Bom, primeiro louvo mais uma vez o autor.
Escrever sobre um tema assim não é fácil, e meus comentários peço para que vejam como uma contribuição, um debate de alto nível, não uma crítica ácida.
Tomara que o mesmo continue a escrever.
Outra coisa: estou fora de casa, usando um laptop antigo, e deixei de transcrever as fotos que constam o final do artigo.
Para ver o original: http://pbrasil.wordpress.com/2010/09/01 ... more-26021
Reflexões sobre a defesa nacional: Defesa do mar territorial e zona econômica exclusiva – Parte 3 de 4
01/09/2010
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/127.png?w=504&h=379)
Autor: Vympel 1274
Plano Brasil
6. Que tipo de forças navais nós necessitamos?
Esta é uma pergunta chave, que para ser respondida pela MB ao governo federal demandou muito tempo de exposições ao NJ e ao Manga.
Existe um estudo profundo chamado "Projeto de Forças", que não há como ser mostrado aqui, e que apresenta a metodologia, os cálculos, as necessidades, etc.
Isto foi mostrado ao governo, e resultou no PEAMB.
O planejamento de uma marinha que esteja apta a defender nosso mar territorial tem de passar por condicionantes próprias, pois os possíveis adversários são esmagadoramente mais poderosos.
Aqui considero um erro grande, pois não podemos contar que nosso problema será única e exclusivamente a USN, como explicita o autor, usando seu método de nomear uma "ameaça". Isto seria uma irresponsabilidade dos governantes brasileiros.
Na verdade, a marinha dos EUA tem um orçamento de 172 bilhões de dólares, ou seja, a curto e médio prazo nunca chegaremos á um nível de poder suficiente para enfrentar a marinha americana nos mesmos termos, isso sem contar as marinhas da OTAN.
Mais uma vez interpreto que o autor desconhece o PEAMB, ou veria que a MB será MUITO mais capaz que a maioria das marinhas européias.
E nenhuma marinha do mundo, hoje, consegue enfrentar a USN nos mesmos termos.
É necessário procurar diferentes alternativas táticas, que devido á sua possibilidade de sucesso, venham á funcionar como efeito dissuasório contra nossos possíveis agressores. A dissuasão é prioridade!
E consta da END.
Mas o autor desconhece como se dá a dissuasão. Não é por meio de alternativas táticas, como sabemos aqui no DB, ou não?
Estratégia de negação de uso do mar
Aqui este tópico, se lido desde o início, dá ao DBista uma vantagem enorme no debate.
A prioridade para qualquer marinha é o controle do mar, pois ele permite que o país que o exerça tirar proveito deste controle, ou seja, continuar com suas atividades econômicas, com seu comércio, manter suas LCM, explorar e explotar os recursos de sua ZEE, impedindo que o inimigo interfira na vida de sua população.
Negação do uso do mar é o que pode fazer o mais fraco, deixando o controle do mar, e suas vantagens, para o inimigo, fazendo com que sua população sofra as consequências.
Em um primeiro momento, deve-se buscar a negação do uso do mar para as forças navais inimigas, ou seja, garantir que o inimigo não consiga manter controle do mar territorial e da zona econômica exclusiva, através de ações de ataque aos meios navais do inimigo por mísseis antinavio disparados por aviões ou submarinos, pois diferentemente das forças de superfície, essas são armas próprias para a função de negação de uso do mar.
Ou seja, de antemão desistimos de controlar o mar.
Este é o erro de pensar em uma ameaça (USN) somente, e não visualizar a possibilidade de termos que enfrentar outros conflitos.
Se nossa marinha fosse formatada para negar o uso do mar, somente, esquecendo das outras tarefas básicas do poder naval (
), como transportaríamos os FNs e a carga para o Haiti, p. ex?
Em uma crise internacional político-estratégica (
), teríamos somente meios não adequados para a manobra de crise (
), que precisariam ficar ocultos (subs) e que usam armas de destruição, não podendo regular a força.
Negação do mar é um termo militar que descreve as tentativas de negar a capacidade do inimigo para uso de determinada área marítima, mas ao mesmo tempo, não fazendo nenhuma tentativa de controlar esta mesma área. É uma estratégia mais fácil de realizar do que o controle do mar, devido ao aporte de recursos militares serem muito menores que os necessários para uma missão de controle marítimo, além de, no nosso caso, estarmos operando em nossa “casa”, sendo esse detalhe um fator diluidor do poder de combate do inimigo, por maior que seja seu orçamento.
