Re: NOTÍCIAS
Enviado: Seg Jun 14, 2010 1:06 pm
INOVAÇÃO & ENGENHARIA
Indústria da defesa demanda aço blindado nacional
Usiminas desenvolve projeto para criar versão verde-amarela do insumo, de olho nas viaturas
encomendadas à Iveco
Nivaldo Souza
Ter aço blindado brasileiro
capaz de concorrer com o
importado é a meta do Ministério da
Defesa para fomentar, no longo
prazo e com fins pacíficos, o
renascimento da indústria de defesa
nacional. O desafio tecnológico e
econômico faz o Exército estimular
a Usiminas e a Villares Metals a
correrem para embarcar o aço
balístico brasileiro nas 2.044
viaturas blindadas de transporte
pessoal-média de rodas (VBTPMR),
encomendadas à Iveco por R$
6 bilhões, com o foco de fazer o
Brasil voltar ao topo da tecnologia
alcançada nos anos 1980 coma Engesa, que exportou o tanque Urutu para diversos países.
“Dentro do programa de reaparelhamento das Forças Armadas, o projeto família de blindados
média de rodas (FBMR) tem como orientação estratégica capacitar a indústria brasileira para fornecer
equipamentos capazes de promover o ressurgimento de uma empresa integradora de viaturas
blindadas”, diz o gestor do FBMR, coronel do Exército Matias Lopes.
A investida envolve técnicos do Centro de Tecnologia da Usiminas no desenvolvimento de placas
de aço resistentes. Eles venceram o primeiro estágio tecnológico e, agora, aguardam o resultado de
testes balísticos para imprimir escala industrial ao produto até 2012. “Estudamos seis composições
químicas de aço e escolhemos as duas como melhor apelo técnico-industrial. Estamos laminando as
provas que irão ao Exército para levar tiro”, antecipa o diretor de pesquisa e inovação da empresa,
Darcton Policarpo Damião.
À prova de bala
Produzido em mini-siderúrgica laboratorial da
Usiminas em Ipatinga (MG), o aço blindado segue as
especificações técnicas criadas pelos EUA durante a
Guerra do Vietnã para suportar tiros de balas de
chumbo revestidas por outras ligas metálicas,
conhecidas pelo jargão MIL DTL 46100. Isso significa
que o aço balístico, diferentemente dos demais, precisa
equilibrar tenacidade e dureza. Ou seja, tem de
combinar resistência a projéteis e absorção de impacto.
Isto porque, em aços normais, quanto maior a dureza,
menor a absorção.
(A dureza deve oscilar entre 477 a 534 BNH
(Brinell Hardness Number—índice) de recuo do aço ao
ser perfurado, ou seja, a capacidade de absorver
projéteis). A espessura é bem superior ao do aço normal sem revestimento, que varia de 150 a 200 BHN.
Com isso, o blindado pode atingi até 50,8 milímetros de espessura — o suficiente para suportar tiros de
diversos calibres. “O aço é uma das partes do sanduíche de três ou quatro itens que são combinados
para proteger o veículo de combate” observa Damião.
Escala comercial
Ganhar demanda, contudo, é o maior obstáculo à versão nacional do aço blindado. Embora
exista vontade estatal de ter o insumo para diminuir a dependência do importado — estratégico para não
sofrer embargos similares ao imposto pelos EUA no início da Guerra do Iraque, proibindo a exportação
para atender sua demanda armamentista —, falta escala de comercialização. É pensando nisso que a
Usiminas estuda flexibilizar o blindado para o mercado de segurança civil, menos rigoroso quanto ao
quesito resistência.
Retomada de caminho pela indústria de defesa
Em 1987, durante a exposição militar Satory, nos arredores, de Versalhes, na França, conversei
com executivos da Panhard, empresa líder no mercado mundial de veículos blindados leves desbancada
pela brasileira Engesa. Na ocasião, os executivos afirmaram de forma solene: “A Engesa nos ensinou a
vender.”
A declaração pode ser também aplicada à Embraer que em três oportunidades teve o produto
certo. Para muitos, ela criou o mercado para seus aviões: nos anos 1970, com a desregulamentação do
setor aéreo, tinha aeronaves confiáveis e com capacidade de passageiros que permitiram o seu emprego
pelas empresas aéreas regionais americanas, como o Bandeirante. Nos anos 1980, o Brasília dava mais
conforto aos passageiros e possuía maior velocidade; nos anos 1990, e na primeira década do novo
milênio, a família EMB 145 teve mais de 1,1 mil unidades produzidas. Caso também da Avibras, que
desenvolveu o sistema de foguetes de saturação Astris II para atender solicitações do Iraque de Saddan
Hussein — a arma contribuiu para impedir a derrota daquele país para o Irã.
