Acabei de postar no BM, depois que alguém me acusou de estar a soldo de interesses estranhos:
Na quinta-feira da semana retrasada recebi uma denúncia de que haviam manipulado o relatório preparado pela Marinha para o F-X2. A opinião da força foi solicitada a partir da Estratégia Nacional de Defesa, que estabelece uma política de unificação de equipamentos, para evitar absurdos como a adoção de fuzis diferentes para Marinha, Exército e Aeronáutica. Minha primeira providência foi avisar o Senador Eduardo Azeredo, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, de que algo poderia estar errado no processo. Liguei por volta das 20h. A partir desse momento, saí a campo para investigar e tomar possíveis providências. Consegui ter acesso ao material por intermédio de amigos na FAB e na MB. Confesso, diante do clima histérico criado por algumas primas-donas, que fiquei surpreso com o conteúdo da Exposição de Motivos do MinDef enviada para revisão final nos últimos dias de maio. Em primeiro lugar, porque todos os relatórios, inclusive o enviado para o Ministro Nelson Jobim em dezembro, constam da documentação, exatamente como publicado pelo site Inforel (
http://www.inforel.org). É preciso ressaltar que a matéria foi reproduzida pelos clippings das três forças e do MinDef. Talvez a primeira vez que um site tenha merecido tal honra.
Esse relatório, que tive acesso graças a um amigo no CCBB, é aquele que traz o score por meio de tabelas coloridas e que punha o F/A-18E/F como vencedor. Na época, vi apenas as tabelas finais. Agora, pude manipulá-lo com mais calma e pude entender porque foi rejeitado pelo MinDef. Nele, os maiores pesos eram dados a preço e a custo de manutenção. Em seguida, vinha o quesito risco. O valor da transferência de tecnologia direta era de apenas 9% de 100%. É preciso lembrar que a diferença de preço entre o caça norte-americano e o sueco é de apenas US$ 5 milhões. A diferença entre os custos operacionais, se compararmos a relação custo/benefício, também não chega a ser assustadora: US$ 8 mil contra US$ 10 mil. Para chegar a esse valor, a COPAC, que defendia o Gripen NG, teve de suar a camisa. Como os suecos não podiam apresentar uma planilha de custo do F-414, "por ser de propriedade intelectual da Marinha dos Estados Unidos" (cito textualmente para acabar com fanfarronices sem sentido, se vierem com ofensas, publico mais dados), a engenheirada pegou o valor apresentado pela Boeing para o F/A-18E/F e dividiu por dois... isso apesar de haver diferenças entre os modelos previstos para cada aeronave.
O total de páginas relatando potenciais riscos da proposta sueca chega a OITO páginas, o que equivale à soma dos problemas apresentados pelos outros dois concorrentes... É óbvio que isso assustou os brigadeiros, que modificaram o parecer da COPAC. Voltando à documentação devolvida por Jobim, o MinDef ressaltou que os pesos, estabelecidos em 1995, quando não havia END, precisavam ser revistos. A transferência de tecnologia e o offset ganharam espaço, em detrimento do preço e do custo operacional, que antes respondiam por metade da pontuação. Os cálculos foram refeitos pela COPAC (lembram-se que o brigadeiro Saito afirmou que o relatório era o mesmo, mas que incorporava novas informações). Esse documento saiu do Comando da Aeronáutica em abril. Nele, o Gripen NG, a exemplo do que estava no documento original, vencia no quesito de transferência de tecnologia, mas a pequena diferença nesse item entre os pontos da proposta sueca e francesa não foi suficiente para virar o jogo em função da baixíssima nota obtida pelo fator risco (o caça sueco foi o pior colocado). A SELOM sentiu necessidade de ouvir a MB, que emitiu um laudo técnico desaconselhando fortemente a operação do Rafale no Sampa. Ao mesmo tempo, admitia que todos os três poderiam operar a partir dos futuros navios aeródromos de 50 mil toneladas. A bem da verdade, até o Gripen NG naval operaria com restrições no São Paulo... (o Super-Hornet nem opera!)
Muito bem, a Exposição de Motivos preparada pelo MinDef, com cerca de 40 páginas, é um resumo de toda a documentação envolvida no conturbado processo F-X2. Cada frase do documento remete a um anexo (há dois relatórios da FAB e um da MB e TODA a documentação relativa ao processo de avaliação). É uma montanha de papel. O Rafale é apontado como vencedor pela média das notas, como o Fluminense da década de 50, que tinha Telê Santana na ponta esquerda, que ganhou vários campeonatos cariocas vencendo sempre por 1 x 0. Entre os pontos fortes está a compra de 12 KC-390 pela França. A Dassault também participará do projeto como fornecedora. É preciso ressaltar que TODOS os relatórios da Aeronáutica afirmam que, por restrições legais, o Governo dos EUA não pode participar de NENHUM processo de offset. Isso cabe apenas às empresas, o que desvincula qualquer aquisição futura de Super Tucano do F-X2.
A Embraer solicitou que as vantagens oferecidas pelos franceses constem da Exposição de Motivos. Por isso, o documento recebeu uma nova redação. Podemos saber agora, entre outros pontos, que a indústria nacional terá acesso à integração de armas, de sistemas e de motores do Rafale. Sua linha ainda receberá novos equipamentos de automação que beneficiarão todos os produtos.
Como veem, estava a soldo de alguém: do Congresso Nacional. Se houvesse algum indício de irregularidade, teria acionado a imprensa. Já tinha acertado com um repórter que possui excelentes fontes na comunidade de inteligência. Ele as acionou e obteve os mesmos dados que consegui.
Essa é a realidade e peço que as indignidades cessem.
Pepê