Operando "em nossa casa", deixando o inimigo controlar nossos campos de petróleo, disparar armas contra nossa população, etc. Como sabemos, esta é a única opção do mais fraco.
E não consigo formatar minha mente para sermos eternamente os mais fracos.
A desvantagem de negação do mar é que as forças militares podem tornar-se sobrecarregadas, devido á tática de “bater e correr” característica da negação de uso do mar. Pode desgastar a força militar defensora, se não existirem meios em número suficiente,
deixando-os despreparados para uma ação direta contra a frota principal.
Aqui uma contradição, não?
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/210.png?w=512&h=385)
Submarino convencional Scorpene, de fabricação francesa. Se forem confirmados os níveis de transferência de tecnologia, inclusive a de construção de submarinos nucleares, esse programa, embora caríssimo, fornecerá ao Brasil um salto tecnológico comparável, ou até maior, que o programa AMX da força aérea brasileira representou.
Durante a primeira e a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha utilizou em uma estratégia de negação do mar com seus U-Boats. Eles tentaram negar aos Estados Unidos a capacidade de transporte de suprimentos para a Grã-Bretanha, mas não tentaram ganhar o controle do mar para que eles pudessem transportar suas próprias fontes de suprimento.
Na IGM a população alemã ficou sem comida, sofrendo de inanição.
Nenhum país, dependente do mar, que optou por somente negar o uso do mar ganhou uma guerra.
A negação de uso do mar é a alternativa das marinhas menores e com menos recursos, pois a construção naval requer anos e enormes recursos financeiros para a produção de navios de superfície e porta-aviões, sem falar no domínio da tecnologia para a construção dos mesmos.
Devido á esses fatores, acredito que a melhor opção para nosso país seria desenvolver nossa marinha de maneira semelhante á marinha soviética/russa, iniciada no pós guerra e amadurecida durante a guerra fria, com seu poder naval baseado na aviação naval AV-MF (Aviatsiya Voyenno-Morskoy Flota) e na força de submarinos nucleares e convencionais. Não é por acaso que a marinha Soviética / Russa seja a única no mundo que considere o submarino como seu navio capital.
De novo a ameaça da USN, esquecendo todas as outras.
Mas o autor esquece aqui, mas fala adiante, da tentativa soviética de criar uma marinha oceânica apta a enfrentar a USN, como os chineses estão fazendo em nosso tempo.
Abaixo uma análise da marinha soviética e suas táticas, e vou me abster de comentar, pois para mim não é o foco do debate.
Parabéns ao autor.
7. Desenvolvimento da marinha soviética no pós-guerra e guerra fria
No final da 2ª guerra mundial, os Estados Unidos se firmaram principalmente como potência marítima, devido ao seu envolvimento no teatro de guerra do pacífico na guerra com o Japão, construindo uma frota de combate que primava pela projeção de poder baseada em porta-aviões. A perspectiva soviética sempre foi o desenvolvimento das forças terrestres (exército), pois a União Soviética/Rússia é um país eminentemente terrestre. Com a guerra fria os soviéticos estavam em grande inferioridade em termos navais, tanto tecnológicos como em concentração de poder.
O orçamento militar soviético seguia essas prioridades:
1º – A força de foguetes nucleares estratégicos;
2º – O exército;
3º – A força de defesa aérea;
4º – A força aérea;
5º – A marinha.
A marinha sempre figurou como a menos favorecida das forças armadas, pelo fato do país ser uma potência eminentemente terrestre, tendo seu litoral na maior parte congelado. No entanto, com a disputa do poder mundial, a marinha soviética deveria estar em condições de enfrentar as marinhas do ocidente em pé de igualdade.
Estabelecimento da doutrina naval soviética
Estando cientes que levariam décadas até construir uma frota de águas azuis que pudesse rivalizar com a marinha americana nos mesmos termos, foi desenvolvida primeiramente uma força que primava a negação do uso do mar para as marinhas ocidentais (visando proteger os “santuários” de SSBN soviéticos), em que a prioridade de destruição seriam os SSBN (submarinos com mísseis balísticos intercontinentais) das marinhas do ocidente, os comboios comerciais, as linhas de suprimento REFORGER da OTAN na Europa, e os grupos de batalha centrados em porta-aviões das marinhas dos EUA / OTAN.
