Tática Paraquedista
A Metralhadora Ligeira
TEN PÁRA GONÇALO SANTOS
Hiram S. Maxim foi um dos pioneiros na conceção de metralhadoras, tendo desenvolvido a sua arma no período de 1883 a 1885, a qual apenas necessitava da ação continua do dedo do atirador no gatilho para que disparasse os projéteis, a uma grande cadência e continuamente.
Pese embora estas armas tenham sido usadas em combate anteriormente, foi efetivamente na I Grande Guerra que o seu emprego de forma sistemática provou a sua eficácia e superioridade relativamente a outras armas de fogo da altura. As metralhadoras provocavam um elevado número de baixas, especialmente às forças de infantaria, sendo que algumas ainda usavam a técnica do assalto napoleónico, privilegiando o princípio da massa. A ação das metralhadoras nesta guerra de trincheiras, defensiva e estática, revelou-se fundamental, pois eram estas que não permitiam o assalto das forças inimigas às posições entrincheiradas.
As forças portuguesas que participaram na I Grande Guerra, integradas no Corpo Expedicionário Português, estavam equipadas com a metralhadora Lewis 7,7 mm m/917.
Durante a II Grande Guerra as metralhadoras, agora mais desenvolvidas, com maior capacidade de fogo, mais leves e mais versáteis, continuaram a ser usadas de forma sistemática, mas desta vez não só pelas forças de infantaria, como por outras forças terrestres, pela aviação e pela marinha de guerra, para operações defensivas e ofensivas. Nesta guerra, dos vários modelos de metralhadoras usadas, destacaram-se as MG34 e a já nossa conhecida MG42 ambas de fabrico alemão.
Durante a Guerra do Ultramar, a metralhadora ligeira utilizada inicialmente pelas forças portuguesas, foi a Dreyse m/938, conhecida como MG13, contudo em 1962 esta arma foi substituída pela metralhadora ligeira MG42/59. Atualmente a metralhadora continua a equipar todos os exércitos modernos e em especial as forças de infantaria, constituindo para os baixos escalões, uma das suas principais armas ao dispor do respetivo comandante.
Efetivamente as metralhadoras ligeiras têm vantagens claras relativamente às espingardas automáticas que equipam os atiradores, desde logo a sua maior cadência de tiro e alcance permite ter um efeito mais eficaz, em ações ofensivas e defensivas; no entanto alguns dos aspetos negativos das metralhadoras, têm a ver as características da arma, nomeadamente o seu peso, (quer da própria arma quer das munições que terá que ter ao dispor para a sua rentabilização em combate), e o facto de, normalmente, ser uma arma coletiva, exigindo mais do que um militar para que se possa rentabilizar ao máximo a sua potencialidade. Estes aspetos negativos das metralhadoras podem não ser significativos para forças que combatam montadas, mas é para forças que combatam apeadas e particularmente para forças que atuam ou podem atuar de forma isolada, a baixos escalões (Pelotão e Secção).
Assim, as forças de infantaria ligeira, se por um lado não podem abdicar das enormes vantagens que as metralhadoras oferecem aos baixos escalões, nomeadamente o seu poder de fogo e alcance, terão que equilibrar a sua existência com a natureza da sua missão e das condições em que combatem, ou seja, terão que ter o potencial suficiente para vencer, que as metralhadoras proporcionam, mas com o tipo de arma adequada, sob pena de estas constituírem um obstáculo à manobra da força, ou de não ser possível rentabilizá-la em combate.
As Secções de Paraquedistas, dos Pelotões das Companhias dos Batalhões Paraquedistas, sendo uma força de infantaria ligeira, que combate apeada, podendo atuar de forma isolada, que combate com o que transporta, e constituída apenas por oito militares, têm efetivamente que possuir metralhadoras para que possa dispor de potencial de combate capaz de vencer, mas não pode despender quatro militares para operar apenas duas armas, empenhando 50% do seu efetivo.
