brasil70 escreveu:É que fico imaginando ... o Brasil naquela epoca já tinha uma quantidade bastante relativa de alemães em seu territorio e creio que o convivo conosco eram bons, assim não tinha porque não sermos considerados um grande aliado alemão na America, talvez até mais importante que a propria Argentina.
O avô do malfadado ex-presidente Collor de Melo, esteve na Alemanha, e declarou ter ouvido
Der Führer, durante uma reunião, ter se referido aos brasileiros como "comedores de bananas". Então, é provável que o nosso conceito não fosse bom para a "Raça Superior".
Quanto aos alemães, aqui no Brasil, essa também é uma questão interessante. Os alemães, realmente, tentaram desenvolver sua influência na sua colônia. Mas, fizeram isso com muito tato, tentando não despertar a inimizade do governo Vargas que já estava conduzindo a sua excelente campanha de combate aos quistos raciais. Como em Portugal de Salazar, o fato é que Vargas não era um adorador dos regimes nazi-fascistas. Por exemplo, ele recusou, peremptoriamente, qualquer possibilidade de o Brasil aderir ao Pacto Anti-Comintern, embora, não fizesse objeções a receber auxílio alemão para desenvolver campanhas de propaganda anticomunista, mas sem envolver pactos oficiais de governo a governo. Por exemplo, alguns oficiais de polícia brasileiros foram enviados para a Alemanha, para receberem instrução da
Gestapo em táticas de combate à subversão comunista.
Mas, o que afastava Vargas da Alemanha, era, justamente, a situação da colônia alemã. Ele era, com sabedoria, profundamente devotado a combater o desenvolvimento do multiculturalismo no Brasil - embora, é claro, este termo não fosse conhecido na época, suponho eu. Desta forma, Vargas temia a influência do Partido Nazista dentro do Brasil. Os alemães, cientes disto, tentaram tranquilizá-lo, garantindo que o Partido Nazista só dirigia suas atividades para os cidadãos alemães que viviam no Brasil, e não para os brasileiros de origem alemã, mas eles próprios reconheciam que a força e a organização do partido, acabariam por seduzir a colônia alemã. Os embaixadores alemães protestaram, incessantemente, contra as medidas brasileiras de banimento da língua alemã nas escolas e meios culturais, mas não parecem ter tentado insuflar os brasileiros natos de origem alemã a algum tipo de resistência, pois sabiam que tal coisa seria fatal aos interesses de longo prazo comerciais da Alemanha, não só no Brasil, mas como em toda a América do Sul. E lembre-se, por trás de todo este cenário, estavam os Estados Unidos, em luta aberta para tirar a Alemanha do seu caminho, no acesso aos mercados brasileiros. As coisas pioraram, ainda mais, depois do levante integralista de 1938. Embora, a Alemanha não estivesse, de forma alguma envolvida, mas foram lançados boatos de que estava.
Os alemães fizeram tudo para aplacar os temores brasileiros - que, aliás, eram partilhados em outros países sul-americanos, como Argentina e Chile, também com numerosa colônia alemã - incluíndo, impedir a participação de brasileiros de origem alemã, em organizações políticas dos alemães radicados no Brasil, mas, com o passar do tempo, a opinião pública brasileira foi ficando, cada vez mais hostil a Alemanha, apesar da influência que esta exercia em alguns setores das Forças Armadas brasileiras. Mas aí, veio a guerra, e os alemães, de início, pareciam estar com a faca e o queijo na mão para conquistarem uma paz vitoriosa. Sendo assim, e diante da sedução exercida pela possibilidades de grandes negócios com uma Alemanha aumentada, o governo Vargas começou a ensaiar um afastamento da órbita americana, pelo menos, em nível comercial. Ele pronunciou um discurso, logo após a queda da França - e quando todo mundo imaginava que a Inglaterra já estava com a corda no pescoço -, que foi considerado tão pró-alemão que os Estados Unidos cobraram uma explicação, no ato, e o embaixador brasileiro em Washington teve que se virar pelo avesso para provar que "as coisas não eram bem assim".
Naqueles meses do meio de 1940, os alemães estavam que era uma felicidade só. Eles tinham certeza - pelo menos, os diplomatas alemães na América do Sul, que não tinham idéia que o "amado Führer" já tinha decidido cometer a asneira de entrar em guerra com a União Soviética - de que a paz era questão de meses. E já prometiam mundos e fundos aos governos sul-americanos. Ao Brasil, prometeram dobrar o valor do comércio, que existia antes de 1939. Até mesmo, se dispunham a oferecer armas capturadas dos países ocupados da Europa. Mas só em caso de urgência: pois, espertos como eram, os alemães sabiam que, no evento da paz, sua indústria bélica não poderia sobreviver com as encomendas das Forças Armadas alemãs, mas apenas com exportações. E, se entregassem armas européias capturados aos países sul-americanos, estes acabariam por ir comprar peças de reposição nos países que as tinham fabricado, originariamente. Aliás, este parece um pequeno detalhe que pode dar a idéia de que, pelo menos alguns diplomatas alemães não trabalhavam com a hipótese de a Alemanha ocupar os países europeus derrotados, indefinidamente.
Mas, a medida que os meses de 1940 foram passando, e a Inglaterra não mostrava nenhuma inclinação a fazer a paz, o ânimo foi diminuindo. A propaganda anglo-americana foi intensificada e, em vários países medidas foram tomadas contra cidadãos alemães. E isto deixou a Alemanha em situação de desvantagem. Quando as
SS fizeram estudos sobre possíveis represálias contra cidadãos latino-americanos, na Alemanha, chegaram à óbvia conclusão de que para cada um deles, existiam milhares de alemães e latino-americanos de origem alemã, que poderiam sofrer represálias dos governos sul-americanos. Curiosamente, enquanto, nos dias atuais, alguns fantasiam com as supostas possibilidades de invasão do Novo Mundo pela Alemanha, os próprios alemães daquela época, instruíam os embaixadores nos países latino-americanos a informarem os governantes de que tais boatos eram um absurdo, inclusive, do ponto de vista técnico-militar, como ficou evidenciado pela destruição do couraçado-de-bolso
Graff Spee.
Mas, no final, a pressão americana e a completa impossibilidade de a Alemanha se opor a ela, decidiram a questão no que tange ao Brasil: entrando em guerra os Estados Unidos, o Brasil romperia com a Alemanha e forneceria todo auxílio econômico e militar à sua disposição. Pelo menos, Vargas conseguiu arrancar tudo o que podia dos americanos, e isto foi um feito magistral.