Esta força, ciente que atuaria contra um inimigo maior e mais poderoso, utilizava-se da surpresa e da pouca visibilidade inerente aos sistemas de armas utilizados para a negação do mar. Foi desenvolvida uma aviação naval especializada em ações antinavio, com mísseis supersônicos com ogivas com cerca de 1.000 kg de explosivo, voltada para a destruição prioritária de porta-aviões, sendo imperativo que toda e qualquer plataforma de combate pudesse disparar tais mísseis.
Dados numéricos Kh-22 (AS-4 Kitchen) AGM-84 Harpoon
Em serviço 1962 1977
Peso 5.820 kg 1.144 kg
Comprimento 11.65 m 4.7 m
Diâmetro 181 cm 1.1 m
Ogiva 1000 kg convencional / 1 MT nuclear 221 kg
Velocidade 4.500 km/h 864 km/h
Alcance 500 km 100 km
Tabela comparativa entre as características e dimensões do principal míssil antinavio soviético / russo e sua contraparte americana, utilizada pelas marinhas da OTAN.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/48.png?w=499&h=248)
Míssil de cruzeiro supersônico de longo alcance Raduga Kh-22 (AS-4 Kitchen), ao lado de sua aeronave lançadora, o Tu-22M3 “Backfire”.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/510.png?w=508&h=217)
Míssil de cruzeiro subsônico de médio alcance AGM-84 “Harpoon”, sob a asa de uma aeronave de patrulhamento marítimo Lockheed P-3C “Orion”.
A prioridade no ataque aos meios navais de combate do inimigo são os porta-aviões, os quais forneciam apoio e defesa aérea integral para toda a frota. Uma vez que estes fossem postos fora de ação, o conflito iria pender para a marinha soviética, pois esta lutaria sob a proteção da aviação naval de longo alcance, e os mísseis antinavio que equipavam seus navios, bombardeiros e submarinos, tinham um alcance muito maior que seus equivalentes ocidentais, além de um poder destrutivo muito maior. Esse ataque deveria ser realizado nas etapas iniciais do confronto, com o máximo de intensidade, visando saturar as defesas do grupo de batalha centrado em porta-aviões com um número enorme de mísseis antinavio disparados por bombardeiros, submarinos e até os navios de superfície, vindos de várias direções ou não, todos ao mesmo tempo. Esta doutrina ficou conhecida por “batalha de única salva”, sendo desenvolvida pelo almirante da União Soviética Sergey Georgiyevich Gorshkov, considerado o homem que transformou uma marinha costeira na única marinha do mundo com condições de vencer a marinha dos Estados Unidos.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/610.png?w=246&h=333)
Almirante da União Soviética Sergey Georgiyevich Gorshkov (26 de fevereiro de 1910 – 13 de maio de 1988)
O problema da detecção da frota inimiga e orientação de mísseis de cruzeiro
A parte mais complexa de uma operação contra forças navais de superfície é a detecção da mesma em mar aberto, juntamente com a orientação dos mísseis de longo alcance até seus alvos. Isso deve-se as grandes distâncias envolvidas no mapeamento da superfície do mar e da própria curvatura da terra, a qual bloqueia os radares de orientação que estiverem posicionados próximos ao nível do mar, ficando restrita a designação de alvos a um raio de somente 32 km do navio lançador. Para isto, é necessária a chamada “orientação de médio curso”, normalmente fornecida por plataformas diferentes do próprio navio lançador.
Foram priorizadas as seguintes capacidades:
a) Desenvolvimento de satélites para reconhecimento marítimo;
b) Desenvolvimento da capacidade de reconhecimento / ataque / designação de alvos pela aviação naval;
c) Desenvolvimento de navios de superfície com capacidades múltiplas;
d) Desenvolvimento de mísseis supersônicos de grande porte com função anti porta-aviões, á serem utilizados por navios, aviões e submarinos;
e) Desenvolvimento de submarinos capazes de operar mísseis de grande porte (SSGN).
f) Utilização da frota mercante e traineiras para apoio á frota de combate e levantamento de dados de inteligência atualizados.
