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Enviado: Sáb Mar 13, 2010 2:49 pm
Marinha tenta superar defasagem para vigiar a ‘Amazônia Azul’
12/03/2010 E.M.Pinto
Por Danilo Almeida, especial para o Yahoo! Brasil
Debaixo de 4,5 milhões de quilômetros quadrados de superfície marítima
brasileira, a riqueza é incalculável; nos 55 mil quilômetros quadrados
de bacias, a capacidade hídrica é pujante e a reserva de água doce é a
maior do planeta. Enfim, um patrimônio inestimável para se tomar
conta, uma vastidão a ser vigiada.Para quem almeja protagonismo entre
as grandes potências, exercer soberania nesse terreno é lei. É o fator
determinante por trás da retomada dos investimentos e dos planos de
modernização da Marinha.
Sob este pensamento, uma parceria com os franceses reativou o projeto
mais arrojado da Força: a construção de um submarino com propulsão
nuclear. Mais ágil e veloz, pode também passar mais tempo debaixo
d’água, entre outras vantagens. Quando já estiver submerso no mar
brasileiro, não antes de 2024, vai ter consumido cerca de R$ 15
bilhões – ressalte-se que o pacote francês inclui mais quatro
submarinos convencionais, tudo fabricado num estaleiro e numa base
naval a serem construídos no litoral fluminense.
Há quem questione o gasto, “com tanto problema a ser resolvido no
país”. Quanto ao aspecto econômico, o governo explica que está
investindo em desenvolvimento, afinal, é na área militar que a alta
tecnologia se desenvolve antes de chegar à civil. Nesta corrente, a
indústria nacional cresce, geram-se expectativas, criam-se empregos,
formam-se técnicos.
Quanto ao aspecto geopolítico, o submarino nuclear dá ao Brasil maior
poder de dissuasão. “Há uns 30 anos, esse tema não teria sentido. Mas
quando se passa à condição de oitava economia do mundo, com projeção
para se transformar em quinta em pouco tempo, é preciso pensar de
outra maneira”, observa o presidente da Associação Brasileira de
Estudos da Defesa, Eurico de Lima Figueiredo. “Não se trata mais de
política de governo, sempre transitória, mas sim de política de
Estado, duradoura e de longo prazo. É preciso pensar hoje o Brasil de
2030, 2040.”
Bem antes disso, a Marinha espera contar com a capacidade plena do
porta-aviões São Paulo, que faz do Brasil um dos 9 países do mundo a
dispor deste tipo de aparelho. Cinquentão e originalmente francês, o
maior navio de guerra do país passou recentemente por uma ampla
reforma. Deve ter o auxílio de 17 novos helicópteros e 22 novos caças
Skyhawk. Contará ainda com a companhia de submarinos IKL-209,
construídos aqui no Brasil, com tecnologia alemã, e de seis fragatas
da classe Fremm, outros frutos da parceria com a França. Neste ano,
especificamente, o foco dos investimentos é em navios de patrulha
oceânicos, logísticos e costeiros.
São equipamentos vitais nos trabalhos de vigilância de riquezas como o
pré-sal, por exemplo. Menina dos olhos da chamada Amazônia Azul, as
reservas de petróleo em águas profundas vêem sobre si uma certa de
cobiça generalizada e, assim, se transformaram numa das mais
complicadas disputas políticas do governo no Congresso.
Contra os planos do Planalto, os deputados aprovaram na quarta-feira
(10/03) mudanças na distribuição dos royalties não destinados
diretamente à União: deste modo, o dinheiro passaria a ser repartido
entre todos os Estados e municípios de acordo com critérios dos fundos
de participação, reduzindo a parcela das áreas produtoras.
Representantes do governo no Congresso já avisaram que, se o Senado
não derrubar a proposta, ela vai para o veto do presidente Lula.
Retomada
As ações previstas pela Estratégia Nacional de Defesa (END),
principalmente as que se referem ao projeto do submarino nuclear,
devem dar uma guinada na Marinha, que conta com cerca de 50 mil homens
no efetivo.
É a esperada oportunidade para que a Força ganhe fôlego para sair da
situação a que foi relegada nas últimas décadas. “Nesse tempo, a
Marinha fez milagre ao manter a estrutura instalada adquirida
historicamente. Muitos navios só podiam ser mantidos por via da
‘canibalização’: juntavam-se as peças de dois ou mais desativados e
formava-se um”, lembra o professor Eurico de Lima Figueiredo.
