Os militares portugueses, com alguns intervalos temporais, terão sido dos povos que regulamentaram o uso de cabelo cortado bem curto, característico dos militares atuais, desde períodos mais recuados. O Regulamento Geral do Serviço nas Unidades do Exército (RGSUE), no que se refere ao cabelo, determina para os militares masculinos:
O cabelo deve ser tratado e aparado de forma a favorecer a higiene e a apresentação pessoal, ser usado pouco volumoso, cortado acima do colarinho da camisa e proporcionar o uso correto do uniforme (boina, barrete, capacete, etc.).
Segundo Viterbo, terá sido o rei D. Fernando o primeiro a usar o cabelo cortado, tendo sido imitado pelos
portugueses para se não abafarem tanto com as viseiras, morriões e capacetes, tendo mesmo levado o rei castelhano com o orgulho ferido pela derrota em Aljubarrota, a alcunhá-los de
Chamorros, que significava Tosquiados.
Com a Restauração, e com o propósito de solidificar o sentimento de identidade nacional, foram tomadas diversas medidas com o objetivo de
eliminar todas as práticas que nos identificassem com os espanhóis. É assim que, no capitulo LVIII do Estado dos Povos apresentado nas Cortes de 28 de janeiro de 1641, se encontra uma determinação que sugere o
retorno à autoridade e gravidade portuguesa antiga, proibindo-se as guedelhas e cabeleiras grandes nos homens. Sobre este tópico encontramos em 1708, a seguinte referência:
A nenhum soldado se permitirá trazer o cabelo preso pelas ruas, ou em alguma operação.
Ainda no mesmo regulamento pode ler-se:
Aos soldados se lhes não permitirá fazer coroa, nem que deixem de andar limpos; e em estando no batalhão, os que não tiverem bolsas no cabelo, o meterão debaixo do chapéu.
Em 1764, num alvará que estabelece os Armazéns Gerais de Fardamentos, um dos seus artigos indicia o uso de cabelos compridos pois intitula-se: “Dos Pentes, e fitas, para se atarem os cabelos e se segurarem os
chapéus”.
Posteriormente, já no final desse século, podemos verificar o estranho costume, então em voga, relatado por Francisco Coutinho, em 1792:
O comum, e ordinário uso dos nossos Soldados deitarem na cabeça pós brancos, vulgarmente chamado
asseio; é tanto contra ele, e contra a saúde dos mesmos Soldados, que se eu poder tivera, certamente lhes proibira:
em razão que o Soldado sendo obrigado a aparecer aos seus oficiais com o seu cabelo asseado, deita na cabeça um, mais ou menos arráteis de pós com uma pouca de banha, ou azeite; e fazendo na cabeça uma grande cataplasma, encobre com ela a imundice:
e fazendo só um aparente asseio, parece ter o seu cabelo mui asseado, quando as mais das vezes acontece estar por baixo cheio de bichos.
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