Satélites de reconhecimento marítimo RORSAT / EORSAT
A necessidade de um satélite de vigilância marítima e detecção de alvos navais nasceu na União Soviética no início dos anos sessenta. Naquele tempo, foram desenvolvidos uma série de mísseis anti-navio de longo alcance, mas não foi resolvido o problema de localização de alvos, especialmente em situações em que os alvos situavam-se “além do horizonte”, até a introdução dos referidos satélites. Foram desenvolvidos dois tipos de satélites de reconhecimento naval:
Sistema RORSAT
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/78.png?w=445&h=342)
(Radar Ocean Reconnaissance SATellite – Satélite de Reconhecimento Marítimo por Radar
O satélite de reconhecimento marítimo US-A (Upravlyaemyj Sputnik Aktivnyj – Satélite de Reconhecimento Ativo) é um satélite do tipo RORSAT (Radar Ocean Reconnaissance SATellite – Satélite de Reconhecimento Marítimo por Radar) .US-A foram cruciais na estratégia naval soviética. São satélites movidos á energia nuclear para manutenção de sua órbita, utilizando um radar de varredura ativa para localizar forças de superfície da OTAN / EUA. Foi capaz de identificar a localização exata das frotas inimigas, com vigilância continuada e sua cobertura englobava todo o planeta. Ele era o único sistema desse tipo em uso no mundo á alcançar esse nível de vigilância. As informações recolhidas são fornecidas a embarcações, aeronaves e submarinos em tempo real, e isso permitiu a realização de ataques bem-sucedidos “além do horizonte.” A eficácia do sistema foi provada quando a marinha soviética forneceu o posicionamento da frota britânica para a marinha argentina, o que resultou no afundamento do HMS Sheffield, durante a guerra das Malvinas/Falklands.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/88.png?w=457&h=363)
HMS Type 42 “Sheefield” atingido por um míssil Exocet AM-39, disparado por uma aeronave Super Etendard da marinha argentina. O ataque somente teve êxito devido ao fato dos satélites soviéticos fornecerem a posição da frota naval britânica para o comando da aviação naval argentina.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/96.png?w=472&h=401)
Fotografia de radar feita por um satélite do tipo RORSAT, de um navio porta-contêiner. Os níveis de definição das imagens dos satélites militares atuais são muito maiores que os aqui apresentados.
Sistema EORSAT
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/106.png?w=496&h=251)
Electronic OCean Reconnaissance SATellite – Satélite de Reconhecimento Marítimo Eletrônico
O US-P (Upravlenniye Sputnik Passivny – Satélite de Reconhecimento Passivo), é um satélite do tipo EORSAT (Electronic OCean Reconnaissance SATellite – Satélite de Reconhecimento Marítimo Eletrônico). São satélites movidos á energia nuclear para manutenção de sua órbita, com a função de acompanhamento passivo das forças navais da OTAN / EUA, através do monitoramento de SIGINT (inteligência e análise de emissões eletromagnéticas), ou seja, acompanhamento das emissões de radares, rádios e criptografia das forças navais inimigas. O US-P foi substituído pelo mais moderno US-PM (Upravlenniye Sputnik Passivny Modifikirovanny – Satélite de Reconhecimento Passivo Modificado) em 2006, o qual passou a ser movido á energia solar.
Capacidade de reconhecimento / ataque / designação de alvos da aviação naval soviética
Anos 60 até 80
As aeronaves da aviação naval representavam um papel de máxima importância na doutrina da marinha soviética, pois antes dos satélites RORSAT / EORSAT estarem disponíveis na década de 70, a detecção da frota inimiga e a orientação de médio curso dos mísseis antinavio soviéticos, eram feitos através de aeronaves especializadas em patrulha marítima (Tu-142M “Bear” F) e na designação de alvos além do horizonte (Tu-95RT “Bear D”).
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/1112.png?w=600&h=211)
O Tu-142M Bear F é a maior aeronave de patrulha marítima da Rússia, fazendo dupla com o Il-38 “May”. É maior e mais rápido que o P-3C Orion e normalmente, armado com armas pesadas de ASW. A Índia é o único cliente de exportação para o Bear F, operando pelo menos oito aeronaves. Os Tu-142M Bear F indianos devem sofrer uma atualização completa e serem compatibilizados com o míssil de cruzeiro supersônico Brahmos.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/128.png?w=600&h=252)
O Tu-95RT Bear D, uma aeronave de inteligência marítima projetada para fornecer designação de alvos “além do horizonte” para a frota de guerra soviética e, especialmente, os submarinos armados com mísseis de cruzeiro. Suas informações e imagens de radar eram retransmitidas através de um datalink para submarinos submersos, navios e aeronaves de ataque. O Tu-95RT Bear D foi substituído pelos satélites de reconhecimento marítimo EORSAT/RORSAT. Observem o domo ventral onde está localizado o radar de vigilância de superfície.