Mesmo hoje, a fiscalização ainda se restringe a demandas pontuais, bem
aquém do ideal. Exemplos: no fim do ano passado, o ministro da Defesa,
Nelson Jobim, alertou o Congresso que, com o dinheiro previsto para a
Marinha em 2010, as bacias de Campos (RJ) e de Santos (SP) passariam
metade de cada mês sem a vigilância do navio-patrulha Gurupi; em busca
de mais R$ 400 milhões emergenciais, os militares do mar também
avisaram ao Ministério do Planejamento que a área do pré-sal poderia
ficar descoberta durante 15 dias a cada 30 e que despencaria a
vigilância na foz do Amazonas e nas fronteiras com Paraguai, Colômbia
e Venezuela – nessa semana, por sinal, a Câmara dos Deputados aprovou
um projeto que confere poder de polícia às Forças Armadas nas
fronteiras.
Outra frente importante de atuação da Marinha, e que pode ganhar novo
impulso, é o Programa Antártico Brasileiro. “A presença no continente
gelado do sul é tão importante que ninguém lembra que este é um dos
motivos da presença da Inglaterra nas Malvinas. É mais barato
pesquisar na terra gelada que mandar uma nave à lua, respeitadas as
devidas proporções científicas”, afirma Ana Marta Vasconcellos,
coordenadora do Grêmio de Relações Internacionais da Marinha Mercante
e da Escola Naval.
Mentalidade
Mais do que dar uma injeção em estrutura, a política brasileira para o
setor aposta numa mudança cultural que facilite a transição ao comando
civil. “Espírito e valores republicanos democráticos sempre foram, de
certo modo, refratários às Forças Armadas. Mas nos últimos 25 anos,
temos assistido cada vez mais à necessidade dos cidadãos de controlar
um Estado em todos os seus aspectos”, ressalta o professor
Figueiredo.Nesse meio tempo, projetos de integração vão sendo
colocados em prática.
Nesta semana, por exemplo, a Marinha entregou as duas primeiras
lanchas-escola para o transporte de alunos na região amazônica – a
promessa é de que mais 178 sejam cedidas ainda neste ano.Segundo a UnB
(Universidade de Brasília), que participa da iniciativa, a Marinha vai
construir, no total, 600 lanchas para o transporte dos estudantes de
áreas ribeirinhas, usando a infraestrutura das bases navais de Belém,
Natal e Salvador.
Mais do que facilitar o acesso ao ensino, a proposta tem o objetivo de
“apontar a realidade vivida” pelos estudantes das cidades ribeirinhas
da Amazônia. Assim, a primeira pesquisa nacional sobre transporte
escolar aquaviário vai saindo do papel. E, aos poucos, a distância
entre militares e civis começa a diminuir.
12/03/2010 E.M.Pinto
Por Danilo Almeida, especial para o Yahoo! Brasil
Debaixo de 4,5 milhões de quilômetros quadrados de superfície marítima
brasileira, a riqueza é incalculável; nos 55 mil quilômetros quadrados
de bacias, a capacidade hídrica é pujante e a reserva de água doce é a
maior do planeta. Enfim, um patrimônio inestimável para se tomar
conta, uma vastidão a ser vigiada.Para quem almeja protagonismo entre
as grandes potências, exercer soberania nesse terreno é lei. É o fator
determinante por trás da retomada dos investimentos e dos planos de
modernização da Marinha.
Sob este pensamento, uma parceria com os franceses reativou o projeto
mais arrojado da Força: a construção de um submarino com propulsão
nuclear. Mais ágil e veloz, pode também passar mais tempo debaixo
d’água, entre outras vantagens. Quando já estiver submerso no mar
brasileiro, não antes de 2024, vai ter consumido cerca de R$ 15
bilhões – ressalte-se que o pacote francês inclui mais quatro
submarinos convencionais, tudo fabricado num estaleiro e numa base
naval a serem construídos no litoral fluminense.
Há quem questione o gasto, “com tanto problema a ser resolvido no
país”. Quanto ao aspecto econômico, o governo explica que está
investindo em desenvolvimento, afinal, é na área militar que a alta
tecnologia se desenvolve antes de chegar à civil. Nesta corrente, a
indústria nacional cresce, geram-se expectativas, criam-se empregos,
formam-se técnicos.
Quanto ao aspecto geopolítico, o submarino nuclear dá ao Brasil maior
poder de dissuasão. “Há uns 30 anos, esse tema não teria sentido. Mas
quando se passa à condição de oitava economia do mundo, com projeção
para se transformar em quinta em pouco tempo, é preciso pensar de
outra maneira”, observa o presidente da Associação Brasileira de
Estudos da Defesa, Eurico de Lima Figueiredo. “Não se trata mais de
política de governo, sempre transitória, mas sim de política de
Estado, duradoura e de longo prazo. É preciso pensar hoje o Brasil de
2030, 2040.”