De acordo com os Quadro Orgânico do Batalhão de Infantaria Paraquedista, nº 24.0.21 de 03 de dezembro de 2009 do 1ºBIPara e nº 24.0.22 de 03 de dezembro de 2009 do 2BIPara, as Secções de Paraquedistas são constituídas por oito militares, sendo o seu comandante 01 Sargento, acumulando com o comando de uma Equipa ou Esquadra.
A Secção de Paraquedistas contempla dois apontadores de metralhadora ligeira, metralhadora esta, que deve ser individual, atribuídas uma a cada Equipa ou Esquadra, o que aumenta substancialmente o seu potencial de combate e substancialmente o seu poder de fogo, permitindo assim que a unidade tenha a sua capacidade para executar o fogo e movimento, e de empenhar o inimigo a maiores distâncias devido ao seu maior alcance.
É importante sublinhar que as metralhadoras das Secções de Paraquedistas devem ser individuais, o que permite que para o seu manejo e rentabilização máxima, apenas necessite de um elemento da Secção e que tenha o mesmo calibre das restantes espingardas automáticas existentes na Secção, este ultimo aspeto, fundamentalmente por razões logísticas e flexibilidade na redistribuição de munições.
As missões das forças Paraquedistas, podem genericamente enunciar-se como missões executadas de forma isolada, normalmente recorrendo ao assalto aéreo através de salto tático em paraquedas ou por aterragem de assalto, em todo o tipo de conflito, qualquer tipo de terreno e condições meteorológicas, missões apeadas e/ou montadas de alta agressividade, contra forças blindadas, mecanizadas ou apeadas, missões que exijam a conquista e posse do terreno importante e pontos sensíveis, golpes-demão a Postos de Comando, Bases de Fogos e outros objetivos importantes, ou missões de combate aoterrorismo e outras ameaças assimétricas. As Secções de Paraquedistas devem estar preparadas para estas missões, o que significa que devem estar formadas, treinadas, equipadas e armadas para as executarem com sucesso, pelo que, além do processo formativo, processo de treino e equipamento, a escolha do armamento deve ser criterioso, especialmente para a Secção de Paraquedistas, sendo a unidade mínima de emprego de forma isolada e sendo a metralhadora a sua arma principal, a sua escolha reveste-se de grande importância pois irá influenciar a capacidade para executar as missões atribuídas. A definição dos critérios técnicos e operacionais para a escolha da metralhadora para a Secção de Paraquedistas deve ter em conta a natureza das missões e as condições em que são executadas pelas Secções.
De uma forma geral, entende-se que as metralhadoras para a Secção de Paraquedistas devem ser individuais (permite a rentabilização máxima quando operada por apenas um paraquedista, incluindo o municiamento e alimentação); que a falha de disparo possa ser resolvida de forma fácil e rápida; que a sua montagem e desmontagem seja simples e com o mínimo possível de peças separáveis; que seja de manutenção fácil; que tenha dimensões reduzidas para permitir a transposição de obstáculos e movimentação em terreno restritivo, sem comprometer a capacidade de fogo, alcance e precisão; que seja leve; que tenha um sistema de alimentação fiável e longo na autonomia e que possa ser facilmente transportada durante o lançamento pelo Paraquedista.
Entende-se também que tecnicamente a metralhadora para a secção de Paraquedistas deve ter um calibre 5,56x45 NATO; o seu peso não deve exceder os 8,5Kg; deverá ter um comprimento máximo de 1050mm, a sua cadência de tiro deverá ser no mínimo de 700 tiros por minuto, alimentada por fita e com capacidade para acoplar as caixas que contêm as fitas; ter possibilidade de efetuar tiro automático e tiro controlado selecionável pelo apontador e ter a capacidade para acoplar diferentes acessórios e aparelhos de pontaria através das calhas picatinny.
Alguns exemplos de metralhadoras ligeiras usadas pelas de Secções de Paraquedistas de Exércitos de outros países e respetivos dados técnicos.
http://www.exercito.pt/sites/ETP/Docume ... 3_site.pdf