faz elogios ao governo Piñera. Diz que o presidente governou respeitando a democracia, o que afastou fantasmas pós-Pinochet de que uma gestão de direita não pudesse fazê-lo. Facilitou a vida das pequenas empresas e manteve as bases parcialmente "social-democratas" dos anos da Concertação.
"Ele validou e desmistificou a alternância. Mostrou que trocar governos não produz milagres, mas tampouco produz catástrofes", afirma.
O marqueteiro diz também que Piñera foi importante por ter rompido um pacto de silêncio dentro da direita a respeito da ditadura --no governo, optou por criticar abertamente os anos Pinochet.
Então por que o presidente enfrentou tantos protestos e deixa o cargo com menos de 30% de popularidade? Tironi diz que os chilenos passaram a relacionar o sucesso econômico a outros fatores.
Além disso, Piñera teria exagerado nas promessas e na exploração de fatos positivos, como o resgate dos mineiros soterrados em 2010. Por fim, jogou contra o presidente seu estilo "pouco simpático", avalia o marqueteiro.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013 ... eiro.shtml
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
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Re: Eleições Presidenciais de 2009, Chile
Escândalos de corrupção na política abalam imagem 'limpa' do Chile.
Mariana Carneiro - Folha de São Paulo - 16.04.15.
No fim de 2014, o Chile recebeu mais uma vez a nota de país mais transparente da América Latina. Entre 175 nações, ficou em 21º lugar. O Brasil foi o 69º.
Apenas quatro meses depois, a imagem do Chile não é mais a mesma -o país enfrenta a pior crise desde o fim da ditadura, em 1990, e o motivo são escândalos de corrupção envolvendo políticos de quase todos os partidos e até o filho da presidente, Michelle Bachelet.
As investigações identificaram supostas doações ilegais a campanhas eleitorais com recursos que deveriam ser pagos em impostos por duas empresas: a mineradora SQM e o conglomerado financeiro Penta.
Mas o que está ferindo a imagem da presidente, que saiu do primeiro mandato com uma aprovação de 84%, é a acusação de tráfico de influência envolvendo seu filho Sebastián Dávalos.
Ele teria intermediado a liberação de empréstimo do Banco do Chile para a empresa de sua mulher. O crédito foi liberado um dia depois da eleição de Bachelet, em 2013, após Dávalos se reunir com o vice-presidente do banco.
Os chilenos se descobrem agora mais parecidos do que gostariam com seus vizinhos.
"O Chile não tinha a visão cínica de México, Argentina e Brasil, de que a corrupção é um ato do cotidiano. Há um ano a corrupção não era um assunto das pessoas", diz Pablo Collada, da ONG Ciudadano Intelligente.
"As pessoas estão em parte surpresas, em parte irritadas e com medo de que sejam feitos pactos políticos às escondidas da sociedade".
Para tentar debelar a crise, o governo propôs uma reforma política que deverá eliminar a doação de empresas.
O projeto recebeu a bênção de todos os partidos, que parecem negociar para sair em conjunto da crise, segundo o analista Cristóbal Bellolio, da Universidade Adolfo Ibañez.
Mas teme-se que, com esse acordo, também negociem uma espécie de anistia aos que se envolveram com financiamento ilegal no passado.
"O que vai acontecer com esses políticos? Eles vão perder o foro privilegiado? Vão para a cadeia? Vão perder o mandato? É uma série de perguntas que está no ar e está colocando em jogo a institucionalidade no Chile", afirma Collada.
Na avaliação de Bellolio, qualquer sinal de impunidade aos políticos investigados seria rechaçado amplamente pela população chilena, que até agora não saiu às ruas.
De alguma maneira, porém, algo simbólico se perdeu em meio a essa crise. Viu-se que a cultura da legalidade, tão amplamente difundida no Chile, escapou até à família presidencial.
CÍRCULO PRÓXIMO.
Mesmo que o filho de Bachelet não seja processado, afirma Bellolio, o dano "ético-político" é mais relevante.
"Se é verdade que o financiamento ilegal de campanhas afetou o grupo de Bachelet e poderia até chegar a ela, trata-se de uma prática tão difundida que duvido que ela teria que pagar por isso. Mas o caso de seu filho é diferente e instala um foco de suspeita em seu circulo próximo", diz Bellolio.
