Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Dez 23, 2008 6:44 pm
por Clermont
IMPÉRIO INCOERENTE: O Caso para sair da OTAN.
Por Doug Bandow – 18 de dezembro de 2008 – Taki’s Magazine (takimag.com).
Outra conferência da OTAN, outro exemplo de futilidade geopolítica. No recente encontro ministerial da aliança, os europeus rechaçaram a pressão de Washington para acelerar o ingresso da Geórgia e Ucrânia. A OTAN está se aproximando de seu sexagésimo aniversário, e está, totalmente, privada de uma raison d’être. A organização mudou de uma aliança militar visando à segurança dos Estados Unidos, para o equivalente internacional de um clube de cavalheiros. Apenas Washington tem o dever de proteger a todos.
A América e a Europa devem continuar a cooperar em questões de interesse comum. Mas já é tempo para Washington devolver a segurança européia para a Europa.
Em 1948, o mundo estava em meio à Guerra Fria. Uma Europa devastada pela guerra, permanecia em estagnação econômica, vulnerável à subversão comunista, à movimentos democráticos de esquerda e à pressão soviética. Joseph Stalin talvez nunca tenha contemplado uma invasão do Ocidente, mas uma aliança liderada pelos Estados Unidos tornou-se a maneira óbvia para, nas imortais palavras de Lorde Hasting Ismay, manter os russos fora, os americanos dentro e os alemães embaixo.
Na época, o relacionamento servia aos interesses dos Estados Unidos. A dominação da Eurásia por uma potência hegemônica hostil criaria um ambiente geopolítico instável e perigoso. Um escudo de defesa americano daria à Europa tempo para se recuperar economicamente, se estabilizar politicamente e se reforçar militarmente. A aliança foi criada em momento e circunstância particulares para servir a uma necessidade temporária. O presidente Dwight Eisenhower preveniu contra a transformação dos europeus em dependentes permanentes de um “bolsa-segurança”.
Por volta de 1980, a justificativa para a OTAN tinha ficado cada vez mais esfarrapada. O esclerosado império soviético ainda era mau, porém, totalmente despreparado para desfechar uma guerra de conquista rumo ao Atlântico. Embora os europeus fossem, totalmente, capazes de defenderem-se, eles viam pouca ameaça de Moscou e recusaram-se a aumentar seus estabelecimentos militares ou apoiar as prioridades estratégicas de Washington, alhures, ao redor do globo. Com a ascensão de Mikhail Gorbatchev e a subseqüente dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia, a OTAN perdeu seu propósito essencial.
Os Estados Unidos não mais confrontavam uma potência hegemônica, hostil, que dirá uma que fosse capaz de conquistar a maior parte da Europa e da Ásia. Enquanto os antigos aliados soviéticos olhavam para o oeste, não havia ninguém para a América ou a Europa se defenderem. Embaraçados funcionários da aliança debateram sobre a concessão de novas missões para a organização anti-soviética, tais como combater o tráfico de drogas e promover a proteção ambiental. Talvez a única coisa que os advogados da OTAN não sugeriram foi transformar tanques em bibliotecas móveis para distribuir literatura inspiracional para jovens desprivilegiados, por todo o continente.
Nenhuma dessas missões substitutas propostas fazia o menor sentido. Com a ameaça soviética eliminada, a aliança anti-soviética deveria, ou ser desmobilizada ou entregue aos europeus. Ao invés, a OTAN tornou-se um fim, antes do que um meio, para ser preservado, sem levar em contas as circunstâncias, e seus apoiadores fincaram o pé em dois novos papéis.
