Centurião escreveu:Será que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social não serve para resolver parte disso? Eu acho que estamos avançando em pesquisa (dado que o número de trabalhos publicados no Brasil subiu rapidamente nos últimos vintes anos), mas o que falta é a integração com a indústria. Também sei de uma nova lei que dá incentivos tributários a empresas que financiarem pesquisas e colaboração com universidades. Porém, não sei se é a eficácia de tal medida.
Quanto ao câmbio, acho que temos que aprender a conviver com esse nível, pois parece que veio para ficar. Temos que tirar proveito do fato de podermos importar bens de capital e soluções mais baratas para poder ajudar no desenvolvimento de nossos produtos. Veja o Canadá, por exemplo. Tem empresas de alta tecnologia como a RIM, que se não fosse pela quase paridade com o dólar americano, seria muito mais caro importar equipamentos para a empresa para desenvolver um produto de alto padrão como o Blackberry.
O diagnóstico geral do problema já existe, bem como algumas propostas de soluções para ele. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social seria uma delas, se tivesse algum poder decisório e não fosse apenas consultivo. Os incentivos à pesquisa também, e estão criando uma série de iniciativas em empresas geralmente pequenas que estão desenvolvendo diversos produtos novos com níveis razoáveis de inovação tecnológica.
O problema é que com a dificuldade de acesso aos mercados internacionais causada pelo câmbio estes produtos não são competitivos no mercado internacional, e portanto estas empresas tem pouca chance de sucesso duradouro, pois apenas o mercado nacional não gera volume suficiente de dinheiro que permita a manutenção de altos níveis de investimento necessários para sustentar uma política de inovação contínua capaz de manter a competividade (fora que o mercado local demanda um nível muito pequeno de inovação, a simples produção local do que vem de fora, licenciada ou não, já é suficiente para encantar o consumidor).
Para algumas poucas empresas que já tem posição consolidada internacionalmnete, como a Embraer, é possível tirar alguma vantagem do dólar mais barato, trazendo equipamentos e componentes e agregando valor no projeto do produto em si. Mas empresas menores ou que entraram no mercado internacional mais recentemente (a Embraer já tem grande parte de sua produção voltada para a exportação há mais de trinta anos, quando a China ainda era um país comunista fechado ao mundo) não tem como competir contra outras que já produzem em volumes maiores para mercados que já lhe são tradicionais.
Se as novas empresas, ou empresas nem tão novas mas que desejam iniciar o desenvolviento de produtos novos e inovadores que possam competir fora do país, pudessem começar e se manter por alguns anos provavelmente poderiam criar a "massa crítica" em termos de profissionais e infra-estrutura de P&D (ou seja, competência em projeto do produto como tem a Embraer) para se manter. Mas com as dificuldades internas que já mencionei e este nível de câmbio, isto é muito, muito difícil. Sem planejamento e apoio governamental então... .
Leandro G. Card