O que há em comum nos fatos acima? Em todos, a lei do mercado funcionou de forma inexorável
e sempre voltada ao exterior. Essas mesmas leis se impuseram mais ainda com os excedentes da União
Soviética e os rearranjos pós-queda do Muro de Berlin, fazendo a indústria brasileira de equipamentos de
defesa desaparecer. Caso do avião tático AMX, desenvolvido e produzido em conjunto com a Itália, que
não conseguiu uma única venda internacional.
Agora, um dos pilares da Estratégia Nacional de Defesa (END), estabelecida em 2008, é
recuperar a indústria brasileira como fornecedora das Forças Armadas Brasileiras e competidora do
mercado internacional. Para isso, o Ministério da Defesa requer generosas porções de transferência de
tecnologia em acordos recém- estabelecidos ou em vias de serem estabelecidos (helicópteros,
submarinos e os prováveis caças do Programa F-X2). O desafio para essa incipiente indústria nacional é
desenvolver tecnologia própria ou internalizar a tecnologia obtida de estrangeiras, criar núcleos que
possam agregar conhecimento.
Mas o desafio maior é obter mercado (interno ou externo?). Ainda mais quando o principal
consumidor, o Pentágono (EUA), sinaliza que reduzirá suas compras e quando surge no horizonte um
competidor formidável: a China. O país asiático, afastado muitos anos da cena internacional, por
problemas internos e de reorganização de sua indústria de defesa, entra inclusive no mercado latinoamericano.
A China fornece carros de combate ao Peru e aviões de treinamento e radares à Venezuela.
Nesse ambiente, a indústria brasileira e as Forças Armadas Maguardam com ansiedade a
definição do Palácio do Planalto aos planos de modernização apresentados para se adequar às
demandas da END. Decisão mais importante para as Forças e a renovada indústria de defesa que a tão
debatida e esperada decisão sobre o Programa F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB). Os desafios para
essa incipiente indústria brasileira de defesa são inúmeros. E ela precisará de muito crédito e,em
especial, de encomendas no mercado internacional.
Indústria da defesa demanda aço blindado nacional
Usiminas desenvolve projeto para criar versão verde-amarela do insumo, de olho nas viaturas
encomendadas à Iveco
Nivaldo Souza
Ter aço blindado brasileiro
capaz de concorrer com o
importado é a meta do Ministério da
Defesa para fomentar, no longo
prazo e com fins pacíficos, o
renascimento da indústria de defesa
nacional. O desafio tecnológico e
econômico faz o Exército estimular
a Usiminas e a Villares Metals a
correrem para embarcar o aço
balístico brasileiro nas 2.044
viaturas blindadas de transporte
pessoal-média de rodas (VBTPMR),
encomendadas à Iveco por R$
6 bilhões, com o foco de fazer o
Brasil voltar ao topo da tecnologia
alcançada nos anos 1980 coma Engesa, que exportou o tanque Urutu para diversos países.
“Dentro do programa de reaparelhamento das Forças Armadas, o projeto família de blindados
média de rodas (FBMR) tem como orientação estratégica capacitar a indústria brasileira para fornecer
equipamentos capazes de promover o ressurgimento de uma empresa integradora de viaturas
blindadas”, diz o gestor do FBMR, coronel do Exército Matias Lopes.
A investida envolve técnicos do Centro de Tecnologia da Usiminas no desenvolvimento de placas
de aço resistentes. Eles venceram o primeiro estágio tecnológico e, agora, aguardam o resultado de
testes balísticos para imprimir escala industrial ao produto até 2012. “Estudamos seis composições
químicas de aço e escolhemos as duas como melhor apelo técnico-industrial. Estamos laminando as
provas que irão ao Exército para levar tiro”, antecipa o diretor de pesquisa e inovação da empresa,
Darcton Policarpo Damião.
À prova de bala
Produzido em mini-siderúrgica laboratorial da
Usiminas em Ipatinga (MG), o aço blindado segue as
especificações técnicas criadas pelos EUA durante a
Guerra do Vietnã para suportar tiros de balas de
chumbo revestidas por outras ligas metálicas,
conhecidas pelo jargão MIL DTL 46100. Isso significa
que o aço balístico, diferentemente dos demais, precisa
equilibrar tenacidade e dureza. Ou seja, tem de
combinar resistência a projéteis e absorção de impacto.