A missão de ataque antinavio com mísseis supersônicos, ficava a cargo das aeronaves Tu-22 “Blinder”, equipadas com mísseis Raduga Kh-22 (AS-4 “Kitchen”). O Blinder também tinha as versões de guerra eletrônica (Tu-22P “Blinder E”) e de reconhecimento (Tu-22R “Blinder C”). Todas as versões do Tu-22 “Blinder” foram totalmente substituídas pelos mais novos e capazes Tu-22M3 “Backfire” em 1984.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/136.png?w=600&h=270)
O Tu-22 “Blinder” foi um bombardeiro inicialmente projetado para ser multifunção, mas seu desempenho relativamente limitado e a não-adequação para as missões antinavio á ele destinadas, forçaram os engenheiros aeronáuticos soviéticos a desenvolverem um novo bombardeiro, o Tu-22M “Backfire”. O nome parecido das duas aeronaves deve-se a tentativa de seu projetista de conseguir verbas para um novo bombardeiro, o qual o estado-maior soviético não admitia iniciar um projeto a partir do zero. Usando uma designação parecida, pensava-se ser um projeto baseado no Tu-22 “Blinder”. Na verdade, o “Backfire” (designação real Tu-26) é um projeto totalmente novo.
O Tu-16 “Badger G” transportava o míssil Raduga KSR-5 (AS-6 “Kingfish”) em missões antinavio Outra função desempenhada pelas variantes do Tu-16, além do lançamento de mísseis, eram as de guerra eletrônica (EW) e medidas eletrônicas de apoio (ESM), levada a cabo pelo Tu-16 “Badger H”. As versões do Tu-16 “Badger”, foram retiradas de serviço na década de 80.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/147.png?w=548&h=356)
Aeronave Tu-16 “Badger”
Anos 80 até o presente
A partir de 1985, as missões de ataque contra grupos de batalha centrados em porta-aviões, passariam a ser realizadas pelos bombardeiros supersônicos Tu-22M3 “Backfire C”, os quais utilizam os mísseis supersônicos antinavio Raduga Kh-22 (AS-4 “Kitchen”).
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/153.png?w=594&h=259)
Tu-22M3 “Backfire C” aproximando-se para o pouso. Esta aeronave é a ponta de lança da capacidade ofensiva da marinha Russa, quando combinada com mísseis supersônicos de longo alcance Kh-22.
O Tu-22M3 “Backfire C” ainda encontra-se em serviço e é uma aeronave singular, a qual foi projetada com a finalidade específica de penetrar as defesas do grupo de batalha centrado em porta aviões dos EUA. Suas características únicas não tem similares no ocidente. Para substituir as aeronaves que auxiliavam na penetração das defesas do grupo de batalha centrado em porta aviões (Tu-95RT “Bear D”, Tu-16K “Badger G” e Tu-16K “Badger H”), foram desenvolvidas duas novas versões do Tu-22M “Backfire”. A versão de guerra eletrônica Tu-22MP (equipada com sistemas de guerra eletrônica para ocultação da força de ataque durante a penetração das defesas) e a versão Tu-22 MR (para reconhecimento e designação de alvos além do horizonte) equipada com um SLAR (Side Looking Airborne Radar – radar de busca lateral) e equipamentos ELINT.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/164.png?w=600&h=450)
Míssil Raduga Kh-22 (AS-4 Kitchen) sob a asa esquerda de um Tu-22M3 “Backfire”.
Durante a Guerra Fria, os soviéticos mantinham divisões de Backfire no Mar Báltico (uma divisão), no mar do Norte, no mar Mediterrâneo e no Mar Negro (três divisões) e no Pacífico e Japão (uma divisão).
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/173.png?w=600&h=303)
Tu-22M3 “Backfire C” taxiando pela pista, ficando em evidência suas entradas de ar, semelhantes as do Mig -25 “Foxbat”.
