VLS DA FAB.

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Centurião
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#46 Mensagem por Centurião » Seg Jul 16, 2007 10:54 am

LeandroGCard escreveu:
Centurião escreveu:
LeandroGCard escreveu:Soa como um programa consistente para quem está no início do desenvolvimento de tecnologia própria de combustíveis líquidos (embora o esforço para dominar esta tecnologia neste nível de autonomia possa ser questionável tendo em vista os objetivos modestos do programa espacial brasileiro).

Leandro G. Card


Centurião escreveu:
Você acha que o objetivo da AEB é muito maior do que o anunciado ou se busca mesmo a total independência nesta área?



Olá Centurião

Na verdade o que eu quis dizer é que se o objetivo for desenvolver apenas foguetes de porte pequeno/médio (com capacidade digamos digamos para até 1 ou 2 toneladas em órbita baixa) nos próximos 12 ou 15 anos, o esforço para dominar as tecnologias de concepção e projeto de motores de combustível líquido talvez não seja o melhor caminho.

Seria possível simplesmente adquirir prontos os projetos de motores na Rússia, e concentrar o esforço apenas na produção dos foguetes em si. Ao contrário do que muitos imaginam isto não seria um retrocesso, esta foi exatamente a solução adotada por diversos países que hoje tem programas espaciais ativos e bem sucedidos, como China, Índia e Japão. Podemos facilmente construir os motores completamente no Brasil à partir de um projeto estrangeiro sob licença, e com eles os foguetes, em um espaço de tempo bem menor e com muito menos riscos que iniciando agora um programa de motores.

Todos os brasileiros tem grande orgulho da Embraer, um orgulho plenamente justificado, e o caminho seguido pelo país no caso dela foi exatamente este, de se montar uma empresa especializada no desenvolvimento do sistema ao invés de tentar desenvolver cada componente do zero.

Sei que muitos dirão que esta tecnologia (projetos prontos de motores foguete) não se vende, mas é óbvio que isto não é verdade. Os países que citei acima compraram exatamente isto dos EUA e da Rússia durante os tempos de guerra fria, e hoje as restrições são bem menores. O que estamos comprando da Rússia é algo muito mais profundo, e eles estão nos vendendo assim mesmo.

Poderíamos simplesmente comprar o projeto dos motores prontos agora, construir os foguetes que necessitamos (ou queremos) e desenvolver a tecnologia de projeto de motores com a calma que quisermos depois, após já estarmos plenamente inscritos no clube das nações espaciais.

Centurião escreveu:
Um ponto interessante do documento:

Encontram-se também em desenvolvimento os seguintes Bancos de Testes:

Para motores de até 400 kN a propelente líquido, usando querosene e oxigênio líquido, constituído de uma célula para testes de câmaras regenerativas, uma célula para testes de turbo-bomba completa e uma célula para testes de motor completo


Nesse caso, seria um estudo para um motor de 40 toneladas de empuxo, certo? Qual o tipo de foguete que usaria isso? O Gama, Delta, Epsilon ?


Esta já foi respondida pelo Brasileiro. Motores de 400 kN (aprox. 40 ton de empuxo) permitiriam a construção de foguetes da classe do Beta, com capacidade para 1 ou 1,5 toneladas LEO. Os motores seriam utilizados em número de 4 a 5 em um foguete com algo em torno de 100 toneladas no lançamento. Pelas capacidades propostas para o Gama, o Delta e o Epsilon seria necessário um motor maior, a menos que se partisse para clusters com vários motores em um arranjo único, uma receita que não foi muito bem sucedida em termos históricos.

Abraços,

Leandro G. Cardoso


Leandro,

Quero agredecer suas respostas. Muito do que você disse eu não tinha nem idéia de que estava acontecendo.

Eu também não entendo porque queremos desenvolver a tecnologia de projetos de motores, se estamos correndo contra o tempo na área espacial.

Somos muito ambiciosos e sempre tivemos o objetivo de independência tecnológica total, mas se isso significar atrasos no programa espacial, eu preferia que adquiríssemos o projeto de motores dos russos.

Brasileiro escreveu:Alguns dados mais completos:

Alfa: 250 Kg, 750 Km
Beta: 800Kg, 800Km
Gama: 900 Kg, 1000Km (polar) - 650Kg para geoestacionária
Delta: 1700 Kg, 1000Km (polar) - 2000Kg Geoestacionária



abraços]


Obrigado pelos dados, Brasileiro. :)
Você sabe quanto o Epsilon carrega?




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LeandroGCard
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#47 Mensagem por LeandroGCard » Seg Jul 16, 2007 3:07 pm

Centurião escreveu:
Leandro,

Quero agredecer suas respostas. Muito do que você disse eu não tinha nem idéia de que estava acontecendo.

Eu também não entendo porque queremos desenvolver a tecnologia de projetos de motores, se estamos correndo contra o tempo na área espacial.