Isto porque, em aços normais, quanto maior a dureza,
menor a absorção.
(A dureza deve oscilar entre 477 a 534 BNH
(Brinell Hardness Number—índice) de recuo do aço ao
ser perfurado, ou seja, a capacidade de absorver
projéteis). A espessura é bem superior ao do aço normal sem revestimento, que varia de 150 a 200 BHN.
Com isso, o blindado pode atingi até 50,8 milímetros de espessura — o suficiente para suportar tiros de
diversos calibres. “O aço é uma das partes do sanduíche de três ou quatro itens que são combinados
para proteger o veículo de combate” observa Damião.
Escala comercial
Ganhar demanda, contudo, é o maior obstáculo à versão nacional do aço blindado. Embora
exista vontade estatal de ter o insumo para diminuir a dependência do importado — estratégico para não
sofrer embargos similares ao imposto pelos EUA no início da Guerra do Iraque, proibindo a exportação
para atender sua demanda armamentista —, falta escala de comercialização. É pensando nisso que a
Usiminas estuda flexibilizar o blindado para o mercado de segurança civil, menos rigoroso quanto ao
quesito resistência.
Retomada de caminho pela indústria de defesa
Em 1987, durante a exposição militar Satory, nos arredores, de Versalhes, na França, conversei
com executivos da Panhard, empresa líder no mercado mundial de veículos blindados leves desbancada
pela brasileira Engesa. Na ocasião, os executivos afirmaram de forma solene: “A Engesa nos ensinou a
vender.”
A declaração pode ser também aplicada à Embraer que em três oportunidades teve o produto
certo. Para muitos, ela criou o mercado para seus aviões: nos anos 1970, com a desregulamentação do
setor aéreo, tinha aeronaves confiáveis e com capacidade de passageiros que permitiram o seu emprego
pelas empresas aéreas regionais americanas, como o Bandeirante. Nos anos 1980, o Brasília dava mais
conforto aos passageiros e possuía maior velocidade; nos anos 1990, e na primeira década do novo
milênio, a família EMB 145 teve mais de 1,1 mil unidades produzidas. Caso também da Avibras, que
desenvolveu o sistema de foguetes de saturação Astris II para atender solicitações do Iraque de Saddan
Hussein — a arma contribuiu para impedir a derrota daquele país para o Irã.
O que há em comum nos fatos acima? Em todos, a lei do mercado funcionou de forma inexorável
e sempre voltada ao exterior. Essas mesmas leis se impuseram mais ainda com os excedentes da União
Soviética e os rearranjos pós-queda do Muro de Berlin, fazendo a indústria brasileira de equipamentos de
defesa desaparecer. Caso do avião tático AMX, desenvolvido e produzido em conjunto com a Itália, que
não conseguiu uma única venda internacional.
Agora, um dos pilares da Estratégia Nacional de Defesa (END), estabelecida em 2008, é
recuperar a indústria brasileira como fornecedora das Forças Armadas Brasileiras e competidora do
mercado internacional. Para isso, o Ministério da Defesa requer generosas porções de transferência de
tecnologia em acordos recém- estabelecidos ou em vias de serem estabelecidos (helicópteros,
submarinos e os prováveis caças do Programa F-X2). O desafio para essa incipiente indústria nacional é
desenvolver tecnologia própria ou internalizar a tecnologia obtida de estrangeiras, criar núcleos que
possam agregar conhecimento.
Mas o desafio maior é obter mercado (interno ou externo?). Ainda mais quando o principal
consumidor, o Pentágono (EUA), sinaliza que reduzirá suas compras e quando surge no horizonte um
competidor formidável: a China. O país asiático, afastado muitos anos da cena internacional, por
problemas internos e de reorganização de sua indústria de defesa, entra inclusive no mercado latinoamericano.
A China fornece carros de combate ao Peru e aviões de treinamento e radares à Venezuela.
Nesse ambiente, a indústria brasileira e as Forças Armadas Maguardam com ansiedade a
definição do Palácio do Planalto aos planos de modernização apresentados para se adequar às
demandas da END. Decisão mais importante para as Forças e a renovada indústria de defesa que a tão
debatida e esperada decisão sobre o Programa F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB). Os desafios para
essa incipiente indústria brasileira de defesa são inúmeros. E ela precisará de muito crédito e,em
especial, de encomendas no mercado internacional.