Táticas de ataque marítimo utilizadas pelos Backfire
Em um ataque de Backfire, são enviados os modelos Tu-22M3 “Backfire C” (transportadores de mísseis) e a versão Tu-22MP (guerra eletrônica para auxílio na penetração de defesas). O modelo padrão de ataque seria um regimento (24 aeronaves), com Tu-22M3 (18 aeronaves), acompanhadas por Tu-22MP (06 aeronaves) na proporção de três para um. Os Tu-22MP fariam interferência contra radares da frota e contra os interceptadores. A penetração era a baixa altitude em um perfil Hi-Lo-Hi (alto-baixo-alto) para evitar ao máximo a detecção pelo radar. Ao entrar no envelope de lançamento do míssil (AS-4 “Kitchen” – 500 km ou AS-6 “Kingfish” – 750 Km), as aeronaves subiriam para a altidude de lançamento dos mísseis e os disparariam ao mesmo tempo. Realizariam uma curva em 180º e, em velocidade supersônica, deixariam o local, ainda realizando interferência eletrônica nos radares da frota e de suas aeronaves. Um regimento com 24 aeronaves saturaria um grupo de ataque centrado em porta-aviões com 50-75 mísseis (tendo como alvo prioritário o porta-aviões), isso sem contar com os disparados de submarinos de ataque com mísseis de cruzeiro supersônicos posicionados próximos á frota!
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/182.png?w=572&h=329)
Tripulação de um Tu-22M3 “Backfire C”
Outra tática seria a utilização de antigos mísseis antinavio já retirados de serviço (AS-3 “Kangoroo” ou AS-5 “Kelt”) desarmados, sendo lançados á partir de bombardeiros. Seriam reprogramados para seguir um plano de vôo em rota pré-selecionada, em direção á força tarefa, voando em formação idêntica aos bombardeiros Tu-22M3 “Backfire C”, estando equipados com um simulador da seção reta do radar do Tu-22M3 “Backfire C”, para enganar os radares da força tarefa centrada em porta-aviões quanto á verdadeira identificação do alvo.
Ao detectar tais alvos com essas características, os caças F-14A “Tomcat”, vetorados pelos E-2C “Hawkeye” seriam despachados para destruí-los, deixando desprotegida, ou menos guardada, a verdadeira rota de penetração dos bombardeiros Tu-22M3 “Backfire C”, por onde os quais atacariam a frota.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/192.png?w=544&h=364)
Representação gráfica do lançamento de “chamarizes” por bombardeiros Tu-16 “Badger”, utilizando antigos mísseis AS-5 “Kelt”, para iludir os radares da força tarefa quanto á verdadeira rota de penetração dos bombardeiros Tu-22M3 “Backfire C”.
Como a maior ameaça para o Backfire se resume na dupla F-14 “Tomcat” / E-2 “Hawkeye”, para que a penetração nas defesas do grupo de ataque centrado em porta-aviões seja viável, deve existir uma coordenação de todas as fontes de informações para localizar o CSG e pesadas ECM para “camuflar” a aproximação da força de Backfire. Também foi desenvolvido o sistema de mísseis Raduga Kh-15 (AS-16 “Kickback”), projetado para sair do envelope de engajamento do míssil de defesa aérea AIM-54 “Phoenix” lançado pelo F-14 “Tomcat”. O Kh-15 sobe a uma altitude de cerca de 40.000 m (130.000 pés) e depois mergulha no alvo, acelerando a uma velocidade de cerca de Mach 5, que o torna o sistema de mísseis antinavio mais rápido até o momento. O Tu-22M3 “Backfire C” dispõe de um lançador rotatório com capacidade de transportar até seis mísseis Kh-15 internamente, com mais quatro mísseis externamente.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/201.png?w=513&h=333)
Mísseis Kh-15 (AS-16 Kickback) no lançador giratório interno de um Tu-22M3. É o equivalente russo aos AGM-69 SRAM norte-americanos. Observem os mísseis Raduga Kh-22 (AS-4 Kitchen) nos suportes sob a asa da aeronave.
![Imagem](http://pbrasil.files.wordpress.com/2010/08/212.png?w=600&h=347)
Tupolev Tu-95 / 142 “Bear” (designação de alvos / patrulhamento marítimo) e o Tupolev Tu-22M3 “Backfire C” (ataque antinavio). Foram as aeronaves mais importantes da marinha soviética e são atualmente, as aeronaves mais importantes da marinha da federação Russa.