Somos muito ambiciosos e sempre tivemos o objetivo de independência tecnológica total, mas se isso significar atrasos no programa espacial, eu preferia que adquiríssemos o projeto de motores dos russos.


abraços


Centurião,

Na verdade, este tipo de decisão (desenvolver os motores do zero ao invés de comprar um projeto pronto) com relação ao programa espacial brasileiro ocorre devido a uma série de fatores, alguns históricos e circunstanciais, outros decorrentes da própria forma como as atividades ligadas ao desenvolvimento tecnológico são encaradas em nosso país. Deixe-me ilustrar alguns deles:

- No início do programa espacial brasileiro, a motivação mais forte dos responsáveis por ele (os militares) era o desenvolvimento de mísseis estratégicos de aplicação bélica (por este motivo por exemplo tomou-se a decisão de se utilizar combustíveis sólidos, muito mais práticos para este uso). É claro que os EUA não viam este desenvolvimento com bons olhos, e fecharam todas as portas de acesso à tecnologia no mundo ocidental. E na época a Rússia (então URSS) era vista por nossos militares como "O grande Satã", e qualquer forma de cooperação com eles estava fora de questão. Sem aceso a fontes de conhecimento externas, foi normal que se estabelecesse o hábito de desenvolver tudo do zero.

- Ao buscar especialistas para trabalhar no programa os militares selecionaram profissionais baseando-se em seus currículos acadêmicos, pois não conheciam outra forma de avaliar a sua competência. E para os militares, diplomas acadêmicos valem como patente, e assim era óbvio para eles que os engenheiros que apresentassem maior número de títulos e mais tempo de trabalho em centros de pesquisa reconhecidos na área seriam automaticamente os líderes do programa. Estas pessoas trouxeram uma forma de trabalho que acabou por imprimir um forte cunho acadêmico ao processo de desenvolvimento dos foguetes, como se o projeto e construção destes fosse uma atividade de pesquisa pura, e não de engenharia aplicada. Por esta razão os problemas de engenharia encontrados ao longo do tempo foram abordados através de longas pesquisas teóricas, teses de mestrado e doutorado, etc..., gerando muitos trabalhos acadêmicos e participações em congressos internacionais, mas o progresso foi mais lento do que poderia ser caso um enfoque mais objetivo fosse utilizado. É novamente o caso agora.

- Uma vez que o Brasil desistiu e produzir mísseis estratégicos, o programa espacial ficou sem um objetivo definido. O seguidos governos não sabiam para quê serviria um programa de foguetes espaciais, e os cientistas e engenheiros que trabalhavam no desenvolvimento destes foguetes não sabiam onde deveriam chegar, nem como convencer o governo a continuar bancando um programa que a sociedade não compreendia. Devido a isto as verbas foram minguando ano após ano, e o pessoal técnico foi trabalhando por inércia, levando à frente sem muito entusiasmo o desenvolvimento de um projeto que já estava defasado com relação aos avanços obtidos em outras partes do mundo (e que por enquanto ainda não foi sequer completado).


E assim continua até hoje. O VLS-1 provavelmente será lançado uma ou duas vezes (após os ajustes do projeto que se fizeram necessários depois do último acidente), apenas para mostrar que o programa foi finalmente concluído, e então pretende-se introduzir uma alteração parcial (o estágio de combustível líquido do VLS-Alfa), que não deverá alterar muito a capacidade do sistema. Depois disto parece haver um firme propósito (e por enquanto apenas isto) de se desenvolver um lançador de concepção mais racional e com uma capacidade ligeiramente maior (o foguete Beta), utilizando somente combustíveis líquidos (em princípio versões do mesmo motor desenvolvido para o VLS-Alfa poderão ser utilizadas).

Após isto não existe nenhuma definição sobre o que acontecerá, apenas uma vaga idéia de que este foguete ainda não dará ao Brasil a independência em termo de lançamentos espaciais, pois não será capaz de lançar satélites de comunicação geo-estacionários, os satélites mais importantes para o país. Ao que tudo indica, esta lacuna deverá ser preenchida pelo foguete que está sendo desenvolvido pelos ucranianos (com tecnologia antiga que eles herdaram dos russos), e que deverá ser lançado de Alcântara nos termos do tratado Brasil-Ucrânia.

E enquanto isto o pessoal técnico ligado ao programa de foguetes tem um novo tema para suas pesquisas e trabalhos acadêmicos (o domínio da tecnologia de combustível líquido), que justificará a existência da equipe por mais alguns anos até que este assunto também esteja esgotado. Mas na ausência de objetivos definidos pela sociedade (qualquer que seja a fonte dentro dela; a imprensa, os meios acadêmicos, os militares ou mesmo entusiastas atuantes), o esforço para o domínio completo desta tecnologia irá apenas desviar recursos que poderiam ser utilizados na aceleração de um programa mais pragmático e focado em resultados práticos.

Abraços,

Leandro G. Card




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#48 Mensagem por Brasileiro » Sáb Set 22, 2007 12:45 am

http://64.233.167.104/search?q=cache:tC ... cd=4&gl=br


Galera...infelizmente só assim o link está abrindo....
De maneira "convencional" ele está dando erro.

Documento bem recente (21-setembro), "quentíssimo" e com boas informações para quem quer se informar sobre as novidades do nosso programa espacial. É um plano de metas 2007/2011 com as previsões orçamentárias.

Aí vai algumas:
-Dois lançamentos de teste do VLS-1 XVT: 2009/2010
-Lançamento do VLS-1 V04: 2011
-Lançamento do VLS-1B: 2011 ou 2012



abraços]




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