O primeiro era conduzir atividades “fora da área” – ação militar em regiões não relacionadas com a defesa da Europa. No entanto, a unidade européia foi muito rara, quando era discutível se a segurança do continente estava em risco (observem a disputa sobre a construção de um gasoduto para a Rússia). Quanto mais longe a aliança se movia, menos acordo os membros podiam alcançar. Hoje, a política para com a Rússia divide, não só a Europa da América, mas a Europa Ocidental da Oriental. Mesmo quando a maioria dos estados favorece a ação militar, como nos Bálcãs, poucos podem ou irão contribuir, significativamente, com forças militares, para reais propósitos de combate.
Embora os europeus tenham estado ocupados com missões de pacificação, em muitos lugares – dois anos atrás, o senador John McCain saudou o fato de que “todo membro do último período de expansão está, atualmente, contribuindo para operações da OTAN” – eles possuem muito pouca capacidade de combate. Enquanto servia como representante permanente da América para a OTAN, o embaixador Nicholas Burns apontou que, apenas, de três a cinco porcento das forças militares européias são desdobráveis além de suas próprias fronteiras, comparados aos, aproximadamente, 75 porcento das forças armadas americanas.
Em 1999, a OTAN foi à guerra contra a Sérvia, que nem havia atacado, nem ameaçado atacar um estado-membro. Na prática, isto foi uma operação americana. Como também é o Afeganistão. Os britânicos, dinamarqueses e canadenses, realmente, lutam, mas a maioria dos contingentes da OTAN opera sob regras de engajamento burocráticas, ou “salvaguardas nacionais,” e, com freqüência, longe de onde seriam necessárias. A resistência ao apelo de Washington por mais tropas para o Afeganistão demonstra os limites do suposto papel da OTAN. Ainda pior, nações como a Albânia e a Estônia fornecem números minúsculos de tropas para uma ou outra operação e esperam auxílio financeiro e garantias de segurança em troca. A revista The Economist, hilariamente, chama tais nações “valiosos aliados em lugares, tais como o Iraque e Afeganistão – pequenos em números, porém, fortes em simbolismo.” A ênfase devia ser em pequenos, e com freqüência, muito pequenos, “em números”. Os Estados Unidos suportam o ônus primário das operações de combate, enquanto “OTAN”, realmente, quer dizer “americanos e os outros”.
Mesmo quando as contribuições européias têm algum valor, a OTAN é desnecessária. Na prática, tais missões da “OTAN” são, essencialmente, coalizões lideradas pelos Estados Unidos que poderiam ser organizadas fora da estrutura normal da aliança. Washington recebe pouco benefício militar, em troca da proteção de aliados que preferem dispender dinheiro em seus generosos estados de bem-estar social.
A segunda nova tarefa para a OTAN deveria ser o auxílio a integração de novos recém-libertos estados da Europa Central e Oriental, no Ocidente. O Presidente do Comitê de Relações Externas (e futuro vice-presidente dos EUA), senador Joe Biden, observou, no início deste ano: “Durante os anos 1990, a OTAN tornou-se uma força para a promoção de uma Europa única e livre, de modos que seus fundadores, jamais imaginaram, completamente, eu acho.” Este é um objetivo digno, mas enquanto o ingresso na aliança possa demonstrar um favorecimento pelos aliados, ele fornece, apenas, limitada assistência na tranformação de sistemas políticos autoritários e econômicos coletivistas. O Plano de Ação de Ingresso cita “demonstração de empenho para o governo da lei e dos direitos humanos” e “promoção de estabilidade e bem-estar por meio de liberdade econômica, justiça social e responsabilidade ambiental.” No entanto, a OTAN não tem nenhuma especialização particular em promover o processo democrático, a regra da lei, a economia de mercado, “justiça social”, sociedade civil e, sim, “responsabilidade ambiental”.
Em contraste, estes são objetivos que a União Européia é, de longe, mais capacitada para cumprir. A UE exige modificações legais e políticas, e impõe seus padrões com algum rigor. A organização pode aplicar sanções e impor regras, mesmo depois de um país entrar: a UE, recentemente, suspendeu alguns programas de auxílio na Bulgária, devido a persistente corrupção governamental. Se a OTAN tem qualquer valor, é como aliança militar, não uma variante internacional do selo de aprovação do INMETRO.