Inventário atual da Aviação Naval Russa
Aeronave Tipo Versões Em serviço Notas
Sukhoi Su-27 Flanker Caça Su-27 88 -
Sukhoi Su-33 “Flanker-D“ Caça Su-33 23 Concebido para o serviço no Admiral Kuznetsov
Mikoyan Gurevitch MiG-31 “Foxhound“ Caça MiG-31 30 -
Sukhoi Su-24 “Fencer“ Ataque Su-24M 58 Modernização planejado para atingir o nível M2.
Sukhoi Su-25 “Frogfoot” Ataque Su-25 14 8 UBPs e 6 UTGs – usado para treinamento de pilotos para o Caça Su-33
Tupolev Tu-22M3 “Backfire” Bombardeiro estratégico e anti-navio Tu-22M3 88 35 operacionais com a Frota do Norte e 15 operacionais com a frota do Pacífico.
Tupolev Tu-142 “Bear-F” ASW de longo alcance Tu-142MK/MZ 16 08 na Frota do Norte e 08 na Frota do Pacífico
Ilyushin Il-38 “May” ASW de médio alcance Il-38 26 11 em serviço com a Frota do Norte, 15, com a Frota do Pacífico
Sukhoi Su-24 MR “Fencer“ Reconhecimento Su-24MR 20 -
Mil Mi-24 “Hind” Helicóptero de ataque Mi-24 20 -
Mil Mi-8 “Hip” Helicóptero de transporte Mi-8 35 -
Kamov Ka-27 “Helix” Helicóptero de ASW Ka-27/29/32 88 72 usado para ASW, enquanto o resto de 16 utilizados para transporte.
Tupolev Tu-22M3 “Backfire” Bombardeiro estratégico e anti-navio Tu-22M3 88 35 operacionais com a Frota do Norte e 15 operacionais com a frota do Pacífico.
Fontes: Wikipédia e RusNavy.com
Navios de superfície com capacidades múltiplas
Uma característica notável dos navios de superfície da marinha soviética era que estes tinham a necessidade de serem dotados de capacidade máxima antiaérea (AAW), antinavio (ASuW) e antisubmarino (ASW), diferentemente dos seus equivalentes das marinhas ocidentais, que preferiam especializar o navio em uma determinada função. Isto acontecia devido ao fato de não contarem com apoio aéreo integral fornecido por porta-aviões. Na prática, deviam operar com suas próprias armas defensivas isoladamente, mas dentro da doutrina naval soviética, que preconizava que estes deveriam atacar a força tarefa inimiga somente depois dos porta-aviões terem sido destruídos. São exemplos os cruzadores das classes Kirov e Slava, e os destóieres das classes Sovremenny e Udaloy.
A marinha soviética foi uma das primeiras do mundo a dotar seus navios com sistemas de lançamento vertical de mísseis, tendo alguns desses sistemas capacidade antimíssil, como os S-300FM (SA-N-6 “Grumble”), 3K96 ”Kinzhal” (SA-N-9 “Gauntlet”), 9K37 Shtil (SA-N-12 “Grizzly”).
Seus sistemas de defesa de ponto (CIWS) como Kashtan ou o AK-630 são considerados os melhores do mundo e são prioridades em instalação nos navios de guerra ou de apoio. Diferentemente das marinhas ocidentais, os soviéticos utilizavam um número desses sistemas em cada plataforma que variam de no mínimo dois sistemas até um máximo de oito sistemas.
Mísseis supersônicos disparados por navios, aviões e submarinos
Os mísseis antinavio soviéticos eram consideravelmente maiores e com uma ogiva de muito maior rendimento que seus equivalentes ocidentais, devido á sua função prioritária anti porta-aviões. A velocidade deveria ser supersônica, visando diminuir ao máximo o tempo de resposta dos sistemas antimísseis que a frota era dotada. Ou seja, o AS-4 “Kitchen” (alcance máximo de 500 km), com uma velocidade de 4.500 Km/h, percorre 562.5 km em cerca de sete minutos e meio! A ogiva deveria ser grande o suficiente para que, mesmo que somente um único míssil atingisse o porta-aviões, fosse o suficiente para desabilitar ou destruir o mesmo, paralisando as atividades aéreas e passando a vantagem para a marinha soviética.
