Século 21? Vejam:
Mapeamento por satélite orienta missão brasileira
Uma das imagens digitais de Porto Príncipe: fotos alertam
para péssimo estado da pista de pouso
Área de inteligência da Embrapa: serviço permite que tomada do aeroporto
seja feita rapidamente, evitando um dia todo de medições
Imagens digitais obtidas pela Embrapa permitem visualizações na faixa de 58 centímetros, recurso semelhante ao dos EUA no Iraque
ROBERTO GODOY
O Estado-Maior da Força de Paz que o Brasil começa a enviar hoje ao Haiti, leva no arsenal um poderoso recurso de inteligência militar: um conjunto de precisas imagens digitais de todo o território do país em conflito. O mapeamento foi produzido sigilosamente, pela primeira vez no Brasil, pela Embrapa Monitoramento por Satélite, de Campinas.
As imagens, em relevo e tomadas em angulações que permitem reconhecimento semelhante ao disponível para uso da coalização liderada pelos Estados Unidos no Iraque, tem resolução na faixa de 58 centímetros. Segundo Evaristo de Miranda, coordenador da equipe que trabalhou sem intervalo durante 10 dias para en
tregar o levantamento ao Comando do Exército, "essa capacidade permite a observação na escala de indivíduos vistos isoladamente".
Precursor - A missão das Forças Armadas no Haiti começa formalmente amanhã de manhã, quando parte sem festa para Porto Príncipe o grupo precursor integrado por 42 militares, em quatro grandes cargueiros Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB). A tropa é comandada pelo general Américo Salvador de Oliveira. Nos aviões seguirão também veículos, equipamentos de comunicações, recursos de apoio e de processamento de dados.
O grosso da tropa, que terá 1.247 combatentes e 153 profissionais da área de suporte, deixa o Brasil 72 horas depois da primeira leva, na manhã do dia 31. Segunda- feira, o presidente Luis Inácio Lula da Silva participa da solenidade de despedida, às 10 horas, em Brasília. Segundo fontes do Palácio do Planalto, Lula pretende visitar os soldados, no Haiti, em 25 de agosto, Dia do Exército.
Hoje sai da base naval de Mocangue o Grupo-Tarefa da Marinha que conduzirá o destacamento avançado de 73 fuzileiros (com outros 171 homens do Exército), caminhões, blindados e suprimentos de grande porte. A travessia vai demorar 17 dias. Um navio-tanque, uma fragata de escolta e dois navios de desembarque vão atracar no terminal marítimo haitiano controlado pela ilhota de Ojupé entre 15 e 16 de junho.
Pista - O primeiro C-130 pousa no aeroporto de Porto Príncipe às 8h30. O comandante do vôo sabe que vai encontrar uma pista de 3.065 metros de extensão e, depois de percorrer 800 metros a partir da cabeceira norte, a mais favorável para operações de aterrissagem, é conveniente manter o enorme cargueiro mais à direita. Há buracos no asfalto. "Essa informação não consta da precária carta aérea fornecida pela força provisória (composta por americanos, canadenses e franceses), mas estão nas fotos da Embrapa", diz o coronel L.O. Almeida, um dos planejadores da operação brasileira. Essa é apenas a mais simples das aplicações do pacote de imagens.
De acordo com Marcelo Guimarães, o segundo coordenador do Projeto Haiti na Embrapa, "uma das primeiras providências do grupo precursor será defender o perímetro do aeroporto. Isso implicaria pelo menos um dia inteiro de medições por meios convencionais. Trabalhando sobre as imagens, isso pode ser feito em segundos". Assim: uma só passagem do cursor sobre a tela do computador - além das imagens em papel - revela que os limites locais medem 9.120 metros ou 258 hectares. No terreno, há três elevações para instalação de pontos de fogo e defesa de área. De posse desses dados, será possível ter todo o controle do local apenas uma hora após a descida do Hércules da FAB.
Patrulha armada - Três técnicos (Cristina Criscuolo, Carlos Paniago e Oswaldo Oshiro) desenvolveram aplicações bem específicas. Uma delas é a montagem de ações de patrulha armada.
As Carta Imagens permitem estabelecer rotas por meio das ruas da área urbanizada de Porto Príncipe e das vielas das imensas favelas que circundam a cidade velha, remanescente do ciclo da dominação francesa. Uma das primeiras conclusões do Comando do Exército após examinar as fotografias digitais é que os veículos blindados requisitados, Urutus de 13 toneladas para transporte de 13 homens equipados, talvez não sejam os mais adequados para os deslocamentos rápidos necessários.
As imagens já disponíveis foram produzidas por meio da combinação de dados obtidos a partir do rastreamento de três diferentes satélites: LandSat, SRTM e QuickBird. A presença de grupos de pessoas no estádio nacional da capital, vista em um dos painéis, pode revelar um ponto de reuniões dos rebeldes do movimento Lavalas - a maior possibilidade de choque armado que a missão vai encontrar no Haiti.
Fonte: O Estado de São Paulo - Via NOTIMP
O que acharam? Gostei mesmo. Nessas horas agente vê que, mesmo com todas as nossas deficiências, ainda temos um diferencial em relação a muitos países.