EUA travam cessar-fogo imediatoKEVORK DJANSEZIAN/ap
Desespero é o estado de alma que atinge cada vez mais civis Augusto Correia
Os EUA, principal aliado de Israel, frustraram a vontade do resto do Mundo de sair de Roma com a exigência de um cessar-fogo imediato no Líbano. Naçõs Unidas, líderes europeus e árabes aprovaram apenas um documento a "exprimir a determinação a trabalhar para um cessar-fogo urgente", no que foi o pior dia para Israel, que reconheceu a morte de oito soldados nos confrontos com o Hezbollah.Os acordos para a ajuda humanitária e reconstrução do Líbano colheram o consenso dos participantes na Conferência de Roma. Presidida pela secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Máximo D' Alema, contou com a presença de Kofi Annan, secretário-geral da ONU, representantes de países da União Europeia, de estados árabes como Egipto, Jordânia e Arábia Saudita, além de Canadá, Rússia, Chipre, Turquia e de um representante do Banco Mundial.
Israel, Síria e Irão não foram convidados.
Kofi Annan apelou à criação de uma força multinacional para ajudar o Governo libanês a controlar o sul do território, em concordância com a resolução 1559 do Conselho de Segurança (CS) da ONU, que exigia, também, a desmobilização e o desarmamento do Hezbollah. Não há consenso quanto ao âmbito da missão, mas Rice sustentou que "deve ser forte para promover a paz".
Apesar de comovida pelo lancinante apelo do primeiro-ministro libanês, Faoud Siniora, para que "cesse a matança", Rice manteve firme a posição de promover uma solução pacífica para o Médio Oriente. Segundo John King, repórter da CNN, os líderes europeus e árabes ficaram convencidos de que os EUA estavam a ganhar tempo para Israel continuar a ofensiva.
Fontes citadas pelas agências revelaram que o ambiente na reunião foi sombrio, com todos, à excepção dos EUA, a insistirem no cessar-fogo imediato.
Rice terá argumentado que essa aproximação deixaria o Hezbollah activo e defendeu que o fim das hostilidades só é concebível como parte de um plano para desarmar permanentemente a milícia xiita.
Um representante do Departamento de Estado norte-americano, que participou na reunião, confidenciou à Reuters que Rice ficou muito satisfeita com o "forte consenso internacional" obtido e recusou a ideia de que os EUA estavam isolados. "Chamar urgente ou imediato é uma questão de semântica.
O que vimos é que todos queremos algo de significativo e duradouro para o Líbano", disse, ao abrigo do anonimato.
Em Washington, Tony Snow refutou, também, as críticas. "Como saiu furado? Há um acordo que fala em cessar-fogo urgente", disse o porta-voz da Casa Branca. "É importante perceber que ao não especificar uma calendário para cessar-fogo isso não é um falhanço, só o reconhecimento da realidade".
O primeiro-ministro libanês disse que "houve progressos" e exortou a comunidade internacional a avançar com acções que pressionem Israel a acabar com uma campanha militar que "está a retalhar" o Líbano. Faoud Siniora foi a Roma com um plano de paz, em sete pontos, que compreendia, entre outros, uma troca de prisioneiros com Israel sob os auspícios da Cruz Vermelha.
O Hezbollah rejeitou implicitamente as propostas de Roma. "O Governo libanês está mandatado para conseguir um cessar-fogo imediato e total e entabular negociações indirectas para a troca de prisioneiros. Qualquer outra proposta é inaceitável", disse Mohamad Raad, chefe do grupo parlamentar do "Partido de Deus".
Israel rejeitou as pretensões do partido de Hassan Nasrallah. "Continuamos a exigir o regresso imediato dos soldados raptados e a aplicação da resolução 1559 da ONU", disse à France-Presse um porta-voz do Executivo de Ehud Olmert.
Hassan Nasrallah respondeu às críticas ameaçando levar a guerra "para lá de Haifa". Um sinal de que Telavive pode ser um alvo do Hezbollah, numa altura em que se intensificam os combates.
Ontem, no dia mais sangrento para o exército israelita, oito soldados morreram nos confrontos em Bint Jbeil, localidade fronteiriça na zona de segurança, de um a dois quilómetros, que Olmert quer impor, até que uma força internacional seja deslocada para a região. Hezbollah lançou pelo menos 40 mísseis que atingiram o norte de Israel, ferindo 14 pessoas, uma com gravidade.