Mas a falta de propósito não impediu a OTAN de continuar a expandir-se para estados de decrescente relevância geopolítica para a América. Após o colapso da União Soviética, a Europa Central e Oriental correu para ela. Então, vieram as nações bálticas, levando a aliança para dentro de 96 Km de São Petersburgo. Os estados balcânicos, com a Macedônia se atrasando, apenas devido a uma esotérica disputa de nomes com a Grécia, integrante da OTAN. “Uma vez que a Albânia e a Croácia, formalmente, juntarem-se a OTAN, seus povos poderão saber que, se alguma nação ameaçar sua segurança, cada membro de nossa aliança estará ao seu lado,” exultou o presidente George W. Bush. E a administração Bush continua a pressionar, apesar da forte oposição de vários membros do núcleo da OTAN, pela inclusão da Geórgia e da Ucrânia.
O que o Ocidente, que dirá, apenas, os Estados Unidos, está conseguindo com esta expansão indiscriminada?
Funcionários falam muito de estabilidade e democracia, enquanto o Washington Post publica editoriais sobre “defender a independência dos vizinhos democráticos da Rússia”. Gary Schmitt e Mauro De Lorenzo, do American Enterprise Institute se preocupam com a “lei internacional, segurança energética, futuro da OTAN e a credibilidade da América quando se trata de apoiar novas democracias.” Os senadores Lindsey Graham e Joe Lieberman escreveram um artigo espalhafatoso sobre o “desafio, por Moscou, à ordem política e aos valores no coração do continente.”
Ninguém, no entanto, parece falar sobre segurança – pelo menos, para os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Eles não falam, porque não podem.
Seis décadas atrás, Washington salvaguardou um continente crítico - que ele havia acabado de ajudar a se livrar da dominação nazista alemã -, do que se temia ser uma agressão comunista soviética. Hoje, os Estados Unidos, promiscuamente, distribuem garantias de segurança para pequenos países, muitos dos quais tem mais a temer da instabilidade doméstica do que ataque externo, e nenhum dos quais, jamais, foi considerado como de importância para a segurança americana. Dados os critérios atuais, ou falta de critérios, para ingresso, haverá alguma nação não-qualificada para se juntar? Por quê não a Armênia, Nepal, Chade e Indonésia? Talvez Tonga, Brasil e Granada? Ou, até mesmo, a Rússia, como Victoria Nuland, representante permanente da América para a OTAN, propôs dois anos atrás?
Apesar da persistente instabilidade e rebelião na Europa Central e Oriental, durante toda a Guerra Fria, Washington, sensatamente, recusou a considerar ir à guerra para libertar a Alemanha Oriental, Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e a Polônia, de novo. Quando os americanos falavam de “Nações Cativas”, eles, tipicamente, queriam dizer os três estados bálticos, mas nunca advogaram bombardear Moscou para resgatar os prisioneiros. E ninguém passou muito tempo se preocupando sobre a Croácia ser parte da Iugoslávia, Albânia sendo o único posto avançado maoísta na Europa, ou a Geórgia e a Ucrânia sendo parte da União Soviética, como foram da Rússia Tzarista. A liberdade em todos estes casos, foi reconhecida como questão de simpatia, não de interesse nacional.
De fato, permanecer como o membro dominante da OTAN não faz sentido algum para os Estados Unidos, em qualquer nível. Primeiro, a América permanece um colosso, responsável por, aproximadamente, metade do gasto militar global. Ela não enfrenta nenhum rival hegemônico, nenhuma potência alternativa que possa competir, que dirá, derrotar Washington – mesmo em sua própria vizinhança.