Missil Raduga Kh-22 (AS-4 “Kitchen”) sob a asa esquerda de um Tu-22M3 “Backfire C”.
Missil Raduga KSR-5 (AS-6 “Kingfish”) sob a asa esquerda de um Tu-16 “Badger G”.
P-500 “Bazalt” (SS-N-12 “Sandbox”)
P-700 “Granit” (SS-N-19 “Shipwreck”)
Lista dos principais mísseis antinavio em uso atualmente na Federação Russa:
P-500 Bazalt (SS-N-12 “Sandbox”)
P-700 Granit (SS-N-19 “Shipwreck”)
P-270 Moskit (SS-N-22 “Sunburn”)
Raduga Kh-22 (AS-4 “Kitchen”)
Raduga KSR-5 (AS-6”Kingfish”)
Raduga Kh-15 (AS-16 “Kickback”)
PJ-10 Brahmos
Submarinos com mísseis de cruzeiro de grande porte (SSGN)
A principal característica dos submarinos soviéticos lançadores de mísseis de cruzeiro (SSGN), quando comparados aos seus equivalentes ocidentais era que, diferentemente dos ocidentais, seus mísseis não ficavam restritos ao calibre dos tubos lança-torpedos. Os submarinos soviéticos eram projetados e construídos para operarem um determinado tipo de míssil antinavio, como já foi dito, de velocidade supersônica, grandes dimensões e grande ogiva, derivados da sua função original anti porta-aviões. Tais mísseis eram acondicionados no casco do submarino, dando-lhes uma aparência “achatada”, diferente dos submarinos ocidentais.
SSGN Classe Oscar II. Observem que em ambos os lados do casco, existem seis portas, contendo em cada uma delas, dois mísseis antinavio P-700 “Granit” (SS-N-19 “Shipwreck”), perfazendo um total de 24 mísseis supersônicos antinavio, com alcance de até 600 km.
Equipe de manutenção em um silo de lançamento de um SS-N-19 “Shipwreck” de um SSGN Classe Oscar II.
Utilização da frota mercante e traineiras de pesca
As traineiras de pesca compreendem outro elemento da missão de levantamento de informações. Os soviéticos tinham uma das maiores frotas de traineiras de pesca do mundo, com cerca de 4.000 navios em alto mar, prontos para servirem como apoio logístico para a frota de guerra em caso de necessidade. Os soviéticos tinham cerca de cinquenta navios para o recolhimento de informações, chamados AGIs, que se pareciam muito com traineiras de pesca, operando encobertamente no meio destes. Os AGIs (navios designados para coleta de inteligência), são muitas vezes vistos realizando o monitoramento do tráfego naval perto de bases da marinha dos EUA, na Escócia, Espanha e Guam. Freqüentemente, os AGIs são avistados ao largo da costa leste e oeste dos Estados Unidos, onde desempenhavam um papel ativo na transposição de dados de inteligência para a União Soviética, a respeito das freqüências e assinaturas dos radares dos navios da OTAN/EUA. Esses dados eram utilizados pelos satélites EORSAT (para identificar pela assinatura eletromagnética os diferentes tipos de navio de superfície) e pelos sistemas de guerra eletrônica, para guiagem de mísseis e interferência nos radares da força tarefa.
AGIs (navios designados para coleta de inteligência) convertidos a partir de navios da classe “Moma”, de pesquisa marítima. Sua aparência de navios pesqueiros encobrem o fato destes navios serem plataformas de guerra eletrônica altamente especializadas, monitorando as assinaturas eletromagnéticas atualizadas das forças navais da OTAN/ EUA em águas internacionais em todo o mundo o ano todo.
A estratégia de negação do uso do mar traduz vantagens para as forças defensoras que a empregam, principalmente se estas lutam dentro de seu território ou próximo dele (utilizando aeródromos e bases de apoio terrestres). A desvantagem é que a posição dessas bases e pontos de apoio, pelo fato de serem terrestres, tem sua posição conhecida. Uma maneira de impedir esta situação é o uso da tática de “dispersão”, na qual os meios aéreos são dispersos em várias pistas de pouso camufladas e o uso de rodovias de trânsito. O país que mais utiliza esta tática é a Suécia, com seus JAS-39 “Gripen” dispersados em várias rodovias do país e seus pontos de apoio e hangares abrigados em cavernas e florestas.
Continua…