Depois da denúncia, Bachelet afastou o filho do governo (ele chefiava a área sócio-cultural) e afirmou desconhecer a reunião com o executivo do Banco do Chile.
"Bachelet disse aos chilenos que tomou conhecimento do caso pela imprensa. Se amanhã descobrirem que não é verdade, ela pagará o custo por mentir, mas não por corrupção", afirma Bellolio.
Na última semana, a presidente fez declarações para tentar reduzir o mal-estar provocado pela desconfiança geral que acometeu os chilenos.
"Pode ser que haja corrupção no Chile, mas ela não é generalizada. Nem todo mundo é corrupto em nosso país", disse a presidente.
Com sua popularidade no nível mais baixo desde que chegou ao poder pela primeira vez, em 2006, Bachelet terá que enfrentar o desafio de sair da crise que paralisou seu governo apenas um ano após a eleição.
Mariana Carneiro - Folha de São Paulo - 16.04.15.
No fim de 2014, o Chile recebeu mais uma vez a nota de país mais transparente da América Latina. Entre 175 nações, ficou em 21º lugar. O Brasil foi o 69º.
Apenas quatro meses depois, a imagem do Chile não é mais a mesma -o país enfrenta a pior crise desde o fim da ditadura, em 1990, e o motivo são escândalos de corrupção envolvendo políticos de quase todos os partidos e até o filho da presidente, Michelle Bachelet.
As investigações identificaram supostas doações ilegais a campanhas eleitorais com recursos que deveriam ser pagos em impostos por duas empresas: a mineradora SQM e o conglomerado financeiro Penta.
Mas o que está ferindo a imagem da presidente, que saiu do primeiro mandato com uma aprovação de 84%, é a acusação de tráfico de influência envolvendo seu filho Sebastián Dávalos.
Ele teria intermediado a liberação de empréstimo do Banco do Chile para a empresa de sua mulher. O crédito foi liberado um dia depois da eleição de Bachelet, em 2013, após Dávalos se reunir com o vice-presidente do banco.
Os chilenos se descobrem agora mais parecidos do que gostariam com seus vizinhos.
"O Chile não tinha a visão cínica de México, Argentina e Brasil, de que a corrupção é um ato do cotidiano. Há um ano a corrupção não era um assunto das pessoas", diz Pablo Collada, da ONG Ciudadano Intelligente.
"As pessoas estão em parte surpresas, em parte irritadas e com medo de que sejam feitos pactos políticos às escondidas da sociedade".
Para tentar debelar a crise, o governo propôs uma reforma política que deverá eliminar a doação de empresas.
O projeto recebeu a bênção de todos os partidos, que parecem negociar para sair em conjunto da crise, segundo o analista Cristóbal Bellolio, da Universidade Adolfo Ibañez.
Mas teme-se que, com esse acordo, também negociem uma espécie de anistia aos que se envolveram com financiamento ilegal no passado.
"O que vai acontecer com esses políticos? Eles vão perder o foro privilegiado? Vão para a cadeia? Vão perder o mandato? É uma série de perguntas que está no ar e está colocando em jogo a institucionalidade no Chile", afirma Collada.
Na avaliação de Bellolio, qualquer sinal de impunidade aos políticos investigados seria rechaçado amplamente pela população chilena, que até agora não saiu às ruas.
De alguma maneira, porém, algo simbólico se perdeu em meio a essa crise. Viu-se que a cultura da legalidade, tão amplamente difundida no Chile, escapou até à família presidencial.
CÍRCULO PRÓXIMO.
Mesmo que o filho de Bachelet não seja processado, afirma Bellolio, o dano "ético-político" é mais relevante.
"Se é verdade que o financiamento ilegal de campanhas afetou o grupo de Bachelet e poderia até chegar a ela, trata-se de uma prática tão difundida que duvido que ela teria que pagar por isso. Mas o caso de seu filho é diferente e instala um foco de suspeita em seu circulo próximo", diz Bellolio.
Depois da denúncia, Bachelet afastou o filho do governo (ele chefiava a área sócio-cultural) e afirmou desconhecer a reunião com o executivo do Banco do Chile.
"Bachelet disse aos chilenos que tomou conhecimento do caso pela imprensa. Se amanhã descobrirem que não é verdade, ela pagará o custo por mentir, mas não por corrupção", afirma Bellolio.