Bem antes disso, a Marinha espera contar com a capacidade plena do
porta-aviões São Paulo, que faz do Brasil um dos 9 países do mundo a
dispor deste tipo de aparelho. Cinquentão e originalmente francês, o
maior navio de guerra do país passou recentemente por uma ampla
reforma. Deve ter o auxílio de 17 novos helicópteros e 22 novos caças
Skyhawk. Contará ainda com a companhia de submarinos IKL-209,
construídos aqui no Brasil, com tecnologia alemã, e de seis fragatas
da classe Fremm, outros frutos da parceria com a França. Neste ano,
especificamente, o foco dos investimentos é em navios de patrulha
oceânicos, logísticos e costeiros.
São equipamentos vitais nos trabalhos de vigilância de riquezas como o
pré-sal, por exemplo. Menina dos olhos da chamada Amazônia Azul, as
reservas de petróleo em águas profundas vêem sobre si uma certa de
cobiça generalizada e, assim, se transformaram numa das mais
complicadas disputas políticas do governo no Congresso.
Contra os planos do Planalto, os deputados aprovaram na quarta-feira
(10/03) mudanças na distribuição dos royalties não destinados
diretamente à União: deste modo, o dinheiro passaria a ser repartido
entre todos os Estados e municípios de acordo com critérios dos fundos
de participação, reduzindo a parcela das áreas produtoras.
Representantes do governo no Congresso já avisaram que, se o Senado
não derrubar a proposta, ela vai para o veto do presidente Lula.
Retomada
As ações previstas pela Estratégia Nacional de Defesa (END),
principalmente as que se referem ao projeto do submarino nuclear,
devem dar uma guinada na Marinha, que conta com cerca de 50 mil homens
no efetivo.
É a esperada oportunidade para que a Força ganhe fôlego para sair da
situação a que foi relegada nas últimas décadas. “Nesse tempo, a
Marinha fez milagre ao manter a estrutura instalada adquirida
historicamente. Muitos navios só podiam ser mantidos por via da
‘canibalização’: juntavam-se as peças de dois ou mais desativados e
formava-se um”, lembra o professor Eurico de Lima Figueiredo.
Mesmo hoje, a fiscalização ainda se restringe a demandas pontuais, bem
aquém do ideal. Exemplos: no fim do ano passado, o ministro da Defesa,
Nelson Jobim, alertou o Congresso que, com o dinheiro previsto para a
Marinha em 2010, as bacias de Campos (RJ) e de Santos (SP) passariam
metade de cada mês sem a vigilância do navio-patrulha Gurupi; em busca
de mais R$ 400 milhões emergenciais, os militares do mar também
avisaram ao Ministério do Planejamento que a área do pré-sal poderia
ficar descoberta durante 15 dias a cada 30 e que despencaria a
vigilância na foz do Amazonas e nas fronteiras com Paraguai, Colômbia
e Venezuela – nessa semana, por sinal, a Câmara dos Deputados aprovou
um projeto que confere poder de polícia às Forças Armadas nas
fronteiras.
Outra frente importante de atuação da Marinha, e que pode ganhar novo
impulso, é o Programa Antártico Brasileiro. “A presença no continente
gelado do sul é tão importante que ninguém lembra que este é um dos
motivos da presença da Inglaterra nas Malvinas. É mais barato
pesquisar na terra gelada que mandar uma nave à lua, respeitadas as
devidas proporções científicas”, afirma Ana Marta Vasconcellos,
coordenadora do Grêmio de Relações Internacionais da Marinha Mercante
e da Escola Naval.
Mentalidade
Mais do que dar uma injeção em estrutura, a política brasileira para o
setor aposta numa mudança cultural que facilite a transição ao comando
civil. “Espírito e valores republicanos democráticos sempre foram, de
certo modo, refratários às Forças Armadas. Mas nos últimos 25 anos,
temos assistido cada vez mais à necessidade dos cidadãos de controlar
um Estado em todos os seus aspectos”, ressalta o professor
Figueiredo.Nesse meio tempo, projetos de integração vão sendo
colocados em prática.
Nesta semana, por exemplo, a Marinha entregou as duas primeiras
lanchas-escola para o transporte de alunos na região amazônica – a
promessa é de que mais 178 sejam cedidas ainda neste ano.Segundo a UnB
(Universidade de Brasília), que participa da iniciativa, a Marinha vai
construir, no total, 600 lanchas para o transporte dos estudantes de
áreas ribeirinhas, usando a infraestrutura das bases navais de Belém,
Natal e Salvador.
Mais do que facilitar o acesso ao ensino, a proposta tem o objetivo de
“apontar a realidade vivida” pelos estudantes das cidades ribeirinhas
da Amazônia. Assim, a primeira pesquisa nacional sobre transporte
escolar aquaviário vai saindo do papel. E, aos poucos, a distância
entre militares e civis começa a diminuir.