A China vem em segundo lugar, em gasto militar, mas iniciou a partir de uma base muito menor e está focada em conter a intervenção americana, ao longo de suas fronteiras. A Rússia é, somente, o terceiro lugar, e perdeu qualquer pretensão de alcance global, exceto com seu arsenal nuclear. Será preciso muito mais do que os estimados 70 bilhões de dólares anuais de gasto militar anual de Moscou – aproximadamente, um sétimo dos atuais gastos militares da América, excetuando-se o dispendido no Iraque/Afeganistão -, para permitir-lhe rivalizar com Washington. Não há hegemonia global nenhuma, além daquela dos Estados Unidos.
Segundo, a Rússia é incapaz de dominar, seja a Ásia ou a Europa. A China é uma pretensa superpotência emergente, enquanto os membros da União Européia já gastam e constroem mais do que a Rússia, militarmente. Apesar das professadas pretensões de poder do governo Putin, as forças armadas convencionais da Rússia tem pouco alcance, além de suas fronteiras imediatas. E não é muito provável que isto mude muito no futuro; na verdade, com o declínio dos preços do petróleo e a quebra nos valores de mercado, Moscou é mais fraca, hoje, do que durante sua guerra de agosto com a Geórgia. Com um PIB e população maiores, até mesmo do que a América, os europeus podem sobrepujar a Rússia, não importa o quanto mais Moscou devote à suas forças armadas.
Terceiro, a expansão da OTAN em qualquer direção multiplica os riscos, antes do que as vantagens. Enquanto os membros originais da aliança gastavam o mínimo possível com as forças armadas, a Grã-Bretanha e a França, ao menos, mantinham forças armadas competentes e bem-equipadas. Nenhum dos novos membros da OTAN são capazes de defenderem-se, que dirá, efetuarem qualquer empenho significativo de combate, além-mar. Mas todos tem uma variedade de fraquezas internas, disputas de fronteira e conflitos internacionais. Trazer países como Albânia, Geórgia e Macedônia para a aliança cria, sempre, novos riscos sem nenhuma vantagem correspondente.
O mais sério destes perigos é a confrontação com uma Rússia, nuclearmente armada. Durante a Guerra Fria, Washington compreendia que garantias de defesa e desdobramentos de tropas, como parte de uma aliança militar, significavam uma disposição de ir à guerra. O potencial de escalada para armas nucleares, constantemente, pressionava ambos os lados para recuarem da retórica, algumas vezes, superaquecida. Pontos de crises, tais como Berlim e Cuba eram tão temidos porque o que estava em jogo era considerado como elevado demais.
O fim da Guerra Fria pareceu eliminar a assustadora perspectiva de um conflito se transformar em nuclear, seja por erro ou desespero. Mas, a batalha de agosto, no Cáucaso, ressuscitou esta possibilidade. Em setembro, o presidente George W. Bush anunciou: “É importante para o povo da Lituânia saber que, ao se comprometer, os Estados Unidos falam sério.” Incluindo trocar Washington e Nova York por Vilna e Kaunas, ou Tbilisi e Kutaisi?
Na verdade, tolamente, expandindo a aliança para a fronteira da Rússia ajudou a criar a crise com Moscou. Vladimir Putin pode ser implacável e autoritário, mas o público russo o apoia por razões que os fazedores de política não podem desconsiderar. Embora a administração de Bush I tenha prometido não expandir a OTAN, em troca de uma retirada pacífica soviética da Europa Central e Oriental, a administração Clinton, rapidamente, estendeu a aliança anti-soviética até as fronteiras da Rússia. A guerra contra a Sérvia - e seu subseqüente desmembramento -, ignorou os tradicionais interesses de segurança de Moscou, tratando a recém-rebaixada superpotência como se ela não fosse de importância alguma.