Na última semana, a presidente fez declarações para tentar reduzir o mal-estar provocado pela desconfiança geral que acometeu os chilenos.
"Pode ser que haja corrupção no Chile, mas ela não é generalizada. Nem todo mundo é corrupto em nosso país", disse a presidente.
Com sua popularidade no nível mais baixo desde que chegou ao poder pela primeira vez, em 2006, Bachelet terá que enfrentar o desafio de sair da crise que paralisou seu governo apenas um ano após a eleição.
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Re: Eleições Presidenciais de 2009, Chile
Em pesquisa, rejeição a Bachelet atinge nível recorde.
Chilenos têm demonstrado insatisfação com escândalos, reformas e economia.
POR REUTERS - 03/08/2015.
SANTIAGO - A reprovação da presidente do Chile, Michelle Bachelet, alcançou patamar inédito de 70% em julho, enquanto seu governo reduz o programa de reformas e enfrenta uma lentidão na economia, mostrou uma pesquisa de opinião nesta segunda-feira.
A taxa de rejeição a Bachelet aumentou em relação aos 68% de junho, de acordo com a consultoria GfK Adimark. Foi a pior cifra de qualquer mandatário desde que a Adimark iniciou os levantamentos do tipo em 2006. A taxa de aprovação da presidente caiu para 26% em julho, frente a 27% em junho.
"Em julho, a distância que vimos entre o governo e seus cidadãos nos últimos 12 meses se aprofundou, e isso vem se intensificando desde o começo deste ano", declarou a empresa em seu relatório.
Bachelet liderou o Chile, maior exportador de cobre do mundo, entre 2006 e 2010, e iniciou seu segundo mandato em março de 2014. Embora tivesse um índice de aprovação de 54% no início do mandato, a mandatária desagradou os chilenos à medida que o crescimento econômico lento e escândalos envolvendo financiamentos de campanha e até seu filho e sua nora ofuscaram sua mensagem de enfrentamento da desigualdade profunda.
Julho representou a primeira vez desde que Bachelet voltou ao poder em que mais chilenos disseram se identificar com a "oposição ao governo" (34%) do que com o governo (32%). Mas a oposição está dividida e seu principal bloco, a direitista Alianza, tem taxas de aprovação ainda mais baixas.
A pesquisa da Adimark entrevistou 1.015 pessoas entre 8 e 30 de julho, com uma margem de erro de 3,1 pontos percentuais.
Chilenos têm demonstrado insatisfação com escândalos, reformas e economia.
POR REUTERS - 03/08/2015.
SANTIAGO - A reprovação da presidente do Chile, Michelle Bachelet, alcançou patamar inédito de 70% em julho, enquanto seu governo reduz o programa de reformas e enfrenta uma lentidão na economia, mostrou uma pesquisa de opinião nesta segunda-feira.
A taxa de rejeição a Bachelet aumentou em relação aos 68% de junho, de acordo com a consultoria GfK Adimark. Foi a pior cifra de qualquer mandatário desde que a Adimark iniciou os levantamentos do tipo em 2006. A taxa de aprovação da presidente caiu para 26% em julho, frente a 27% em junho.
"Em julho, a distância que vimos entre o governo e seus cidadãos nos últimos 12 meses se aprofundou, e isso vem se intensificando desde o começo deste ano", declarou a empresa em seu relatório.
Bachelet liderou o Chile, maior exportador de cobre do mundo, entre 2006 e 2010, e iniciou seu segundo mandato em março de 2014. Embora tivesse um índice de aprovação de 54% no início do mandato, a mandatária desagradou os chilenos à medida que o crescimento econômico lento e escândalos envolvendo financiamentos de campanha e até seu filho e sua nora ofuscaram sua mensagem de enfrentamento da desigualdade profunda.
Julho representou a primeira vez desde que Bachelet voltou ao poder em que mais chilenos disseram se identificar com a "oposição ao governo" (34%) do que com o governo (32%). Mas a oposição está dividida e seu principal bloco, a direitista Alianza, tem taxas de aprovação ainda mais baixas.
A pesquisa da Adimark entrevistou 1.015 pessoas entre 8 e 30 de julho, com uma margem de erro de 3,1 pontos percentuais.