Para a maioria dos russos, estender a OTAN para as antigas repúblicas constituintes da União Soviética, para os Bálcãs e, até mesmo, para territórios de há muito tempo parcelas da Rússia imperial – e, cada vez mais distantes dos tradicionais interesses de segurança ocidentais – parecia mais com uma política consciente de cerco. Dizer aos russos que a OTAN não deseja fazer nada com o país deles, enquanto a aliança pula até suas fronteiras, sugere que os ocidentais acreditam que os russos são uns otários, o que, decididamente, eles não são. A conversa de adicionar a Geórgia e a Ucrânia deu a Moscou mais evidências das presumíveis intenções maléficas do Ocidente.
Ainda assim, expandir a OTAN, com suas promessas de defesa coletina, não é o bastante para alguns analistas. Kim Holmes da Heritage Foundation escreve: “Os Estados Unidos precisam dar garantias especiais de segurança para a Polônia, os países bálticos e outros estados da OTAN na região.”
É hora para repensar a OTAN.
A aliança é um meio, não uma finalidade. E a finalidade da OTAN já foi cumprida, a Europa já se recuperou dos horrores da Segunda Guerra Mundial; o Oeste e o Leste já se reuniram; o continente é capaz de agrupar qualquer tamanho e qualidade de força militar que desejar. As forças e garantias americanas não são necessárias para impedir sua subjugação por forças externas, sejam as a da Rússia ou, ainda mais implausivelmente, de algum outro estado hostil.
No entanto, a OTAN é inadequada para transformar a si mesma para a consecução de outros objetivos. Ela é, em seus fundamentos, uma aliança militar – ninguém precisa de uma segunda União Européia. Os senadores Graham e Lieberman reconhecem que a organização não tem nenhum outro papel sério quando pedem pelo “revigoramento da OTAN como aliança militar, não apenas como política.” O ministro do exterior polonês Radoslaw Sikorski apresentou um ponto similar após a Guerra Russo-Georgiana: “A OTAN precisa recuperar seu papel, não só com aliança mas como organização militar”.
Após seis décadas, no entanto, deveria estar óbvio que não há nenhum apoio real entre as mais importantes potências européias para um semelhante esforço. E não há razão alguma para Washington continuar a preencher este vazio.
Se a Geórgia ou Ucrânia, Albânia ou Croácia, ou mesmo Estônia ou Polônia, devem gozar o benéfico de um escudo multilateral contra um possível revanchismo russo, é questão para o restante da Europa decidir. Em primeiro lugar, estes países deveriam fazer mais por si mesmos. Por exemplo, nem Polônia, nem Ucrânia precisam ser sacos de pancada militares. Varsóvia está anunciando um programa militar de modernização multibilionário e o presidente ucraniano Viktor Yushchenko está pressionando seu governo para aumentar os gastos com a defesa. A Geórgia precisa se preocupar mais com a proteção ao seu território do que em participar nas missões dos EUA e da OTAN, alhures. (também ajudaria se tais nações não dessem início a conflitos com a Rússia, como, tem se tornado cada vez mais claro, fez Tbilisi.)
Estes países, também, deveriam trabalhar juntos para assegurar que qualquer agressão por Moscou irá sair caro, tão caro que não irá valer a pena. Cooperação regional similar está ocorrendo entre Finlândia, Noruega e Suécia. Além do mais, o restante da Europa deveria avaliar o risco de agressão russa e a apropriada resposta. A instabilidade na periferia da Europa é, de longe, uma preocupação maior para Berlim, Paris, Londres e Roma do que para Washington. É tempo para eles assumirem a responsabilidade primária por sua segurança continental.
O ponto não é que os Estados Unidos devam ser indiferentes ao destino do restante do mundo, mas que eles devam ser o eqüalizador extra-continental, antes do que o interventor de primeiro recurso. Os europeus tem, de longe, mais em risco em qualquer conflito continental e podem gastar um bocado mais com suas forças armadas para impedir agressão e vencer qualquer guerra. Deixem que eles façam isto. Washington deve ser vigilante e prevenida, pronta para ajudar a impedir uma possível potência hegemônica de conquistar o controle da Eurásia. O que, hoje em dia, quer dizer vigiar uma potência que não existe. Se um tal poder surgir, em algum futuro próximo, irá ser a China, não a Rússia.
Deixar a OTAN para os europeus significa não influenciar suas decisões de defesa. A Europa está cheia de conversa sobre fazer mais, militarmente. O presidente da França (e, atualmente, da União Européia) Nicolas Sarkozy bravateia sobre aprovar o Tratado de Lisboa e criar uma força mais robusta da UE. Karsten Voigt, que coordena as relações germano-americanas em Berlim, expressa esperança por “uma parceria igual” em “política externa e de segurança”.
Mas, de fato, há pouco sentimento na Europa para galgar os passos necessários para criar o tipo de forças armadas coletivas, necessárias para ser tratada como grande potência. O secretário da defesa britânico John Hutton previne: “O sucesso no Afeganistão está emergindo, rapidamente, como o teste da relevância da OTAN nesta nova era pós-Guerra Fria.” De outro modo, “a OTAN se arriscará a ser irrelevante.” Daniel Korskik, do Conselho Europeu sobre Relações Externas, de forma semelhante, sustenta, “O Afeganistão irá ser contemplado em Washington como teste da verdade se os Europeus podem ser levados à sério como parceiros estratégicos.” Se eles fracassarem, como certamente irão, está tudo bem. Eles não tem entusiasmo algum pela campanha anti-terrorista militarizada (e, por causa disso, mal-conduzida) de Washington.
Os europeus tem pouco entusiasmo pela defesa da Europa. Os ministros da UE, recentemente, concordaram em criar uma força de desdobramento de 60 mil soldados – mas só “nos anos vindouros”, seja lá o que isso queira dizer. O povo e os políticos da Europa podem contemplar o risco de guerra como pequeno demais para exigir a concessão de mais recursos para sua forças armadas. Eles podem decidir que os leste-europeus e outros não estão em perigo real, ou não valem a pena ser salvos. Está tudo jóia, também. Após seis décadas tratando a Europa como uma beneficiária indefesa, Washington deveria, metaforicamente, chutar sua criança para fora da casa, deixando os europeus com total controle e responsabilidade por seu próprio destino.
Além do mais, entregar a OTAN para a Europa não iria, de modo algum, limitar a formação de futuras “coalizões de boa-vontade” para cooperarem em expedições militares alhures. Reconhecer a ameaça para o comércio europeu representada pela crescente pirataria, levou a UE a enviar uma pequena força naval para patrulhar as águas ao largo da Somália. Mesmo assim, é improvável que a maioria dos estados europeus se junte, entusiasticamente, em conflitos reais, que exijam grandes forças: observem a relutância em enviar uma força de pacificação para o Congo ou transformar a missão de monitoramento do cessar-fogo em operação de pacificação na Geórgia, que dirá, engajar-se em combate no Afeganistão. No melhor dos casos, a aliança encoraja alguns países que, de outro modo, não iriam participar, a adularem Washington, ao enviarem, relutantemente, forças mínimas, obstruídas por salvaguardas nacionais. O preço para os Estados Unidos, por tal “ajuda’ não é digno de ser pago.
A política externa americana, e as instituições criadas para sua promoção, deveriam refletir as circunstâncias geopolíticas. A OTAN foi criada logo após a Segunda Guerra Mundial, para conter a União Soviética, durante a Guerra Fria. A aliança cumpriu seu objetivo. É tempo de Washington e a Europa avançarem.
O que virá a seguir, tratando-se da segurança européia? É problema dos europeus. Os americanos passaram as últimas seis décadas tomando conta de amigos e aliados, por todo o mundo. É tempo de eles começarem a tomar conta de si mesmos.
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Doug Bandow foi Assistente Especial do presidente Ronald Reagan. Ele é autor de Foreign Follies: America’s New Global Empire.